Política e Sociedade

Consulente defende apoio a Jair ´mal menor` Bolsonaro
PERGUNTA
Nome:
Wanderson Cruz
Enviada em:
01/09/2018
Local:
Brasil
Religião:
Católica

Salve Maria!

Pergunta sincera aos amigos da Montfort:

A Montfort nos últimos anos fez diversos avisos e análises críticas sobre o  Professor Olavo de Carvalho, dizem que não deve-se combater um mal com outro mal, mesmo que o autor seja citado em filosofia e política.

Nesse ano, com a ascensão de Jair Bolsonaro,  a Montfort vem fazendo a mesma coisa, encontrando os erros do Candidato e demonstrando que possui equívocos que não estão em sintonia com a Doutrina Católica, portanto não merece apoio e voto.

Acontece que parecem negligenciar a questão do "mal menor", ora, Santo Agostinho e Sto. Tomás de Aquino beberam e aprofundaram-se em Platão e Aristóteles, dois pagãos, não podemos negar que existe um risco ao leitor de associar com gnosticismo, como por exemplo O Grande Arquiteto do Universo, citado na Ordem Maçônica, baseada em Platão.

A contribuição de pagãos que no todo possuem erros e que não estavam em sintonia com a Santa Igreja, não deixaram de existir e colaborar com a mesma, quando aproveitado o que estava correto e negligenciado o que foi passível de erro.

Poderíamos citar diversos exemplos ao longo da história com outras religiões, Avicena, Averróis, Algazali, todos muçulmanos, contribuíram com a compreensão aristotélica com o que estavam certos e foram negados ao que estavam errados. Ou não, todo o diálogo com eles foi digno de desprezo? Ao conter uma heresia foi tudo deixado de lado?

Quantas influências e cooperações não existiram com pessoas que continham erros teológicos do ponto de vista da Santa Igreja? Por qual motivo Santo Agostinho ou Sto. Tomás de Aquino não jogaram fora as obras de pagãos? Isso se deve ao mal menor e ao saber aproveitar o que é útil, não é mesmo?

Claro, não estou equivalendo o Professor Olavo de Carvalho e o Candidato Jair Bolsonaro com eles, nem mesmo parte do Clero que já foi questionada pelos senhores, como o Padre Paulo Ricardo e Dom Henrique Soares. Estou referindo-me ao mal menor, que embora possam possuir erros, os quais segundo os senhores dão a entender realmente possuem, são comparavelmente menores com os quais fazem contraste.

Ademais, o que compreender de Orígenes que apesar de alguns erros, como a tese da preexistência da alma por exemplo, é considerado pela Santa Igreja?

Quando os senhores aparentemente negam uma hegemonia ideológica, um aparelhamento do Estado, um Marxismo Cultural, etc. Atacam na maior parte não esses, mas quem está tentando fazer um contraste.

Alegando que a solução está apenas na moral e na religião, negligenciando a articulação política de mal menor, vão influenciar omissão popular e em breve, estaremos numa ditadura com a Igreja ainda mais perseguida.

Por qual razão é tão difícil admitir um mal menor que faça o mínimo de contraste, com um poder feroz que a cada dia mais cresce?

É possível negarmos que a Intervenção Militar com todos os seus erros, não foi um mal menor diante da Ditadura do Proletariado que estava ganhando poder na época?

 

Vamos negar a importância da quebra hegemônica que Olavo de Carvalho fez nos últimos anos no Brasil?

Será mesmo que não conseguimos ver que a Candidatura de Jair Bolsonaro é um mal menor diante dos demais candidatos comprometidos com agendas Globais e com o Socialismo do Foro de São Paulo?

Ajudar na abertura de um diálogo mais honesto entre as correntes políticas e o rodízio de oposições de fato, não seria um mal menor em relação ao monopólio?

A pergunta que faço aos senhores é: 

Existe o mal menor ou não? Identificarmos um erro de desarmonia com a Santa Igreja é um motivo de desprezo total de um autor e de um candidato, mesmo esse servindo na luta contra um mal maior? 

O Papa João Paulo II errou na articulação política de mal menor quando aliou-se a Ronald Reagan?

Os senhores estão realmente convictos de que o diálogo com ele terá a mesma proporção de dificuldade do que a Esquerda que vem acabando com o país e investindo contra a Igreja e a mesma moral que os senhores vêem como a única solução sem outros auxílios e meios ?

Caso não exista esse mal menor, como explicarmos na História da Igreja, a participação de inúmeros personagens que não estavam em pleno acordo com a Doutrina da mesma?
 
