Política e Sociedade

Os cães de Mirabeau
Orlando Fedeli

            Vivemos em República e sob a plena égide da Constituição Cidadã, talvez a Constituição mais remendada de todas as nossas repúblicas: a velha, a nova, a rejuvenescida, a cidadã, e outras mais que já se inventaram, violaram, remendaram, corromperam e enterraram.
Esta, ainda está viva. Respira artificialmente. Entubada, sim, mas viva.
E, por vezes, muito viva até demais...
            Na atual e feliz República em que temos o encanto de sobreviver, temos um presidente que nada sabe, que não sabe de nada, e que não quer saber de nada..
Um homem sábio...
Feliz o homem que sabe que não sabe! De nada!
Mas, que comenta política com imagens futebolísticas.
Exatamente como o fazem certos freqüentadores assíduos de botequim, homens peritos em república, de nariz e olhos avermelhados, e com voz pastosa, ao comentarem política e futebol, em segundas-feiras de manhã, com um copo de cerveja na mão, dando solução fácil, fácil, a todos os problemas mais profundamente metafísicos:
 “Nóis vai resorvê esse pobrema. Pode dexá pra nóis, que matamos essa de letra! Essa tá pra nóis, que é fáci”.
E bebericam, enquanto cachorros vira-latas, com entrada franca nesses bares infectos, se coçam usando as patas traseiras, para exilar as pulgas... Filosoficamente indiferentes.
E até parece que esses cães vira latas, coçando-se, demonstram uma alta compreensão da inutilidade da filosofia política dos peritos em república de olhos avermelhados e voz acervejadamente pastosa. 
Mas os cães não votam.
Quem sabe surja uma ONG, fartamente financiada, a defender o direito de voto para os vira-latas ?
Seria bem lucrativo...
 
Nosso presidente – diz a mídia – gosta de fazer metáforas...
Gosta de metáforas, e gosta de jogar o lixo debaixo do tapete.
É o que garantiu seu ex-amigo Bicudo.
A raiva e a língua de ex-amigos são duas pragas que dizem cada verdade!...
Todo o mundo, porém, pode ter um ex-amigo bicudo.
O Bicudo, ex-amigo do Lula, garante que o metalúrgico alçado ao supremo posto de uma republica moderna e cidadã como a nossa, é especialista em abafar casos, e a esconder sujeira debaixo do tapete petista.
Lula é então um “tapetista”...Neologismo horrível, feito de petista e de tapete. Encardido.
Lula então gosta de fazer metáforas, figura de retórica que Dante definia poeticamente como “a verdade escondida sob bela mentira”...” Verità nascosta sotto bella menzogna”...
É no que Lula é bem especialista: esconder verdades sob belas mentiras...Metaforicamente falando, é claro!
Lula não mente, porque não sabe de nada. Pois quem não sabe, não pode mentir.
Não que Lula tenha tido o menor contato com Dante. A Divina Comédia está longe de suas leituras. Ele só nos faz ler a comédia, muito humana demais, da tragédia brasileira.
Quem lê Dante e sua Divina Comédia — em italiano — é o bandido Marcola. O do PCC.
O Lula do PT é de outras leituras. Não tão elevadas como as do bandido Marcola.
Aliás, falando em leituras, conta-se em piadas da Internet, -- e há inúmeras sobre o Presidente -- que Lula, furioso da vida com os “aloprados” do PT que não souberam fazer uma fraude direitinho, e se fizeram pegar, como sempre, com a boca na botija, isto é com os dólares na mala, -- e sem dossiê – que Lula, de raiva, queimou a sua biblioteca inteira, em Brasília.
Protestava furioso.
           
É incompetência demais! E do Serviço de Inteligência do PT!
Imagine-se a competência do Serviço de Burrice!...
 
Lula, desesperando da inteligência, queimou então — diz-se na piada internetesca –  toda a sua biblioteca.
Não foi, é claro, um novo incêndio da Biblioteca de Alexandria, pois que na Biblioteca do Lula havia só dois livros, que ele nunca leu por completo, pois eram livros que quase não tinham figurinhas: a cartilha e a tabuada.
 
