Religião-Filosofia-História



Para enfrentar a Alemanha, o nacionalista M. pedia a união de todos os franceses, mesmo que fossem socialistas. Pouco antes da guerra ele elogiou, no AF, o socialista Jules Guesdes: "un socialiste du parti de la France". E, quando Guesdes ficou ministro, M. escreveu que, com um socialista como ele, o "diálogo" era possível.

Se M. odiou alguma coisa, esta foi a Alemanha, a inimiga e rival da sua "deusa França". Em seu nacionalismo extremado, M. chegou a escrever o que se segue:

"Race allemande qu'enfle et grise
L'impunité de la traîtrise
Et l'ignorance de l'honneur"

(C. Maurras, Ode à la bataille de la Marne, apud YC,293).

Seria exagerado dizer que esse texto é o de um fanático?

Se era para prejudicar a Alemanha, M. aceitava que nela se proclamasse a República, o que demonstra que ele não era favorável à Monarquia por princípio, e sim por conveniência.

Ainda mais surpeendente que desejar a democracia para os inimigos, foi a atitude de M. face à Revolução bolchevista de Lenin, na Rússia tzarista.

"Faisant preuve d'un étonant pragmatisme, Maurras salua d'abord ceux qui vennaient de renverser la monarchie en Russie [...]: "sans doute je ne crois pas que le régime qu'ils ont choisi puisse convenir à la France. Mais ils sont chez eux. La monarchie de France n'aurait aucune raison de se séparer d'une république en Russie".(YC,298) Para um líder apresentado como direitista, é uma frase escandalosa.

Após 1918, M. cresceu em popularidade e em influência. Autores famosos, ou em busca de fama, dedicavam-lhe suas obras. Foi o caso de Drieu de la Rochelle e de uma autora que viria a ser escandalosamente famosa por seu lesbianismo confesso, Margueritte Yourcemar. (Cfr.YC,300)

No exterior, o nacionalismo português de Salazar inspirou-se no pensamento de Maurras. Salazar "ne cesse de désigner [M] comme un de ses maîtres.(JF,355) E a vitória do fascismo de Mussolini, cujos métodos de ação eram semelhantes aos de M. veio despertar nos membros da AF a esperança de também terem um dia a possibilidade de tomarem o poder na França por meio de um golpe de Estado. Essa esperança há tanto tempo acalentada e jamais realizada, foi, pouco a pouco, minando a confiança dos membros da AF em seu líder, que não realizava na França o que Mussolini e Salazar tinham conseguido em seus países.

Já em 1920, Bernanos rompera com a Liga da AF por discordar dos métodos maurrassianos. O autor do "Diálogo das Carmelitas", em sua carta de ruptura, criticava a obediência incondicional dos membros da AF a seu líder M.: "À force de prétendre obéir sans comprendre, on risque de ne plus comprendre pourquoi on obéit, par se détacher de l'obéissance comme du reste. Ne pas chercher à comprendre supprime aussi toute chance d'aimer et d'admirer (...)". (YC,305)

Obedecer sem compreender, acaba por levar a não mais compreender o porquê de obedecer. Palavras sábias que explicam o porquê, hoje, tantos padres que obedeceram sem compreender, acabaram por fazer o próprio capricho, pois já não mais compreendiam o que era a obediência.

A consequência disso foi que "entre les deux guerres, les ligueurs, des cadres de l'AF quitteront par vagues régulières Maurras, estimant que le mouvement royaliste était sclérosé, qu'il ne ferait jamais le coup promis et que d'autres aventures devraient être tentées".(YC,307) Isto também era consequência da ambigüidade do pensamento maurrassiano que, entre vários rumos, não se decidia claramente por nenhum.

Esta indecisão, com relação ao objetivo final, não impedia que M. fosse audacioso até à brutalidade, e sem escrúpulos morais na consecução de seus objetivos intermédios. Exemplo de audácia afrontosa e que não titubeava na escolha de meios, mesmo ilegais e imorais, está na famosa carta que ele publicou contra o ministro do Interior, Abraham Schrameck, após a sétima vítima mortal de membros da AF por atentados dos esquerdistas. Apesar disso, é difícil imaginar maior prepotência no exercício da auto-defesa levada além dos limites legítimos, utilizando a injúria e a ameaça contra a autoridade, como se M. fosse senhor absoluto da justiça e do Estado.

"[...] votre personage est eminemment répresentatif [...] vous êtes le Juif. Vous êtes l'Étranger. Vous êtes le produit du régime et de ses mystères. Vous venez des bas-fonds de police, des loges, et, votre nom semble indiquer, des ghéttos rhénains. [...] Votre race, une race juive dégénérée (car il y a des juifs bien nés qui en éprouvent de la honte), la race des Trotsky, des Krassine, des Kurt Eisner et des Bela Kuhn, vous en charge maintenent d'organiser la révolution dans notre patrie (...)

(...) Monsieur Abraham Schrameck, comme vous vous préparez à livrer un grand peuple au couteau et aux balles de vos complices, voici les réponses promises. Nous répondons que nous vous tuerons comme un chien [...]. Pour qu'il n'y ait pas de malentendu anthume ou posthume, j'en donne l'ordre formel à ceux qui veulent bien accepter mon commandement. Jusqu'à l'attentat que vous préparez, j'ordonnais la patience et j'interdisait de risposter sur vous.Les ordres qui partent de cette maison sont obéis, vous le savez. (...) Seul l'intéret public vous jugera et frappera par ma voix [...] Il ne m'est pas possible de vous saluer, Monsieur Abraham Schrameck, mais je vous avertis. Remercier m'en".(YC,327)

Uma insolência que chega às raias da rebelião declarada, substituindo-se pessoalmente ao poder legítimo, tendia a atrair de volta às fileiras da AF aqueles que dela se afastavam acusando M. de indecisão. Quando o golpe não veio, esses elementos se voltaram para o nazismo e para o fascismo, que efetivavam suas ameaças de morte.

