Doutrina

Expectativas do encontro do Papa Bento XVI com D. Fellay
PERGUNTA
Nome:
Renato Rosa
Enviada em:
16/09/2005
Local:
Leiria - Portugal
Religião:
Católica
Idade:
22 anos
Escolaridade:
Superior em andamento
Profissão:
Estudante

Caro Prof. Orlando,
a paz de Cristo esteja connosco!

Agradeço em primeiro lugar a rapidez com que respondeu à minha anterior carta, referente ao encontro entre o Papa e D. Fellay. Não esperava, na verdade, tal rapidez, devido ao elevado número de cartas que são enviadas ao vosso site.

Declaro ainda que, da minha parte, pretendo discutir estes assuntos com o máximo respeito por todos os envolvidos, ainda que discorde das suas opiniões.

Li com atenção a sua resposta à minha carta, e gostaria agora de fazer alguns esclarecimentos.

Olhemos para as duas condições postas pela FSSPX para o diálogo com Roma. O levantamento das excomunhões, muito bem, nada tenho a opor. Contudo, penso que o fim da excomunhão não significa que se passe a ter por louvável e acertado tudo o que disseram e fizeram D. Lefebvre, D. Antônio de Castro Mayer e os restantes. Significa apenas boa vontade e abertura para fazer o diálogo, sem o peso duma excomunhão.

Quanto à Missa tridentina, não tem sentido argumentar que ela não está proibida. Claro que não está proibida! Pois se há tantas pessoas, católicas, que a celebram licitamente! A Missa tridentina é permitida seja para associações, como a Fraternidade de S. Pedro, etc, seja para outros grupos de pessoas, e para sacerdotes, que fazem uso da permissão dada expressamente em 1984, na carta "Quattuor abhinc annos", confirmada pelo Motu Proprio "Ecclesia Dei", de 1988. O que penso sinceramente é que a celebração da Missa tridentina não pode ser liberalizada totalmente, ou seja, sem ser sujeita a uma autorização. Não pode ser dada a mesma liberdade para a Missa tridentina e para a Missa actual que, quer queiramos quer não, é a Missa em vigor para a Igreja Católica de rito romano. A Missa tridentina pode ser celebrada, sim, mas mediante uma autorização, que é dada quando se cumprem algumas condições. Ela não pode ser permitida sem mais, sem qualquer controlo.

Quanto ao texto de 11 linhas que seria o comunicado final do diálogo, não o inventei. Nem teria capacidade imaginativa para tanto. Peço desculpa ao Prof. Orlando e a todos os leitores por não ter citado a origem do texto. Trata-se da declaração doutrinal pertencente ao protocolo de acordo assinado por D. Lefebvre e pelo Card. Ratzinger, em Maio de 1988. D. Lefebvre, no dia seguinte a ter assinado, decidiu retroceder na decisão e desistiu do acordo, por achar que Roma não estava disposta a cumprir o prometido, sobretudo no que se referia à nomeação dum bispo pertencente à fraternidade. Esta recusa do acordo levou à ordenação dos 4 bispos a 30 de Junho. Desta declaração doutrinal, que D. Lefebvre não só admitiu como inclusivamente chegou a assinar, fazem parte os 4 pontos que trancrevi e ainda um outro, prévio a todos, que diz: "Prometemos ser sempre fiéis à Igreja Católica e ao Romano Pontífice, seu Sumo Pastor, Vigário de Cristo, Sucessor do Bem-Aventurado Pedro no seu primado e Chefe do Corpo dos Bispos." Não o transcrevi porque, por aquilo que é continuamente dito pelos responsáveis da FSSPX e pelos tradicionalistas em geral (tirando os sedevacantistas), este ponto é algo assumido e inquestionável para eles, e portanto livre já de qualquer discussão. Como pensei que reconheceria o texto, visto o seu grande conhecimento destas questões, não citei a origem. Pela confusão causada, mais uma vez as minhas desculpas. Penso que por instantes me enganei, cuidando que a existe ligação entre o Prof. Orlando e a FSSPX, o que sei que não é verdade.

Mas a razão pela qual transcrevi este texto é que ele é a melhor pista sobre como será um acordo entre Roma e a FSSPX. Os intervenientes são praticamente os mesmos: o Card. Ratzinger, agora Papa, e o máximo representante da FSSPX. Por este texto verificamos que Roma não prescinde de determinados pontos (de que não pode, na verdade, prescindir), como o Concílio Vaticano II e a Missa renovada por Paulo VI. O próprio D. Lefebvre mostrou estar, ainda que por momentos, disposto a aceitar essas condições. Nada nos indica que o objectivo das conversações, por etapas, não seja alcançar um novo acordo semelhante a este.

Mas concordo consigo, quando diz que excedi a minha imaginação ao pensar que D. Fellay aceitaria um acordo semelhante ao feito com Campos, etc. Também penso que ele "nunca aceitará o Vaticano II como está e a nova Missa de Paulo VI". E lamento o facto porque, se isso é verdade, e ele não está disposto a aceitá-los, não vejo que possa haver qualquer acordo com Roma.

Quanto às críticas do Card. Ratzinger à "Nova" Missa, criticar abusos não significa recusá-la. Penso que em nenhum dos escritos do Card. Ratzinger encontramos uma recusa da "Nova " Missa e consequente defesa da Missa tridentina. Todos criticamos os abusos, na esperança de conseguir uma celebração cada vez mais digna.

