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Lá Vem um Novo Motu Proprio para os Lefebvristas
Golias
Conforme nossas informações, e nas vésperas das ordenações lefevristas de 27 de Junho próximo na Alemanha, o deseja fazer, nos próximos meses, a redação de um segundo Motu proprio. Documento que, desta vez, seria consagrado, não só apenas à liturgia em latim, mas de modo mas global à reintegração dos Lefevristas na Igreja. Colocando certas condições, mas igualmente engajando toda a Igreja nesse processo. Gravíssimo!
Dito doutro modo, os Bispos não terão mais direito de exprimir de modo por demais aberto reticências e muito menos de frear a reintegração dos tradicionalistas. Com efeito, é preciso saber que os representantes dessas correntes se queixam muito regularmente ao Papa dos obstáculos postos à sua reintegração pelos Bispos e seus ajudantes. Até então, Roma e a comissão Ecclesia Dei curto-circuitavam os Bispos sem, em geral, entretanto, desaprová-los abertamente.
Assim, em 1988, a Comissão regularizou muito rapidamente e de modo muito benévolo a situação da Abadia beneditina do Barroux, sem informar ou consultar o então Arcebispo de Avignon, Mons. Raymond Bouchex. Mais recentemente, Roma procedeu da mesma maneira com relação ao Instituto do Bom Pastor sem informar disso o Arcebispo de Bordeaux, no território do qual ele estava sediado. Recentemente ainda, um outro sinal foi dado pelo Vaticano que restabeleceu em seu cargo de pároco um padre «tradi» em dissidência com seu Bispo no Calvados, também modo de chamar os Bispos à ordem. Em conseqüência de um tal Motu proprio, um Bispo julgado muito pouco inclinado a acolher bem os integristas re-unidos certamente se dará marteladas nos seus dedos
Os Bispos não poderão mais exprimir suas reticências.
Bento XVI e seus conselheiros pretendem aproveitar a calma do verão para avançar no caminho da reconciliação. Depois de autorizar celebrar por toda a parte a Missa conforme os antigos livros litúrgicos (Motu proprio de 2007), depois de ter levantado a excomunhão dos quatro Bispos cismáticos ordenados pelo Arcebispo Lefebvre, uma nova etapa está em vias de se iniciar, na verdade, mais delicada: a que tratará das dissensões teológicas de fundo, em particular a respeito do Vaticano II e do Magistério dos últimos Papas. É preciso saber que o Papa escolheu o novo secretário da Comissão teológica internacional, o Padre dominicano Charles Morerod, precisamente em função de sua sensibilidade próxima do debatedor tradicionalista. É preciso saber, com efeito, que Morerod é o autor de uma tese de doutorado, apresentada na Faculdade de Teologia da Universidade de Fribourg, na Suíça, sobre o Mestre geral dos Dominicanos, comentador de Tomás de Aquino, Thomas de Vico, chamado Caetano (1469-1534) em seu debate polêmico com Lutero.
O Padre Morerod pelo acordo teológico.
Mas o Padre Morerod sobretudo se fez notar por sua Tradição e unidade dos cristãos. O dogma como condição de possibilidade de ecumenismo (Palavra e Silêncio, Paris, 2005), no qual ele adota o contra–pé de modo o mais radical de um ecumenismo mais liberal (como o dos teólogos Fries, Rahner ou Tillard) insistindo sobre o caráter incontornável de uma verdadeiro pensamento católico, indissociavelmente teológico e filosófico.
Desse modo, ele acentua a diferença entre catolicismo e protestantismo de um modo que não deve desagradar às correntes mais «tradis». O mesmo Padre Morerod apegou-se igualmente a criticar o pensamento de um protestante liberal britânico, John Hick, do qual ele contesta precisamente o espírito relativista. Veja, isso nos lembra um certo outro... A escolha do Padre Morerod não dependeu de nenhum modo do acaso! De modo muito concreto, a Comissão Ecclesia Dei será ligada à Congregação para a Doutrina da Fé (cf. Golias Hebdo n°85). Durante um tempo pensou-se uni-la à Congregação para o Culto Divino, mas isso a faria esquecer que o problema não era somente e nem inicialmente litúrgico. O novo Motu proprio que virá, que já estaria sendo preparado pelo principal redator do Motu proprio de 2007, Mons. Nicola Bux, professor de Teologia em Bari, e estimado conselheiro de Joseph Ratzinger, justificará a importância dada à dimensão doutrinal da controvérsia integrista. O papel de Dom Nicola não poderia ser sublinhado demais.
O prelado italiano Nicola Bux pelo novo Motu proprio
Consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e na expectativa de uma promoção estratégica, Mons. Bux, um padre italiano de 63 anos, cordial e discreto, mas temivelmente conservador e preciso em sua argumentação, pretende ser o artífice determinado e infatigável, não só de uma reaproximação dos integristas mas de uma restauração tradicionalista do catolicismo inteiro. Foi ele quem redigiu o Motu proprio de 2007 sobre a Missa em latim. Em seu última obra, publicada em Outubro passado na Itália, A Reforma de Bento XVI, prefaciado por Vittorio Messori, Mons. Bux considera que é preciso revalorizar a essência da «sagrada e divina liturgia », que poderia ser feita por mão humana. Senão, ela «não serviria para nada mais do que se representar a si mesma e sobretudo ela não salvaria nem o homem nem o mundo, ela não o santificaria». Ele está convencido de que a liturgia de São Pio V honra mais o sentido do sagrado que a de Paulo VI. Ele critica, aliás, de modo muito feroz a reforma batizada com o nome do Papa Montini, uma verdadeira «decomposição» da liturgia segundo ele, exprimindo e agravando o que o teólogo Louis Bouyer chamava a « decomposição do catolicismo».
Com efeito, Mons. Bux não se limita ao domínio litúrgico apenas. Ele denuncia a abertura ao mundo que suja o mistério cristão e fustiga a vida relaxada dos padres, em particular em matéria de vida privada (celibato...). Ele ataca igualmente o desvio fundamental segundo ele da Teologia contemporânea, que é de fazer uma «inversão antropológica » (que ele denuncia também, na esteira de Cornélio Fabro, em Karl Rahner). Ele lhe opõe uma nova reviravolta teocêntrica e Cristocêntrica como simbolizada pelo fato de celebrar de novo em direção do Oriente, de costas para os fiéis. Imagina-se facilmente o conteúdo e o tom do futuro e próximo Motu proprio com um tal redator. O Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, aliás, abatido por problemas de saúde, exasperado e aflito, desmoralizado, já não tem mais poder nem o empuxe necessário para se opor a um tal reviravolta ultra-conservadora. Longe de se apresentar como uma defesa do Concílio, o Motu proprio deveria propor uma releitura minimalista dele, amaciando as novidades e contestando seu espírito. Em suma, um Concílio «segundo a tradição» tal qual Mons. Lefebvre reconheceria poder aceitá-lo! Será ainda o Concílio do qual um Paulo VI proclamava a importância em 1976 face à dissidência integrista? Nada menos seguro.
Para citar este texto:
"Lá Vem um Novo Motu Proprio para os Lefebvristas"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/motu-proprio-integristas/
Online, 05/12/2024 às 21:30:45h