Por essa carta criminosa e racista, M. foi condenado a um ano de prisão, com sursis, e a 1.000 francos de multa. A condenação aumentou seu prestígio entre os ardorosos Camelots du Roi e Ligueurs da AF. Exemplo desse aumento de prestígio está na carta que M. recebeu do abbé Van den Hout: "Dans la nuit obscure où se débattent peuples et gouvernements, deux phares brillent seuls, mais brillent inégalement: ROME et MAURRAS!"

Um dos seguidores de M., que dele se afastou porque desejava uma ação mais direta, foi Georges Valois. Fascinado pelo êxito de Mussolini - que fora líder anarquista e socialista radical antes de se tornar "direitista" - Valois se aproximou dos comunistas e, em 1925, fundou o Faisceau - o Feixe - inspirando-se no nome e no estilo do fascismo. Logo houve choques entre os membros da AF e os do Faisceau. Em novembro de 1926, a sede da AF foi atacada pelos militantes do Faisceau. Na defesa da redação do jornal AF ficaram feridos dois seguidores de M.: Georges Calzant e Maurice Tissier de Mallerais.

Por esse tempo, M. visitou a Itália fascista, e só teceu loas à obra de Mussolini: "Ni anarchie, ni décadence: la regéneration et le renouveau."(YC,337) Embora M., mais tarde, criticasse o estatismo de Mussolini, por essa época ele tinha admiração "pour l'Enchanteur".(YC,337)

 

A condenação da AF começou pela publicação de uma carta do Cardeal Andrieu, de Bordeaux, que fora um admirador de M., fazendo sérias críticas ao movimento maurrassiano. A carta foi publicada no jornal Aquitaine, em resposta a uma consulta feita por jovens católicos da AF.

Ao que consta, teriam sido os dirigentes da Ação Católica - outra Ação! - que pediram a Roma para tomar medidas contra M. e a AF. Pio XI teria então pedido que um Cardeal lançasse uma carta de condenação contra a AF., o que foi executado pelo Cardeal Andrieu, de Bordeaux.

Em sua carta, o Cardeal acusava a AF de não tratar apenas de política, mas também de religião e de moral, sem licença da autoridade eclesiática, e de ensinar graves erros nessas matérias. Dizia o Cardeal:

"Les dirigeants de l'AF se sont occupés de Dieu. Quelle idée en ont-ils? Ils le regardent comme inexistant ou inconnaissable, et ils se déclarent, de ce chef, athées ou agnostiques. L'oracle des dirigeants de l'AF publia, dans sa jeunesse, un ouvrage intitulé Le Chemin du Paradis qu'il a fait rééditer en 1920, après quelques corrections et supressions de pure forme. Or, Le chemin du Paradis est un reccueil de contes licencieux dont l'athéisme rivalise avec celui de nos contemporains les plus réfractaires à l'idée religieuse.

"Les dirigeants de l'Action Française se sont occupés du Verbe de Dieu incarné dans le sein d'une Vierge. Quelle idée en ont-ils? On peut s'en rendre compte en parcourant un autre ouvrage du même chef de l'Action Française: Anthinéa, dont le premier titre fut Promenades paíennes. Dans l'édition de 1923, l'auteur a supprimé, pour raison de convenance, quatre pages blasphématoires sur le Nazaréen et la Nuit du christianisme, mais il n'y a aucune rétractation et bien d'autres impiétés ont été maintenues.

"Les dirigeants de l'Action Française se sont occupés de l 'Église. Quelle idée en ont-ils? Ils repoussent tous les dogmes qu'elle enseigne. Elle enseigne l'existence de Dieu et ils l'a nient, car ils sont des athées. Elle enseigne la divinité de Jésus-Christ, et ils l'a nient, car ils sont antichrétiens. Elle enseigne qu'elle a été fondée elle-même par le Christ, Dieu et Homme, et ils nient son instituition divine, car ils sont anticatholiques malgré les éloges parfois très éloquents qu'ils décernent à l'Église, dans un but qui n'est peut-être pas tout à fait désintéressé. Selon le mot d'un célèbre théologien placé naguère sur les autels, l'Église est "une monarchie tempérée d'aristocracie", et cette organisation dans l'ordre religieux peut attirer des partisans à l'organisation de même nature que les dirigeants de l'Action Française cherchent à établir dans l'ordre politique. Catholiques par calcul et non par conviction, les dirigeants de l'Action Française se servent de l'Église, ou du moins ils espèrent s'en servir, mais ils ne l'a servent pas, puisqu'ils repoussent l'enseignement divin, qu'elle a mission de propager.

"Quand on renie Dieu, son Christ et son Église, il est difficile, pour ne pas dire impossible, de construire une morale vraie, la morale traditionelle, la morale à base religieuse, la morale du devoir, expression d'une volonté divine. Aussi, les dirigeants de l'Action Française, en particulier leur chef, celui qu'ils appellent le Maître, ont dû se réfugier dans l'amoralisme. Ils ont fait table rase de la distinction du bien et du mal, et ils ont remplacé la recherche de la vertu par l'esthétisme, ou le culte de la beauté, et par l'épicurisme, ou l'amour du plaisir. Le chef de l'Action française réprouve tout système qui, comme le christianisme, fait de l'effort à la vertu la règle des actes volontaires, la base des institutions sociales et le principe du progrès social de l'humanité. Faut-il s'étonner qu'il se montre si prodigue de mépris et de sarcasmes contre ce qu'il appelle les doctrines "vertuistes"?

"D'après les dirigeants de l'Action Française, la société est affranchie comme l'individu de toutes les prescriptions de la loi morale et ils essaient de justifier cette indépendance à l'aide de deux sophismes: la stabilité du type de l'homme et l'immutabilité foncière de la société régie comme l'homme par des lois physiques qui excluent la moralité, puisqu'elles empêchent l'exercice de la liberté.

"Les dirigeants de l'Action Française invoquent à l'appui de leur thèse cet autre argument fantaisiste: l'humanité est divisée en deux classes ou plutôt deux règnes: l'homme non lettré, que le maître de cette école appelle l'imbécile dégénéré, et l'élite des hommes instruits. Or, l'humanité doit se conserver telle que la nature l'organise. Elle s'est donc finalement condamnée à n'avoir d'autre règle de conduite que l'immobilisme.

"Et pour combler le vide causé par l'absence complète de la loi morale, les dirigeants de l'Action Française nous présentent une organisation sociale toute païenne où l'État, formé par quelques privilégiés, est tout, et le reste du monde rien.

"Aussi osent-ils nous proposer de rétablir l'esclavage! Et qu'on ne leur parle pas d'une revendication quelconque de l'individu à l'encontre du pouvoir. La raison d'État sera supériure à toute considération de justice et de moralité; car, dit le chef de l'Action Française, la "morale naturelle prêche la seule vertu qui est la force", et selon le mot d'un autre maitre de la même école, 'toute force est bonne, en tant qu'elle est belle et qu'elle triomphe". (LT,111-112)

O próprio Cardeal Andrieu contou mais tarde que fora o Núncio que lhe pedira para condenar a AF, e que, quando ele o fizesse, o Papa, em oito dias, confirmaria o que ele teria dito. Sabe-se hoje que a carta do Cardeal Andrieu, publicada no Aquitaine, fora mandada antes a Roma, que aprovou sua publicação, sem nenhuma correção.(YC,341)

Publicada a carta do Cardeal Andrieu, a AF respondeu imediatamente, afirmando que as acusações eram injustificadas, e que M. jamais havia propagado sua incredulidade pessoal. Além disso, afirmava que as frases atribuidas a M. eram truncadas e retiradas do texto do belga Passalecq, contra a AF. Alegava-se ainda que a AF provocara a conversão de vários de seus dirigentes, como Henri de Vaugeois.

M. considerou que o ataque arquitetado por Pio XI e executado pelo Cardeal de Bordeaux, fora, de fato, maquinado pelos democratas-cristãos franceses, por Aristide Briand, e pelos alemães, para golpear o centro da resistência patriótica francesa contra a Alemanha. Era pois uma larga conspiração.

Maurras respondeu pessoalmente ao Cardeal em 2 de setembro de 1926. Protestava que ele, e só ele, era responsável pelas idéias expostas em seus livros, e não os dirigentes da AF. Declarava que suas idéias haviam sido explicadas em 1914, e que, nessa ocasião, o Papa se recusara a condená-lo.

Em 8 de setembro, o jornal La Croix publicou uma carta do Papa Pio XI ao Cardeal Andrieu dando-lhe inteiro apoio. Entre outras coisas, dizia o Papa: "Votre Emminence enumère et condamne avec raison (dans les publications non seulement d'ancienne date) des manifestations d'un nouveau système religieux, moral et social, par exemple au sujet de Dieu, de l'Incarnation, de l'Église et généralement du dogme et de la morale catholiques principalement dans leurs rapports avec la politique, laquelle est logiquement subordonnée à la morale. En substance, il y a dans ces manifestations des traces d'une rennaissance du paganisme à laquelle se rattache le naturalisme que ces auteurs ont puisé (inconsciemment, croyons-nous) comme tant de leurs contemporains, dans l'enseignement public de cette école moderne et laique de la jeunesse, qu'eux mêmes combattent si souvent et si ardemment."(LT,125-12)

A 9 de setembro de 1926, os dirigentes da AF publicaram uma carta ao Cardeal Andrieu, em que protestavam contra as acusações de agnosticismo, de anti-cristianismo, de anti-catolicismo, de amoralismo e paganismo. Afirmavam sua crença em tudo quanto ensinava a Igreja Católica, estando prontos a assinar a profissão de fé de São Pio X. Concordavam que, no terreno político, tinham se unido a incrédulos, mas a incrédulos que respeitavam a Igreja, vendo nela, senão uma instituição divina, "a mais alta, a mais pura, a mais eficaz das forças morais agindo no mundo".(LT,119) Afirmavam ainda que sua doutrina era exclusivamente política, e que era facilmente subordinável à "metafísica de São Tomás ou ao Credo católico".(LT,129) Declaravam que a ação social da AF era baseada no livro Vers un ordre social chrétien de La Tour du Pin.

Ora, o melhor comentador de La Tour du Pin - Robert Talmy - notou que "le maître de l'Oeuvre des Cercles Catholiques d'Ouvriers voulait travailler à reconstituer des instituitions qui ne fussent pas confessionelles. Cela est vrai, et c'est bien pourquoi l'accord entre Maurras et La Tour du Pin pourra être si constant".(JF,225) "Non, ce n'est pas une construction confessionelle qu'il veut faire, et c'est encore moins une simple reconstruction historique (...) La Tour du Pin écrit à Gaillart- Bancel qu'il y faut convier des protestants et des socialistes".(JF,215)

Jacques Maritain, nesse tempo admirador de M., foi vê-lo, e, para defendê-lo, publicou "Une opinion sur Charles Maurras et le devoir des catholiques", no qual procurava evitar uma ruptura formal da AF com Roma.

Lucien Thomas lembra que Maurras "n'a jamais caché que certaines lignes qu'il a écrites dans sa jeunesse expriment des pensées et des sentiments inacceptables par l'Église".(LT,127) Mas pondera que é preciso distinguir - o que nem o Cardeal nem o Papa haviam feito - entre as idéias filosóficas de M. e as doutrinas políticas da AF.

A nosso ver essa distinção não procede porque:

    1. São os princípios filosóficos de M. que determinaram sua posição política, especialmente seu lema tão ambíguo "politique d'abord";
    2. seria incrível que M. aceitasse uma política em contradição com sua filosofia.

Ademais, os dirigentes da AF objetavam que o Cardeal errara até o título da da obra Chemin de Paradis, que chamara Chemin du Paradis; que a obra Anthinéa de M. nunca foi chamada de Promenades païennes, mas que M. pensou chamá-la assim. Como se vê, eram objeções bem pouco sérias. Por fim, os dirigentes da AF publicavam a carta elogiosa que o Cardeal Andrieu enviara à AF, em 1915.(Cfr. LT,128-130)

Em 17 de setembro de 1926, M. escreveu ao Cardeal de Bordeaux, indagando a causa de sua mudança de opinião sobre a AF .

Lucien Thomas dá seu testemunho pessoal de que M. não incutia suas idéias filosóficas e religiosas entre os membros da AF, dizendo que ele nem sabia que M. era incrédulo, e que não lera nem Anthinéa, nem Chemin de Paradis: "l'immense majorité des militants d'Action Française ignoraient complètement les ouvrages de Maurras mis en cause par la lettre du Cardinal Andrieu. Certains mêmes - et nous fûmes, un certain temps, du nombre - n'étaient pas informés de l'incroyance de Maurras"(LT,136). O que comprova a imprudência desses militantes e a astúcia de M. em passar-lhes uma doutrina política, sem que eles se dessem conta das doutrinas filosóficas e religiosas subjacentes à ela.

A 16 de setembro de 1926, os estudantes da AF, os "Camelots du Roi" e os comissários de AF escreveram ao Papa dizendo que "ils ont conscience des dangers que cela [o contacto com incrédulos] peut présenter".(LT,139) "Ils s'engagent à n'oublier jamais que la tradition chrétienne figure au premier plan des traditions françaises".(JF,313)

Ora, isto contraria o que o próprio Lucien Thomas disse acima, isto é, que a imensa maioria dos militantes da AF ignorava a incredulidade de M. Se a ignoravam, como diziam eles ter consciência dos perigos que corriam ao ter contacto com ela? Ademais, ao afirmar que não se esqueciam de que a tradição católica figurava no primeiro plano das tradições francesas, eles subordinavam a tradição católica às da França.

No dia 25 desse mesmo mês, o jornal da AF reproduziu o texto publicado no La Croix e traduzido do Osservatore Romano, das declarações do Papa aos peregrinos franceses em Roma. O Papa confirmava sua decisão de condenar os erros da AF, e que o fizera sem motivações políticas ou diplomáticas. Era uma resposta à acusação da AF de que o Papa fora movido pelos alemães da Cúria, para tomar uma posição que enfraquecia a resistência política do nacionalismo francês em sua luta contra a Alemanha...

Os membros comuns da AF julgavam-se injustiçados pelo Papa, porque diziam que jamais o jornal AF havia tratado de religião, da existência de Deus, da Encarnação do Verbo ou de qualquer outro dogma.

Essa indignação cresceu ainda mais com a publicação no La Croix de uma nova carta do Cardeal Andrieu ao Papa, tratando da AF. Nessa carta, o Cardeal afirmava: "L'AF n'est pas seulement une ligne politique, elle est encore une école, ses fondateurs l'ont affirmé à plusieurs reprises; et cette école a une doctrine dont ils ont eu soin de préciser le caractère. On peut lire notamment dans l'AF du 9 décembre 1912: "Voilà ce qui distingue l'Action Française des mouvements patriotiques antérieurs; voilà ce qui fait sa force, ce qui est la cause de ses succès, c'est que l'Action Française a une doctrine. Quelqu'un lui a donné. Ce quelqu'un est Charles Maurras". (LT,143)

Este documento do Cardeal Andrieu é muito importante. Vimos que M, se recusava admitir que tinha uma doutrina. O jornal AF o desmentiu.

O Cardeal mostrava ainda que M. exercia sobre os militantes da AF "une véritable fascination. N'a-t-on pas écrit dans le feu de l'enthousiame: "Il y a deux phares dans le monde: le Pape et le "Maître" de l'Action française." (LT,143)

Lucien Thomas comenta indignado essa carta do Cardeal. Reconhece que a AF tinha uma doutrina, e que ela lhe fora dada por M., mas lembra que essa doutrina era estritamente política.

A 28 de setembro, M. respondeu ao texto publicado no La Croix:

"L'Action Française est une école. C'est encore vrai. Mais elle n'est pas une école de philosophie, de morale ou de religion. Elle est une école de politique nationale française.

"L'Action française a une doctrine. Cela est vrai aussi. Une doctrine politique et pas autre chose. Des hommes de doctrine politique ou religieuse différente, très différente, des hommes de doctrine philosophique très opposée sont venus à l'Action Française, et y vivent, y travaiellent et y agissent en choeur. Ils se sont unis avec elle et en elle. Sur quoi? Non sur la philosophie, non sur la morale, non sur la religion: sur une doctrine politique".

