Religião-Filosofia-História
5. As idéias manifestadas por Katharina Emmerick antes da chegada de Brentano
Os biógrafos apresentam-na como uma camponesa inculta e de poucas leituras. Brentano afirma que ela jamais leu nem o Antigo, nem mesmo o Novo Testamento. Quais eram suas idéias? Compartilharia ela as opiniões expressas nas Visões tais quais foram anotadas por Brentano?
A tese da inteira objetividade das anotações de Brentano, defendida pelo Pe. Schmoeger, fazia Katharina Emmerick responsável por tudo o que é dito nessas Visões. Ora, como aí há muitas afirmações contrárias à Fé Católica, ela jamais poderia ser canonizada. Quando do exame dos escritos de Katharina Emmerick, no processo de canonização de 1817, chegou-se à conclusão de que os textos das Visões, e o que nelas se diz, eram responsabilidade de Brentano, e não da vidente, e, por isso, o processo pôde continuar.
Determinaram-se então novos estudos do problema, tendo sido encarregado deles o Pe. Winifrid Hümpfner que, em 1924, submeteu à Sagrada Congregação dos Ritos seu trabalho Glaubewürdigkeit. A posição oficial da Igreja é, até agora, como vimos anteriormente, a mesma que a do Pe. Hümpfner: as idéias expressas nos textos das Visões são de Brentano e não da vidente. Joseph Adams diverge um tanto dessa tese. Para ele, embora os textos das Visões, anotadas por Brentano, não devam ser atribuídos de modo absoluto a Katharina Emmerick, já antes da chegada de Brentano, ela expressava idéias semelhantes às dele, às do Dr. Wesener e às de Overberg (59).
Diz Adams:
"Do mesmo modo, é significativo que a vidente, em conversas freqüentes, às vezes de horas, com o médico sobre problemas teológicos, bíblicos e políticos contemporâneos, manifeste uma acentuada originalidade de idéias e autonomia de julgamento" (60).
É interessante notar que tais idéias "originais" e "autônomas'' vão se mostrar muito afins com as idéias de Brentano. E a primeira prova disso é a questão do magnetismo.
0 tema do magnetismo é tratado muito ambiguamente por Katharina Emmerick, e por seus biógrafos. Vimos que, já na primeira visita do Dr. Wesener à doente, o Pe. Limberg realizou uma verdadeira demonstração de magnetismo. 0 tema voltou a ser tratado pelo Dr. Wesener em 14 de Abril de 1815. Nesse dia, ele conta que conversou com o Pe. Limberg sobre o magnetismo animal e suas semelhanças com os fenômenos que se davam em Katharina Emmerick. Para Wesener, o que acontecia com a vidente não eram fenômenos de magnetismo, mas uma "clarividência de um tipo completamente diferente" (61). Nessa ocasião, o Pe. Limberg disse que, certa noite, estando só com a doente, fez várias experiências magnéticas nela, mas sem resultado (62).
Poucos dias depois, em 27-IV-1815, o médico conta que realizou experiências magnéticas em Katharina Emmerick, enquanto ela estava em êxtase, mas sem obter resultado. Quando, porém, o Pe. Limberg disse: "Alô! Obedeça! Onde está você?, a vidente acordou imediatamente, dizendo ter ouvido alguém chamá-la".
A 26 de Janeiro de 1816, há nova descrição de experiência magnética, feita pelo Pe. Limberg, assim descrita pelo Dr. Wesener:
"Às nove horas ela teve um êxtase. Eu pedi, então, ao Sr. Limberg para fazer uma experiência de magnetismo animal, ou seja, para perguntar a ela qual a sua doença, e onde se situava seu ponto central, e o lugar onde principalmente se situava. Ele fez isso várias vezes, e insistentemente, mas a enferma não respondeu" (63).
Em 5 de Abril de 1817, Katharina Emmerick recebeu pela primeira vez, a visita de Christian Brentano, que vinha vê-la com a licença do Vigário Geral de Münster, Clement Auguste Von Droste-Vischering. Como vimos, Christian era médico, e muito favorável ao magnetismo, e a monja mostrou-se muito simpática a ele, tendo feito elogios a seus excelentes princípios morais e religiosos. As idéias de Christian a respeito do magnetismo encontraram também boa acolhida no Pe. Limberg e no Dr. Wesener, e já no dia 16 de Abril de 1817, o diário do médico registrava uma experiência magnética extraordinária:
"0 Pe. Limberg fê-la dormir colocando a palma da mão sobre o local do coração, e inclinou sua cabeça em direção à cabeça dela.
"Sua pulsação era filiforme e espaçada; a respiração curta e fraca; a doente apresentava um quadro de extrema fraqueza.
"No dia anterior, o Sr. Limberg e eu, através de uma conversa instrutiva com o Dr. Brentano, tínhamos nos tornado mais confiantes com a essência e as visões produzidas pelo magnetismo, e acabamos por compreender que o magnetismo não é mais que um transbordamento da plenitude da saúde e da vida que, através da religião e da pilastra principal da mesma, vai inflamar o amor para com Deus, para com o Redentor e para com o próximo. Assim, o Pe.Limberg, cheio de confiança, dirigiu sua boca contra a boca aberta da doente, soprando nela seu hálito vivo. Após três ou quatro repetições desse ato, a doente respirou sempre mais profunda e sofregamente, e, finalmente, despertou com um tal fortalecimento e sensação de bem estar, que ela mesma estava extremamente surpresa.
"Mesmo a desagradável sensação de fraqueza e de vazio na região do estômago tinha inteiramente desaparecido, e a doente não compreendia de modo algum, de onde tinha vindo essa rápida melhora.
"Eu acho necessário manifestar-me brevemente, aqui, sobre a manipulação através da qual a doente é levada ao sono tranqüilo. Visto que somente agora este fenômeno me é explicável pela concepção de magnetismo, que acabo de receber. Já há muito tempo, e freqüentemente, o Pe. Limberg tem o poder de fazer a doente dormir, logo, através da mencionada manobra, sem poder explicar esse fenômeno: ele coloca sua mão sobre a precordion dela, e inclina a cabeça em direção à sua. Isso deu certo, todas as vezes, tanto que o Padre queria apostar com a doente que, em dois ou três minutos, a faria dormir" (64).
É interessante comparar este texto com a versão dos acontecimentos apresentada por Schmoeger:
"Graças às conversas instrutivas com o Sr. Doutor N...(é Christian Brentano), com o Sr. Limberg e comigo, nós nos familiarizamos mais ainda com o magnetismo, e nós reconhecemos que ele não é outra coisa "senão o escoamento de um espírito vital, atuando sobre o enfermo".
"Este espírito, que está espalhado em toda a natureza, é recebido pelo enfermo por meio de uma comunicação espiritual, ou mesmo corporal; ele age, então, naquele que o recebe, conforme a natureza do seu princípio, acendendo nele uma chama que pertence seja à terra, seja às regiões superiores, seja mesmo às inferiores, e realizando, conforme sua origem, efeitos salutares ou perniciosos. Este espírito vital, o cristão pode e deve inflamá-lo pela religião e pelo amor a Deus e ao próximo, de forma a torná-lo salutar para o corpo e para a alma". (65
A posição pessoal de Katharina Emmerick a respeito do magnetismo, já antes da chegada de Brentano, era hesitante e ambígua. Em 20 de Abril de 1817 - portanto, já depois da chegada de Christian Brentano, que deu novo impulso às experiências magnéticas, que o Pe. Limberg e o Dr. Wesener faziam com a freira - ela disse ao Dr. Wesener que inicialmente aceitou com indiferença o que ele, o Pe. Limberg e o Dr.Christian Brentano lhe haviam dito a respeito do magnetismo. Mas que, após refletir, teve uma visão em que se lhe revelou que o Magnetismo não era uma coisa boa, e "que a maior parte da coisa é ilusão do demônio". Afirmou, entretanto, que ainda não estava com o assunto totalmente resolvido. Mas que "se nós quisermos fazer o que os profetas e apóstolos faziam, precisamos ser também como eles eram, e então não precisaremos de nenhuma manipulação artificial". E ainda: "que as pessoas se esforcem por curar doentes através de algo que passa de uma pessoa sã para os doentes, em si não é ruim, mas toda mágica é neste caso ridícula e ilícita. O sono magnético e a contemplação de coisas futuras, se distantes são ilusões do demônio, sob a aparência de devoção" (66).
