Polêmicas

Monge modernista é contra o Dominus Iesus
PERGUNTA
Nome:
Decimilson
Enviada em:
19/09/2000



Leitor nos envia artigo do monge beneditino Marcelo Barros.
Enviada em: Terça-feira, 19 de Setembro de 2000 19:48

Dominando Jesus e aposentando o Espírito
Marcelo Barros
Monge beneditino, teólogo e escritor

É difícil compreender que, neste ano do Jubileu, em contradição com todo o trabalho que o papa João Paulo II está fazendo para a unidade das Igrejas cristãs e a aproximação entre as religiões, alguém de Roma possa escrever e divulgar um documento (Dominus Iesus) com declarações e afirmações tão infelizes, tanto no plano espiritual e humano, como doutrinal.

1) A declaração parte da preocupação missionária. Jesus mandou pregar o Evangelho a todas as criaturas. O cardeal interpreta que isso significa anunciar ao mundo inteiro, mesmo às pessoas de outras religiões, as verdades que Jesus veio ao mundo nos ensinar. Para isso, fundou pessoalmente a Igreja Católica Romana. Esta cumpre sua missão, não dialogando com o que há de verdade em todas as religiões do mundo, mas anunciando a todos os dogmas que professa: Deus Uno e Trino e Jesus Cristo como Filho único de Deus. Quem não conhece os Evangelhos e lê este documento fica com a impressão de que Jesus Cristo é um professor de catecismo que veio nos ensinar uma doutrina sobre Deus e, agora, o cardeal Ratzinger vem a público para dizer que nós não passamos no exame da fé (escrito ou oral).

2) Esta declaração da Cúria Romana revela o intento de corrigir o caminho que, hoje, o papa e as igrejas percorrem. O papa tem pedido perdão por erros da Igreja, ou de seus filhos. O documento frisa que a Igreja sempre foi fiel e perfeita no testemunho do Evangelho. Não há de que pedir perdão. Teólogos/as e o próprio papa dizem que o Espírito de Deus atua em todas as religiões e não só no cristianismo. Esta declaração ensina que não é bem assim. Deus é católico romano. Embora tenha dado alguns sinais de presença em outras religiões, fez isso só para que as pessoas o descubram e entrem na Igreja Católica Romana. Quem segue outra religião está objetivamente em situação de erro e ilusão. Procura o que os católicos já encontraram.

3) O diálogo entre os diferentes caminhos espirituais tem se dado a partir da convicção do que ensina um livro bíblico: ``O Espírito do Senhor enche a Terra inteira e como contém todo o universo, conhece cada palavra humana e está presente em todas as culturas"" (Sb 1, 7). A declaração de Ratzinger frisa de modo tão absoluto ``o caráter pleno e definitivo da revelação de Jesus Cristo"", que dá a impressão de aposentar o Espírito Santo. Quando fala do Espírito é para dizer que está contido nas verdades que a Igreja ensina, a partir do aparato lingüístico da sua cultura. Dá mais importância à expressão cultural da fé do que a própria fé como atitude de vida e adesão a Deus. Como se Deus só falasse latim e só compreendesse quem estudasse a teologia romana.

4) O texto alude à famosa diferença entre Fé e Religião (n° 7), ou como o texto diz ``crenças"". A Fé teologal é adesão à revelação de Deus, graça que vem do alto para nós. A crença em uma religião é caminho humano de busca do Divino. O autor classifica a Igreja como expressão pura e direta desta fé revelada diretamente por Deus, enquanto as outras religiões seriam buscas humanas que Deus não revelou. Ele pretende decidir dentro de quais canais atua a graça e para onde sopra o Espírito de Deus. Isso revela certa dose de megalomania.

Nos Evangelhos, a fé não é crer que Deus é uma, três ou mesmo quatro pessoas. Jesus diz à mulher cananéia (Mt 15, 28) ou ao centurião romano: ``A tua fé te salvou"" (Mt 8, 10). Qual o conteúdo da fé dessas pessoas? Simplesmente que poderiam ser curadas? Comparado com o conceito de fé subjacente no documento romano, o que Jesus qualifica como fé é, ao mesmo tempo, mais simples e pluralista. Assume expressões diferentes de acordo com as pessoas e situações. Jesus acolhe a fé de Pedro que diz: ``Tu és o Filho de Deus""(Mt 16, 16) e também a da mulher hemorroíssa que nossos teólogos liquidariam como superstição: ``Se eu tocar ao menos a franja do seu manto, ficarei curada"" (Mc 5, 28). Com todas as variações, a fé tem em comum a ``confiança"" e o ``abandono"" da pessoa ao amor incondicional de Deus, qualquer que seja a religião, cultura, experiência humana em que se manifeste.

RESPOSTA


Meu caro Decimilson,
Salve Maria

Você me manda este artigo virulento e furiosamente herético do monge Marcelo Ramos, evidentemente querendo que eu o comente.

A Declaração Dominus Iesus tem provocado muita revolta nos modernistas. Alguns, que mantinham velada sua mentalidade herética, agora a expelem com fúria vulcânica.

Este é um efeito secundário, excelente, causado pelo novo Documento do Magistério Romano: lancetar o tumor modernista para que o pus da heresia saia do organismo eclesiástico.