 
Wanderson Cruz
RESPOSTA

Prezado Wanderson, Salve Maria

     Gostaria de agradecer a sua manifestação de amizade e a sua carta pois ela me dá oportunidade de responder a diversos questionamentos que tenho recebido.
     De início é necessário dizer que o teor da sua mensagem me dá a impressão de que você não deu a necessária atenção ao que tenho falado e escrito sobre esse assunto, pois você nos questiona se não existe um mal menor como se isto em algum momento tivesse sido negado. É claro e evidente que o mal menor existe e que em algumas ocasiões é lícito escolher este mal ao invés de outro maior.
     Mas a partir desta evidência se tiram algumas consequências que estão longe, muito longe mesmo de serem provadas: Bolsonaro seria o mal menor e é obrigatório apoiá-lo em sua candidatura sob pena de estar se traindo o Brasil e de, na melhor das hipóteses, ser omisso na implantação da ditadura comunista em nosso pais, o que é iminente.
     Assim em meu artigo, após ter deixado claro que nenhum candidato tem uma plataforma adequada para os católicos o apoiarem apresentei a seguinte conclusão:
 

 
“Então, tendo em consideração os princípios aqui comentados e a nossa situação concreta parece claro que nenhum candidato é ao menos adequado para os católicos e que o normal seria nos ausentarmos desta escolha, a princípio anulando o voto, o que inclusive é uma possibilidade legal. Se de fato houvesse uma grande quantidade de votos anulados isto mostraria que não estamos de acordo com o sistema atual de eleição. Aliás o número de votos anulados e daqueles que faltam nas eleições sempre é muito significativo, mas isto não é colocado pela impressa que prefere fingir que tudo anda bem e que a eleição garante que o povo tenha escolhido seu representante.
 
 
Tendo em vista o nosso caso particular, alguma situação concreta pode nos levar a votar em algum candidato, como por exemplo para evitar um mal maior e desde que não se caia em algo que é errado em si mesmo, como por exemplo votar em candidatos dos partidos socialistas e comunistas o que é condenado pela Igreja. Assim, é possível que se apresente uma situação em que para se evitar um mal maior, seja oportuno votar em algum dos candidatos.
Entretanto, para isto, devemos esperar a situação concreta que somente poderá ser convenientemente analisada quando estivermos muito próximos, ou mesmo, no dia da votação. De toda a forma como os candidatos que aí estão não tem os princípios católicos e como nossa influência sobre as eleições é nenhuma, sempre recomendo que devemos nos abster de fazer qualquer propaganda, e pelo contrário devemos procurar esclarecer aos católicos os pontos que esses candidatos tem de divergência em relação a doutrina católica aos mandamentos da Lei de Deus e da Lei Natural."

 

     Já que você é nosso amigo, você poderia ter analisado de forma clara e objetiva esta conclusão mostrando no que ela estava errada e apontado qual era a falha nos argumentos expostos no artigo, ou ainda, qual o fato não correspondia a realidade. Mas ao invés disto você resolveu perguntar em tom quase condenatório. Mesmo assim, para atendê-lo não deixo suas perguntas sem resposta. Vamos aquelas que estão no fim da carta e que parecem ser um resumo do pensamento exposto, respondendo a essas perguntas creio que de forma geral respondo a todas as dúvidas que a sua carta contém. Repito as suas perguntas antes de cada explicação para facilitar compreensão:

1ª. Pergunta: existe o mal menor ou não? Identificarmos um erro de desarmonia com a Santa Igreja é um motivo de desprezo total de um autor e de um candidato, mesmo esse servindo na luta contra um mal maior? 

     A existência do mal menor está respondida. Mas a pergunta está confusa. Desprezo não tem relação com erro, desprezo é relacionado com as pessoas. Em relação ao erro você deveria ter falado em condenação. Então a resposta é sim. Quando estamos diante de um erro devemos condená-lo. Em relação ao erro podemos classificá-los em mais ou menos graves, mas não em aceitáveis e não aceitáveis. Veja que você mesmo já começa a incorrer para o perigo que alertei confundido uma doutrina com uma pessoa, ou seja, como Bolsonaro seria um bom candidato não devemos condenar seus erros. Como ele combate o comunismo vamos esquecer que ele tem a prática religiosa protestante apesar de se dizer católico.
     Escolher o mal menor não pode ser confundido com aceitar o erro. Para os cristãos que iam para a arena o mal menor seria manifestar a aceitação do culto ao imperador ao invés de perder a vida. Veja que nem mesmo significava uma aceitação do erro doutrinário em si, mas simplesmente uma manifestação de acordo com o erro. E os católicos não optaram pelo mal menor, porque isto significava uma concessão doutrinária. Já quando entregamos a carteira para um bandido estamos optando pelo mal menor que é perder o dinheiro ao invés da vida, porque neste caso, não negamos nenhum ponto doutrinário.
     Assim, não se pode considerar como mal menor o controle da natalidade proposto por Bolsonaro que fala em esterilização até de meninas de 10 anos, vejamos:

