Defesa da Fé

Presbiterianismo, Calvino e outros hereges
PERGUNTA
Nome:
Brian
Enviada em:
01/03/2000
Religião:
Protestante



O objetivo que tenho ao escrever este texto não é ofender, mas esclarecer alguns equívocos do texto sobre o presbiterianismo, em resposta a uma pergunta enviada.

Em primeiro lugar, a teologia de Calvino não tem como centro a predestinação, o que pode ser constatado no espaço que ele dá a esta doutrina na sua principal obra: As Institutas. Ele fala desta doutrina apenas no livro III, nas páginas 384 até 408. A doutrina da dupla predestinaçao é mencionada por Calvino, mas desenvolvida por Beza apenas posteriormente. Calvino, ao defender esta doutrina, está concordando com Santo Agostinho, citado por Calvino com grande constância (p. 386 e 388, por exemplo) e com a Bíblia citada com veemência por Calvino.

Quanto a segunda crítica, de que Calvino afirmou que os sinais de que um indivíduo é predestinado são os sucessos que obtém na sua vida, esta é uma análise infeliz de Max Weber: na realidade, os desdobramentos da teologia calvinista, inicialmente por Beza e posteriormente na Inglaterra, com os puritanos, é que conduziram a teologia reformada calvinista a inserir estes conceitos, que são errados e não tem paralelos com Calvino. O livro IV de Calvino é um tratado de eclesiologia aplicada a Genebra, sendo este um dos governantes da cidade, o que mostra que todas as referências a vida econômica são feitas sob a perspectiva de uma cidade com muitos miseráveis que necessitavam de auxílio para melhorarem socialmente. Estes miseráveis eram o legado do feudalismo, cujos maiores senhores feudais eram os bispos católicos. Calvino aconselha que estes homens produzam e vendam suas mercadorias, por que isto seria uma forma de obterem renda para se sustentarem. Esta atitude deu certo: uma populaçvão de miseráveis desapareceu quase pior completo, sendo desenvolvida uma atividade comercial intensa, em que a riqueza foi dividida. Se isto se transformou no século XVIII no capitalismo selvagem, isto não foi culpa de Calvino, que buscou justiça social pela sua atitude. Isto é culpa dos puritanos, cujas críticas de Weber deveriam ser direcionadas. André Bielér, no livro "O Pensamento Econômico e Social de Calvino", refuta as teses de Biéler com grande sucesso. R.T. Kendall afirma, quanto a modificação puritana da teologia de Calvino o seguinte: "O efeito teológico provocado por Beza foi tanto eclesiológico quanto soteriológico, extrapolando o pensamento de Calvino em ambas áreas". Portanto, os ataques feitos ao calvinismo não são ataques a Calvino: são ataques aos desdobramentos posteriores que tem alguns equívocos teológicos que fizeram surgir a exploração capitalista e ascese indolente.

Quanto ao livre arbítrio, Calvino defende que este existia para Adão. Após a queda, o homem é, para Calvino, totalmente depravado. Para que isto seja considereda uma heresia, não basta refutar sem ler Calvino. Este deve ser lido com cuidado, para que se compreenda que sua teologia é bíblica ( Veja o livro II, p. 75 a 100 / defesa do livre arbítrio para Adão: livro I, p. 211 e 212p).

Este texto não tem a pretensão de expor com maiores detalhes aspectos do presbiterianismo mas, se houver interesse nisto, certamente estou à disposição.

RESPOSTA


Prezado Brian,
Salve Maria.

Agradecemos sua mensagem, e compreendemos que você queira defender o que julga ser verdade.

O fato de a questão da dupla predestiação ser tratada por Calvino em 24 páginas, ou em 200, nada muda na substância da tese. Você mesmo escreve que:

"Quanto ao livre arbítrio, Calvino defende que este existia para Adão. Após a queda, o homem é, para Calvino, totalmente depravado. Para que isto seja considereda uma heresia, não basta refutar sem ler Calvino. Este deve ser lido com cuidado, para que se compreenda que sua teologia é bíblica (Veja o livro II, p. 75 a 100 / defesa do livre arbítrio pa!ra Adão: livro I, p. 211 e 212p)."

Portanto, segundo suas próprias palavras, Calvino admitia que o homem, depois da queda de Adão, não possui livre arbítrio. Desse modo, as ações do homem não são livres, e se ele vai ao céu ou ao inferno, isso é independente de sua vontade. Deus é que determina a salvação e a PERDIÇÃO do homem. Logo, Calvino defende a dupla predestinação. Repito: se ele disse isso em 24 páginas ou, como você, em três linhas, pouco importa. Ele defendeu a dupla predestinação, que é contrária à justiça de Deus. contrária à revelação e contrária à razão. Santo Agostinho jamais defendeu essa heresia.

Se Beza - outro herege - ou se os puritanos tiraram as conseqüências lógicas dessa doutrina de Calvino, não há como inocentar o tirano de Genebra. Ele plantou a árvore má. Ela só podia dar os frutos que deu.

Você erra também ao dizer que a situação de miséria existente em Genebra era fruto do feudalismo, e erra ao afirmar que os Bispos eram os maiores aproveitadores do sistema feudal. Quando Calvino se infiltrou em Genebra para lá instaurar sua heresia e sua tirania sangrenta, já se estava no século XVI, em pleno período absolutista e não feudal. O feudalismo estava já praticamente abandonado, vivendo a Europa em regime mercantilista.

Você procura defender Calvino dizendo que ele não foi o responsável pelos desdobramentos posteriores de sua doutrina. Diz você:

"Portanto, os ataques feitos ao calvinismo não são ataques a Calvino: são ataques aos desdobramentos posteriores que tem alguns equívocos teológicos que fizeram surgir a exploração capitalista e ascese indolente"

Repito, se os desdobramentos do calvinismo foram errados, é porque a semente do erro já estava em sua heresia inicial. Na verdade, estavam já nos princípios da própria Reforma de Lutero.

Lutero plantou a árvore; Calvino a desenvolveu; os anabatistas levaram-na a seus últimos frutos malígnos: o comunismo de bens.

Quanto ao "massacre" dos calvinistas invasores do Rio de Janeiro, você omite exatamente que foram eles os invasores. E se você se interessa por massacres, você deveria ler algo sobre o que fizeram os piratas calvinistas com os 40 jesuítas chefiados por Inácio de Azevedo. E já que está no tema, explicar também como foi a "justiça" estabelecida por Calvino em Genebra.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.