Igreja

E agora? Os Arautos do Evangelho a um passo do Cisma!
Alberto Zucchi
 Vaticano determina a continuidade da intervenção nos Arautos
 
O site “Vida Nueva” acaba de publicar que o Vaticano comunicou ao Cardeal Dom Damasceno, interventor nos Arautos, e ao padre Felipe Eugenio Lecaros Concha superior oficial dos Arautos e meu antigo conhecido dos tempos da TFP, que a intervenção continua em todas as entidades dos Arautos, ou seja, na Associação Privada de Fieis, na Associação de Padres e na entidade que reúne as supostas freiras.
 
Ainda segundo o mesmo site, o comunicado ratificando a intervenção foi realizado por três dicastérios conjuntamente: o Dicastério dos Leigos, da Família e da Vida Consagrada, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e a Congregação para a Doutrina da Fé.  
 
A inclusão da Congregação para a Doutrina da Fé parece demonstrar que o Vaticano também se preocupa com as questões doutrinárias relacionadas aos Arautos e não somente com os escândalos morais e financeiros. Pela primeira vez se menciona como causa da intervenção o “culto fanático ao fundador”, que sem dúvida é a causa de todos os outros erros, porque sem a Fé íntegra não há Caridade.
 
Parecia que a intervenção caminhava para o esquecimento, depois que os Arautos se recusaram a aceitar a nomeação do comissariado.  Ademais, neste final de semana, houve dois fatos que contribuíram para esta impressão. O primeiro é relacionado com Sérgio, bispo de Bragança Paulista, diocese na qual os Arautos tem seu principal “castelo”.
 
Dom Sérgio ministrou a Crisma na igreja dos Arautos. Após a celebração, gravou uma declaração de apoio à entidade. Ainda que não tenha sido uma discordância explícita em relação à intervenção, foi ao menos um desafio ao Vaticano e ao Papa (https://youtu.be/IifpRgWWaf4).
 
Foi esse mesmo Dom Sergio quem perseguiu de maneira implacável a Frei Tiago, carmelita que celebrava a Missa no rito extraordinário, alegando que seu hábito - que era tradicional dos carmelitas - e a celebração da Missa Antiga não estavam de acordo com a linha adotada pelo Papa. Este mesmo Bispo agora afronta o Papa apoiando uma associação que se encontra claramente em estado de rebeldia. Qual seria a causa de tanta simpatia de Dom Sérgio pelos Arautos?
 
Também neste final de semana foi transmitida pela Rede Vida uma entrevista realizada por Ives Gandra da Silva Martins, conhecido membro do Opus Dei, com o padre Alex Barbosa dos Arautos do Evangelho.  (https://www.redevida.com.br/programacao/anatomia-do-poder/videos/pe-alex-barbosa-fala-sobre-o-arautos-do-evangelho-171119-parte-1)
 
Foi sem dúvida uma entrevista feita para manifestar apoio aos Arautos, com grande troca de elogios entre os dois. Mais de uma vez Ives manifestou seu apreço por Monsenhor João Clá, pelo trabalho dos Arautos e até mesmo por Plinio Correa de Oliveira. Só faltou elogiar Dona Lucília e estaria completo o trio que é objeto do culto fanático mencionado pelo Vaticano.
 
Surpreende este apoio, ainda que indireto, da Opus Dei aos Arautos, uma vez que a prelazia da “obra” sempre manifestou obediência incondicional a tudo que o Papa fizesse. O Opus Dei chegou ao ponto de recusar qualquer tipo de apoio a Dom Rogelio, bispo de Ciudad del Est, que era membro da Opus Dei, quando este foi destituído do cargo pelo Papa Francisco e criticou, logo em seguida, publicamente, declarações deste sobre o Sínodo da Família.
 
“Em 11 de outubro, o Opus Dei divulgou um breve comunicado no qual se destaca que “este Escritório esclarece que as palavras –muito desacertadas– do Bispo Rogelio Livieres publicadas em seu blog, sobre o Sínodo da família, são de sua inteira e exclusiva responsabilidade”.
 
“A atitude na Prelatura do Opus Dei é e sempre será de união total com o Santo Padre, na comunhão de toda a Igreja”. (https://www.acidigital.com/noticias/opus-dei-se-distancia-das-polemicas-declaracoes-do-ex-bispo-de-ciudad-del-este-paraguai-sobre-o-sinodo-da-familia-51919)
 
E, ao contrário dos Arautos, Dom Rogelio silenciou diante da punição e proibiu seus padres de fazerem qualquer coisa contra o Vaticano.
 
O Prelado criticou a decisão, [do seu afastamento] mas assinalou em uma carta aberta que “não é preciso temer nenhuma rebeldia. Os fiéis foram formados na disciplina da Igreja e sabem obedecer às autoridades legítimas”. https://www.acidigital.com/noticias/opus-dei-se-distancia-das-polemicas-declaracoes-do-ex-bispo-de-ciudad-del-este-paraguai-sobre-o-sinodo-da-familia-51919)
 
Em relação a Dom Sérgio, para quem conhece sua “ação pastoral”, não é difícil entender que sobram possibilidades que justifiquem seu apoio à generosidade dos Arautos. Por outro lado, sabe-se que não há dinheiro no mundo suficiente para comprar o apoio do Opus Dei. Por que então esse estranho apoio aos Arautos? Parece que as divisões no Vaticano são realmente muito profundas.
 
