Polêmicas

Defendendo Dom Rifan, leitor crítica ´O Pastor que vai e vem´ - II
PERGUNTA
Nome:
Gabriel
Enviada em:
06/10/2010
Local:
São José dos Campos - SP, Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Pós-graduação em andamento


Olá Sr.Alberto, Salve Maria!

Confesso que não esperava a publicação da carta com seu comentário, no meio de tantas que os senhores devem receber diariamente. Digo comentário e não resposta pois os questionamentos colocados na carta não foram respondidos. Vamos lá:
 
Coloquei um documento da Congregação da Doutrina da Fé do na época Cardeal Ratzinger que o senhor ironicamente me perguntou se conheço e onde está a resposta?
O papa errou ao alegar que a missa não é má em si mesma? Ele tentou dissimular como o senhor acusa D.Rifan?
O que o Sumo Pontífice sempre criticou é uma hermenêutica de ruptura e o senhor sabe muito bem disso, como mostra sua citação. Até mesmo recentemente vem enfrentando os lobos nesse sentido, vide a recente reunião com ex-alunos sobre a hermenêutica do Vaticano II.
Observe que ele mesmo em sua carta dirigida a Mons.Lefebvre permite uma crítica a reforma neste sentido, e nesta linha é até muito justa e louvável esse santo apostolado a favor da Missa de sempre:
 
“Ainda uma vez, em nome do Papa João Paulo II, eu lhe peço com cordialidade, mas também com insistência, para refletir diante do Senhor em tudo o que eu acabo de lhe escrever. Não se exige do sr. que renuncie à totalidade de suas criticas do Concílio e da reforma litúrgica.” (Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, 23 de dezembro de 1982) grifos meus.
 
Mas por outro lado, em nenhuma vez afirmou que a Missa é má em si mesma como o senhor tenta insinuar, muito pelo contrário pediu solenemente para Mons.Lefebvre afirmar o contrário! Afinal o Papa celebra a missa na forma ordinária também. Acaso o senhor crê que o Sumo Pontífice é do “vai e vem”?
O problema é mais lógico que de moral. Se o senhor afirma que a missa na forma ordinária é má em si mesma consequentemente afirma que o Papa que a celebra faz o que?
O papa celebra a missa como o senhor disse por questões de gosto e sentimentalismo?
O senhor não respondeu.
Observe as palavras do Papa Pio XII a respeito do Papa:
 
“Em erro perigoso estão pois aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, Cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu Vigário na terra. Suprimida a Cabeça visível, e quebrados os vínculos visíveis de unidade, obscurecem e deformam de tal maneira o Corpo Místico do Redentor, que este não pode ser visto nem encontrado por aqueles que buscam o porto da salvação” (Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, n. 40-41).
 
E justamente o que o senhor quer insinuar cabe somente ao Papa:
 
“e que somente a ele, e não a outro, compete julgar dos antigos decretos dos cânones, medir os preceitos dos seus antecessores para moderar, após diligente consideração, aquelas coisas, cuja modificação é exigida pela necessidade dos tempos (Ep. ad. episc. Lucaniae)". Papa Leão
Com isso o senhor vai alegar causa de necessidade nas suas palavras? Passar por cima do Papa assim como faz os sedevacantistas? Ou a posição da montfort é ficar em cima do muro?
Veja que ou se toma a posição do Papa e vamos lutar combatendo a hermenêutica de ruptura ou o senhor diz que o Papa com quase 99% dos membros esteve nessas ultimas décadas participando de uma liturgia má em si mesma! O que é absurdo e fede a cisma.
Os hereges sim acreditam que é a Igreja que tem necessidade de se curvar perante suas idéias. Vi no final do seu comentário à minha resposta onde esperava que o padre comentado pelo senhor fosse ao seu encontro, mas ele não o estava esperando no confessionário ou na igreja de modo geral? Este modo de raciocínio é perigoso, se os hereges fossem mais humildes e procurassem homens instruídos competentes e obedientes a Igreja não teríamos talvez protestantes no meio de nós.
E o que o padre tentou lhe advertir parece não muito bem entendido pelo senhor é a respeito do juízo temerário. Jamais o senhor poderá fazer uma afirmação sobre a consciência de alguém quanto mais de um bispo da Santa Igreja como o fez com D.Rifan. Somente a Deus cabe isso. Mas o senhor colocou: “mas, por vantagens políticas, Dom Rifan tomou sua decisão.”
 
E diga-se de passagem uma decisão em comunhão com a Igreja! Observei tambem que o senhor concordou com a ausência de qualquer argumento em sua carta do vai e vem. Não colocou uma única tentativa de mostrar o modo de pensar de Campos, mas sim uma tentativa de denegrir a imagem de lá pelo simples fato de que o Bispo agora vê as coisas mais em conformidade com nosso Papa.
Para não entrar em maiores detalhes por ora, fica a pergunta não respondida pelo senhor, a Montfort vê que as celebrações litúrgicas do Papa é questão de gosto ou sentimentalismo?
Espero que desta vez o senhor responda, aguardando a publicação desta resposta.

Fique com Nosso Senhor e a Virgem Santissima,
Gabriel
RESPOSTA

Prezado Sr. Gabriel
Salve Maria!
Voltemos novamente a discutir sobre as idas e vindas de Dom Rifan.
Sua última carta continha uma afirmação profética... Minhas diversas ocupações acabaram por fazer com que minha resposta demorasse um pouco, mas a providência, nesse período, esteve a meu lado e os fatos falaram mais que os argumentos. Veja que, enquanto eu me ocupava das coisas do mundo, Deus lutava por mim. O senhor tomou conhecimento de que entre os cardeais nomeados no último consistório foi incluído o Mons. Domenico Bartoluci, que afirmou que jamais rezou a Missa Nova? Veja o texto a seguir de sua entrevista concedida ao blog Disputationes Theologicae

     “Maestro, a recente publicação do Motu proprio “Summorum Pontificum” trouxe uma lufada de ar fresco no desolador panorama litúrgico que nos cerca. Portanto, também o      senhor pode agora celebrar a “Missa de sempre”.

     Mons.Bartoluci: Mas, para dizer a verdade, eu sempre a celebrei ininterruptamente, a partir da minha ordenação... eu teria em vez disso dificuldade para celebrar a missa no      rito moderno, já que eu nunca a celebrei. (os grifos são nossos)
A entrevista não para neste ponto. Vale a pena ler na íntegra.
 
Acrescento apenas mais uma resposta que vai de encontro a uma das grandes bandeiras dos defensores da Missa Nova, inclusive de Dom Rifan, que é a participação do povo na Missa:

     Maestro será preciso, entretanto, conceder aos que denigrem a Missa antiga que essa última não é “participada”.

     Mons. Bartolucci — Ora vamos, não digamos tolices, a participação dos tempos antigos eu a conheci, tanto em Roma, na Basílica, quanto no mundo, quanto aqui em      Mugello nesta paróquia deste belo campo, um tempo povoada por pessoas cheias de fé e de piedade. Aos domingos, no cantar das vésperas, o padre teria podido se limitar      a entoar o “Deus in adjutorium meum intende” e depois por-se a dormir em sua cadeira, para não redespertar senão no “capítulo”, que os camponeses teriam continuado      sozinhos, e os pais de família teriam cuidado de entoar as antífonas!
 
A tradução da entrevista consta no site Montfort, mas talvez o senhor se interesse por acessar diretamente o original. Assim, passo-lhe a referência: http://disputationes.over-blog.com/article-35046658.html
 
Mas voltemos ao tema principal. Em sua nova carta, o senhor diz que eu não respondi a suas perguntas. Isso não é verdade. Comecei minha carta exatamente por esse ponto e respondi claramente o que pensava sobre a Missa Nova. Na realidade, foi o senhor que, para fugir às perguntas que lhe fiz, mudou o assunto de nossa discussão. Vejamos algumas das perguntas que constavam na carta anterior e que foram esquecidas pelo senhor:
 
     “Se a posição anterior de Dom Rifan significava um erro tão grave como um cisma, não deveria ele condenar aqueles que contaminaram uma diocese inteira com este      mal?...”     
     
     “Como dom Rifan apresenta Dom Mayer? Onde estão suas críticas a Dom Mayer?”  
 
     “O que teria acontecido se Dom Rifan, logo após o acordo com o Vaticano, afirmasse que Dom Mayer foi cismático?”
 
     “Como coadunar o missal vendido pelo Padres da Administração apostólica [que contém a condenação da Missa Nova] com as idéias dos Padres da Administração      apostólica?”
 
O senhor não respondeu a essas perguntas, porque a resposta deixa claro que Dom Rifan mudou radicalmente, mas de forma a iludir aqueles que o seguiam para que eles acabassem por aceitar a Missa Nova.
 
Para não o deixar totalmente constrangido, dou-lhe uma indicação de onde o senhor poderá encontrar uma pista para as respostas acima. Procure a entrevista concedida por Dom Rifan na Rede Vida a Dom Antonio Maria Mucciolo. Trata-se de uma obra prima de deformação de fatos históricos. Nessa ocasião, Dom Rifan afirma que “Dom Antonio [de Castro Mayer] sempre foi muito fiel ao magistério”. Veja que primor de afirmação. Faz inveja até à Sibila, pois, caso algum modernista proteste, Dom Rifan vai com a afirmação de que a fidelidade era ao magistério e não ao Papa, mas, se algum paroquiano de Campos se sentir indignado, ele vem e afirma que defendeu Dom Mayer.
 
Assim, não podendo responder às minhas perguntas, porque o senhor seria obrigado a confirmar a tese de meu artigo, o senhor muda a discussão. Agora se trata de saber qual a posição do Papa e, se não concordamos com ele, somos sedevacantistas.
 
Talvez pressionado pela necessidade de fugir do tema de meu artigo, o senhor acabe por me atribuir afirmações que não fiz, de modo a tentar enganar o leitor. Veja os trechos a seguir que transcrevo de sua carta:
     
     “... mas por outro lado, em nenhuma vez afirmou que a Missa é má em si mesma como o senhor tenta insinuar”.
 
Portanto, no início de sua carta, segundo o senhor, havia de minha parte apenas uma tentativa de insinuação. Alguns parágrafos depois o senhor afirma:
 
     “... ou o Senhor diz que o Papa com quase 99% dos membros esteve nessas últimas décadas participando de uma liturgia má em si mesma”.
 
Aquilo que era uma tentativa de insinuação passou a uma afirmação categórica. Minha posição obrigatória equivaleria a dizer que a Missa Nova é má em si mesma. Ou seja, o senhor me atribui afirmações que não constam em meus escritos. Essa manobra do senhor é uma tática muito conhecida, entretanto, não indica boa fé. O correto é não me atribuir o que eu não disse e citar meu texto e não fazer um livre-exame protestante do mesmo.
 
Como já lhe disse em minha primeira resposta, minha posição está baseada nas “Sessenta e duas razões porque em consciência não podemos assistir à Missa Nova”, publicadas pelos padres de Campos, e que o senhor faz de conta que nunca existiram, eximindo-se de fazer qualquer comentário. Sigo nesse ponto a orientação de dom Mayer, ou seja, a Missa Nova é válida. Desde que obedecidas as condições para a realização do sacramento, Cristo está realmente presente. Jamais ouvi Dom Mayer dizer que a Missa Nova era má em si mesma.
 
Sua tentativa de distorcer meus comentários vai mais longe. Assim o senhor me pergunta:
 
     “O papa celebra a missa como o senhor disse por questões de gosto e sentimentalismento”?
 
Eu não escrevi isso, a frase que consta em minha carta é do missal dos padres de Campos, que rejeitavam a Missa Nova “não por uma questão de gosto ou preferência sentimental, mas porque a identidade católica estava em jogo”. Não está afirmado, portanto, no texto, que todos os que rezam a Missa Nova o fazem por sentimentalismo. O que está dito é, ao contrário do que ensina Dom Rifan, que a Missa Antiga não é uma questão de gosto, de um apego dos fiéis apenas.
 
Prosseguindo em sua confusa argumentação, o senhor procurar fazer uma comparação entre a ação do Papa e a de Dom Rifan. Na realidade, eles estão em caminhos opostos.
 
O trabalho do Papa tem sido no sentido de restaurar a Missa antiga em todo o mundo. Isso tem lhe custado muito sacrifício e muita incompreensão e, sem dúvida, ele tem sido vitima de muitas traições. Como pretende o Papa restaurar a Missa antiga? É um pergunta importante tendo em vista a atual situação da liturgia em todo o mundo. Veja o que afirma o Padre Barthe, em entrevista a que tivemos acesso através do site “La Revue Item”.  

     “Eu penso primeiramente que é totalmente irrealista crer que se pode com um passe de mágica fazer que, em todas as paróquias do mundo, todas as missas sejam      celebradas segundo o uso antigo. Por outro lado, eu constato com muitas outras pessoas, entre as quais as principais estão altamente colocadas, que o missal de Paulo VI      contém uma quase infinita possibilidade de opções, de adaptações e de interpretações, e que uma escolha progressiva, ou sistemática, ou sistematicamente progressiva,      das possibilidades tradicionais que ele oferece, torna possível, no terreno paroquial, e perfeitamente legal (segundo a letra da lei, já que não segundo seu espírito), sua      “retradicionalização”. Aliás, uma simples constatação: numerosos padres de paróquias (eu elaborei uma lista rápida para a França, que evitarei cuidadosamente publicar,      mas que é impressionante) praticam esta reforma da reforma, muitas vezes por etapas, e na maioria dos casos celebrando também a missa tradicional. Para responder      então à sua questão, eu diria que eu creio que a liturgia romana pode ser salva, o que acontece, como se pode constatar concretamente, por uma ação a duas velocidades:      difusão do rito de São Pio V; reforma da reforma. Esta permitirá, lembrando um célebre discurso de Paulo VI em sentido inverso, abandonar progressivamente tudo o que na      sua reforma já é velho, fora de moda, porque não é tradicional. Nós veremos bem o que será salvo após esta operação...
 
Os grifos são meus e a integra da entrevista do Padre Barthe pode ser acessada através do seguinte endereço: http://www.revue-item.com/3706/%C2%ABpour-un-nouveau-mouvement-liturgique%C2%BB/
Assim, segundo o Padre Barthe, autoridades “altamente colocadas” pretendem reformar a Missa Nova aproximando-a da antiga. Será que é isso que Dom Rifan e alguns padres da Administração Apostólica vêm realizando?
Na mesma entrevista, Padre Barthe continua:

     Dito isso, nenhum dentre eles, e especialmente o primeiro dentre eles, o Papa, não pretendem promover uma reforma da reforma pelos textos, por decretos, e a fortiori pela      edição de um novo Missal fundido, um missal Bento XVI que se acrescentaria aos missais de Pio V e Paulo VI, mas eles querem proceder pelo exemplo, pela exortação,      pela educação, e, sobretudo, para evocar o tema de São Paulo da Epístola aos Romanos, provocando uma sadia “inveja” da forma hoje dita “ordinária” em relação à forma      “extraordinária”. É, aliás, uma característica da restauração ratzingueriana desde 1985: ela busca mudar o curso da evolução das coisas conciliares, porém de maneira      exortativa e não coercitiva.
Novamente: será que é isso que Dom Rifan e os padres da Administração Apostólica têm feito?
No mosteiro de São Bento em São Paulo, sem dúvida, celebra-se a Missa de São Pio V de acordo com as rubricas estabelecidas. O padre determina até o momento em que os fiéis devem sentar-se.
Já em Belo Horizonte, onde estive recentemente, a Missa antiga sofreu muitas adaptações. Para se tornar mais popular, os cânticos não são os previstos no missal, o Credo é rezado em português, o Pai Nosso é rezado por todos, em português, empregando o “perdoai as ofensas” e não o “perdoai as dívidas”.
O padre alega que segue o que os padres de Campos faziam. O padre atual se enganou ou realmente foi esse o ensinamento recebido? Na já referida entrevista com Dom Mucciolo, o senhor terá a certeza de que o padre não se enganou.
Mas não é só isso. O senhor não imagina quem era o acólito da Missa! Era o mesmo rapaz que eu havia expulsado da reunião da Montfort por se recusar a condenar o sedevacantismo. O senhor não acha esse fato ao menos curioso? Se o senhor soubesse que, em uma Missa que fosse rezada a pedido da Montfort, havia um acolito que se recusa a condenar o sedevacantismo, isso não seria motivo suficiente para o senhor rasgar as vestes e nos condenar? Realmente, não parece providencial que as minhas ocupações dos últimos dias tenham me impedido de responder ao senhor tão rápido quanto eu gostaria?
Veja, portanto, que o Papa e Dom Rifan talvez estejam na mesma estrada, mas certamente caminham em sentidos opostos. Enquanto o Papa trabalha e sofre para restaurar a Missa Antiga e reformar a Missa Nova, Dom Rifan muda a Missa Antiga para aproximá-la da Missa Nova e trabalha para convencer seus fiéis, de forma subtil, a frequentarem a Missa Nova.
Como prova de minha suposta insurreição ao Papa e ao Papado, em sua carta, o senhor apresenta diversas citações sobre a obediência que se deve ao Papa, com ensinamentos aos quais temos alegria de nos submeter. Entretanto, ficou faltando provar que em nossa atitude existe algo de contrário ao que está sendo afirmado. O senhor me faz lembrar aqueles protestantes que, para “provar” que a Igreja Católica está errada, citam as condenações de Nosso Senhor Jesus Cristo aos fariseus, afirmando, logo em seguida, “isso é aplicado a vós”.
Assim, nós estamos com Monsenhor Bartoluci ou, desculpe-me, com o Cardeal Bartoluci. Não assistimos à Missa Nova e, de maneira nenhuma, isso nos torna cismáticos. Mas, para complementar esta ideia, acrescento uma citação:

     “Pergunta: A nova missa foi promulgada por um Papa para a igreja toda. Se ela é equivoca, então a Igreja falhou?

     Resposta; Em primeiro lugar, a Igreja toda não aceitou a nova Missa. Desde sua promulgação em 1969, até hoje, não deixou de haver uma séria resistência por parte de      milhares de fiéis, padres, vários bispos e até cardeais, como Ottaviani e Bacci.

     Em segundo lugar não está em caso à infalibilidade do Papa e da Igreja. Porquanto, nas leis litúrgicas, mesmo universais, o Papa e a Igreja não empenham necessariamente      e sempre a infalibilidade.

     O próprio Paulo VI afirmou que o novo Missal não levava a nota da infalibilidade; “o rito e a respectiva rubrica por si não são uma definição dogmática; são suscetíveis de      uma qualificação teológica de valor diverso segundo o contexto litúrgico a que se referem (Discurso de 19 de Nov. de 1969)

     Soma-se a isso o fato de que a primeira edição do missal de Paulo VI continha um erro tão explícito no n. 7 da ‘Institutio’ que o Papa foi obrigado a mandar revê-lo. Ora, o      que é infalível não pode ser passível de revisão.”

     Pergunta:  O papa impôs a nova Missa. Quem a rejeita peca por desobediência.

     A obediência cega não excusa a responsabilidade daquele que obedece. Se aquele que manda ultrapassa o âmbito de seu direito de mandar, não há ordem, mas abuso de      poder. A um abuso de poder corresponde ao súdito não o dever da obediência, mas o dever da resistência.

     O papa não tem poder de mudar a Fé. São Roberto Belarmino diz que é lícito resistir ao que agride as almas (...) ou, sobretudo, àquele que tentasse destruir a igreja” Essa      doutrina é também de Santo Tomás e de vários outros santos e doutores da Igreja.

     O papa Leão XIII ensina: “Desde que falta o direito de mandar ou o mandato é contrário à reta razão, à lei eterna, à autoridade de Deus, então é legítimo desobedecer aos      homens a fim de obedecer a Deus” (Libertas praestantissimum).
Não vou lhe dizer de onde vem essa citação. Fica o suspense para uma próxima carta, caso o senhor resolva insistir, mas lhe dou uma dica: certamente, o Padre Hélio Rosa poderá lhe informar a origem do texto.
Ao final de sua carta, o senhor assevera que fiz afirmações sobre a consciência de alguém. Isso não é verdade. Apenas analisei fatos públicos e notórios, que eram de conhecimento de todos, e comparei a antiga posição de Dom Rifan com a atual. Nenhum desses fatos, nem as citações apresentadas foram negados pelo senhor, que apenas reafirma minha suposta insubordinação ao Papa, sem apresentar qualquer argumento.
Do que mais uma vez o senhor foge de comentar é a atitude do padre que me condenou. Se de fato minha posição é cismática, esse padre foi um dos grandes colaboradores para que eu estivesse em tal situação. Não teria ele a obrigação de me procurar e dizer o que estava errado, apresentar sua nova argumentação e os motivos que o levaram à mudança, antes de me condenar no púlpito? Não condenou ele, juntamente com Dom Rifan, de forma veemente, a atitude de Dom Gérard do mosteiro do Barroux, quando esse se afastou de Dom Lefebvre em razão da ordenação dos Bispos? Teria ele julgado a consciência de Dom Gérard?
Por último, lembro ainda que o senhor me deve um exemplo do magistério morto e, caso o senhor não se incomode, gostaria também de saber seu sobrenome e a sua ligação com a Administração Apostólica dirigida por Dom Rifan.
Assim, meu caro Sr. Gabriel, suas cartas apenas confirmam a tese central de meu artigo: Dom Rifan mudou de posição quanto à Missa e, de modo dissimulado, levou consigo os padres da Administração Apostólica e infelizmente muitos fiéis. Essa não é a ação que o Papa vem desenvolvendo. Pelo contrário, o que o Papa tem feito é aproximar os fiéis da Missa Antiga, enfrentando todas as dificuldades, perseguições e traições. O Papa não vai e vem. Na realidade, ele se parece muito com o Papa dos sonhos de Dom Bosco que, vendo que a barca da Igreja estava em alto mar, sendo atacada por seus inimigos, com lutas internas, traz o navio de volta e o amarra nas colunas da Eucaristia e da devoção a Nossa Senhora.
Quem sabe Dom Rifan seja um daqueles barcos que assistiam de longe à batalha e aguardavam o final da luta para ver o seu resultado e, após a vitória do Papa, se aproximam desse. Rezemos para que esse venha a ser o final desta história, mas isso só Deus sabe.
 Que Nossa Senhora o proteja e o faça ver mais claramente. Rezarei sempre por Dom Rifan, por todos aqueles que estão sob a sua orientação e pelo senhor.
Alberto Zucchi
São Paulo, 08 de dezembro de 2010
Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora