Apologética
THE QUESTION BOX 3: Fé
Alberto Zucchi
Recentemente, encontramos em uma antiga biblioteca, de um antigo seminário, desativado há muito tempo um livro cujo título é The Question Box, em português “Caixa de Perguntas”.
O livro surgiu nos Estados Unidos por iniciativa dos Padres Paulinos que colocavam em seus locais de apostolado uma caixa onde todos, católicos e especialmente não católicos podiam colocar perguntas de forma impessoal, para que fossem respondidas.
O sistema resultou em um grande sucesso, quer pela quantidade de perguntas respondidas, quer pela ótima argumentação apresentada nas respostas, quer pelas conversações que tornou possível.
No site Montfort estamos reproduzindo algumas destas perguntas periodicamente. A explicação completa sobre o surgimento do livro pode ser encontrada na publicação da 1ª. questão: http://www.montfort.org.br/bra/cadernos/apologetica/thequestionbox001/
Assim, acreditamos que será de grande proveito para nossos amigos e leitores ter acesso às perguntas propostas e suas respectivas respostas. Para tanto, aos poucos reproduziremos algumas em nosso site. Manteremos a grafia do livro que foi traduzida do inglês para a língua portuguesa em sua forma utilizada em Portugal.
Ao final, quando conveniente, acrescentaremos alguns pequenos comentários nossos aplicando os princípios apresentados aos erros e dificuldades de nossos tempos.
Caso você deseje outras esclarecimentos sobre este assunto pergunte através do email: cartas@montfort.org.br
PERGUNTA:
Não é a Fé um mero acto da vontade? Uma simples confiança na fidelidade Deus? Em que ele cumprirá as suas promessas?
RESPOSTA:
Não. Assim o ensinou Lutero, mas esta sua doutrina é falsa e destrói a essência da verdadeira fé sobrenatural.
A fé é uma virtude sobrenatural que dispõe a nossa inteligência para assentir livremente, com certeza, a todas as verdades reveladas porque Deus as relevou. É, pois um acto intelectual, como diz S. Paulo aos Coríntios na sua 1ª. e 2ª. Epístola.
Na 1ª.: “Nós agora vemos Deus como por um espelho, em inimigas.. Agora conheço-O em parte... Agora permanece a Fé...” (c. 13, 12-13).
Ver, conhecer pela fé, é um acto da inteligência: não é um acto da vontade.
Na 2ª. escreve que é mister “reduzir a cativeiro todo o entendimento, para que obedeça a Cristo” (c. 10,5).
Aos Romanos diz que o culto, que devemos a Deus Lhe é agradável, é “racional”, “Rationabile obsequium vestrum” (c. 12, 1).
Aos Hebreus define a fé nos termos seguintes: “A fé é a substância das coisas que se devem esperar, um argumento das coisas que não aparecem”. (C. II, 1).
Santo Tomás explana assim esta definição:
Dizendo que a fé é uma convicção, distingue-a da opinião, da suspeita e da dúvida, às quais a inteligência não assente com firmeza, mas hesitantemente, instavelmente.
Dizendo que é “das coisas que não aparecem”, que se não vêem, distingue-a do conhecimento e compreensão “das coisas que aparecem”, que se vêem.
Dizendo que “é a substância das coisas que se esperam”, distingue-a do que se entende comumente por fé, que não respeita à felicidade ou objeto da esperança”. (2ª. 2ª. q. IV a. I).
O assentimento à fé é dirigido pela vontade sob a influência da divina graça.
A vontade desempenha um papel importantíssimo no acto de fé.
S. Paulo diz: “Com o coração se crê para alcançar a justiça” (Rm. 10, 10).
Por outros termos: é mister crer com bom coração, de boa vontade, para alcançar a justificação.
Jesus Cristo atribui frequentemente a incredulidade dos judeus à sua dureza de coração e à obstinação da sua vontade (Mrc 3, 5; 16, 13; Lc 24, 25).
O acto de fé é meritório, pois o senhor disse: “O que crer será salvo” (Mrc 16, 16). Deve ser, portanto, um acto livre da vontade.
A boa vontade põe de lado toda a paixão, preconceito e respeito humano. Enfrenta resolutamente os problemas religiosos e não desiste de procurar a verdade, por o seu caminho ser povoado de dificuldades.
Muitos escorçoam ou são incrédulos, não por dificuldades de ordem intelectual, sim de ordem moral: a verdade impor-lhes-ia o dever de conter as paixões, leis obrigatórias, grandes sacrifícios e limitar-lhes-ia a independência.
Preferem viver a seu bel-prazer a submeter-se ao jugo da obediência.
Para que o homem possa fazer um acto de fé, tanto o seu entendimento, como a sua vontade necessita de especial graça de Deus. Expressamente o declara Jesus Cristo dizendo “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer” (Jo. 6,44)
E S. Paulo aos Efésios: “Pela graça é que sois salvos, mediante a fé, isto não vem de vós, porque é um dom de Deus” (c. 2, 8).
O Concílio Vaticano, fazendo-se eco das Escrituras, declara: “Ninguém pode assentir ao ensino do Evangelho em ordem a obter a salvação sem a iluminação e a inspiração do Espírito Santo”. (Sess. III C. De fide).
COMENTÁRIO:
A compreensão da natureza Fé é fundamental em nossos dias porque fruto da ignorância e da infidelidade são apresentados dos erros opostos:
- O racionalismo cientificista
- O irracionalismo gnóstico
O primeiro pretende que a razão humana pode tudo compreender e, portanto, a revelação de Nosso Senhor serviria no máximo como um guia.
O segundo despreza a razão humana como enganadora e pretende que se alcance um conhecimento mágico e intuitivo que seria providenciado por uma divindade aprisionada no homem.
Sobre estes dois erros comenta o Professor Orlando:
“Só a Fé equilibra a razão humana. Só a Fé Católica – a única verdadeira – pode salvar o mundo, quer do racionalismo cientificista e utópico, quer do irracionalismo romântico que delira, com o desejo do retorno ao paraíso, por meios oníricos.
Devemos fugir destes dois erros pestíferos: do Racionalismo e do Irracionalismo”.
http://www.montfort.org.br/bra/cartas/ciencia/20040821224322/
Alberto Zucchi
Para citar este texto:
"THE QUESTION BOX 3: Fé"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/cadernos/apologetica/thequestionbox003/
Online, 04/12/2024 às 01:03:55h