De toda a forma, o céu azul para os Arautos durou pouco e agora eles deverão colocar à disposição do interventor suas finanças e rever sua fanática doutrina sobre o fundador. Ora, isso atinge também o Instituto Plinio Correa de Oliveira, formado pelos membros da TFP que não aceitaram as inovações de Monsenhor João, embora muitos dos quais pertencem à “Sempre Viva”, a organização secreta da TFP.
 
A intervenção direta e reiterada do Vaticano em uma Associação Privada de Fiéis deixa também de sobreaviso um número considerável de “novas comunidades” que, debaixo dessa estrutura jurídica, falsificam seu verdadeiro “status” religioso.
 
Se por um lado o Vaticano anuncia uma descentralização do poder papal atribuindo mais responsabilidades aos Bispos, por outro, parece que o Vaticano está disposto a intervir em assuntos que antes eram reservados aos bispos, como por exemplo, a recente proibição de aceitação de votos em comunidades religiosas diocesanas, sem antes ter existido uma consulta ao Vaticano.
 
O que resta é alertar aqueles que estão próximos dos Arautos e a tantos que depositam sua confiança em novas comunidades e em líderes carismáticos, para que vejam os graves erros destas associações e se distanciem delas.
 
Os Arautos são como o Titanic. Eles já se chocaram contra o iceberg. O navio vai afundar. Já se nota a inclinação. Antes de afundar é possível que se parta em dois pedaços, mas ambos afundarão. É necessário se afastar do navio para não se tragado com ele. Erraram Dom Sergio e a Opus Dei ao se aproximar.
 
E perigo muito maior do que os que estavam no Titanic correm aqueles que estão agora próximos aos Arautos, porque aqueles perderam a vida e estes tem grande possibilidade de perder a alma.
 
Abandonar os Arautos não significa abandonar a Igreja, pelo contrário. É necessário manter a fé. Também não significa dar apoio a movimentos que estão fora da Igreja. E para todos os membros dos Arautos fica o convite para conhecerem a Missa no Rito Extraordinário, a qual os Arautos, apesar de se mostrarem conservadores, se recusam a celebrar ou dar qualquer forma de apoio.
 
Alberto Luiz Zucchi
19 de novembro de 2.019.
 
 
 
A seguir os principais trechos da publicação do site Vida Nova, com tradução realizada pelo site Montfort:
 
Segundo tomou conhecimento Vida Nueva, responsáveis destes ministérios da Santa Sé [Congregação para os leigos, Família e Vida, Congregação para os Institutos de Vida Consagrada] mantiveram em Roma [contatos] com os seus homólogos da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) para analisar a resposta dos Arautos e seguir adiante com a intervenção. A intervenção foi motivada pelos supostos delitos, pecados e irregularidades em que ocorreram e que foram descobertas durante a visita apostólica, iniciada em junho de 2017.
 
Entre eles destacam possíveis casos de abusos sexuais a menores, separação dos pais, abusos de consciência e de poder, prática de exorcismos irregulares, culto fanático ao fundador e obtenção de donativos sem autorização do bispo diocesano. Os Arautos negam de forma categórica todas as acusações, que atingiram diretamente o fundador, monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, o que é examinado pela CDF, como adiantou esta revista.
 
Competências no caso
 
Depois da reunião entre os três organismos da Cúria Romana, a Santa Sé enviou uma carta ao Cardeal Damasceno e ao presidente do grupo eclesial, Felipe Eugenio Lecaros Concha, na qual se reafirma que a intervenção continua e se sublinha que a CIVSVA tem a competência de agir neste caso, pois o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida ratifica a delegação que fez anteriormente.
 
Este novo documento do Vaticano corrige o erro anterior ao tratar a entidade como associação privada de fieis e recorda finalmente que a nomeação do Cardeal Damasceno como comissário pontifício foi aprovado diretamente pelo Papa.
 
Os Arautos do Evangelho, que tem duas sociedades de vida apostólica, a masculina Virgo Flos Carmeli e a feminina Regina Virginum, tem dois caminhos ante a nova ação movida por Roma. Se aceitarem a intervenção terão que ceder em sua totalidade as receitas ao Cardeal Damasceno e a seus assistentes, monsenhor José Aparecido Gonçalves, bispo auxiliar de Brasília, e a irmã Marian Ambrosio, superiora geral das irmãs da Divina Providencia. Os três lideram um difícil caminho de renovação que, presumivelmente, levará à reforma das constituições, à nomeação de novos superiores e a colocar em andamento possíveis processos individuais contra alguns de seus membros.
 
No caso de manterem sua posição, o que suporá um desafio direto à autoridade do Papa, em Roma não se descarta a supressão dos Arautos. Isso produzirá uma divisão interna que levará à saída uma parte de seus membros.
 
Texto original em: https://www.vidanuevadigital.com/2019/11/19/el-vaticano-retoma-la-intervencion-de-los-heraldos-del-evangelio/
 

    Para citar este texto:
"E agora? Os Arautos do Evangelho a um passo do Cisma!"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/arautoscisma/
Online, 29/03/2024 às 09:35:45h