Pareceu-me que o Prof. Orlando tem uma ideia um pouco "extremista" e distorcida da Missa actual, talvez fruto dalguma má experiência. Garanto-lhe que o rock não faz parte da Missa actual e que a maioria dos responsáveis da Igreja não o defende. Participo sempre na Missa actual e posso dizer-lhe que a maior parte das vezes são celebrações dignas, sem esses abusos tantas vezes condenados, com uma música sacra bela e expressiva da Fé, apesar de serem composições recentes. Há muitos abusos, infelizmente, que todos condenamos. Mas tais abusos não fazem parte da Missa e não afectam a dignidade que ela tem em si. Se há lugares em que a Missa é mal celebrada, bem mais são aqueles em que ela preserva a sua dignidade, segundo a vontade da Igreja.

Continuo a rezar para que todos sejamos reunidos na unidade da Igreja.

Misericordias Domini in aeternum cantabo
Renato Rosa

RESPOSTA

Muito prezado Renato,
salve Maria !
 
    Você me diz:
 
   "O que penso sinceramente é que a celebração da Missa tridentina não pode ser liberalizada totalmente, ou seja, sem ser sujeita a uma autorização. Não pode ser dada a mesma liberdade para a Missa tridentina e para a Missa actual que, quer queiramos quer não, é a Missa em vigor para a Igreja Católica de rito romano. A Missa tridentina pode ser celebrada, sim, mas mediante uma autorização, que é dada quando se cumprem algumas condições. Ela não pode ser permitida sem mais, sem qualquer controlo".
 
    Ainda ontem, o Cardeal Medina declarou que o Papa vai dar essa autorização:"o Papa pode agir brevemente para liberalizar as normas da Igreja, permitindo a todos os padres o uso do rito Tridentino".
 
    E ainda:
 
    "Como membro da comissão Ecclesia Dei, disse o Cardeal Medina, ele é solicitado algumas vezes para celebrar uma missa no rito Tridentino. Quando recebe tal pedido, diz ele, “Eu o faço, sem pedir permissão para ninguém”.
 
    O Cardeal Medina disse também que poderá ser constitutído um grupo de estudos para debater os dois pontos em lítigio, pontos propostos a discutir pela Fraternidade São Pio X, e que o Vaticano exige que sejam aceitos: a Nova Missa e o Vaticano II
    Ora, aceitar debater esse dois problemas é admitir que eles não são são dogmáticos, nem instituídos infalivelmente.
    Já é um progresso.
    Claro que sei que a Nova Missa não inclui o rock
 
    A Constituição Sacrossantum Concilium do Vaticano II recomendou o canto gregoriano e a polifonia(no. 116). Mas, no número 119, ela  admitiu a música tradicional dos nativos. E no Brasil, então, entrou o samba, e, na Argentina, o tango. Desapareceu o gregoriano. O rock dominou as missas até no Alto do Goloso do Grogotó dos Pimentas.
 
    No Número 120 se elogia e recomenda o órgão como instrumento (no. 120). Mas, no mesmo número 120, admitem-se outros instrumentos... E lá vieram o bumbo, a cuíca, e o reco-reco. Desapareceu o órgão.
 
    A Constituição Sacrossantum Concilium do Vaticano II em seu número 36 recomendou que se mantivesse o latim como língua sacra da Igreja (no. 36). Mas, no número  54 se permitiu a língua vernácula. Resultado: o latim ficou proibido.
 
    Esse é um dos males do Vaticano II: afirma um princípio e abre exceções. Que são brechas tão largas na muralha que só ficam entradas. Desaparece a muralha dos princípios. Só restam ruínas e brechas.
    É isso que permitu a auto demolição da Igreja de que falou Paulo VI, que não tomou providências para acabar com a demolição e nada construiu, a não ser as medonhas e inóspitas salas em arte moderna nos Museus Vaticanos, a horrível sala Paulo VI com seu Cristo explodindo como um homem bomba da Al Qaeda, ou o Crucifixo deformado do comunista Manzu. 
    Então não me venha dizer, meu caro, que o rock não pertence à Missa Nova. Que você assiste uma missa Nova piedosa, devota e respeitosa, acredito.
    Mas são essas Missas Novas devotas, piedosas e respeitosas que escondem, tentam justificar, e permitem as profanações existentes em toda a parte, graças às ambiguidades dos textos da Missa Nova.
    É você que, olhando a Missa em sua capela piedosa, não vê as profanações e sacrilégios que ocorrem por toda a parte
 Recomendo-lhe que leia a crítica dos Cardeais Ottaviani e Bacci sobre a Missa Nova.
    Recomendo-lhe que leia a Ecclesia de Eucharistia.
    Recomendo-lhe que leia Redemptionis Sacramentum.
    Recomendo-lhe o que disse o Cardeal Ratzinger em seus livros, comentando os abusos e erros da Missa Nova. Por exemplo, a Missa voltada para o homem, para o povo, e não para Deus.
    Recomendo-lhe que leia a poesia de Antero de Quental sobre a futura Missa do povo.
    Recomendo-lhe que leia o livro de Monsenhor Klaus Gamber sobre a Missa Nova.
    O Cardeal Ratzinger gostava muito desse livro. Parece até que ele está seguindo as suas recomendações...
    E uma recomendação era a de dar liberdade completa à Missa antiga, e ir esvaziando a Missa Nova, até restar uma só Missa no Rito Romano. Porque só pode haver uma só Missa no rito romano.
    Advinhe qual.
 
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli