Defesa da Fé

Igreja Ortodoxa X Igreja Romana
PERGUNTA
Nome:
Orlando
Enviada em:
05/05/2004
Local:
Cordeiro - RJ,
Religião:
Ortodoxa
Idade:
29 anos
Escolaridade:
Superior concluído
Profissão:
medico

Prezado Senhor Orlando Fedeli, Qualquer historiador, neutro em religião, sabe que o Cisma do Oriente ocorrido em 1054, partiu de Roma que intitulou-se a a mãe de todas as Igrejas, devido a coroação de Carlos Magno que desejava ser coroado pelo bispo de Roma (capital do Imperio Romano naquela época} considerando-o ter poderes superiores aos outros bispos. (Cesaropapismo) Como Constantinopla não aceitou tal rótulo de "Igreja chefe" por parte de Roma, houve excomunhao mutua entre o bispo de roma e de constantinopla, separando as Igrejas do Oriente e do Ocidente. Não houve um concílio ecumenico para tal decisão de que Roma seria a mae de todas as Igreja e muito menos que o Bispo de Roma seria superior aos demais Bispos das outras capitais. Mas acho que o senhor conhece bem a verdadeira Historia do cristianismo, só não sei o porquê de ter mudado a verdadeira historia como resposta a pergunta do senhor Inisio de Brasilia-DF.

http://www.montfort.org.br/perguntas/igrejaortodoxa4.html

Sem mais para o momento,

Reverendo Matheus,
Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Autocéfala da Polônia, Igreja Irmã de todas as Verdadeiras Igrejas Ortodoxas de Jerusalem, Russia, Grecia, Servia etc
RESPOSTA
Muito prezado sr. Garcia, salve Maria!

Sua carta afirma erros crassos de História.

Roma não reivindicou o primado sobre todas as Igrejas por causa de Carlos Magno, que foi coroado no ano 800.

Desde o princípio do Cristianismo, os Bispos de Roma foram tidos como chefes de toda a Igreja.

Essa primazia de Roma vem do fato de que seu primeiro Bispo foi São Pedro, sobre quem Jesus instituiu a sua Igreja. Isso está nos Evangelhos. Negar isso é recusar aceitar o que Jesus determinou ao dizer:

Bem aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas Deus que está nos céus. Por isso Eu te digo que tu és Pedro, e que sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E Eu te darei as chaves de Reino dos Céus. Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desatares na terra será desatado nos céus” (Mt XVI, 16-19).

Essa promessa feita pelo próprio Cristo foi confirmada depois da Ressurreição de Nosso Senhor, ao dizer três vezes a Pedro:

Apascenta minhas ovelhas” (Jo XXI, 26).

Permita-me citar-lhe o que diz São João Crisóstomo -- um Santo Bispo oriental -- sobre esse texto:

"Jesus disse [a Pedro] ‘Alimenta minhas ovelhas’. "Por que Jesus não leva em conta aos demais Apóstolos e fala do rebanho somente a Pedro? "Porque ele foi escolhido entre os Apóstolos, ele foi a boca de seus discípulos, o líder do coro. Foi por essa razão que Paulo foi procurar a Pedro antes que aos demais. E também o Senhor fez isso para demonstrar que ele devia ter confiança, uma vez que a negação de Pedro havia sido perdoada. Jesus lhe confia o governo sobre seus irmãos... Se alguém perguntar "Por que então foi Santiago quem recebeu a Sé de Jerusalem?", eu lhe responderia que Pedro foi constituído mestre não de uma Sé, mas do mundo todo” (Homilia 88 (87) in Joannem, I. Cf. Orígenes, “In epis. Ad Rom.”, 5, 10; Efrén de Siria “Humn. In B. Petr.”, en “Bibl.Orient. Assemani”, 1, 95; León I, “Sermo IV de Natale”, 2. Apud Enciclopédia Católica, verbete Primado, artigo de G. H. JOYCE).

Como você vê, São João Crisóstomo reconhecia Pedro como chefe da Igreja em todo o mundo. E São João Crisóstomo é Doutor da Igreja, e viveu antes do Cisma do Oriente.

Por que os cismáticos orientais não aceitam o que esse grande Santo e Doutor oriental ensinava?

Desde o início da Igreja se teve o Bispo de Roma como chefe da Igreja toda, exatamente com base no texto dos Evangelhos.

Isso é que é histórico.

Por exemplo, São Clemente que foi o terceiro sucessor de São Pedro, depois de São Lino e de Santo Anacleto na Sé de Roma, em sua “Epístola aos coríntios” (Ep. 59), no ano 95 ou 96, portanto, ainda no I século da era cristã, e só trinta anos após martírio de São Pedro suplica para que se recebam aos bispos que tinham sido expulsos injustamente dizendo: “Se algum homem desobedecer às palavras que Deus pronunciou através de nós, saibam que esse tal terá cometido uma grave transgresão, e se terá posto em grave perigo”. E São Clemente incita então os coríntios a “obedecer às coisas escritas por nós através do Espírito Santo” (São Clemente, Ep.59).

Até mesmo um inimigo do Papado -- Lightfoot -- foi obrigado a confessar que esta carta de São Clemente foi “o primeiro passo para estabelecer a dominação papal” (Clemente, 1, 70).

Por volta do ano 107, Santo Inácio de Antioquía, outro santo oriental, em sua carta à igreja de Roma diz que ela “preside à irmandade de amor". Santo Irineu, discípulo de São Policarpo, Bispo de Esmirna depois de São João, em sua famosa obra “Adversus haereses” (III, 3, 2) argumenta contra os agnósticos, dizendo-lhe que suas doutrinas não têm base na tradição apostólica que foi conservada fielmente pelas igrejas, cujos Bispos vêem na sucessão dos Doze Apóstolos:

“Porém como seria demasiado longo enumerar as sucessões em Roma pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo, a qual desde os Apóstolos conserva a tradição e a fé anunciada aos homens pelos sucessores dos Apóstolos que chegam até nós. Assim confundimos a todos aqueles que de um modo ou de outro, ou para agradar-se a si mesmos, ou por cegueira, ou por uma falsa opinião, acumulam falsos conhecimentos. É necessário que qualquer igreja esteja em harmonia com essa igreja, cuja fundação é a mais garantida -- me refiro a todos os fiéis de qualquer lugar -- porque nela todos os que se encontram em todas partes conservaram a tradição apostólica".

A afirmação mais explícita da supremacia de Roma foi feita por São Víctor (189-198), quando impôs às igrejas asiáticas que se conformassem ao costume do resto da Igreja, na questão da Páscoa. Polícrates de Éfeso resistiu dizendo que os costumes que seguia procediam do próprio São João. O Papa São Víctor o excomungou por isso. Depois, São Víctor, instado por Santo Irineu, tendo visto que sua insistência poderia provocar mais dano que bem, retirou a excomunhão. Mas tanto pela excomunhão imposta, como pela sua retirada por São Víctor, fica patente a supremacia da Sé de Roma sobre todas as demais dioceses do mundo.

Abércio, Bispo de Hierópolis (pelo ano 200), assim fala da igreja romana:

“Ele [Cristo] me enviou a Roma a contemplar a majestade e para ver a uma raínha [Roma] coberta com um manto de ouro e calçada com sandálias de ouro”.

Tertuliano, no livro “De pudicitia” (por volta do ano 220), escrito quando já ele caíra na heresia do montanismo, critica uma prerrogativa papal. Ele ataca duramente um decreto do Papa chamando-o de “edito peremptório”, promulgado pelo “supremo pontífice, bispo dos bispos”. Ele dizia tais palavras sarcasticamente, mas, assim mesmo, elas indicam claramente como já se tinha a autoridade do Papa como superior a todos os Bispos, embora Tertuliano, como herege, não aceitasse isso.

São Ciprinao, que morreu no ano 258, chama explicitamente “Cátedra de São Pedro” de Sé romana, dizendo que Cornélio fora elevado “ao lugar de Fabiano, que é a cátedra de Pedro” (Ep 55:8; cf. 59:14).

São Cipriano escreveu também que Roma, “cátedra de Pedro, é a igreja principal da qual nasce a unidade episcopal” (ad Petri cathedram et ad ecclesiam principalem unde unitas sacerdotalis exorta est).

Para São Ciprinao, "a fonte dessa unidade episcopal é a Sé de Pedro. Conforme ele dizia, Roma desempenhava o mesmo ofício que desempenhou Pedro durante sua vida: ser princípio da unidade. Manter a comunhão com um antipapa como Novaciano seria cair em cisma (Ep. 68, 1). Ele sustenta ainda que o Papa tem autoridade para depor um bispo herege. Quando Marciano de Arles caiu na heresia, Cipriano, a pedido dos bispos dessa província, escreveu ao Papa Estevão para solicitar que ele “escrevesse cartas para excomungar a Marciano e fazer que alguém tomasse seu lugar” (Ep. 68, 3). (Apud artigo de G. H. JOYCE sobre o primado do Papa na Enciclopédia Católica).

Eusébio de Cesaréia em sua História Eclesiástica (7, 9) cita uma carta de São Dionísio dirigida ao Papa São Sixto II tratando de um batismo inválido po ter sido feito por hereges. Nessa carta São Dionísio diz que necessita do conselho do Papa e pede que ele decida.

Noutro caso, e anos depois, o Papa atendendo a São Dionísio, afirmou, com toda a sua autoridade para deixar clara a verdadeira doutrina sobre um assunto. Ambos os casos ensinam como Roma era reconhecida como detentora do poder para falar com autoridade em assuntos doutrinários (cfr. San Atanasio, “De sententia Dionysii”, en P.G. XXV, 500).

O Imperador Aureliano, em 270, decretou que quem fosse reconhecido pelos Bispos da Itália, e pelo Bispo de Roma deveria ser reconhecido como o legítimo ocupante de uma Sé episcopal. Isso mostra como a primazia de Roma era reconhecida universalmente, pois até um Imperador pagão sabia disso.

Santo Atanásio apelou a Roma contra a decisão do Concilio de Tiro (335) que o destituíra de sua diocese. O Papa Júlio anulou as decisões desse Concílio, restituindo a suas sés episcopais, tanto Santo Atanásio como Marcelo de Ancira.

O Papa São Júlio escreveu então:

“Se eles [Atanásio e Marcelo] realmente agiram mal, como dizem, o juízo deveria ter sido realizado de acordo com os cânones eclesiásticos, e não dessa maneira... Não sabe que o costume é que primeiro nos dirijam cartas a Nós (plural majestático) e depois procedam conforme se defina então?” (Atanásio, “Apologia”, 35).

De novo, fica evidente que, muito antes do Cisma do Oriente, era comum a doutrina do Primado da Igreja de Roma sobre todas as dioceses do mundo.

A pretensão do Arcebispo de Constantinopla a ter a primazia na Igreja do Oriente, ou a ter direito igual ao do Papa é um absurdo doutrinário e histórico. Constantinopla nunca teve um Apóstolo como Bispo, pois que ela não existia no tempo dos Apóstolos, pois foi fundada por Constantino em 313.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.

PS: Tirei os principais dados desta carta do artigo citado de G. H. JOYCE, na Enciclopédia Católica. OF