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Tirania: a verdadeira face da Igualdade
Orlando Fedeli
“Liberdade, igualdade, fraternidade”.
Na verdade, apenas o segundo dos três princípios que integram o lema da Revolução Francesa foi posto em prática - e a ferro e fogo - por seus próceres.
A liberdade revolucionária encontrou sua expressão na lei dos suspeitos, no juramento compulsório da Constituição Civil do Clero, na perseguição à religião, na proscrição de todos os opositores.
A fraternidade, por sua vez, despedaçada em inúmeros massacres, foi enterrada na vala comum com as vítimas da guilhotina.
Explica-se. Na ótica deformada de Danton, Robespierre e Marat, a igualdade era a primeira e fundamental meta, da qual, um vez implantada, derivariam naturalmente a liberdade e a fraternidade. Estas últimas, segundo eles, encontravam obstáculos na “tirania” exercida pelo rei, pelo clero e pela nobreza. Bastaria, pois, esvaziar os poderes dessas ordens - através do nivelamento religioso e político - para atingir o que entendiam os revolucionários por liberdade e fraternidade.
O resultado foi o terror.
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E não poderia ser de outra forma.
Ensina S. Tomás - e comprova-o o simples bom senso - que os homens, embora iguais em sua essência -- corpo e alma - distinguem-se nos acidentes.
Por conseguinte, conquanto todos tenham direitos iguais àquilo que diz respeito à própria essência do ser humano - direito à vida, ao alimento, ao casamento, ao trabalho - certas desigualdades acidentais ensejarão, naturalmente, a aquisição de direitos desiguais.
Assim, deve o Estado procurar garantir a todos o exercício dos direitos necessários à manutenção e transmissão da vida. Da mesma forma, a justiça ordena que, aos mais capazes e mais inteligentes, por seu trabalho, seja atribuído um salário maior do que aos incapazes e tolos, aos mais trabalhadores seja dada recompensa maior do que aos vadios, aos idosos mais vantagens do que aos jovens, aos pais mais respeito e direitos do que aos filhos.
Deixar agir a natureza, dar liberdade a cada homem para que exercite e desenvolva suas peculiares aptidões e virtudes, traduz-se, pois, em fomentar desigualdades.
A contrario sensu, coarctar tais desigualdades, submetendo a sociedade a uma inexorável prensa niveladora, implica cercear o livre e natural desenvolvimento da atividade humana. E a natureza só se dobra com a força.
Daí a íntima e inarredável conexão entre igualitarismo e tirania.
Fidel Castro comprova isso, tanto quanto Hitler, Mao e Pol Pot.
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“Caí sobre aqueles que têm carruagens, criados e vestidos de seda. Visitai as prisões, assassinai os nobres, os padres e os ricos. Não deixeis atrás de vós senão sangue e cadáveres” (Cfr. P. Gaxotte, A Revolução Francesa, pág 193). Este brado de Marat parece ter calado fundo na alma dos revolucionários de todos os séculos.
Como se percebe, o homem modelo dos “enragés” - que propugnava o assassinato, sem julgamento, de 260.000 pessoas, para “salvar a Revolução” - bem compreendia a idéia que expusemos acima.
Valendo-se dos meios mais sanguinolentos para produzir a igualdade mais radical, até o delírio. Eis o que pretendeu a Revolução Francesa.
Hébert, anunciando que a assembléia de uma aldeia ordenara a derrubada de todos os seus campanários, propôs que se fizesse o mesmo em Paris.
O motivo?
Sobressaindo-se aristocraticamente sobre as demais construções urbanas, as torres violavam o princípio da igualdade. O conselho comunal admitiu a proposta e a enviou ao departamento (J. B. Weiss, História Universal, vol. XVIII, pág. 122).
Em 1793 a Convenção regulamentou a moagem do trigo, e ordenou a mistura de grãos de diferentes espécies, para confeccionar o “pão da igualdade”, que substituía quaisquer outros pães (A. Mathiez, Historie de la Révolution Française, vol. III, pág. 78).
Dizem que todos são iguais na morte. Não contente com isso, a Convenção chegou ao ponto de determinar que todas as sepulturas fossem iguais (J. Castelnau, Les Grandes Journées de la Convention, pág 56).
Marxista “avant la lettre”, em 4/9/1793 Chaumette bradava na Comuna: “Isto é a guerra declarada dos ricos contra os pobres, eles querem nos esmagar, pois bem, é preciso adverti-los, é preciso esmagá-los, e temos as forças nas mãos”.
Robespierre, embora mais demagogo, não era menos cruel: “O sangue de 300.000 franceses correu e correrá outro tanto, talvez, para que o pobre trabalhador possa sentar-se no senado ao lado do rico mercador” (J. B. Weiss op. Cit., vol. XVIII, pág 467).
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“Chassez le naturel, il revient au galop” (Expulsai o que é natural, e ele retornará a galope), diz o ditado.
Todas as revoluções igualitárias redundaram apenas na criação de novas desigualdades, ainda mais acentuadas. E odiosas, pois que ilegítimas.
A Revolução Francesa não fugiu a essa regra.
Joseph Lebon, padre apóstata, nomeado comissário da Convenção em Arras, no ano de 1794, sustentava que, na condição de representante do povo, ele era maior que o Rei. Em conseqüência, detinha a quem não o saudasse na rua, e repreendia os que lhe dirigiam a palavra sem baixar os olhos (J.B. Weiss, op. cit., vol. XCII, pág. 914/915).
Cambacéres, deputado regicida feito príncipe por Napoleão, determinava a seus amigos: “Em público, limitai-vos a chamar-me “Vossa Alteza”, mas na intimidade basta chamar-me simplesmente de Monsenhor”. Em suas recepções, somente era dado falar-lhe a quem ele houvesse antes dirigido a palavra. (L. Madelin, Historie du Consulat et de l’Empire, vol XI, pág. 43).
Robespierre foi mais longe. Dele disse um convencional: “Vede esse animal, não basta que ele seja o senhor, é preciso ainda que ele seja um Deus” (J. B. Weiss, op. cit., pág. 380, nota 4)
Não se trata de exagero. Robespierre, de fato, fez-se adorar como Deus. Na festa do Ser Supremo, que organizou, Robespierre, cercado de incenso, recebeu a adoração do povo como dirigida a si próprio: “Um instante, esse vigário de Deus se acreditou Deus”, comenta L. Madelin (La Revolution, pág. 364).
Napoleão tinha bem razão ao dizer que fora a vaidade que fizera a Revolução Francesa.
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A História sempre se repete, porque se repetem os vícios humanos..
O que acima descrevemos, é fácil percebê-lo, condiz perfeitamente com o que sucedia além da cortina de ferro.
Pois foi ali que, a pretexto de banir a opressão, exerceram e exercem suas ditaduras igualitárias e sanguinárias em dachas e mansões luxuosas, Lênin, Stalin, Brejnev, Tito, Mao Tse Tung, Li Peng, Fidel Castro, e outros tantos membros das privilegiadas castas dos herdeiros de Robespierre, Danton e Marat.
* PUBLICADO ORIGINALMENTE EM VERITAS, 25, ANO III, 1989, JULHO-AGOSTO
Para citar este texto:
"Tirania: a verdadeira face da Igualdade"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/tirania/
Online, 05/12/2024 às 21:57:49h