Doutrina

Oração ´Pai Nosso`
PERGUNTA
Nome:
Francisco Leite Monteiro
Enviada em:
13/06/2009
Local:
2780-180 Oeiras - Portugal
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior incompleto


Há um ano, numa viagem à Terra Santa, durante a visita à Basílica (?) PATER NOSTER, onde nas mais variadas línguas está inscrita a oração "PAI NOSSO", recordei como, em miúdo, rezava a oração que teve uma evolução que imagino terá sido nos meados da década dos anos 40 do século passado. Pessoas antigas como eu recordam-se, mas não encontrei quem me respondesse às minhas dúvidas : - QUANDO?, PORQUÊ? POR QUE VIA FOI IMPLEMENTADA ? Não satisfeito contactei também entidades eclesiásticas mas o resultado foi nulo.

Quase por acaso, ao "navegar na Internet", deparou-se-me o vosso site, encontrando parte da resposta, assinada por Marcelo Fedeli, em satisfação de pergunta dirigida por Miguel Frasson (São Carlos - SP, Brasil) em 18/04/2006. Nessa resposta é dito "Isso aconteceu pouco antes do Concílio Vaticano II. Em Missais do ano de 1957 já se encontram aquelas alterações, na linha de algumas modificações litúrgicas iniciadas naquele tempo...." Ora, sucede que um meu familiar tem um missal antigo, de 1947, onde a nova versão, como hoje se reza em Portugal, já está impressa - 10 anos antes do Vaticano II.

Como não desisto de "aprender", apesar estar à beira dos 77 anos de idade, aqui estou a pedir a vossa ajuda, reformulando a minha pergunta, tal como a apresentei às entidades eclesiásticas portuguesas, na esperança de satisfazer a minha curiosidade, antes de recorrer para o Vaticano....

Passo a reformular a pergunta, tal como a submeti. Sou natural da Ilha da Madeira, nascido em 1932, tendo deixado o Funchal, praticamente, quando tinha 18 anos. Hoje sou residente em Oeiras.

Ora, sucede que, quando era pequeno e, até meados do século XX - por volta do ano de 1945, talvez - a oração era designada por “PADRE NOSSO” além de pequenas diferenças no texto respectivo, como adiante assinalo [...]:

Pai Nosso [ Padre Nosso ] que estais nos céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas [ dívidas ] assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, [ os nossos devedores ] e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do Mal.

Imagino que terá havido alguma recomendação ou norma do Vaticano, do Patriarcado de Lisboa ou da Conferência Episcopal, a propósito da alteração do “Pai Nosso”, aí residindo a minha dúvida.
Procurando descortinar a razão da evolução, permito-me referir que até imagino e quase entendo que faz sentido a alteração de “Padre” por “Pai”, pois é ao Senhor, ao Pai de todos nós que nos dirigimos e não ao "Sacerdote", não é verdade? E, quanto à alteração de “dívidas” por “ofensas”, etc., interrogo-me se isso tem que ver com o propósito de retirar-se um certo aspecto "materialista" ao mesmo tempo que o sentido é amplificado.

Será que me podem ajudar, desde já muito agradecendo a vossa atenção, ao mesmo tempo que peço me desculpem pela ousadia.

Respeitosos cumprimentos de

Francisco Leite Monteiro
RESPOSTA


Muito prezado Francisco,
Salve Maria.

     Hoje já respondi algumas cartas em que o consulente se queixava de ter consultado autoridades na Igreja –e até Conferências episcopais --, sem ter recebido respostas.
     Com gosto o atendo.

     Foram os modernistas que, há muito tempo, procuram mudar a religião e que mudaram as palavras do Pai Nosso, como mudaram a Missa que a Igreja rezou sempre, há dois mil anos.
     
Foi Nosso Senhor Jesus Cristo que mandou rezar dizendo Pai nosso. Como você notou bem Pai e padre significam a mesma coisa. Deus é nosso Pai por ser nosso criador. Por nos ter dado a vida. Agora, em alguns lugares se quer chamar Deus de Mãe, rezando “Mãe Nossa que estais no céu", contrariando diretamente as palavras usadas e ensinadas por Cristo.
     O Papa Bento XVI, no livro Jesus de Nazaré, critica chamar Deus de mãe, porque se Deus fosse mãe nossa, nós teríamos uma comunicação substancial com Deus, visto que a mãe se comunica materialmente com o filho pelo cordão umbilical. Diz então Bento XVI que Cristo não usou a expessão mãe Nossa porque chamar Deus de mãe, além de falso, levaria ao panteísmo pois que teríamos uma comunicação direta com a substância de Deus.

     Também a mudança feita depois do Concílio Vaticano II – mas já usada, mais ou menos clandestinamete antes do Concílio em alguns grupos e lugares — é pessima.

     Cristo ensinou e usou a palavra dívidas e não ofensas. Porque Jesus usou a palavra dívidas e não ofensas?
     
Porque as ofensas graves que fazemos a Deus nos são perdoadas no Sacramento da Confissão e não na recitação do Pai Nosso. Quando confessamos pecados mortais na confissão e somos absolvidos, o confessor ainda nos dá uma penitência, porque, embora tendo recebido o perdão da culpa grave e do castigo eterno que ela nos traria caso morrêssemos com essa culpa grave, temos ainda dívida com Deus que procuramos pagar com a penitência.
     Foi Lutero quem atacou o Sacramento da penitência. Esse heresiarca dizia que tudo o que o homem faz é pecado. Até rezar seria pecado. Lutero então considerava que o homem é incapaz de fazer o bem, de fazer penitência. Por isso era contra as boas obras. O homem deveria ter fé que eatva perdoado. E como prova que confiava no perdão e que acreditava que se estava perdoado, Lutero recomendava pecar e não rezar. Pecado sem medo provaria que se acreditava plenamente no perdão.
     
A distinção católica entre o perdão das culpas mortais, no sacramento da Confissão, e o pedido de perdão das ofensas, provém da distinção entre culpas leves e culpas graves que Lutero negava. Para ele tudo era igualmente pecado. Ele não diferenciava pecado grave de pecado venial. Daí, os que mudaram no Pai Nosso a palavra dívidas por ofensas – dividas que nos restam pagar mesmo depois da absolvição sacramental --  terem acabado com o confessiánario e com a confissão pessoal. Eles introduziram abusivamente a absolvição coletiva, que o papa Bento XVI tem combatido.

     Para ajudá-lo copio para você a relação entre os sete pedidos do Pai Nosso e os sete vicios capitais segundo Hugo de São Victor que foi publicada no site Montfort.

 

 

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli