Cartas de Apoio

Que bom foi o Professor Orlando não ter se calado!
PERGUNTA
Nome:
Eder Moreira
Enviada em:
14/06/2010
Local:
Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior incompleto
Profissão:
Estudante


Queridos amigos,
Salve Maria!

Retornando ontem de São Paulo – após acompanhar com muita tristeza o enterro do nosso valente e muito amigo professor Orlando Fedeli – termino hoje, dia 14 de junho de 2010, minha carta de condolências e agradecimentos aos amigos da caravela Montfort, que, mesmo diante de uma grande perda, não deixarão de lutar pela bandeira católica que a muitos ensinaram a amar e a defender.

Seremos eternamente gratos ao frutuoso apostolado dessa Associação e, em especial, ao incansável cruzado que, com a espada da verdade e com o escudo da Fé, acendeu em nossos corações empedernidos o fogo da verdadeira Fé.

Na forja da Montfort, nossas almas enferrujadas pelas paixões do mundo, foram transformadas em espadas que, desde então, combatem alegremente com o exército da Montfort.

Soldados amigos, mas, sobretudo, católicos fiéis à Verdade que nunca passa.

Ao professor que dedicou sua vida a ensinar com artigos e valorosos combates, nossa humilde gratidão de filhos que sentem profundamente a dor de um pai que parte. Valoroso ensino! Nobre exemplo de coragem e fidelidade. São os frutos do professor que soube bem educar os filhos que Deus lhe confiou.

Trago em minha memória um fato longínquo, porém de grande valor para minha vida. Em uma aula, das muitas que tivemos, dizia o professor, enfaticamente, que éramos seus alunos, e que ele era o nosso professor. Contive-me nas lágrimas. Guardei comigo esse sentimento filial, na alegria de poder dizer aos meus fiéis amigos e aos meus filhos, que esse foi o meu professor.

O professor que de Deus muito recebeu, nos servia como um pai que serve os filhos famintos. Sedentos do alimento da verdade, fomos saciados por um leigo que nos transmitiu o que hoje bem poucos querem ou sabem fazer: ensinar a verdade católica.

Esse bem não tem preço. O que esse valente professor fez por minha alma, de minha esposa e de todos os nossos amigos, é imensurável. Sempre agradeceremos à Virgem Santíssima pelo professor que nos ensinou o que é ser católico. Professor que abrasou nossas almas de amor pela Igreja Católica. Professor que nos ensinou as duas coisas fundamentais para qualquer católico: rezar e lutar. Pela Igreja e pelo Papa.

E mais: dizem que o professor tem fama de ser inacertante. No entanto, numa coisa podemos dizer que ele não errou. Exaltou a virtude de um sacerdote e nos fez enxergar esse valioso tesouro, a quem hoje temos como pai espiritual que com muito zelo cuida de nossas almas.

Nosso professor dedicou a vida a ensinar. E, ainda que alguns o tentassem silenciar, com desculpas de que leigos não podem ensinar, ele não se calou. Por amor à Igreja e pelo bem das almas, o professor audacioso não parou de ensinar.

Na história, os cristãos sempre foram perseguidos pelo bem que faziam às almas. Fossem eles leigos ou sacerdotes. Mas somente os traidores silenciaram. Somente os covardes que, mesmo diante da desgraça alheia, não tiveram coragem de proclamar bem alto a verdade. Calaram-se. E hoje, quando a Igreja mais precisa de fiéis combatentes, sofisticamente alguns dizem que leigos não podem ensinar. A Montfort e o professor devem se calar. Um absurdo!

Quantos frutos seriam perdidos se o professor, pelo orgulho de certos tradicionalistas, tivesse cessado com seu apostolado, guardando egoisticamente para si tudo o que aprendeu? Ora, se recebemos o bem, não é para enterrá-lo, como fez o terceiro servo da Parábola dos talentos. Se devemos multiplicar os talentos, quanto mais a verdade que salva as almas. E o professor não enterrou seu talento de polemista e corajoso defensor da Igreja. Multiplicou o que Deus lhe deu. De alguns talentos fez outros milhares. Por isso temos a esperança de que diante de Deus ele tenha ouvido a doce Voz do Verbo que o premiou com a suave sentença:

“Está bem servo bom e fiel, pois que foste fiel no pouco, eu te estabelecerei sobre muito; entra na alegria de teu senhor” (Mt. XXV, 14 -30).

Na alegria eterna esperamos que o senhor esteja, caro professor. O senhor não só serviu fielmente a Igreja de Nosso Senhor, como nos ensinou a servir essa Rainha que tanto deseja nos coroar com a glória do Céu.

Seus talentos, sem dúvida serão perpetuados nos frutos que eles produziram. E como o senhor, não calaremos. O aluno não pode deixar morrer o que o mestre ensinou. Todo o bem deve ser repassado. A verdade, anunciada, porque a caridade é dever de todos.

Um fato me vem à memória neste instante. A propósito, numa hora oportuna. Do pouco conhecimento histórico que tenho, lembro-me de que, para derrotar os ingleses, que posteriormente tornar-se-iam protestantes, Deus escolheu uma jovenzinha analfabeta e de pé no chão, quando dispunha de soldados muito mais preparados militarmente para uma batalha do que uma menina frágil e sem instrução. Sem dúvida foi uma vergonha para os generais franceses ver uma jovem mocinha fazer tão bem o que eles não conseguiram fazer. E foi a pequena Joana uma luz de coragem e virtude para aquele tempo. Como disse o professor, certa vez, Deus toma sopa com palito. Ele escolhe os mais fracos, os menos capazes, para mostrar sua onipotência, humilhando seus inimigos e ensinando os que deveriam dar o exemplo.

O senhor, caro professor, foi um exemplo para alguns covardes que aposentaram a espada da verdade para dialogar com o mundo. Para envergonhar esses traidores, Deus fez pôs um leigo no combate pela verdade. Aqueles que deveriam ensinar, silenciaram. Por isso Deus fez um leigo ensinar.

Como pretender calar alguém – à base de sofismas ridículos - que converteu tantas almas, repetindo o que a Igreja sempre ensinou? Por acaso um aluno não pode corrigir outro que fez uma soma errada porque não possui diploma de graduação em matemática? Por acaso um pai não pode dar os primeiros socorros ao filho que se machucou porque ele não passou pela faculdade de medicina? Se os médicos não querem curar, que morram os doentes? Se os mestres não querem ensinar, que os alunos morram na ignorância? Essa seria a solução dos que defendem o perpétuo silêncio dos leigos?

Esse fato não é estranho ao passado. Também Santo Inácio, quando ainda era um simples leigo, foi perseguido por ensinar catecismo. Tentaram silenciar esse leigo pregador por causa de sua leiguice. Não conseguiram. É impossível deter uma alma incendiada pelo amor a Deus. Santo Inácio continuou a ensinar. Como leigo católico.

Não calaram o leigo Inácio. Não calaram o leigo professor. E não conseguirão calar os alunos leigos do professor. Leigos, mas católicos, obrigados pelo dever de dar testemunho, seja por atos ou palavras. Se até mesmo o bom ladrão corrigiu o mau ladrão, defendendo a inocência de Cristo, por que não podemos imitar esse bom ladrão que, mesmo sendo leigo e condenado, fez apostolado diante de Nosso Senhor?

Vamos continuar a fazer apostolado, sim! Deus nos fez para a guerra e nos concedeu um professor que para esse legado nos preparou.

O professor nos mostrou, neste século de traidores e covardes, que a morte só é vã para os tolos que vivem para si, desprezando a vontade de Deus. Mas nunca para os bons católicos que vivem por Deus e por Sua causa.

Alguns morrem e só deixam neste mundo o mau cheiro do pecado. Outros, pela virtude e pelas boas obras que praticaram, se vão, mas deixam bons exemplos que impregnam as almas com o perfume da caridade.

Foi o que o senhor nos ensinou, caro professor. Que todo católico deve ser como uma rosa, tal como a entendiam os medievais. A rosa, tendo um perfume, se abre ao sol para dá-lo ao mundo, mesmo que depois disso ela morra. Assim foi o professor. Um católico que, recebendo muitos bens de Deus, os ofereceu gratuitamente, ainda que esse ato custasse dolorosos sofrimentos e sacrifícios.

Mais uma vez obrigado, Montfort. Mais uma vez obrigado, professor. Não guardaremos nossas espadas, nem as deixaremos enferrujar. O fervor católico que o senhor nos legou, repleto de ensino e bons exemplos, será perpetuado pelas muitas batalhas que ainda teremos de travar. A caravela não pode parar. Ela não vai parar. Os remos estão a postos. As espadas levantadas. Para o combate que não cessa. E, como o senhor nos ensinou, lutaremos com coragem, repetindo sua velha canção:

Que je sois sûr
de vivre à souffrir,
pour défendre la Foi,
pour ton amour mourrir,
ô mon Dieu.

[Que eu esteja seguro,
de viver para sofrer,
por defender a Fé,
por teu amor morrer,
oh meu Deus].

Descanse em paz nosso valente professor Orlando Fedeli, no Coração de Jesus, para sempre.

Eder Moreira da Silva, Campo Grande-MS, dia 14 de junho de 2010, na festa de São Basílio Magno, Bispo, Confessor e Doutor.
 
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