Ao ouvir isto, o Dr. Wesener teve um sobressalto de consciência, pois estava nessa época curando o braço de uma camponesa, por meios magnéticos. Katharina Emmerick perguntou, então, o que ele fazia para curar a camponesa e, tendo-o ouvido, disse:
"O aquecer com hálito e o aquecer o membro do doente através da mão da pessoa sadia, eu acho válido como remédio natural, mas os passes e o puxar com as mãos são absurdos e levam a superstição (ela quis dizer misticismo.)" (67).
A freira disse ainda que era preciso ser prudente ao tratar do tema com Christian Brentano, o qual teria boas intenções, mas estaria equivocado. 0 médico falou, então, com Brentano, que tratou do assunto com Katharina Emmerick:
"0 Sr. Brentano relatou-me que falou com a doente a respeito do magnetismo, e principalmente sobre as questionadas visões do mesmo. Assegurou-me que ficou contente com as suas declarações, quando se convenceu que ela via o magnetismo somente pelo lado negro e demoníaco. Mas a doente pareceu demonstrar um pouco de embaraço quanto à sua declaração durante minha visita, pois confessou acreditar ter sido um pouco precipitada. Eu a tranqüilizei sobre isso." (68).
Vê-se, pelo relato, que Katharina Emmerick, ou por receio de desagradar Christian Brentano, ou por não estar segura, hesitava. Ela, pelo menos, admitia que no magnetismo havia um lado bom e outro ruim. Esta hesitação se confirma pelo fato de que ela continuou a admitir que o Pe. Limberg curasse suas dores de dente e de cabeça por magnetismo, como aconteceu seis dias depois de conversar com Brentano, a 25 e 28 de Abril (69).
Alguns dias depois (2-V-1817), Katharina Emmerick contou ao Dr. Wesener que tivera uma visão a respeito do Dr. Brentano e do magnetismo:
"Eu recebi agora, também, a instrução correta a respeito da imposição das mãos, e da cura de minhas dores. Devo renunciar a isso. Devo suportar com paciência minhas dores, e o Padre não pode fazer em mim, senão aquilo a que estava acostumado."
"Eu lhe perguntei então o que ela me aconselhava em relação ao uso do magnetismo, para minha pessoa".
"Você pode, mesmo assim, utilizá-lo quando estiver seguro que não colocou a si mesmo, nem a outra pessoa, em tentação ou em perigo." (70).
Vê-se, por esse texto, que a ambigüidade continua. De um lado, o magnetismo é condenado. De outro, o Padre pôde continuar fazendo o que já fazia. Ora, algo do que ele estava acostumado a fazer eram ações tipicamente magnetizadoras. E também o Dr. Wesener pôde continuar a fazer curas magnéticas, desde que não houvesse perigo. Portanto, ela distingue um magnetismo diabólico e ilícito, e outro bom e permitido. Clemens Brentano seguirá a mesma linha ao distinguir, com Windischman, um magnetismo animal e diabólico, de outro espiritual e divino (71). Pelo magnetismo animal, Katharina Emmerick manifestará total repulsa, e o comparará a magia:
«A prática do magnetismo termina na magia; só que não se invoca o diabo, mas provém dele mesmo. Todos que a isto se entregam tomam da natureza alguma coisa que não pode ser adquirida legitimamente senão dentro da Igreja de Jesus Cristo, e que não pode se conservar com o poder de curar e de santificar, senão em seu seio; porque a natureza, para todos os que não estão em união viva com Jesus Cristo, pela verdadeira fé e pela graça santificante, está cheio da influência de Satã ». (...) (71)
« Eu vejo a própria essência do magnetismo como verdadeira; mas há um ladrão que é desencadeado, nessa luz velada ».
« (...) uma das faculdades do homem antes da queda, faculdade que não está totalmente morta, é ressuscitada de uma certa forma, para deixá-lo mais desarmado e num estado mais misterioso, exposto interiormente aos ataques do demônio. Este estado é real, ele existe, mas ele está coberto por um véu, porque é uma fonte envenenada para todos, exceto para os santos ».
« Eu sinto que os estado destas pessoas (magnetizadas) segue, sob certos aspectos, um caminho paralelo ao meu, mas indo para outro lado, vindo de algum lugar, e tendo outras conseqüências » (72).
Assim, continuavam as experiências magnéticas com a vidente, possivelmente com o seu consentimento:
"À noite, as fraquezas eram maiores. Quando foi erguida, ela caiu em desfalecimento mortal. 0 Pe. Limberg colocou sua boca sobre a boca dela, e soprou fortemente. Depois que repetiu isso três ou quatro vezes, voltaram o pulso e a respiração, e a enferma voltou a si novamente" (73).
E em 1º de Novembro, Wesener registra:
"De noite, desfalecimento mortal, ao mínimo movimento. 0 Padre a faz voltar a si, de novo, pelo sopro. A doente esclareceu que o sopro do padre, era, para ela, como um vento tépido, que ia através de todo corpo até a ponta dos dedos e dos artelhos". (74).
Nesses textos das visões de Katharina Emmerick, já do tempo em que Brentano estava a seu lado, estão resumidas as teses do chamado "catolicismo mágico" de Brentano, isto é, um catolicismo que aceitava um magnetismo bom, de origem divina, distinto do magnetismo animal, embora parecido com ele.
As teses de Katharina Emmerick e de Brentano sobre o magnetismo são, pois:
1. A essência do magnetismo é verdadeira.
2. Ele aproveita uma força existente na natureza.
3. 0 homem, antes da queda, tinha a capacidade de controlar e utilizar essa força.
4. Após a queda, essa capacidade foi parcialmente perdida.
5. Os que estão unidos a Cristo e a Igreja, os santos, podem utilizar essa força, sem perigo, e fazer curas.
6. Os que não estão unidos a Cristo só conseguem utilizar a força magnética com a ajuda do demônio, o que faz com que suas práticas confinem com a magia, e tenham conseqüências graves.
7. Materialmente é difícil distinguir os fenômenos dos dois magnetismos. Eles só se distinguem formalmente. Daí a semelhança entre as ocorrências do magnetismo animal, e o que acontecia com Katharina Emmerick.
Em coerência com essas teses, afirmavam que o poder taumatúrgico e os carismas dos santos consistiam em usar forças naturais, unidos a Deus, o que levava a confundir o sobrenatural com o natural, a graça com a natureza. A identificação do sobrenatural com o natural - tese cara ao romantismo - vai se tornar mais clara, quando Katharina Emmerick narrar os milagres de Cristo. Essa identificação é heterodoxa, do ponto de vista católico, mas está inteiramente de acordo com o pensamento esotérico e gnóstico: é no próprio homem, e na própria natureza, que se encontram as forças capazes de redimir o homem. 0 homem é o Salvador de si mesmo, o que é uma afirmação típica da Gnose.
Um segundo ponto interessante é a opinião de Katharina Emmerick sobre Jakob Boehme, que aparece no diário de Wesener em 15 de Janeiro de 1818:
"Quando eu, na noite passada, li para ela um trecho do "Despertar da Aurora", de Jakob Boehme, perguntei-lhe a sua opinião sobre esse homem notável. Ela me disse que bem pode ser verdade aquilo que ele escreveu sobre o ser de Deus, mas que é necessário ser precavido no tocante à sua explicação das coisas naturais. Aliás, afirmou, existe uma espécie de vida interior e uma concepção do ser das coisas que não vem do Espírito Santo, mas que resulta de outras forças. Se eu pudesse escrever, disse ela, poderia fazer um grande livro sobre isso"(75).
De modo que, com base nesse texto, Adams pôde dizer:
"Sobre a concepção de Deus de Jakob Boehme e sua "explicação das coisas naturais", assim como a respeito da teoria e a prática do magnetismo, ela tem sua própria opinião"(76).
A atitude que a freira demonstra face a Jakob Boehme não parece ser a de uma pessoa que entra em contato pela primeira vez com o texto de um autor, pois ela dá sua opinião sobre o homem, Jakob Boehme, e sobre sua obra, e não sobre o texto lido. De qualquer modo, se não ela, pelo menos seu médico lia Boehme, e comentava com ela a obra desse teósofo, sem que ela repelisse as doutrinas de Boehme à respeito de Deus, pelo que a defesa que Humpfner faz de Katharina Emmerick, nesse ponto, não é convincente.
Por isso, Adams pôde escrever ainda:
"Também o simbolismo, rico em interpretações místicas, de um Jakob Boehme, ou da "Teologia Alemã", não eram desconhecidas em Dülmen, e não permaneceram sem influência" (77).
Um terceiro tema abordado pela vidente, ainda antes da chegada de Brentano, é o da astrologia:
"Eu pensava que cada luz, e cada estrela, fossem um corpo como a nossa terra, provavelmente habitados por seres como nós. Ela achava que a Lua era exatamente assim, mas não as estrelas. Pois estas continham os destinos humanos. Haveria estrelas benéficas e estrelas maléficas, tendo cada homem a sua estrela boa e sua estrela má. As estrelas maléficas estariam atrás das boas, e não poderiam atuar tão diretamente sobre os homens. Se pudessem, ninguém poderia viver sobre a terra" (78).
0 quarto tema, que convém lembrar, é a opinião de Katharina Emmerick a respeito do fogo do purgatório e do inferno, expressa antes da chegada de Brentano a Dülmen. Em 9 de abril de 1814, conversando com o Dr. Wesener acerca desse assunto, disse ela:
"De resto, não se deveria pensar que os infelizes, no inferno e no purgatório, são castigados por fogo verdadeiro; isto seria apenas uma representação simbólica. A única e terrível fonte de castigo, para os infelizes, é a ira de Deus" (79).
0 que é uma opinião bem moderna, mas nada de acordo com a ortodoxia e, portanto, bem estranha na boca de uma pessoa em processo de canonização.
Finalmente, um último tema: o da graça.
"Numa conversa que tive com o Sr. Limberg, sobre a obra de S. Agostinho, De Gratia, fiz a afirmação que nós todos teríamos igual participação na graça divina, e que a única coisa realmente necessária para isso é sermos moralmente bons. Isso bastaria para nos tornarmos participantes da graça divina.
Mas, o Padre Limberg dizia que a graça é uma dádiva voluntária do Altíssimo, a qual Ele distribui segundo a sua santa vontade, fundamentando essa opinião na sentença de S. Paulo (II Tim I, 29), e na conversão de um dos ladrões, na cruz. A doente interessou-se vivamente por minha afirmação, e opinou que não estaria de acordo com a justiça infinita de Deus que um homem procurasse corretamente a graça, e não a pudesse obter. 0 Pe. Limberg permaneceu na sua opinião, e se fundamentou na letra da Sagrada Escritura. A doente afligiu-se visivelmente com isso" (80).
Ora, embora Deus conceda a graça suficiente a todos, Ele não distribui graças iguais para todos os homens. Esse conceito igualitário sobre a distribuição das graças, que Katharina Emmerick manifesta, é realmente contrário às Escrituras, como bem lembrou o Pe. Limberg, mas está bem de acordo com a filosofia e o pensamento em voga na Alemanha romântica.
Defesa de magnetismo cristão, simpatia por Böehme, idéias favoráveis à astrologia, conceito igualitário da economia da graça, negação do fogo do inferno e do purgatório, todas essas idéias são pontos de uma estrutura de pensamento muito comum na época do Romantismo, restando perguntar onde, ou com quem, Katharina aprendeu tudo isso.
É bem difícil encontrar resposta para essa questão. A única pista que encontramos foi uma declaração do decano Bernard Rensing incluído na "Positio". Segundo consta, quando ele falou da pretensa iluminação de Katharina Emmerick com o cartuxo Padre Anselmo Kroutz, este sorriu e disse:
"Muitas coisas que ela sabe de religião e de vida espiritual, provavelmente ela apreendeu comigo, porque, nesta matéria, ela era muito ávida de saber, e, com esta finalidade, ela vinha freqüentemente ao meu quarto, nas suas horas livres, para conversar de coisas espirituais, e eu lhe explicava ora sobre este, ora sobre aquele ponto" (81).
Evidentemente, isso, só, não prova muito, mas é mais um indício de que a tese de que Katharina Emmerick era uma camponesa absolutamente ignorante não se sustenta tão facilmente. Falando de suas leituras ao decano Bernard Overberg, Katharina Emmerick teria dito que lera muito pouco na sua vida, e com dificuldade, pois logo caía em contemplação extática, e citava, como exemplo de leitura, a Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis (82): "Taulerus é o primeiro e o único livro com o qual eu posso entreter-me. Eu entendo todo o seu conteúdo, com ele estou bem" (83).
Como vimos, Brentano costumava ler para ela livros de mística, para provocar êxtases nela.
"Muitas vezes, quando eu lia para ela sermões de Tauler, ou um livro espiritual, por alguns minutos, ou tinha conversas sobre religião com seu confessor ou com seu médico, estando ela presente, ela mergulhava em sono extático, e parecia que sua alma tinha deixado o corpo, o qual parecia abandonado, sem sentido, como morto, assumindo tal rigidez, que se podia pegá-la pela cabeça, como se estivesse petrificada" (84).
[Eram lidos para ela, ainda]: "Tauler, Teerstegen, antigos livros de devoção, algo do "Diálogo no Pequeno Convento da Cruz entre Jesus e uma alma, extraído de um antigo livro de oração", vidas de santos, "A Cidade de Deus", de Maria de Ágreda. Em 4 de maio de 1819, ele diz: "0 Peregrino Querúbico" (de Angelus Silesius) é para ela um total e agradabilíssimo. entretenimento... A leitura da "Teologia Alemã" a alegrou extraordinariamente, e ela adormeceu. "Não somente o peregrino (Brentano), mas também a vidente mostravam um amplo conhecimento da literatura de visões místicas." Ela indica agora: Theresa, Catarina de Siena, Clara de Montefalco, Brígida, Hildegarda, Verônica Giuliani, Maria de Jesus, etc. de cujas visões o peregrino observa que ela só teve um conhecimento interior" (85).
Tudo isso mostra que Katharina Emmerick não era propriamente a camponesa iletrada e absolutamente inculta, que alguns pretendem apresentar. Note-se, que a lista de livros místicos relacionados é uma mistura de santos e de autores, cuja doutrina e terminologia podem ser facilmente entendidas de modo gnóstico ou esotérico, como é o caso de Angelus Silesius.
6. Clemens Brentano e Katharina Emmerick
Clemens Brentano chegou a Dülmen em 24-IX-1818, a fim de conhecer Katharina Emmerick, de quem lhe haviam falado, entre outros, Christian Stolberg, Ludwig von Gerlach, e seu irmão, Christian Brentano.