“Minha proposta [Bolsonaro] de planejamento familiar infelizmente não tem como atingir essas meninas [de 10 a 19 anos] em sendo elas são menores de idade, porque sendo menores de idade você não pode convencê-las a fazer uma laqueadura. O governo tem que jogar pesado dentro da escola numa política neste sentido...” (
https://www.youtube.com/watch?v=ZQ7v0JOOYYM&feature=youtu.be. 2:38)

     Uma proposta deste tipo pode ser um erro de menor gravidade que o aborto, defendido pela esquerda em geral e por vários da direita, más é algo que não podemos aceitar por ser totalmente contrário a doutrina católica. É nossa obrigação criticar. Não podemos silenciar, mesmo que o tema não seja popular. Ademais, o controle da natalidade é o pai do aborto.
     Ademais, a justificativa para o aborto, a eutanásia e outros erros, tem sido aceitar o mal menor.
     É preciso ainda dizer que cabe àqueles que defendem a candidatura de Bolsonaro demonstrar que ele é o mal menor e não querer se impor a todos na base do grito e da ameaça, aliás, seguindo os métodos da esquerda. Por exemplo, a frase “o Brasil acima de tudo Deus acima de todos” que está no programa deste candidato é boa? Objetivamente se coloca o Brasil acima de Deus. Não é possível a um católico concordar com isto e creio que você Wanderson também não concorde.
     Também não são poucos os que dizem que a única chance de vitória do PT estaria em um confronto com Bolsonaro no segundo turno devido sua rejeição. Para provar que ele é o mal menor é preciso responder também a isto e não simplesmente dizer que tudo não passa de uma ação orquestrada da imprensa, o que não está descartado, mas de nenhuma forma está provado.
     Depois de demonstrado que Bolsonaro é o mal menor deve-se provar porque é necessário votar nele, e porque se Bolsonaro não for eleito o Brasil cairá nas garras do comunismo. Isto me faz lembrar dos tempos da TFP. Muitos criticaram o Professor Orlando porque se devia tolerar o culto ao Plinio como o mal menor já que se não fosse a TFP o Brasil iria para o comunismo. Devia-se ainda esquecer os problemas religiosos. Plinio afirmava que se o comunismo caísse teríamos o fim da Missa Nova e do Concílio Vaticano II. Plinio realmente foi um profeta de araque. E o comunismo geraria a quarta revolução. Nada mais fantasioso, nada mais falso.
     Pois bem, tenho visto muitos católicos e até alguns padres defenderem Bolsonaro. Não vejo nenhum deles criticá-lo nestes pontos, mesmo aqueles que atacam o controle da natalidade. Assim, junto com o mal menor se vai engolindo a doutrina errada. Eis o grande perigo para o qual chamo atenção.
     Em meu artigo dei vários exemplos deste tipo de erro cometido pelos católicos. Poucos dias atrás me enviaram um artigo de um padre da linha conservadora, um conservador acima da média, que manifestou o apoio a Bolsonaro não somente com o argumento de que ele  seria um mal menor, mas um bem que irá recuperar o Brasil da triste situação em que se encontra, e para justificar suas esperanças citou Maurras, outro ilusionista de católicos. A proximidade com o mal menor foi tanta que ele acabou aderindo ao erro. E Maurras foi um dos exemplos que citei em meu artigo.
     O pensamento de Maurras está bem descrito pelo Professor Orlando no artigo que se encontra no site cujo título é o próprio nome do político: Charles Maurras

 

2ª. Pergunta: O Papa João Paulo II errou na articulação política de mal menor quando aliou-se a Ronald Reagan?

     Acredito que não, porque João Paulo II se aliou a Reagan em uma questão concreta para a derrota do comunismo e não aderiu aos princípios errados que Reagan defendia. Mas daí como se chega que se deve apoiar ao Bolsonaro? Será que sempre que há uma aliança que envolve alguém que não é católico isto é bom? Claro que não. Assim, apesar do combate ao comunismo ser algo bom e necessário e um mal menor do que defender a democracia e a aliança de Pio XII com o presidente americano Rooselveth, esse combate teve consequências trágicas pois que começou-se a admitir que a religião católica não era a única verdadeira o que foi na realidade a gestação de um terremoto (Conforme artigo: "Gestação de Terremotos").
     Então, prezado Wanderson, não é porque João Paulo II fez uma aliança que todas as alianças são boas e corretas e não podem nos causar um enorme prejuízo no futuro.

 

3ª Pergunta: Os senhores estão realmente convictos de que o diálogo com ele terá a mesma proporção de dificuldade do que a Esquerda que vem acabando com o país e investindo contra a Igreja e a mesma moral que os senhores vêem como a única solução sem outros auxílios e meios?

     Aqui novamente a influência dos erros de Bolsonaro se faz presente. A Igreja não deve dialogar, ela deve ensinar. É claro que Bolsonaro não aceitará isto. Ele tem práticas protestantes apesar de se afirmar católico. Agora, como será esse relacionamento não tenho como adivinhar, mas nada indica que será bom para a Igreja.
     Quem parece ter certeza absoluta de que ele será um novo paladino da Igreja são seus defensores a ponto de insinuar que deixar de votar em Bolsonaro seria pecado. Até posso admitir que possivelmente a doutrina católica seja mais respeitada se Bolsonaro for eleito, mas é apenas uma possibilidade sem nenhuma segurança. Mas lhe dou dois exemplos, um muito relacionado a nossa situação atual e outro histórico universal.
     O primeiro exemplo é da aprovação da Lei de Biosegurança no Brasil. Enquanto um petista foi presidente da câmara a Lei de Biosegurança que permite a utilização de embriões para pesquisa não foi aprovada, mas quando entrou um conservador sua aprovação foi rapidíssima. E ninguém esperava isto, inclusive eu.
     O segundo é uma comparação entre dois países: Polônia e Holanda. Quando terminou a guerra a Polônia ficou em uma situação bem pior para a prática da religião porque estava dominada pelo comunismo e a Holanda bem melhor porque era livre. Depois de quarenta anos não existe dúvida que fez mais mal para estes países a democracia liberal que é o mal menor do que o comunismo que é o mal maior.
     Bolsonaro foi batizado no Rio Jordão por um pastor protestante, mas a assessoria informa que ele é católico, tem o apoio dos católicos, e daqueles católicos que se apresentam com mais conservadores em matéria de costumes, mas não o apoio da bancada protestante que resolveu apoiar outro candidato (Alckmin se reúne com 2 mil pastores evangélicos em São Paulo). Muito estranho... E os protestantes fazem exigências a este candidato, mas os católicos não fazem nenhuma de Bolsonaro. Porque todos esses movimentos que apoiam Bolsonaro não fazem um comunicado conjunto pedindo que ele recuse qualquer apoio ao controle da natalidade? Que ele renegue o absurdo batismo que fez no Rio Jordão? 

     Então, meu caro, não há porque não termos um pouco de prudência na candidatura Bolsonaro antes de manifestarmos nosso apoio. Não sei por que causa tanto escândalo afirmar que pelo momento é melhor anularmos nosso voto.

 

4ª. Pergunta: Caso não exista esse mal menor, como explicarmos na História da Igreja, a participação de inúmeros personagens que não estavam em pleno acordo com a Doutrina da mesma?

     Aqui novamente você confunde a pessoa com a doutrina, como se a Igreja, quando aceita a cooperação de alguém, estivesse aceitando sua doutrina. Pelo contrário, a Igreja sempre faz questão de reforçar a condenação aos erros do tempo, pelo menos nos tempos em que haviam condenação. E este é um dos grandes males de nosso tempo: a ausência de condenação do erro.
     Sim, a solução do problema é moral e quem diz isto não sou eu mas o Papa Leão XIII, que citei em meu artigo e muitos outros Papas e Santos. Essa solução passa por uma renovação religiosa e esta passa pela ampla difusão da Missa Antiga. Os católicos em geral, apesar de existirem algumas exceções, que apoiam Bolsonaro pouco ou nada se preocupam com a Missa Tridentina, pelo contrário procuram apresentar essa questão como secundária e que deve ser evitada pois, segundo eles, só divide os católicos. Para muitos em matéria de liturgia tudo é bom e os problemas do Concílio Vaticano II são apenas de interpretação. Mas aqui já entramos em outro assunto...
     E por último eu quero deixar uma pergunta: ao que levou a política de aceitação de candidatos que representavam o mal menor nas eleições desde a universalização da democracia liberal até os nossos dias? A situação política dos católicos melhorou ou piorou? Então qual é o resultado da aplicação do mal menor em política?
     Espero ter respondido a todas as suas questões. Como nosso amigo conto com as suas orações e tenha certeza de poder contar com as minhas. É o que podemos fazer. É o que melhor temos para fazer. A Igreja mudou a civilização antiga com muita oração, sacrifício e estudo e não com um candidato a algum cargo em Roma. 

 
Salve Maria! 
Alberto Zucchi