Política e Sociedade

Reforma Agrária, fruto da Revolução Francesa
PERGUNTA
Nome:
Carlos
Enviada em:
01/01/2004
Local:
Taubaté - SP,
Religião:
Católica
Idade:
57 anos
Escolaridade:
Pós-graduação concluída

Prezado Sr. Fideli,

Acesso a pouco tempo o site Montfort, lendo principalmente a seção de Perguntas e Respostas e, entre as respostas dadas por Vsa. Senhoria muitas vezes surpreendo-me com aquelas referentes a questões de politicas-sociais.

Deu-me a impressão que o Sr. é contrário à reforma agrária e a revolução francesa. Foi má impressão minha, ou não ?

Se o sr. é realmente contrário à reforma agrária, qual o motivo que o leva a tomar tal atitude?

Gostaria de esclarecer que não sou comunista, apenas não concordo com a péssima distribuição de renda e terras no Brasil.

Saudações fraternas,

Carlos
RESPOSTA
Muito prezado Carlos, salve Maria.

Lamento muito que meus textos não tenham deixado de modo ainda mais claro, para você, que sou absolutamente contra a Revolução Francesa e contra a Reforma Agrária. Entretanto tenho escrito muitas vezes contra a Revolução de 1789 na França, que foi um dos movimentos mais criminosos que houve na História.

Constatando, com alegria, que você apenas quer se informar, e não me contestar, pois você não é comunista, passo-lhe informações que você certamente desconhece.

Ainda recentemente, Alain de Besançon mostrou que a Revolução Francesa praticou contra os católicos da Vendée -- região que se rebelou contra as leis criminosas da Revolução Francesa -- o primeiro grande genocídio da História. Na Vendée foram mortos, pelas chamadas "Colunas infernais" da Revolução, calcula-se por baixo, cerca de 400.000 católicos, por defenderem o direito de irem à Missa. Os católicos foram cozidos em fornos, massacrados homens mulheres e crianças. Fizeram calças de pele humana que deputados revolucionários usaram. Cozeram mulheres para aproveitar a sua gordura. Hitler aprendeu muitos de seus crimes da Revolução Francesa. Em toda a França a Revolução perseguiu a Igreja, e matou, alguns autores dizem, cerca de 1.000.000 de pessoas.

Em nome da Liberdade se fez a Lei dos Suspeitos que permitia prender uma pessoa, não porque ela fosse contra a Revolução, mas apenas por ser suspeita de ser contra ela. A pessoa denunciada por duas outras como suspeita de ser contra a Revolução, era presa, dispensava-se o inquérito policial e a apresentação de provas, era proibido advogado de defesa. Lia-se a acusação de suspeita, e a sentença era uma só: morte, com execução em 24 horas.

Desse modo, durante o Terror robespierrista foram assassinadas milhares de pessoas.

Seria longo, numa simples carta contar-lhe, meu caro Evandro, todos os crimes nefandos e numerosíssimos da Revolução Francesa. Poucos conhecem esses crimes, hoje, porque como a ideologia revolucionária venceu e foi imposta ao mundo, se escondem do público não especialista os horrores da Revolução Francesa. E quando eles são delatados, professores revolucionários, procuram escusá-los dizendo que foram resultado da situação de guerra, que foram lamentáveis, mas necessários para estabelecer no mundo o liberalismo a igualdade, a liberdade e a fraternidade. Mas eles escondem que foi o Terror da Revolução Francesa e o Liberalismo que geraram o terror criminoso e genocida de Hitler e o terror vermelho de Stalin, Mao, Lenin, Pol Pot e quejandos cubanos e nicaragüenses. E, às vezes com as bênçãos de padres. Haja vista a defesa do comunismo cubano -- com o seu famoso e sangrento paredón -- por homens como Frei Betto e Frei Boff, para não falar de Dom Arns que se declarava amicíssimo de seu "queridíssimo Fidel"...

Essa contradição é muito comum. Ainda recentemente, em viagem que fiz à França vi, na Prefeitura de Troyes, em pedra esculpido o lema "Fraternité ou la Mort": "Fraternidade ou morte". Era o lema de Caim. Seja meu irmão ou te mato.

Vejo que você se declara contrário à "péssima distribuição de renda e terras no Brasil".

Creio que entendo que você é contrário à "péssima distribuição de renda", em todo o mundo, e não só no Brasil.

E essa grande desigualdade de renda não foi causada pelo liberalismo econômico gerado pela Revolução Francesa?

Foi.

Foi a Revolução Francesa que fez triunfar o Liberalismo econômico, que separou a economia da moral, e declarou o lucro como supremo valor. Foi o Liberalismo da Revolução Francesa que colocou o dinheiro como único critério de classificação social, e que, por isso guilhotinou a nobreza, e tirou todos os privilégios do clero e da nobreza, instituindo todo o privilégio para a riqueza.

Como pode, então, alguém ser contra a atual desigualdade excessiva de fortunas, e, ao mesmo tempo, se afirmar a favor da Revolução Francesa que instalou a Burguesia do dinheiro no poder, dando-lhe todos os privilégios e criando assim uma desigualdade econômica imensa?

Como o achei bem sincero em sua carta, tenho a certeza de que você compreenderá o que lhe digo como uma elucidação, e não como uma crítica pessoal a você.

Repare, meu caro, que, hoje, via de regra, os políticos ou são muito ricos, ou vão ficar muito ricos... embora haja algumas exceções raras e honrosas.

E é claro que sou contra a Reforma Agrária. Defender que é preciso fazer reforma agrária no Brasil, é como pretender que se deva fazer reforma do gelo na Antártida. Gelo sobra nos polos, e terras sobram no Brasil. O que falta aqui não é terra, mas assistência ao homem do campo, e às vezes vontade de trabalhar. Haja vista que, segundo consta, muitos assentados pela reforma agrária atual, vendem as terras que receberam logo que as recebem, e imediatamente começam -- de novo -- a exigir terras e a invadir propriedades. E recebendo-as, logo as vendem. Estabeleceu-se uma "indústria da invasão".

Assim, consta também que favelados, que receberam apartamentos Singapura vendiam ou alugavam esses apartamentos, e voltavam a morar em seus barracos, nas favelas. Ou os alugavam a outros mais pobres do que eles, a preços escorchantes. São favelados capitalistas-selvagens... Pois ricos e favelados, hoje, são capitalistas liberais, que colocam o dinheiro como supremo valor.

É claro que não penso que você tenha, nem defenda essas contradições gritantes. Creio que você, por desconhecer a História verdadeira da Revolução Francesa, e por ser -- como todos -- vítima da propaganda marxistóide da mídia, seja favorável à Reforma Agrária. Peço-lhe apenas que repare nas contradições dos revolucionários agrários.

Pergunto-lhe então: de que vivem os líderes do MST?

Será que eles vivem apenas das bênçãos da Pastoral da Terra da CNBB?

Será que vivem apenas dos subsídios que o governo FHC muitas vezes lhes deu, e em profusão?

Stédiles e Rainhas, constantemente invasores da propriedade alheia, nunca receberam uma terra para se assentarem?

Quando eles deporão fuzis, carabinas e foices ameaçadoras, para empunhar enxadas e picaretas produtivas?

E por que será que os defensores do desarmamento geral não se escandalizam, quando Rainha é preso portando uma "pacífica" arma?

Meu caro, o problema no Brasil não é o do João sem terra, e sim o da Terra sem o João. O problema não é do desarmamento do povo e sim o armamento dos bandidos, nas cidades, e dos revolucionários, no campo.

Condenem o Rainha e o Stédile a trabalhar a terra deles. É certo que eles se rebelarão contra esse trabalho "forçado". Eles querem é agitar, e não -- e nunca -- trabalhar.

Como autênticos marxistas, eles defendem a Reforma Agrária como primeiro passo para impor o socialismo e o fim do direito de propriedade. Feita a Reforma Agrária, virão depois a Reforma Urbana -- na qual pegarão também a sua casa, meu caro Evandro -- a Reforma Industrial e a Reforma Comercial, até abolirem todo o direito de propriedade.

Mas é claro que isso produzirá resistências -- possivelmente também a sua resistência, que o levará, justamente, a defender a sua casa -- mas aí será tarde demais.

O paredón será instituído contra os reacionários. Haverá Tchekas e Lubiankas. Como muito possivelmente haverá "Teólogos da Libertação" que apoiarão as execuções dos contra revolucionários, e talvez até lhes dêem a absolvição sacramental, no paredón. Eles que diziam ser contra a pena de morte, aprovarão, então, a pena de morte aplicada aos capitalistas reacionários... Foi assim na Revolução Francesa. Foi assim na ditadura soviética. É assim na Ditadura fidelista cubana. Com a bênção de Dom Arns, que jamais defende os Direitos Humanos violados em Cuba por seu queridíssimo Fidel.

Creio que como introdução, estas informações que lhe dei nesta carta, o ajudarão a compreender melhor esses problemas. Mas entendo que você deve ter ainda muitas outras questões a me por, quer sobre a Revolução Francesa, quer sobre a Reforma Agrária e o direito de propriedade. Peço-lhe, então, que me escreva para conversarmos mais a fundo sobre tudo isso, que com prazer o atenderei.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.