0 Conde F.L. von Stolberg, antigo Iluminado da Baviera, convertera-se ao catolicismo, e passara a ter contato com a chamada "Sagrada Família" de Münster, grupo católico que girava em torno da família Droste Vischering. Em 1813, pouco depois de se tornar público o fato de que havia uma freira estigmatizada em Dülmen, o Conde von Stolberg foi vê-la com a licença de seu antigo amigo o vigário-geral Dröste Vischering, junto com o decano Bernard Overberg. Stolberg escreveu uma carta, relatando o que viu em Dülmen, carta que foi publicada e que seu filho Christian, mostrou a Brentano. Em 1815, Christian von Stolberg e Ludwig von Gerlach foram a Dülmen, e voltaram a Berlim, contando o que haviam visto a Clemens Brentano e demais companheiros da "Tischgesellschaft" [Sociedade da Mesa].
Como vimos no capítulo II deste trabalho, Christian Brentano esteve em Dülmen, em contato íntimo com Katharina Emmerick, de 5 de abril a 4 de julho de 1817. A seguir, foi a Berlim tentar convencer seu irmão Clemens a ir ver Katharina Emmerick. Era pelo ângulo do Magnetismo que Christian, médico e magnetizador, se interessava pelo caso Emmerick. Clemens Brentano, entretanto, estava nesse tempo apaixonado por Luise Hensel, e por nada no mundo queria se afastar dela.
Em 1818, Christian Brentano preparou nova visita a Dülmen, desta vez em companhia do Pe. Sailer, que tinha grande influência sobre Clemens, e ambos rogaram ao poeta que os acompanhasse na visita a estigmatizada. Luise Hensel, tendendo a converter-se ao catolicismo, pressionou também o seu apaixonado Clemens a fazer a viagem, tendo nisso um duplo interesse: o religioso e o pessoal, pois queria livrar-se de Brentano, pelo menos durante certo tempo, já que ele estava se excedendo em suas manifestações de amor por ela:
"0 peregrino [apelido para designar Clemens Brentano], se tornou para ela um horrível fardo; ele ficava sentado na sua cama, todas as noites, enquanto ela esteve doente!... Ele a perseguia por todas as ruas, e a espionava nas esquinas; se ela conversava com outros, ele ia atrevidamente ao seu encontro. Ele se atirou ao chão, e pediu que ela o pisoteasse, o que ela fez realmente, com repugnância. Então ele vagueou sem direção como um louco, dizendo que merecia isso" (86).
Em 14-IX-1818, Brentano deixou Berlim, para ir encontrar-se com Sailer, no castelo dos Stolberg, em Sondermühlen. No dia seguinte, chegou a Münster, onde cativou a amizade de Overberg, confessor de Katharina Emmerick. Em 24-IX-1818, estava em Dülmen, onde ficara, com pequenos intervalos, até 1824.
Brentano chegava a Dülmen em meio a uma grave crise religiosa e sentimental. Apaixonado por Luise Hensel a ponto de querer tornar-se protestante, para casar-se com ela, - sua segunda esposa, Augustine Busman, vivia ainda - e vendo-se recusado, em suas aspirações, por influência de Luise, acabara por converter-se, fazendo uma confissão geral. Vivia ainda o "fervor de noviço". Além disso, há pouco se interessara sobremaneira pelos Erwekten da Baviera [Despertados da Baviera, uma espécie de seita carismática] e pelas teorias do pastor pietista Hermes, e já vimos, também, que nesse tempo, recrudescera seu interesse pelos temas esotéricos e místicos, pois lia Böehme, Swedenborg, Saint-Martin, a Deutsche Theologie, e obras sobre a Cabala. Seu irmão Christian o aproximara do magnetismo.
Nos anos anteriores, 1815-1816, a arte fôra para Clemens Brentano uma espécie de religião:
"Pela poesia, pelo amor, ele esperava sempre poder satisfazer sua necessidade imperiosa de restabelecer uma unidade comprometida pelo pecado original. Depois, ele compreendeu que ele aspirava a um impossível retorno a um mundo, no qual não haveria mais divisão e ruptura, nem sexos, nem desejo, e nem pecado" (87).
Segundo J. Adams, do Diário de Brentano se conclui que ele julgou encontrar, em Dülmen, com katharina Emmerick, três coisas que procurara durante toda a sua vida:
1. uma mulher medianeira de salvação;
2. inserir-se, através dessa mulher, num todo maior, no corpo da Igreja, na realidade viva da comunhão dos santos, no tesouro das graças;
3. uma missão, a missão de sua vida: redigir tudo o que a estigmatizada dizia do mundo sobrenatural (88).
Todo o relato de Brentano sobre sua chegada a Dülmen, a descrição dos costumes do povo da região, e seus primeiros contatos com Katharina Emmerick, estão eivados de uma grande distorção romântica e sonhadora. Ele descreveu o que queria ver, e, por exemplo, ele achou Katharina Emmerick extraordinariamente parecida com Luise Hensel, de quem ele não se esquecia (89). Escrevendo para ela um diário de tudo o que via, e do que não via; enviando-lhe então as visões que Katharina Emmerick teria tido sobre ela, Luise, e sobre os perigos espirituais que ela corria em Berlim, ele procura, deste modo, trazê-la também para Dülmen. Mais tarde confessou à mesma Luise, que tais visões tinham sido invenção dele: "puros produtos da imaginação exaltada e mórbida de poeta" (90).
Em 1842, Luise pediu ao jovem Van der Meulen, que perguntasse a Clemens Brentano o que realmente Katharina Emmerick vira a respeito dela, visto que ela pensava tornar-se religiosa, já que, numa suposta visão, Katharina a relacionara com um convento. A esta questão, Clemens Bretano respondeu então que, sobre Luise, Katharina Emmerick não vira nada (91).
Logo, entre Clemens Brentano e a freira estigmatizada, se estabeleceu uma grande intimidade. Ele obteve a chave de seu quarto, e passava lá noites inteiras, o que causou uma onda de murmúrios maledicentes, em Dülmen (92) e ele mesmo, no seu diário para Luise Hensel, contou que, em seus sonhos, a freira foi prevenida de que a caridade de Brentano era apenas uma máscara da "paixão muito violenta que ele concebera por Katharina Emmerick" (93).
Bernard Gajek mostrou, por outro lado, através da análise das poesias que Brentano fez durante sua estadia em Dulmen, que ele procurava, então, sublimar a atração que sentia pela vidente:
"A relação de Brentano com ela (Katharina Emmerick) tinha coloração erótica, é o que se torna evidente em seus relatórios" (94).
Vimos [no capítulo II] que também J. Adams chegara a uma conclusão semelhante, ao dizer que, embora em níveis diferentes, as relações de Brentano com Katharina Emmerick e com Sophie Mereau, mostram extrema semelhança de estrutura" (95).
Para se ter uma idéia da intimidade que o poeta tinha com a freira, veja-se o seguinte texto:
"Estranho movimento no corpo. Ontem à noite, mais ou menos às 6 horas, o Peregrino [Clemens Brentano] sentou-se ao lado da cama dela, e colocou a mão esquerda, sobre o cobertor, cerca de duas polegadas perto do meio da coxa esquerda dela, e dialogava com ela. De repente, ouviu um som ameaçador, aproximando-se de sua mão, e, ao mesmo tempo, entrando pelo quadril da enferma, onde ele tinha colocado a mão, e daí passou por sua mão por baixo da colcha grossa pespontada, e desceu para o pé, sobre o corpo que se sacudia. Ele perguntou à doente o que seria isso, e ela disse: agora está no calcanhar. Ela sente isso correr, já há alguns dias. Isso estava há pouco em sua face esquerda, mas quando ela colocou a mão sobre a face, passou para o busto esquerdo, depois para o lado esquerdo do ventre, a seguir correu para baixo. Freqüentemente anda sobre o corpo. Não dói. É como se fosse um puxar. Recentemente, andou muito sobre o seu corpo, tanto que pôde então urinar. 0 Peregrino [Clemens Brentano] molhou sua mão esquerda com água benta, e pegou o calcanhar esquerdo dela, que se achava, então, com um certo tremor. Cerca de dois minutos depois, ela disse: "Está de novo no corpo", no qual havia um ruído especial. 0 Peregrino sentiu como se alguém estivesse empurrando um bastão longo e forte, de mais ou menos duas polegadas, ao longo da coxa"(96).
Nesse texto, Adams nota a preocupação de Brentano em ser objetivo, fazendo um diagnóstico frio, afirmando, entretanto, que o ponto principal está em outro nível, totalmente diferente: um acontecimento sinistro e misterioso que evoca uma atmosfera assustadora e demoníaca. Ora, para nós, o fato descrito com tantas minúcias parece situar-se "totalmente noutro nível": o de um falso misticismo erótico, pois impressiona a sem-cerimônia com que Brentano diz, que, ao conversar com a freira, pôs a mão sobre o meio de sua coxa esquerda. Não é uma atitude que normalmente uma senhora qualquer permita, quanto mais uma freira, e ainda mais estigmatizada, o que prova a incrível intimidade de Brentano com a vidente, assim como a liberdade com que ela permitia que ele a tocasse.
No dia 9 de outubro de 1818, Brentano registra em seu diário, que viu pela primeira vez os estigmas de Katharina Emmerick:
"Seu confessor tinha desejado que eu visse os estigmas, para dar sobre eles um testemunho verídico. A marca da lança no lado direito do peito dá uma impressão perturbadora. Ela parece ter duas polegadas e meia de comprimento, e me causou a impressão de uma boca pura e silenciosa, cujos lábios estão ligeiramente separados. Além da dupla cruz em forma de forquilha sobre o osso do peito [o esterno], ela tem na região do estômago, uma cruz latina, tendo uma polegada de largura, que não verte sangue, mas, sim, água" (97).
No Diário [de Brentano] para Luise Hensel, a descrição dos estigmas aparece, em 4-XII-1818:
"A cruz do peito, a chaga do flanco, a cruz sobre o estômago.
"Ela me mostrou esses estigmas hoje por ordem de seu confessor, sob obediência espiritual. Descreverei todos esses estigmas na ocasião em que tiver que relatar a estigmatização. A dupla cruz grega, sobre o osso do peito [o esterno], cujo comprimento equivale à largura de uma mão, aparecia, hoje, como uma leve irritação da pele, não tendo cor de sangue sequer no cruzamento das linhas. Porém, em toda a sua volta, aparecia por baixo da pele uma coloração vermelha de sangue, cujo tom ficava mais claro à medida que se afastava da cruz. Esta cruz se move junto com a pele. Acontece muitas vezes que essa mancha de sangue passa do vermelho claro ao vermelho mais intenso. 0 derramamento de sangue da própria linha da cruz cessou há alguns anos, porém, exsuda na região dessa linha, algumas vezes, suor tingido de vermelho. A cruz latina no peito, debaixo da região do coração, que freqüentemente derrama água, vi-a, hoje, marrom bem claro. A região da chaga sob a quarta costela, contando a partir de baixo, do lado direito daquele miserável corpo, causa uma impressão tão tocante, que é quase impossível vê-la sem lágrimas. Já há algum tempo não derrama sangue vermelho forte, porém, muitas vezes, derrama soro, e outras vezes está mais ou menos avermelhada e dolorida. Não é propriamente uma ferida com lábios separados, mas mostrava-se, hoje, apenas, tal a cruz do peito, como uma fina fissura na pele, com bordas levemente avermelhadas e puras. Eu vi essa chaga hoje com um comprimento de 2,5 polegadas, dando a impressão de uma boca silenciosamente pura, com os lábios quase não separados" (98).
Nos dois textos, a comparação da chaga do peito de Katharina Emmerick com uma boca de lábios entreabertos é reveladora: isso tem relação com a idéia de Brentano, inspirada em Boehme, de que, primitivamente, antes do pecado original, em Eva, a geração humana se daria por meio da palavra humana, e não pelo sexo. A criança gerada sob o coração da mãe, nasceria por meio de uma "boca", que se abriria no peito da mãe, na hora desse estranho parto. Entre os pietistas, admiradores de Jakob Boehme, isso deu origem a um culto da chaga de Cristo, chaga essa que Jesus recebera para restabelecer o modo de geração e de nascimento originais do homem, segundo Boehme.
É evidente que todas essas idéias de Boehme e de Brentano são de natureza gnóstica, pois manifestam uma profunda ojeriza, e mesmo repugnância pela reprodução humana tal qual ela foi estabelecida por Deus, por via sexual.
Logo, Brentano se entusiasmou com as experiências mágico-magnéticas que o confessor fazia com a doente: como ela chupava o dedo consagrado do padre, como ela atendia às ordens em nome da obediência, quando estava em êxtase, etc.
Depois, ele pediu ao padre que escrevesse a ordem: "Sê obediente. Levanta-te", num papel e, quando o confessor colocou o bilhete sobre a cabeça da vidente em êxtase, imediatamente ela se ergueu, perguntando o que se queria dela. Retirado o bilhete, ela recaiu no êxtase. E Brentano acrescenta: "Eu guardo esse bilhete, e eu quero saber se, na ausência do confessor, eu poderei, eu também, dele me servir, para despertá-la" (99).
Alguns dias depois, Brentano conta:
"Esta tarde, como ela se encontrava em êxtase, durante a ausência do seu confessor e como não havia ninguém que pudesse despertá-la, eu peguei a ordem escrita por ele e, apenas eu a havia colocado sobre o seu peito, ela voltou a si, como de costume" (100).
0 fato narrado se encaixa perfeitamente nas experiências do magnetismo ou do "catolicismo mágico", porque dele se pode deduzir que a força para despertar Katharina Emmerick teria passado do Padre para o bilhete, que continha a ordem escrita. Outro fenômeno, que fascinou Brentano em Katharina Emmerick, foi a sua capacidade de reconhecer as relíquias dos santos. Brentano colocava relíquias de santos sobre as chagas de Katharina Emmerick, e ela, caindo em êxtase, tinha visões sobre a vida da pessoa a quem pertencia a relíquia (101).
0 passo seguinte foi colocar sobre as chagas da vidente relíquias falsas, para que ela as identificasse, ou objetos antigos - um fóssil de um animal, ou um objeto do Império Romano - para que ela tivesse visões do passado. A seguir, ele começou a colocar, sobre as chagas da freira, cabelos de Luise Hensel, a fim de que a vidente lhe desse informações sobre a vida, os sentimentos, e o que ocorria com sua bem-amada. Fez o mesmo com cabelos de Sophie Méreau. Finalmente, ele pôs unhas da própria vidente sobre as chagas, para que ela tivesse visões a respeito de si mesma, vendo-se como se fosse outra pessoa.
Outro meio usado pelo poeta para provocar visões na freira, fazendo-a cair em êxtase, consistia em ler para ela livros místicos, especialmente os de Tauler.
"Um meio muito eficiente é a conversa espiritual de todo tipo, e principalmente a leitura espiritual, em que ela mostrava uma preferência declarada pelos escritos de Tauler: "Eu os leio em êxtase", dizia ela (102).
Afinal, Brentano dominou de tal modo Katharina Emmerick, que o Dr. Wesener queixava-se, dizendo que ela agora só ficava em êxtase, tendo uma relação físico-magnética com o poeta.
"Até este ponto está tudo bem. Entretanto, preocupa de certa maneira o estranho contato pelo qual o Sr. Brentano se aproximou da doente, e sua relação físico-magnética através da qual ele - e agora eu também - ele pode produzir por esse meio reações e a imobilidade do êxtase, já que isto acontecia apenas - embora aconteça ainda - através de visões interiores, obtidas pela benção da Igreja" (103).
Brentano dizia ter conseguido manter comunicações telepáticas com a freira.
"Alguns dias depois o senhor Brentano descobriu também uma linguagem de pensamentos nela: ele entretinha-se com ela, em pensamento, e ela respondia normalmente às suas perguntas, feitas em pensamento, quando ele pegava a sua mão" (104).
Brentano, diz Érica Tunner, encontrou em Katharina Emmerick três elementos essenciais para ele: a mulher mediadora, com a qual ele sempre sonhara; a mulher inocente, que "dorme em seus braços, como uma criança"; a mulher maternal, que o compreende e protege, que o guia nos caminhos da perfeição, prometendo-lhe paz, calma e consolação.
"Eu me tornei seu filho", escreve ele a Luise Hensel, em 1-XI-1818 (105). A esses elementos acrescentaremos nós um quarto item: ela é também a "médium", que permite ao poeta alcançar o mundo sobrenatural, o mundo do sonho, e cujas informações alimentarão a sua fantasia, e confirmarão as suas teorias.
Nessas condições, era natural que um homem como Brentano, de pujante e dominadora personalidade, procurasse ter Katharina Emmerick apenas para si. Tendo chegado a Dülmen em setembro, três meses depois ele já estava em conflito com todas as pessoas que formavam a "entourage" da vidente. Ele invejava os padres pela intimidade que Katharina Emmerick tinha com eles, revelando-lhes o interior de sua alma. Além disso, Brentano invejava a atração que a vidente tinha pelos dedos consagrados dos padres. Logo pensou em tornar-se padre também (106). Mas sua situação de homem casado (Agustine Busman matar-se-á em 1832) não lhe permitiu realizar esse intento.
Ele criticava todos os circunstantes, porque faziam Katharina Emmerick perder tempo: Wesener, falando-lhe de seus doentes; os padres e os parentes dela, tratando de ninharias. Mas ele próprio, porém, esgotou a paciência da freira, por causa de suas exigências insaciáveis de minúcias, a respeito do que ela via em êxtase.
Em Janeiro de 1819, Brentano viajou a Berlim, a pretexto de vender sua biblioteca, mas, na verdade, viajou por estar com ciúmes de Luise Hensel. Com efeito, Luise se convertera há pouco ao catolicismo, enquanto Katharina Emmerick e Brentano continuavam rezando para que essa conversão viesse a se realizar. Luise entregou ao poeta o seu diário, no qual ele pôde constatar a paixão que ela tinha por Ludwig von Gerlach, e, ao mesmo tempo - e contraditoriamente -, o seu desejo de entrar num convento. Brentano, então, não descansou até afastar Luise de Berlim e do seu rival, e a colocou como governanta, em Münster, na casa da princesa da Salm, Amélia Gallitzin.
A seguir, ele vendeu a sua biblioteca, rica em livros raros e manuscritos preciosos, e conservou apenas os livros de teologia, vidas de santos, e edições raras de Basilide e de Spee, além de livros de exorcismo e de Cabala (107).
Logo que Brentano deixou Dülmen, montou-se ali uma pequena conspiração, para que ele não mais retornasse. 0 padre Lambert implorou a Katharina Emmerick que não permitisse a sua volta, e o Dr. Wesener apoiou o seu pedido. Eles escreveram cartas a Brentano, dizendo-lhe que não retornasse a Dülmen, pois trazia mais prejuízos do que vantagens à vidente. Após uma troca de cartas de todos com Overberg, e do arrependimento de Brentano, consentiu-se que ele voltasse, graças especialmente ao apoio que Overberg lhe deu. É de se notar, porém, que Hümpfner provou que as cartas de Wesener e Lambert para Brentano, publicadas por Schmoeger, foram forjadas pelo poeta (108).
Em maio de 1819, Brentano retornou a Dülmen, onde ficara até 1824. Porém, suas relações com Katharina Emmerick foram, pouco a pouco, se deteriorando. Logo que voltou, Brentano se queixou de que Katharina Emmerick se esquecia de todas as profundas comunicações que recebia do além, e que quase as abandonava (109).
"Ela é mal humorada", torna-se "impaciente nas perguntas melindrosas, é "facilmente lacônica", "muito complicada para o convívio", "muitas vezes astuciosa"; "procura causas para desgosto, ela mesma trama acusações infundadas"; "teimosa, impaciente e incompreensiva, e levando tudo a mal, como uma pessoa muito caprichosa" (110). Estas eram as queixas de Brentano contra a freira.
E continua ele na crítica impiedosa à sua "santa":
"Ela é preguiçosa para as conversas espirituais", e, no entanto, conduz "as conversas muito agilmente, quando se trata de bisbilhotices" (111). Brentano passa a dar-lhe importância apenas como vidente, e só se interessa pelas informações que ela fornece em estado de êxtase, porque "às suas conversas, quando desperta, pouca importância se dá". E ela, em geral, nesse estado, é "um ser muito débil, é muito enfadonha e sem sabedoria" (112). Indo mais longe, acrescenta: "Sua débil humanidade, porém, é somente o local de travessia, desinteressado e inconsciente, da "corrente de graça", "da qual para ela mesma nenhuma sabedoria resulta", e de nenhum modo "consolação ou entendimento" (113).
Brentano a acusa mesmo de ter pouco interesse pelas suas próprias visões, porque "com indiferença total ela esquece completamente as mais importantes comunicações, e as põe de lado, sim, ela esquece com gosto (114). Ela parece, aliás, não entender nada das tais imagens (que vê); pelo menos ela se porta como se fosse assim (115)... eis porque suas palavras, quando desperta, merecem pouca ou nenhuma confiança" (116).
"São notáveis o seu mau entendimento, e seu costume de dar conselho em tudo, antes que lho peçam. Sem compreender, ela toma as palavras totalmente às avessas, e teima em sua resposta. Ela raramente sabe o que se diz, e diz raramente o que sabe".
Não se poderia ser mais cruel e arrasador. É bem o estilo de Brentano (117).
Ele não poupa, também, o ambiente em que ela vive, "suas companhias desesperadamente repugnantes", a "monstruosa confusão" e "a total confusão e porcaria em torno dela" (118).
Aliás, na própria "Positio", se dá o testemunho de Rensing, de que Katharina Emmerick "usa do vocabulário popular, palavras que ofendem o ouvido de pessoas educadas" (119).
Isto quer dizer que ela era pouco recatada nas palavras, usando palavras prosaicas e grosseiras.
Como uma pessoa como essa freira poderia ser, um dia, Serva de Deus, com processo de beatificação em Roma?
7. As visões de Katharina Emmerick e as anotações de Brentano
Foge ao escopo desta tese a discussão sobre a autenticidade das visões de Katharina Emmerick, e sobre a fidelidade de Brentano, como divulgador das mesmas. Interessa-nos apenas, como já dissemos, constatar a existência de traços cabalísticos e esotéricos nessas visões.
Contudo, queremos ressaltar, preliminarmente, alguns pontos:
- Katharina Emmerick tinha visões, sonhos extraordinários e êxtases, já antes da chegada de Brentano;
- Katharina Emmerick - nós já o mostramos - compartilhava, já antes da vinda de Brentano, de muitas das idéias que aparecerão nas anotações das visões de Brentano;
- Não discutiremos, nesta tese, a natureza das visões de Katharina Emmerick, nem sua origem.
Quando Brentano chegou a Dülmen, ele ficou entusiasmado com os estranhos fenômenos que se davam na pessoa da freira, fenômenos esses que eram, para ele, a comprovação de que suas visões do além eram autênticas. Como diz Adams: "...aos olhos de Brentano, Katharina Emmerick é uma profetiza inspirada e escolhida por Deus, "talvez a maior vidente alegórica e histórica que viveu, desde Ísis (Sic)" (120). Emmerick se acha também dignamente incluída, por Brentano, entre os maiores sábios e videntes da humanidade" (121). E o poeta não hesita em compará-la aos profetas do Antigo Testamento, a São João e a Zoroastro (Sic), dizendo que, como eles, ela recebeu o seu livro de profecias da misteriosa "Montanha dos Profetas" de que trataremos mais adiante (que seria identificada até com o Mont Ségur dos cátaros, ou com a Monte Alborz da gnose shiita, como mostra Henry Corbin. Brentano não para aí, e chega a atribuir a Katharina Emmerick a missão de ser a grande intermediária entre Deus e a natureza, e como que uma Redentora ou Messias da natureza, como esperavam os autores românticos:
"Assim, a vidente está colocada propriamente como mediadora entre Deus e a Natureza. A ela foi concedido o poder de elevar as criaturas para Deus, e conduzi-las à sua determinação eterna nEle" (122).
As Revelações e a missão de Katharina Emmerick estariam, por isso, acima dos feitos pelos demais profetas, e preparariam o Novo Reino de Amor, do qual Brentano seria, por vocação divina, o anunciador, já que Deus o encarregara de anotar e publicar tais revelações.
A "poesia", que abrange as visões de Emmerick, não é mais apenas "fragmento", mas, sim, é a "totalidade" que Deus revelou a seus escolhidos, para o restabelecimento da "unidade" perdida, para a salvação do "tempo despedaçado e totalmente cego", e que teria sido entregue a ele (Brentano), como o porta-voz predestinado, para anunciação, preparação e fundação de nova idade da fé que ia chegar:
"Eu recebi, foi-me entregue uma parte do Apocalipse para a qual, até agora, os homens ainda não estavam maduros, e eles não sabiam que tinham recebido esses raios, que são de João, e toda a luz cairá sobre a Igreja. Acontece que a Igreja não tinha, nos últimos tempos, capacidade nenhuma de receber essa luz" (123).
Como se vê, era uma espécie de novo Pentecostes, de nova revelação, de uma renovação da Igreja, que a faria mais perfeita como jamais fôra, que inauguraria a nova era do amor.
E como são comuns, hoje, os ecos dessas palavras!...
Com o tempo, e ante a constatação dos inúmeros defeitos de Katharina Emmerick, que, segundo Brentano, tornavam-na indigna de sua missão, o poeta passou a considerá-la apenas como um veículo de manifestação da Divindade, que nada compreendia de suas próprias visões. Por isso, só a ele, Brentano, cabia o grande fardo de comunicar tais revelações ao público. Daí a liberdade com que ele tratou as "visões" da freira de Dülmen.
Quando Brentano retornou a Dülmen, em maio de 1819, ele visitava a freira todas as manhãs, para anotar o que ela dizia ter visto, em sonhos, à noite. À tarde, ele passava suas notas a limpo e, por fim, à noite, vinha lê-los para a freira, que corrigia o que fôra mal expresso. Isto, pelo menos, é o que o poeta diz que fazia. Hoje, porém, a polêmica sobre a autoria das Visões de Katharina Emmerick parece já resolvida, e a posição do padre Schmoeger de que Brentano foi objetivo na anotação do que lhe dizia a vidente, se mostra insustentável, graças aos estudos realizados, e a publicação dos textos originais do poeta. Bem antes, Diel e Kreiten colocaram em dúvida a fidelidade de Brentano, na reprodução das visões de Katharina Emmerick, por causa do reconhecido caráter fantasista do poeta, e os censores dos escritos da "vidente", no processo de canonização instaurado em 1892-1894, chegaram à conclusão de que Brentano é que devia ser responsabilizado por eles.
0 padre Winfried Hümpfner, no trabaIho que elaborou para a Congregação dos Ritos, tendo em vista o mesmo processo, chegou à conclusão, como vimos, de que os escritos atribuídos a Katharina Emmerick são "uma mistificação científica, consciente e premeditada" de Brentano (124).
Por outro lado, os novos estudos encomendados pela "Sagrada Congregação para a Causa dos Santos" aos professores Erwin Iserloh e Ildefonz Maria Dietz vieram confirmar a opinião dos censores e a do Padre Hümpfer, assim como os trabalhos de Hans Stahl, Cardauns e Oehl também contribuíram para a demonstração de que Brentano não foi um relator fiel.
Para Joseph Adams, enfim, é evidente que Brentano manipulou os dados fornecidos por Katharina Emmerick, o que se comprova pela fluidez, exatidão e habilidade do estilo (125).
A conclusão geral a que se chegou foi de que os textos das Visões de Anna Katharina Emmerick são de Clemens Brentano, o que não exclui que ela tenha tido visões, e que algo do que ela disse esteja realmente nos textos de Brentano, embora adornado e completado por observações desse poeta e redator infiel.
Constata-se, pelo que vimos até agora, que existia uma profunda relação do Romantismo com o esoterismo e a Cabala.
Verificamos ainda como a vida, a mentalidade, as leituras e idéias de Brentano foram influenciadas pelas doutrinas esotéricas e cabalistas.
Registramos, enfim, como Anna Katharina Emmerick, e igualmente as pessoas de seu círculo mais próximo, não estavam isentas de influências esotéricas, teosóficas, gnósticas e cabalistas.
Veremos, em seguida, como tais doutrinas e idéias, que encharcavam os ambientes religiosos e culturais da Alemanha do tempo do Romantismo, repercutiram nos textos das Visões de Anna Katharina Emmerick, redigidas por Clemens Brentano.
(1) K.E. SCHOMOEGER, Das Leben der Gottseligen Anna Kathari Emmerick, Herder, Freiburg im Brisgau, 2 vol., 1987-1870.
(2) K.E.Scihmoeger, Vie d'Anna Catherine Emmerick, 3 vol., Téquí, Paris, reproduction offset d'après l'édition originale de 1868 de Bray et Retaux, 1981.
(3) DIEL-KREITEN Clemens Brentano, Ein Lebensbild, 2 vol. Herder'sche Verlage Freiburg im Brísgau, 1877.
(4) T. WEGENER, Das inner und äussere Leben der Gottseligen Dienerin Gottes Anna Katharina Emmerick aus dem Augustinerordens, Paulttloch Verlag, Aschaffenburg, 1974, 2a edição.
(5) POSITIO, p.2. Documento da SACRA CONGREGATINIS PRO CAUSA SANCTORUM.
(6) WINFRIED HÜMPFNER, Clemens Brentano Glaubewurdigkeit in seínem Emmerick Aufzeichnungen, St. Ritua Verlag und Druckerei Wurzburg, 1923.
(7) Apud Relatio et Vota, voto V. - "Relatio et vota do Congressus peculiarís" - Roma, 10 de fevereiro de 1982, documento da Sacra Congregationis Pro Causa Sanctorum, p.n. 1225, assinado pelo Pe. Agostino Amore O.F.M., Relator Geral, com o visto de Giuseppe Casoria, secretário; este documento tem por título "An causam eius íntroducenda sit" ("Se a causa dela pode ser introduzida").
(8) Relatio et vota Voto VI.
(9) J. ADAMS - Clemens Brentanos Emmerick - Erlebnis, Verlag Herder, Freiburg, 1956.
(10) A. BRIEGER - Der Gotteskreiss, Manz Verlag, München1966, Anna Katharina Emmerick Visionem und Leben, Erich WewelVerlag, München / Freiburg, 1974.
(11) Cfr. CB - Tgb apud "Anton BRIEGER, Anna Katharina Emmerick Visionem und Leben, Erich Wewel Verlag, München - Freiburg -1974.
(12) Tagebuch de Clemens Brentano-apud e, ADAM S, cit., p. 176.
(13) Apud J. ADAMS, op. cit., p. 176, nota 345)
(14) Clemens BRENTANO apud SCHMOEGER Anne Catherine Emmerick, Tégui - París, 1981, 1º vol. p. 9.
(15) SCHMOEGER - op. cit. vol. 1, pp. 13 e 55.
(16) WESENER., Tagebuch Kurzedrangten Geschichte, p. 254.
(17) Cfr. ERIKA TUNNER, Clemens Brentano (1778-1842), Tese apresentada na Universidade de Paris - 10- IV-1976, Librairie Honoré Champíon, Paris, 1977, 2 vol.
(18) Cfr. SCHMOEGER, op. Cit. vol. I. p.p. 38-40.
(19) Cfr. M.T. LOUTREL - Anne Catherine Emmerick racontée par elle-même et par ses contemporains - Tequi, Paris, 1980, p. 28.
(20) Cfr. A. BRIEGER - Anna Katherina Emmerick, Visionen und Leben, ed. cit. p. 20.
(21) Cfr. LOUTREL, op. cit. p. 46.
(22) WESENER, Tagebuch, ed. cit., p. 246.
(23) C. B. Tgb. apud. A. BRIEGER, op. cit., L.
(24) Cfr. SCHMOEGER, op. cit., vol. 1, pp. 151-152.
(25) WESENER, op. cit.., p. 245.
(26) C. B.Tgb, apud A. BRIEIGER, op. p. 224.
(27) WESENER, op. cit., p. 248.
(28) Cfr. SCHMOEGER, op. cit., pp. 282-283.
(29) Cfr. C.B., Tgb. apud A. BRIEGER - op. cit., p. 224.
(30) Cfr. WESENER, op.cit., p. 251.
(31) Cfr. SCHMOEGER - op. cit., pp. 265-269.
(32) Cfr. SCHMOEGER - op. cit., p. 268.
(33) Schmoeger, op. cit., pp. 270-271.
(34) Cfr. WESENER, op. cit., p. 2b2.
(35) Cfr. SCHMOEGER - op. cit., vol. I, pp. 272-273
(36) Cfr. SCHMOEGER - op. cit., vol. I, p. 274.
(37) Cfr. SCHMOEGER - op. cit., vol. I, p. 282.
(38) Cfr. SCHMOEGER - Vol. I, PP. 309~316 - desenhos p. 641.
(39) Cfr. SCHMOEGER - op. cit., vol. I, p. 373.
(40) Cfr. SCHMOEGER - op. cít., Vol. I, pp. 382-383.
(41) Cfr. E.TUNNER, op. cit., vol. 11, p. 830.
(42).Cfr. E. TUNNER, op. cit. vol.II, p. 832.
(43) SCHMOEGER, -- op. cit. p. 69
(44) Cfr. WESENER - op. cit. p. 194
(45) POSITIO -- Documento da SACRA CONGREGATIONIS PRO CAUSA SANCTORUM 10/VI/1928.
(46) ADAMS -- op. cit. p. 81.
(47) SCHMOEGER - op. cit. Vol. II, p. 59
(48) SCHMOEGER - ob. cit., vol. II, p. 73
(49) Cfr. POSITIO - Animadversionnes
(50) Cfr. WESENER - Kurzgedrangte Geschichte-, p. 248
(51) WESENER, Tagebuch 23-111-1813 - Paul Pattloch Verlag Aschaffenburg, 1973, pp. 3 e 4
(52) E. TUNNER, op. cit., Vol. II, p. 841
(53) Cfr. WESENER, Tagebuch, pp. 159-160
(54) WESENER, Tagebuch, p. 102.
(55) Cfr. WESENER, op. cit., 256
(56) WESENER, op. cit., p. 170.
(57) Cfr. WESENER, op. cit., p. 176.
(58) WESENER, op. cit., p. 177.
(59) Cfr. J. ADAMS, op. cit., p. 157
(60) ADAMS, OP. cit., p. 158.
(61) Cfr. WESENER, op. cit., p. 286.
(62) WESENER, op. cit., p. 98.
(63) WESENER, op. cit., p. 127.
(64) WESENER, op. cit., p. 1b6.
(65) SCHMOEGER - op. cit., p. 478.
(66) Cf. WESENER - op. cit., pp. 157-158
(67) WESENER - op. cit., p. 158'
(68) WESENER op. cit., p. 159.
(69) WESENER - op. cit., p. 159
(70) WESENER op. cit. p. 161.
(71) Cfr. cap. II, supra.
(72) Cfr. SCHMOEGER, gp. cit ^ voZ. I, pp. 485-486.
(73) WESENER - op. cit., p, 175.
(74) WESENER - pp. cit., p. 173,
(75) WESENER op. cit. p.178.
(76) J. ADAMS - op. cit. p. 158.
(77) J. ADAMS, op. cit. p. 151.
(78) WESENER, op. cit. pp. 24-25
(79) WESENER op. cit. p. 58.
(80) WESENER, op. cit. 142
(81) Positio, Animadversiones
(82) HÜMPFNER, op. cit. p. 122
(83) HÜMPFNER, op. cit. p. 123
(84) Apud JURG MATHES "Ein Tagebuch Clemens Brentanos für Luise Hensel" Jahrbuch des Freien Deutschen Hochstifts 1971 - Sonderbuch Max Niemayer Verlag Tübingen pp. 213-214.
(85) J. ADAMS, op. cit. pp. 161-162.
(86) C.B.Tgb. apud ADAMS op. cit. p. 65
(87) TUNNER, op. cit. vol. II, p. 795
(88) ADAMS op. cit. p. 68
(89) CB-Tgb - apud ADAMS op. cit. p. 80
(90) Luise Hensel ao Pe. Sohnoegey, 4 Outubro 1870, apud TUNNER, op..cit. vol. II, p. 808
(91) HUMPFNER Glaubwürdigkeit, p. 55
(92) TUNNER, op. cit. vol. II p. 813
(93) C.B. - Jahrbuch - FDH 1971, p. 249 apud TUNNER op. cit., vol. II. p. 813.
(94) GAJEK, Homo Poeta pp. 460-470}
(95) ADAMS, op. cit. p. 24.
(96) CB. Tgb., apud J. ADAMS, op. cit., p. 263
(97) CB Tgb. apud SCHMOEGER, op. cit. vol. I, p. 517
(98) Apud JURG MATHES " Ein Tagebuch Clemens Brentanos füe Luise Hensel". Jahrbuch des Freien Deutschen Hoschtifts 1971 Sonderdruck, Max niemayer Verlag Tübingen, pp. 253-254
(99) SCHOEMEGER, op. cit. vol. I, p. 520.; cfr. WESENER, op. cit. pp. 184-185.
(100) SCOEMEGER, op. cit. vol. I, p. 520.
(101) J. ADAMS, op. cit. p. 84.
(102) C. B. apud |ADAMS, op. cit. p. 90.
(103) WESENER, op. cit. p. 187.
(104) Processo, vol. Ill fol. 189 terg 190 apud Poisitio 38.
(105) Cfr. C.B. GS, VIII p. 300.
(106) Cfr. DIEL-KREITEN, op. cit. vol. II, p. 156.
(107) Cfr. TUNNER, op. cit. vol. II, p. 824.
(108) Cfr. HÜMPFNER, op. cit.., p. 103.
(109) Cfr. ADAMS, op. cit. pp. 137-138.
(110) CB. Tgb., apud ADAMS, op. cit. p.139.
(111) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 141.
(112) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 143.
(113) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 144.
(114) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 145.
(115) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 149.
(116) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 150.
(117) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 163.
(118) CB. Tgb., apud ADAMS, . op. cit. p. 139
(119) Positio, pp. 48-49..
(120) ADAMS, . op. cit. p. 175
(121) ADAMS, . op. cit. p. 175.
(122) ADAMS, . op. cit. p. 229.
(123) ADAMS, . op. cit. p. 261.
(124) Cfr. HÜMPFNER. op. cit., p. 364.
(125) J. ADAMS, op. cit. pp. 289-290 e 305.
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Online, 11/05/2025 às 03:59:05h