Mas, apesar de suas poucas leituras, Lula gosta de fazer metáforas. É seu vezo poético que lhe aflora à boca nas entrevistas, nas quais ele sempre consegue controlar — dizem certos outros bicudos certos -- o seu vocabulário normal, que dizem ser, um vocabulário chulo de gente chula. De gente que não sabe nem cartilha, nem tabuada. Nem as normas mais comezinhas de educação.
Dizem...
E como dizem que Lula gosta de metáforas, lembrei-me uma, de Mirabeau, outro demagogo revolucionário, mas venal, vendido a quem pagasse mais por sua oratória de grande talento e cinismo.
Pois dizia Mirabeau, um especialista em República e em Revoluções:

O povo é um rebanho, que, com bons cães, se leva para onde se quiser”.
 
Grande verdade esta, que valia bem naqueles tempos ignaros da Revolução Francesa.
Verdade que vale muito mais ainda, hoje, nestes tempos universitários, em que pululam os cientistas políticos, os sociólogos, os juristas, e os freuds financeiros com malas de dólares-viajantes, dólares que se hospedam em torres azuis – em inglês, pois isso fica mais romântico, se posto num inglês do estilo jazz francisnatresco: “blue towers”.
Ou então posto nos mistérios egípcios de Íbis, o deus da doutrina secreta.
Tudo movido a “gaita”, como diziam os moleques de rua, em 1940. Até os cães de Miarabeau eram movidos a “gaita”....
Mas não os cães de botequim, aqueles que se coçam filosoficamente, que são bem mais honestos. Eles não são movidos a “gaita”. Mas só a ponta-pés ou por um osso atirado fora, em sua direção.
Pois “mestre” Mirabeau -- um cientista político, “avant la lettre”, especialista em revoluções e em traições -- garantia que o povo é um rebanho. Um rebanho de ovelhas que se podem conduzir com bons cães. Para onde a gente quiser. E ele se referia ao povo democratizado pela Revolução e pelas tolices delirantes de Rousseau.
Mas quem seriam os “cães” empregados por Mirabeau, naquele tempo, para conduzir “democraticamente” o rebanho do povo para onde os Mirabeaus quisessem, ou para onde lhes mandassem querer?
Certamente não eram os honestos cães de botequim, coçando-se filosoficamente, indiferentes aos peritos e à sua “gaita”...
Ao pedirem, certa vez, a Danton, na Bélgica, que fizesse um discurso inflamado para fazer explodir a revolução entre os pacatos belgas, Danton, esse outro especialista em crimes da Demagogia e da Liberdade, respondeu;

Não se fazem revoluções com chá. Os princípios de justiça e humanidade são bons em teoria e nos livros dos filósofos; na prática, porém, são precisos outros meios para operar, e é preciso ter bandidos a soldo” (Pierre Gaxotte, A Revolução Francesa Ed. Livraria Tavares Martins, Porto , 1945, p. 214).

            Nada como um PCC para fazer uma revolução “socialista” e “cristã”. 
É a lição de Danton. Um especialista em revolução!
Bandidos pagos, eis os cães usados pela Revolução Francesa para fazer o povo escolher -- espontânea e livremente -- os seus governantes.
E o povo que se coçasse. Filosoficamente.
Hoje, isso não se usa mais.
Esse era um método que os historiadores “imparciais” chamariam de arcaico. Um método, diriam, “medieval”, embora fosse o dos líderes da Revolução Francesa, que foi anti medieval.
Hoje, não se usam mais bandidos para conduzir o povo a votar “livremente”.
O Marcola e o seu PCC podem ser contratados, é verdade. Mas é para outras coisas.
O MST pode ser ceenebebisticamente acionado. Mas é para outras coisas.
Para conduzir o povo, hoje, não se usam mais métodos antiquados: bandidos e assassinos.
Hoje, usam-se processos mais racionais, mais sofisticados, mais educados e mais convincentes. Processos mais sutis e mais afiados do que uma faca ou uma guilhotina.
Usa-se a mídia. Que é indolor – não, incolor -- mas colorida e adocicada. E com fundo musical. Horrível.
Portanto, nada de métodos estúpidos, sanguinários e assassinos. Nada de “medievalismos”.
Mas “cães” pastores bem adestrados,-- cientificamente adestrados -- dóceis, mansinhos e carinhosos, que cumprimentam, na entrada e na saída, aqueles que serão enganados: “Muito bom dia, senhores telespectadores de nosso programa político “Engana trouxa”. Daremos agora os resultados das últimas pesquisas de opinião pública”. 
            E os trouxas se regalam com os cumprimentos coloridos e doces...E acreditam nas pesquisas! 
Por falar em mentiras políticas, a eleição de ontem mostrou, como o Lula disse, uma vez, uma certa verdade – não uma verdade certa --: “pesquisa de opinião pública, segura mesmo, é a das urnas”.
Embora me sinta um tanto São Tomé diante dessa afirmação lulesca, sem dúvida, ela contém uma certa verdade: a pesquisa mais verdadeira, com bem base maior, é a de todo o colégio eleitoral.
            Pelo menos deveria ser...
            Vá lá se saber...Nem na Flórida se sabia, que dirá em Jacarepaguá... Ou em Cascadura...
Nos últimos anos, nossos institutos de pesquisa de opinião pública, de tanto fazerem contas redondas, -- como contas de colar --, têm errado redondamente em suas previsões.
Davam vitória esmagadora ao desarmamento no Referendum do ano passado. 
Deu redonda e escandalosamente o contrário: vitória esmagadora do armamento da população, que não se deixou levar no bico, pelas previsões de cigana, leitora de “buena dicha,” dos Institutos de opinião pública, e pelos comentários dos auto denominados “cientistas políticos”.
Deu vitória esmagadora dos que queriam manter armas para se defender, como o direito natural ensina e exige. 
Agora, nestas eleições presidenciais, em meio a uma campanha com mensalões, sanguessugas, e dossiês comprados a dólares — sem que ninguém sabia – os Institutos de Pesquisa de Opinião Pública davam uma vitória fácil para o homem que queimou a cartilha e a tabuada, aquele que tem um Gil como ministro da “Curtura”!  
Aquele ministro que, recentemente, negou o valor e a necessidade da ética na política. Com violão e tudo. (leia mais) 
Previa-se, na misteriosa e invisível bola de cristal em que se consultam os pesquisados, -- que quase ninguém nunca viu, pois que, hoje, é mais fácil ser assaltado do que ser pesquisado --, que o segundo colocado, atrás do Lula, teria de 27 a 33 por cento dos votos. Teve 41%. 
            Previa-se que não haveria segundo turno. Vai ter.
Previa-se a vitória da comunista Fegali — a mal camuflada defensora do aborto — como Senadora pelo Rio. 
            Os eleitores deram com a Fegalli n´água. Fegalli perdeu.
Apesar de ter conseguido uma invasão “democrática” e “cidadã” da própria Arquidiocese do Rio de Janeiro (leia mais) — ou por isso mesmo, e pela defesa do aborto — a eleição da Fegalli abortou.
Como disse, os eleitores deram com a Fegalli n´água.
Lá na água, parece que ela se encontrou com o Delfim, que de tanto variar de sigla e de bandeira, perdeu qualquer significado. 
Diziam os tais Institutos que Suplicy ganharia fácil. Ganhou. Mas, por pouco.
E vai ver que só ganhou, porque, em seu caso, a indução dos Institutos surtiu o efeito desejado em suas “previsões”... 
Poder-se–iam multiplicar os exemplos. Mas creio que isso não será preciso. Para bom entendedor, algumas “previsões” bastam. 
Diriam alguns sonhadores: “Não era esta a república de meus sonhos”.
Muito provavelmente porque quereriam outros Institutos de Pesquisa para ajudar, digamos... a “construir” a república de seus sonhos.
Aquela que, normalmente, é um pesadelo.
Pesadelo em que aparecem, entre as brumas do sono, mulas sem cabeça e lulas sem cartilha.
Enquanto aguardo as pesquisas – “Certíssimas”! Científicas! Realistas! -- para o segundo turno, consolo-me que ainda não tenhamos a guilhotina. 
Quem seria nosso futuro Danton?
Por enquanto...
Pois que, no horizonte, já despontam os fuzis do “desarmado” MST – desarmado, em sentido caipira --, e as ações dantescas do PCC de Marcola.  
            Lula lá, e Marcola aqui. 
“Estamos roubados”, como diziam os moleques de rua, em 1940.
Ou estamos perdidos. Perdidos?
Não!
Porque Nossa Senhora Aparecida é a guardiã do Brasil.
Posuimus Te custodem!
E a guarda de Nossa Senhora não falha jamais.
Não há pesquisa que logre a sua guarda.
 
São Paulo, 2 de Outubro de 2.006, no dia seguinte de uma eleição...

Assina este artigo o eleitor Orlando Fedeli, que nesta república é chamado de “cidadão”. 
Como era usado dizer na Revolução Francesa. Com a guilhotina. Por enquanto, aqui, estamos ainda sem ela... Só com Nossa Senhora. OF.
     

    Para citar este texto:
"Os cães de Mirabeau"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/caes_mirabeau/
Online, 28/03/2024 às 16:57:10h