Política e Sociedade

TV: produto e produtora da decadência moral
Emerson Chenta

Em entrevista à revista Veja (21 de junho de 2006) o paulistano Silvio de Abreu, sessenta e três anos, experiente noveleiro, fez alguns apontamentos extremamente interessantes sobre o papel das telenovelas na formação e na difusão de modelos morais na sociedade brasileira. A entrevista deixa claro que através de um ritual de "dois passos para frente e um para trás" a ideologia do liberalismo encarnando-se nas atitudes das personagens fictícias novelescas, passaram a constituir verdadeiros modelos de vida aos espectadores, infiltrando assim o liberalismo na sociedade, pela práxis. O entrevistado não chega a falar em liberalismo, mas descreve a consciência liberal formada nos espectadores:
 
“Como sempre acontece na Globo, realizamos uma pesquisa com espectadoras para ver como o público estava absorvendo a trama e constatamos que uma parcela considerável delas já não valoriza tanto a retidão de caráter. Para elas, fazer o que for necessário para se realizar na vida é o certo.
 
E, logo em seguida, quando diz:
 
 “As pessoas se mostram muito mais interessadas nos personagens negativos que  nos moralmente corretos.” 
 
Essas oficinas de modelos morais liberais outrora tinham as suas bancadas nos meios literários, sobretudo nos romances publicados à maneira de periódicos nos jornais populares. Mudaram as bancadas, mas não mudaram os modelos. Sempre um passo à frente na escalada liberal, em busca da autonomia completa, da liberdade incondicional, esses modelos são ora aplaudidos, ora vaiados, segundo o padrão moral social do instante. E de acordo com o aplauso ou com a vaia, avança-se ou recua-se em relação ao cimo do liberalismo.
O ritual de escalada é lento, mas maliciosamente seguro e firme.
O entrevistador questiona:
 
“No caso dos gays, o humor do espectador também mudou?”
 
Reposta de Silvio de Abreu:
 
 “Sem dúvida. Nesse campo, a influência das novelas é enorme. E olha que fui até agredido por causa desse negócio (...) quando mostrei o primeiro casal gay.”
 
Logo depois, ele mostra como promoveu maliciosamente a aceitação desse tipo de união:
 
“Mostrei que eles eram bons amigos, bons filhos e estudantes dedicados – tudo o que o público acha bonito nas pessoas. Só lá pelo capítulo 100 eu exibi esse outro lado. Foi como se dissesse: olhe só, gente, esqueci de contar um detalhe sobre os mocinhos. O noveleiro é, antes de tudo, um manipulador de emoções.
 
Na realidade, um manipulador de mentalidades.
E depois, pergunta o entrevistador:
 
“E o que explica seu revés, tempos depois com as lésbicas de Torre de Babel?”
 
O noveleiro:
 
“Cometi o equívoco de achar que, como já havia mostrado um casal homossexual com sucesso, todo mundo ia aceitá-las de cara. As duas surgiram como casal logo no início, e isso gerou uma série de protestos. Foi um ruído excessivo que não ocorreria se eu tivesse ido mais devagar.
 
Poderíamos analisar internamente os enredos das novelas, para perceber esse ritual malicioso. Sem dúvida, surgiriam alguns para nos acusar de paranóia hermenêutica ou aqueles impacientes que não tolerariam a análise. E outros tantos que, depois de analisá-los e compreendê-los, negariam que houvesse manipulação das mentalidades pura e simplesmente por comodismo. Entretanto, nada mais breve e elucidativo que estas confissões.
Tendo em vista estas afirmações, não é de se espantar que o número de adeptos aos movimentos homossexuais e de liberais inconscientes tenha crescido vertiginosamente. As novelas, ao mesmo tempo, produto da sociedade (elas só existem por causa da audiência) são produtoras e confirmadoras de uma determinada mentalidade. Estão um passo à frente na escalada em busca da anulação dos mandamentos, da autonomia e da liberdade incondicional; são, por assim dizer, a vanguarda entusiasmada do exército da perversidade, destemida e decidida a marchar rumo à depravação.                                

    Para citar este texto:
"TV: produto e produtora da decadência moral"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/tv_novelas/
Online, 23/04/2024 às 20:11:00h