"(...) En entrant à l'Action Française, en adhérant à sa doctrine politique, personne ne peut être prié de modifier les idées qu'il professe en matière de philosophie, de morale ou de religion. Chacun y reste libre par consequent de donner à sa doctrine politique les principes philosophiques, moraux et religieux qu'il estime les vrais". (LT,145)

Nesses parágrafos, M. confessa que a AF era pois uma instituição interconfessional, uma das razões mais importantes para a condenação do Sillon. M. descreve a AF como entidade tão liberal quanto a Maçonaria.

Mais adiante, M. escreveu que o que unia pessoas de idéias tão divergentes na AF, não era a bondade ou utilidade da Igreja Católica:

"Non, Monsieur, ce n'est pas cela qui nous rassemble. Nous sommes rassemblés par le devoir politique. Notre point d'union, c'est la France(...). (LT,147) Portanto, não era o catolicismo o que unia os membros da AF. Está confessado.

Foi então que se tornou conhecida a carta que o Cardeal Billot escreveu a Léon Daudet, em 16 de setembro, dando seu apoio à AF.

"Le cardinal Billot

"présente à M. Léon Daudet, ainsi qu'à tous les co-signataires de l'adresse à S.E. le Cardinal Andrieu, l'hommage de son profond respect, en même temps que ses plus chaudes félicitations pour la superbe réponse si digne et si fortement appuyée par la courageuse profession de foi catholique intégrale qui, nous l'espérons, fera que, avec l'aide de Dieu, l'Action Française sortira de la crise actuelle, plus que jamais admirée des bons et redoutée des méchants". (LT,148)

Era uma carta-bomba, não só por ser de um Cardeal, mas por ser do Cardeal Billot, considerado então o "príncipe dos teólogos". Era uma bomba especialmente porque, por ela, o Cardeal Billot se manifestava direta e claramente contra o que dissera Pio XI.

Também o Cardeal Charost defendeu a AF, não porém sem restrições. Depois de defender o que M. e a AF haviam feito de bom, o Cardeal Charost não deixou de alertar que "la politique était subordonnée à la religion et que le devoir patriotique ne devait, en aucun cas, faire oublier les devoirs religieux. Il a en outre, - tel comme l'avait fait le Père Descoqs - souligné les lacunes que présentait l'oeuvre de Maurras du fait de l'incroyance de son auteur, et invité les jeunes gens à la prudence afin de sauvegarder la pureté de leur foi". (LT,153)

Para contornar a crise, a AF se dirigiu às autoridades eclesiáticas na França pedindo a nomeação de capelães para assistirem os católicos filiados a ela. Por ordem do Vaticano, tal pedido não foi atendido.

A 12 de outubro de 1926, M. escreveu ao Papa. Na carta, ele reafirmava que sua defesa da Igreja fora feita por razões humanas; afirmava que seus livros mais criticados visavam atacar o idealismo, o romantismo e o panteísmo alemão, e eram para fazer bem a não-católicos; mostrava como a AF sofrera perseguição dos inimigos da Igreja.(Cfr. LT,345-349) M. dizia nessa carta ao Papa que os "incroyants" que haviam fundado a AF haviam constatado que os inimigos da pátria eram também os inimigos da Igreja, e que os defensores da pátria eram também os defensores da Igreja, embora permanecendo exteriores a ela. Eles ensinavam que bem universal representava a Igreja para a Pátria e para a humanidade, vendo na Igreja a mãe da França e da civilização. Como se vê, eram razões puramente humanas as que moviam a AF na defesa da Igreja.

Em novembro de 1926, no Congresso anual da AF, Maurice Pujo, um dos principais líderes da AF, defendeu a tese de que a AF só preservou os jovens franceses dos "Maîtres d'erreur". A seguir, o Presidente de honra do Congresso, o Almirante Schwerer, declarou que "les croyants de l'AF, prêts à tous les sacrifices pour la défense de leur religion (...) parfaitement soumis à l'autorité religieuse du Souverain Pontife (...) à tous les ordres qu'il leur donnera en ce qui concerne la religion, prennent leurs directives politiques en dehors du Vatican".(JF,314) E anunciava: "Si les hommes qui nous poursuivent de leur haine et ne cessent de propager contre nous près du Saint Père leurs abominables calomnies réussissaient dans leur criminelle entreprise (...) il annonçait que "plus fidèle à l 'Église parce que ce serait un coup qui la frapperait", il resterait aussi "plus attaché encore si possible à l'Action Française".(JF315)

O Ossevatore Romano mostrou como esse discurso era ofensivo ao Papa e como era pouco filial para com a Igreja.

A 9 de dezembro de 1926, M. respondeu no AF às críticas do Osservatore Romano. M. lembrava que os inimigos da AF no jornal oficioso da Santa Sé visavam atingir a França, quando atacavam a AF.

No dia 15 do mesmo mês, a AF publicou o documento intitulado Rome ou la France. Nele se atacavam os jornalistas do Osservatore e se protestava fidelidade ao Papa, mas, junto com a submissão e o respeito, pedia-se o direito de justa liberdade nas questões mistas. Entre outras coisas, diziam os membros da AF: "Nous ne sommes pas disposés à rien céder de nos libertés. Nous n'avons pas envie de devenir des ilotes, ni de laisser reduire les Français à l'état des catholiques mexicains. Nous réclamons le droit de trouver bons les arguments politiques de Maurras, comme les démonstrations astronomiques de Galilée. Ces vérités d'ordre naturel, expérimental, s'imposent à nous, et personne ne peut rien contre elles. L'Église, du reste, n'a pas d'intéret, pensons-nous, à ce que ces fidèles fassent figure de citoyens diminués, ligotés dans leur activité nationale, réduits à recevoir du dehors leurs consignes politiques".(LT, 161)

A alusão a Galileu era picante e, para defender sua autonomia em política, a AF lembrava O'Connel, citando seu lema: "Our faith from Rome, our policy from home". Daí, concluíam: "Nous n'admettrons point, par exemple, qu'un Nonce du Pape se mêle de nos affaires intérieurs et intervienne dans les questions électorales." (LT,161)

"Pour les choses qui regardent la foi et la morale, l'Église n'aura jamais des fils plus soumis que nous. Dans cet ordre, la moindre indication de nos pasteurs sera acceptée par nous avec une discipline et une docilité absolues. À cet égard, conformément aux recommandations données par Rome à nos étudiants, nous fuirons "le plus possible" toute contagion, même provenant de nos amis les plus chers, de nos chefs les plus justement aimés. Nous ne les quitterons pas pour cela."(LT,163)

Era uma recusa formal de abandonar a liderança de M.

No final do documento vinha a decisão de não aceitar as determinações do Papa: "on veut imposer à l'Action Française d'arrêter sa besogne patriotique et de briser son entreprise de relèvement national. L'Action Française ne croit pas que ses devoirs impérieux envers la Patrie en danger puissent être désobéis ni éludés comme les souhaitent passionnément les ennemis intérieus et extérieurs de la France. Personne n'a le droit de lui demander cette trahison".(LT,164)

A AF acusava, não tão veladamente, o Papa de pedir que os católicos franceses traíssem a França. Entre a obediência ao Papa e a fidelidade nacionalista à França, os católicos da AF escolhiam a Franca, "la Patrie en danger". O lema "Politique d'abord" trazia as conseqüências de seu veneno.

O Papa Pio XI respondeu a essas teses de rebeldes no dia 20 de dezembro, numa Alocução Consistorial, na qual declarou: " (...) il n'est pas permis aux catholiques, en aucune manière, d'adhérer aux entreprises et en quelque sorte à l'école qui mettent les intérêts des partis au-dessus de la religion et font servir celle-ci à ceux-là; qu'il ne leur est pas permis de s'exposer ou d'exposer autrui, les jeunes gens surtout, à des influences ou doctrines dangereuses tant pour la foi et la morale que pour la formation catholique de la jeunesse. Ainsi, (pour n'omettre nulle des questions ou demandes qui Nous ont été adressées) il n'est pas permis aux catholiques de soutenir, d'encourager et de lire des journaux publiés par des hommes dont les écrits, s'écartant de notre dogme et de notre morale, ne peuvent pas échapper à la désaprovation, et qui même, souvent, dans les articles, comptes rendus, annonces, proposent à leurs lecteurs, surtout adolescents ou jeunes gens, des choses où ils trouveraient plus d'une cause de détriment spirituel".(LT,165-166)

Pio XI fora claríssimo. A AF ia ser contundente em sua resposta ao Papa, significativamente intitulada "Non possumus".

Inicialmente, a AF se dizia não incluída entre os partidos "qui mettent la politique au-dessus de la religion et font servir celle-ci aux intérêts de celle-là".(LT,166) A AF dirá que seu lema era "Politique d'abord" e não "Politique au-dessus"... E garantia: "Jamais l'Action Française n'a placé la politique avant la religion, sinon pour dire qu'un moyen est employé avant le but et pour toucher le but. (...) Maurras a toujours professé la subordination de la sociologie et de la politique à la morale: cela est visible jusque dans les analyses de la philosophie de son maitre Auguste Comte."(LT,167)

"Ce qu'on veut (...) nous le savons maintenant: décapiter l'AF, et, en même temps, engager les catholiques à s'unir sur le terrain republicain; c'est très clair. Il ne s'agit plus de morale, ni de foi, il s'agit de politique.(...) L'autorité écclésiastique veut supprimer notre mouvement politique. Elle demande notre mort". (LT,169)

A AF lembrava, então, que o jornal AF não era oficialmente católico, nem fora fundado por autoridades eclesiásticas. Lembrava ainda que "le pape régnant n'est pas à l'abri de l'erreur humaine dans les questions politiques (...), "que les hommes de l'Église - l'Histoire entière le prouve - peuvent être mal renseignés, se laisser circonvenir par des influences malhonnêtes(...)", e que, assim sendo, os católicos fiéis não eram obrigados a abdicar de sua justa liberdade, no terreno político.

"Le devoir d'obéissance cesse où commence le mal, qui s'appelle, pour nous catholiques, le péché. Le principe est vrai pour tous les honnêtes gens, croyants ou incroyants, et nul théologien ni moraliste ne peut le contester."(LT,170-171)

Para a AF uma coisa era certa: ela era a única força capaz de salvar a França. "Parlant de sa patrie, le Pape a digné dire, au sujet du chef du gouvernement fasciste, que le salut du pays semble vraiment en danger chaque fois qu'un péril le menace, et qu'il estime sa préservation d'une importance extrême pour le pays et digne d'être considérée comme un bienfait public"(LT,171) [Entre parênteses, que lamentável pensamento o de Pio XI, defendendo o fascista Mussolini, nesses termos. O que Montini fez pelo comunismo, teve precedente no que Pio XI disse de Mussolini, embora depois tenha condenado o fascismo e Montini não tenha condenado nem o comunismo nem o marxismo.]

Concluindo, visto que a AF era a única força capaz de salvar a França, e considerada a exigência do Papa de que os católicos deviam abandonar Maurras e a AF, estes se viam acuados entre dois deveres: obedecer ao Papa, traindo a França, ou salvar a França, desobedecendo ao Papa em uma questão política.

"Si dur que soit le devoir qui en résulte pour nous, c'est le devoir. Nous le remplissons. Le coeur meurtri, mais sans faiblesse, nous l'accomplirons jusqu'au bout. Nous ne trahirons pas notre patrie. "Non possumus". (LT,173)

A 9 de janeiro de 1927, M. publicou, ele mesmo, no AF o decreto do Santo Ofício condenando sete de seus livros: Le chemin de Paradis, Anthinéa, Les amants de Venise, Trois idées politiques, L'avenir de l'intelligence, La politique religieuse et Si le coup de force est possible.

Afirmava-se que esse era o mesmo decreto que fora redigido no tempo de São Pio X e que não fora publicado por inoportunidade. Por isso, ele levava a data original de 1914. No final do decreto lia-se a seguinte determinação: "De plus, en raison des articles écrits et publiés, ces jours derniers surtout, par le journal du même nom, Action Française, et nommément par Charles Maurras et Léon Daudet, articles que tout homme sensé est obligé de reconnaître écrits contre le Siège Apostolique et le Pontife Romain lui-même, Sa Sainteté a confirmé la condamnation prononcée par son prédécesseur et la étendue au susdit quotidien, l'Action Française, tel qu'il est publié aujourd'hui, de telle sorte que ce journal doit être tenu pour prohibé et condamné et doit être inscrit à l'Index des livres prohibés, sans préjudice, à l'avenir, d'enquêtes et de condamnations pour les ouvrages de l'un et de l'autre écrivains". (LT,175-176)

Em carta ao Cardeal Andrieu, Pio XI declarou que condenara o que Pio X não poderia deixar de condenar: "une espèce particulière de modernisme politique, doctrinaire et pratique".(JF321 - LT, 342)

Para explicar um golpe tão duro, a AF e M. alegaram que teria havido uma verdadeira conspiração no Vaticano, para vingar o Sillon. Até hoje - e nós ouvimos alguém dizer isso - se afirma o que M. difundiu: que Pio XI teve em mãos falsos números do jornal AF, que tratavam de modo heterodoxo do dogma da Encarnação. (Cfr. LT,182)

M. vai insistir na acusação de que "la germanophilie devenue maîtresse de quelques avenues et antichambres du Vatican" (LT,202) era a responsável pela condenação da AF. Várias vezes o jornal AF mencionou que considerava Pio XI "le Pape le plus allemand de l'histoire".(LT,202)

Armou-se também um romance com relação à existência ou não do decreto de São Pio X. O próprio LT diz que "Benoit XV, mort en janvier 1922, détenait encore dans son bureau la condamnation de Maurras préparée par la Congrégation de l'Index en 1914. De son côté, le Cardinal Billot a confié à Robert Havard de la Montagnne que, à plusieurs reprises, ce Pontife l'avait taquiné en disant qu'il possédait des documents capables de causer quelque désagrément à sa "chère Action Française"... mais qu'il ne ferait rien".(LT,205)

Entretanto LT declara: "Jamais on ne nous fera croire que Pie X ait condamné Maurras et l'Action Française moins encore".(LT,211)

Em março de 1927, os Cardeais, Arcebispos e Bispos da França lançaram um "Commentaire des décisions pontificales" apelando à obediência. Nesse mesmo mês, uma decisão da Sagrada Penitenciária do Vaticano foi publicada, determinando aos padres que recusassem a absolvição aos "lecteurs, ligueurs, propagandistes de l'Action française notoirement connus comme tels" qui ne se seraient pas amendés et des les traiter "comme des pécheurs publics".(JF, 321-322) Era uma medida rigorosíssima. Evidentemente, hoje, os tempos mudaram. E não só os tempos, mas também as sanções vaticanas.

 

Os efeitos da condenação da AF foram imediatos. A tiragem do jornal AF caiu de 90.000 exemplares, em agosto de 1926, para 40.000, em dezembro de 1933.

A década de 30 viu a ascenção do nazismo na Alemanha, o que ameaçava diretamente a França. Apesar de simpatizar com muitos pontos do programa nazista, M. não podia aceitar nada que viesse da Alemanha. Por isso, ele propôs uma aliança da "latinidade" - leia-se: com o fascismo de Mussolini - contra os bárbaros, isto é, os nazistas alemães e os comunistas russos. "Maurras résumait ces principes en un therme, la "catholicité" qu'il définissait ainsi; "Il ne s'agit uniquement des dogmes religieux, vous connaissez ma position sur ce point: il s'agit des hauts principes d'ordre, d'autorité, d'administration intérieure et extérieure, d'affinités dans la manière de sentir, dans la vie sociale, héritées de l'Antiquité classique et dont l'Église Romaine s'est faite l'unique et incomparable gardienne. Il s'agit de moeurs, de façons d'être et de juger".(YC,300) Como se vê, sempre o mesmo ponto de vista naturalista sobre o papel da Igreja, rejeitando seus dogmas e sua sobrenaturalidade, e fazendo-a mera herdeira da Antigüidade clássica pagã.

Essa defesa da "latinidade" cheira, evidentemente, a fascismo. É o que confirma, com ressalvas necessárias após 1945, o texto de YC: "Mussolini partagea longtemps cette idée d'une civilisation latine à défendre. Aussi M. ne manquait pas de relever cet accord entre l'AF et le Duce. Cette communauté de vues sur la civilisation latine, l'essor économique et social que Mussolini sut donner à son pays dans les premières années du régime fasciste; les accords du Latran signés entre le Vatican et l'État italien, furent pour M. autant de sujets d'admiration. Pour autant il n'eut jamais de rapport personel avec Mussolini et ne se considéra pas en communion d'idées avec la doctrine fasciste. Le fascisme donnant un rôle trop grand à l'État et gouvernant selon une théorie du parti unique trop étrangère à la monarchie décentralisée et antiparlemmentaire de M.. Le chef de l'AF ne fut jamais taire ses critiques à l'égard du régime fasciste sur ces deux points. Il lui semblait que le fascisme abusait "gravement des interventions de l'État jusque dans son régime corporatif".(YC,361) Em suma, M. admitia certos pontos comuns entre o fascismo e a AF, criticando apenas outros pontos de desacordo. É de se perguntar qual teria sido a relação entre M. e Mussolini, caso os totalitários tivessem vencido a guerra.

Uma frase de M. vai nos elucidar sobre o que entendia ele por "Latinidade": "Les latins sont ceux où la Renaissance a réussi, où la Reforme a échoué, avait dit Maurras. (M., Préface à Marius André, La fin de l'Empire espagnol d'Amérique, Nouv. Lib. nation., 1922). Será preciso dizer que essa latinidade renascentista nada tem a ver com a Cristandade, que o Renascimento desejou destruir?

Em fevereiro de 1934, a AF estava em seu nível mais baixo, segundo YC (p.365). Foi nessa mesma data que se deu o famoso "Coup de force" da AF contra o governo francês.

Em 1934, a França atravessava uma grave crise econômica, política e moral. O crack da bolsa de Nova York repercutira também na França, desgovernada por cinco ministérios radicais-socialistas, em um ano. Casos de corrupção política levavam a República, como sempre, ao descrédito. Em janeiro de 1934, o caso Stavisky provocou manifestações de rua da AF contra o governo. Stavisky apareceu morto em Chamonix, e dizia-se que ele fora assassinado para não fazer revelações.

Num encontro com o Conde de Paris, pretendente ao trono de França, ainda em janeiro de 1934, este pediu que M. com a AF fosse às últimas conseqüências de sua ação, na tentativa de derrubar o regime republicano.

As manifestações se multiplicaram, levando à demissão o governo de Chautemps. Um novo ministério deveria tomar posse a 6 de fevereiro. O jornal da AF desse dia tinha uma manchete enorme convocando todos contra o governo: "CONTRE LES VOLEURS, CONTRE LE RÉGIME ABJECT. TOUS, CE SOIR, DEVANT LA CHAMBRE".

A manifestação começou às 18 horas. 100.000 pessoas exigiam mudança de regime. Houve choques violentos com a polícia, de que resultaram 15 mortos e 655 feridos, muitos dos quais vieram a falecer.

Na Prefeitura de Paris, dominada pelos manifestantes, se discutia o que fazer. M. não aparecia. Dizia-se que ele estava na redação do AF fazendo um soneto... E era verdade.

No auge da luta, quando Daudet quis partir para o assalto ao palácio do governo, M. decidiu que ainda não era a hora, e que se partia para um inútil massacre.

O poder estava lá, para ser tomado. M. que tanto pregara e previra o "coup de force", não o deu. Concluiu o seu soneto. O golpe falhou.

"M. entra chez lui vers huit heures du matin. Il venait de composer un sonnet en provençal en l'honneur de Madame Daudet, pour un album qui devait lui être remis. Maurras copia le sonnet sur l'album, puis se mit au lit". (YC,371) Foi a AF que "se mit au lit".

"C'est l'AF qui, indéniablement, avait mobilisé l'opinion depuis janvier. Le jour venu, elle semblait retenir ses troupes. Quelques-uns de ses partisans le lui reprochèrent et, estimant que jamais Maurras ne donnerait l'ordre de passer à l'action, quittèrent le mouvement".(YC,371)

Não se pode acusar M. de covardia. Muitas vezes ele dera provas de destemor físico e moral. Seus duelos, sua vida política, a audaciosa carta a Schrameck, por exemplo, embora racista e absurda, demonstravam que ele tinha realmente coragem física e moral. Entretanto, na hora "H", M. falhou. "Il se mit au lit". Sua ambiguidade doutrinária se estendera também ao campo da ação.

Os decepcionados passaram a chamar o movimento de M. de "l'Innaction Française". Houve quem escrevesse que "le soir du 6 février, les dirigeants de l'Action Française s'étaient mis au lit..."(YC,369) Esses maurassianos desiludidos se aproximaram do fascismo e do nazismo. Mussolini, Hitler, Salazar, - e mais tarde Franco - souberam agir e aplicar suas idéias. M. ficara na teoria. Ele que era anti-metafísico e o defensor da "Ação", na hora da ação e do golpe, ficara imobilizado no mundo etéreo das rimas...

Jean de Fabrègues publica uma poesia inédita de M., escrita em 1892, e que pode explicar algo dessa misteriosa ambigüidade do pensamento e da ação de M.:

"Le secret"

Je t'ai dit mon secret, je t'ai donné mon âme
Tu le vois j'ai le coeur plus faible qu'une femme
Hélas! Ne saurais - tu rendre à ce lâche coeur
une fière jeunesse, une mâle vigueur"

(C. Maurras, apud JF, 400)

"Le Romantisme de l'action est puissant (...) Ce qui a été dix fois le paradoxe maurrassien, paradoxe impliqué par sa pensée, leur paraissait [aos discípulos de M.] insupportable: enseigner que l'heure viendra du coup d'État sauveur, comment le faire sans tricherie quand l'heure a sonné? Toute une part des "dissisents" d'hier de l'Action Française entrera dans cette optique, et leur histoire aura des tragiques prolongements dans celle de l'occupation allemande".(JF,352-353)

 

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Online, 02/05/2024 às 12:12:00h