Igreja

Comentários sobre a carta Correctio filialis de haeresibus propagatis
Alberto Zucchi
      Neste domingo, 24 de setembro de 2017, foi tornada pública uma carta escrita por diversos clérigos católicos, dentro os quais se destacam Monsenhor Fellay, Superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e o Padre Claude Barthe, Capelão do Summorum Pontificum Internacional, além de muitos leigos com atividades e funções ligadas à Igreja Católica (http://www.correctiofilialis.org/pt-pt/)
 
     A carta com 25 páginas é dirigida ao Santo Padre Papa Francisco e tem como título “Uma correção filial em relação à propagação de heresias”. O motivo desta carta é a Exortação Apostólica Amoris laetitia (A.L).
 
     O texto, tendo como base a doutrina tradicional da Igreja Católica, deixa claro que, infelizmente, a A.L. contém uma linguagem cuja primeira interpretação, ou seja, aquela que é razoável como entendimento, contém afirmações que conduzem a heresia e, portanto, contrárias ao ensinamento da doutrina da Igreja, no que se refere ao casamento, à vida moral e a recepção dos sacramentos.
 
     O texto prima pela clareza e fundamentos doutrinários, pela coerência interna e sua conclusão parece ser adequada:
 
“Todas estas proposições contradizem verdades divinamente reveladas, nas quais os católicos devem crer com um assentimento de fé divina. Elas foram identificadas como heresias na petição concernente à Amoris laetitia enviada por 45 acadêmicos católicos aos cardeais e patriarcas orientais da Igreja. Para o bem das almas, é necessário que elas sejam novamente condenadas pela autoridade da Igreja”.
 
     Ademais, o texto demonstra como, infelizmente e muito infelizmente, sua Santidade o Papa Francisco apoiou interpretações dadas a A.L. que contradizem a verdades divinamente reveladas.
 
     Assim nós, da Montfort, julgamos oportuna a publicação deste documento, mesmo com as considerações que faremos a seguir e, como católicos leigos que querem ser conduzidos pelo Pastor das almas que é o Papa, esperamos que Sua Santidade se manifeste sobre esta carta, quer seja para demonstrar onde seus autores se equivocaram, quer seja para imitar São Pedro quando foi repreendido em público por São Paulo (carta aos Galátas) e admitiu seu erro. Temos a confiança que o Santo Padre, que se dispõem até a atender pessoalmente católicos que externam suas difíceis situações particulares, atenda também um tão grande número de católicos angustiados em verificar como o ensinamento da A.L. e suas aplicações se afastaram da doutrina da Igreja.
 
     Acreditamos ser oportuno destacar ainda alguns outros aspectos relacionados a esta carta.
 
     É impressionante a semelhança que existe entre o ensinamento doutrina da A.L. e as manifestações correlatadas, e a doutrina de Lutero. Esta é uma das consequências do ecumenismo difundido pelo Concílio Vaticano II: não só os leigos e pessoas sem conhecimento doutrinário foram as vítimas dos textos dúbios apresentados por este concílio, mas até mesmo as mais altas autoridades da Igreja foram infectadas pelos vírus do relativismo e do ecumenismo. Sobre este tema recomendamos a leitura do livro recentemente publicado pela nossa Associação “Vaticano II - Nem dogmático nem pastoralmente correto”, que contém uma coletânea de artigos de autoria do Professor Orlando Fedeli. 
 
     Ainda assim, lamentamos que a carta com a correção filial não tenha ido ao fundo do problema doutrinário que ocasionou a A.L., ou seja, os dúbios ensinamentos do Concílio Vaticano II. Apesar do documento tratar do modernismo, ele não relaciona as doutrinas modernistas com o que foi ensinado neste concílio. Na realidade, é o relativismo religioso que produz o relativismo moral. Veja-se como o texto a seguir da carta, que é aplicado às consequências da A.L. também poderia ser atribuído às consequências de muitos dos textos do Concílio Vaticano II:
 
“A concepção católica da revelação divina é frequentemente negada pelos teólogos contemporâneos, e essa negação levou a uma generalizada confusão entre os católicos sobre a natureza da revelação divina e da fé”
 
     Deve-se ainda destacar que os autores da “Correção” se colocam contrários ao sedevacantismo afirmando, ainda, que uma das consequências erradas produzidas pela A.L. é a ideia de que o verdadeiro Papa ainda seria Bento XVI.
 
“No entanto, aqueles católicos que não compreendem claramente os limites da infalibilidade papal estão expostos a ser conduzidos pelas palavras e atos de Sua Santidade a um erro dos mais desastrosos: ou chegarão a adotar as heresias ora propagadas, ou, conscientes de que essas doutrinas são contrárias à Palavra de Deus, duvidarão ou negarão as prerrogativas dos Papas.
 
Além disso, outros dentre os fiéis são levados a colocar em dúvida a validade da renúncia do Papa emérito Bento XVI ao papado. Assim, o ofício de Pedro, outorgado à Igreja por Nosso Senhor Jesus Cristo em aras da unidade e da fé, é exercido de tal modo, que se abre o caminho para a heresia e o cisma. Ademais, percebendo que as práticas agora fomentadas por palavras e atos de Sua Santidade são contrárias não só à fé e à disciplina perenes da Igreja, mas também às afirmações magisteriais de Seus Predecessores, os fiéis pensam que as afirmações próprias de Sua Santidade não podem desfrutar de maior autoridade que as dos Papas anteriores, sofrendo assim o magistério papal uma ferida da qual poderia não curar-se logo”
 
     Os autores, portanto, consideram cismáticos aqueles que colocam em dúvida a validade da renúncia de Bento XVI, com o que concordamos totalmente, e é evidente que não se atribuem o direito de julgar o Papa, porque isto também seria uma heresia, o conciliarismo.
 
     Outro ponto importante é que a carta se baseia no exame da doutrina católica, no texto da A.L. e em manifestações correlatas a ela. Não se usa o argumento de autoridade de seus autores, mesmo porque, em questão de autoridade, a maior autoridade é a do Papa que é o sujeito da correção filial. Mas não se pode deixar de lamentar que dentre os subscritores da correção estejam pessoas ligadas ao IPCO (Instituto Plinio Correa de Oliveira), antiga TFP. Admitir essas pessoas como signatárias é uma terrível contradição, uma vez que elas também são difusoras de doutrinas heréticas como a Inocência Primeva, a Teoria do Conhecimento de Plinio, além do culto delirante que foi e ainda é prestado a Plinio. Tais erros estão detalhados no livro A Gnose Burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho. Será que as heresias sobre o conhecimento de Deus e da verdade ou sobre o pecado original, criadas por Plinio e difundidas por seus seguidores, devem ser esquecidas em vistas das heresias contra o casamento? E infelizmente não se pode dizer que os subscritores da “Correção Filial” não tinham conhecimento destas questões, porque nós mesmos comunicamos a vários deles sobre estes erros que grassam entre os discípulos de Plinio.
 
     Finalmente, com os olhos voltados para Nossa Senhora de Fátima, profundamente preocupados com a grave situação em que se encontra a Igreja de Nosso Senhor, mas totalmente confiantes na promessa de Cristo, que garantiu a indefectibilidade da Igreja - “As portas do Inferno não prevalecerão” - e em Nossa Senhora que prometeu - “Por fim meu Imaculado Coração triunfará”, nos colocamos sob a autoridade do Papa Francisco e rezamos para que ele não nos negue uma resposta, conduta esta tão disseminada no clero de hoje sob o pretexto de se sentir prejudicado, mantendo assim o silêncio sobre algo tão grave.
 
São Paulo, 25 de setembro de 2.017
Associação Cultural Montfort
 
Alberto Luiz Zucchi
Presidente
 
Duclerc Fernandes Parra
Vice Presidente
 
Alex Chirata
Tesoureiro
 
Angelo Queiroz Agostineli
1º Secretário
 
Carlos Edesio Serozini
2º Secretário

    Para citar este texto:
"Comentários sobre a carta Correctio filialis de haeresibus propagatis"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/correctio_filialis/
Online, 29/03/2024 às 02:39:58h