É o que nos veio à mente ao ler o artigo furibundamente modernista do monge beneditino Marcelo Barros, que se apresenta como teólogo e escritor, que você me enviou. O artigo se intitula: "Dominando Jesus e aposentando o Espírito".

O dito monge inicia sua diatribe contra a Dominus Iesus considerando que ela contraria tudo o que João Paulo tem feito pelo ecumenismo:

"É difícil compreender que, neste ano do Jubileu, em contradição com todo o trabalho que o papa João Paulo II está fazendo para a unidade das Igrejas cristãs e a aproximação entre as religiões, alguém de Roma possa escrever e divulgar um documento (Dominus Iesus) com declarações e afirmações tão infelizes, tanto no plano espiritual e humano, como doutrinal."

E, salientando que há contradição entre o que está definido na declaração citada e o que tem feito o Papa, o monge acrescenta:

"Esta declaração da Cúria Romana revela o intento de corrigir o caminho que, hoje, o papa e as igrejas percorrem. O papa tem pedido perdão por erros da Igreja, ou de seus filhos."

E note, meu caro Decimilson, que o articulista diz que a Dominus Iesus não é documento proveniente do Papa, mas sim da Cúria Romana. Estaria o articulista insinuando que ela foi feita sem a autorização ou concordância do Sumo Pontífice? Se ele insinua isto – e outros também têm insinuado que o Papa, doente, está dominado pela Cúria – a insinuação é bem grave.

Depois disso, o monge beneditino diz: "A declaração parte da preocupação missionária. Jesus mandou pregar o Evangelho a todas as criaturas. O cardeal interpreta que isso significa anunciar ao mundo inteiro, mesmo às pessoas de outras religiões, as verdades que Jesus veio ao mundo nos ensinar. Para isso, fundou pessoalmente a Igreja Católica Romana".

Isso deixa claro que o autor não crê que Cristo tenha fundado a Igreja Católica, e nem que ordenou que Ela evangelizasse todos os povos. Será que esse monge – que se diz teólogo – esqueceu que no Evangelho está dito: "Ide e ensinai a todas as gentes, batizando-as em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo"?

Seu modernismo fica patente ao considerar que a Igreja deve dialogar com as falsas religiões para receber delas verdades que ela não tem, mas que são possuídas pelas seitas. Vê-se bem quanto foi necessária a Dominus Iesus, por definir como verdade de fé que a revelação de Cristo foi "única, plena e completa" (Dominus Iesus, n.6).

Contra essa verdade de fé se opõe o teólogo Barros dizendo:
"A declaração de Ratzinger frisa de modo tão absoluto "o caráter pleno e definitivo da revelação de Jesus Cristo"", que dá a impressão de aposentar o Espírito Santo."

Atrevida e escandalosamente, o monge assina o seguinte absurdo: "Quem não conhece os Evangelhos e lê este documento fica com a impressão de que Jesus Cristo é um professor de catecismo que veio nos ensinar uma doutrina sobre Deus e, agora, o cardeal Ratzinger vem a público para dizer que nós não passamos no exame da fé (escrito ou oral)."

Pois com esse artigo Marcelo Ramos não passou mesmo no exame escrito.

O artigo do monge herege merece nota zero, pois revela um desejo de deturpar o que está expressamente dito por Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho.

Não bastando tudo isto, o autor faz uma ironia blasfema e herética:

"Esta declaração ensina que não é bem assim. Deus é católico romano."

E mais além:

"Como se Deus só falasse latim e só compreendesse quem estudasse a teologia romana".

Pois é Marcelo Ramos que não parece ser Católico Romano, apesar de se apresentar como monge beneditino e como teólogo. Ele é modernista.

Pois esse monge modernista, que se apresenta como teólogo, deveria saber que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, e que não é possível fazer separação entre eles. Por isso a Dominus Iesus define que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica.

Prosseguindo em sua insinuação de que a Dominus Iesus não tem o aval do Papa e nem expressa o que João Paulo II pensa, diz Marcelo Barros:

"O autor classifica a Igreja como expressão pura e direta desta fé revelada diretamente por Deus, enquanto as outras religiões seriam buscas humanas que Deus não revelou. Ele pretende decidir dentro de quais canais atua a graça e para onde sopra o Espírito de Deus. Isso revela certa dose de megalomania."

Escrevendo isso o autor atribui "megalomania" à própria Igreja, que é e se afirma aquela que Cristo estabeleceu para guardar o depósito da revelação – que já foi encerrada – e que tem a incumbência dada por Cristo de administrar os Sacramentos, que nos trazem a graça.

Isso não é megalomania. É dogma. E quem não o aceita não é católico.

Para o articulista, a fé não é a virtude que nos faz crer em Deus e em tudo o que Ele nos revelou – Fé que só pode existir na Igreja verdadeira – mas Fé existiria em "qualquer que seja a religião, cultura, experiência humana em que se manifeste".

Como você vê bem, meu caro Decimilson, a Dominus Iesus fez o inimigo oculto se desvelar, mostrando sua verdadeira face: a do Modernismo.

In Corde Iesu, semper,
Orlando Fedeli.