Religião-Filosofia-História



Quanto às posições políticas de M., Lucien Thomas nota que "le lecteur voudra bien méditer ces diverses définitions qui fixent la position de l'Action Française à l'égard du problème politique. Il n'y aura des modifications que dans le vocabulaire (...) (LT,32).

Ora, poucas páginas antes, Lucien Thomas havia escrito:

"Quand on parle des publications de l 'Action Française, il faut distinguer l'Action Française qui se cherchait da l'Action Française qui s'est définie. Faute de quoi, on pourra, au bas du texte, écrire la référence "Action Française ", tome I ou II, telle page "et, sans commetttre un faux matériel, on se rendra coupable d'un véritable abus de confiance intellectuelle" (LT,28).

Sem dúvida, é preciso levar em conta as mudanças do pensamento de M., ao correr de sua longa vida. Mas é preciso também notar a "posição imutável" da AF com relação ao problema político. Nela haverá apenas modificações de vocabulário", como nos advertiu Lucien Thomas. Portanto, há de se concluir que a posição de M. quanto ao socialismo nacionalista, por exemplo, jamais mudou.

Em 1898, M. foi enviado para fazer a cobertura jornalística da primeira Olimpíada moderna, em Atenas. Ele aproveitou a viagem para fazer uma verdadeira peregrinação à Acrópole e a outros locais famosos do paganismo grego. Foi por esse tempo, que ele acusou o Cristianismo de ter trazido a noite sobre o mundo.

"... sous la croix de ce dieu souffrant [Cristo] était arrivée la nuit sur l'âge moderne" (YC, 132). [A partir de 1919, M. retirou essa frase de seu livro, por respeito, disse, por São Pio X.... "Politique d'abord..."].

Foi o "affaire Dreyfus" que abriu as portas da vida política a M.. Ele tomou posição apaixonada contra Dreyfus e a favor do exército francês. Chegou a denominar de mártir o Coronel Henri, autor da famosa falsificação de um documento, para incriminar Dreyfus e salvar o exército, e que se matou ao ser descoberta a fraude.

Nessa época M. não era conhecido nem como jornalista defensor da Igreja, nem como monarquista, mas apenas como escritor anti-semita (cfr. YC,153).

Foi em 20 de junho de 1899, que nasceu a Action Française, cujo primeiro presidente foi Henri Vaugeois, um professor de filosofia, ligado, nesse tempo, ao partido radical. Entre os quatro pontos fundamentais do documento de lançamento da AF, destacamos o segundo, que diz :

"De toutes les formes sociales usitées dans le genre humain, la seule complète, la plus solide et la plus étendue, est évidemment la nationalité. Depuis que se trouve dissoute l'ancienne association connue sous le nom de Chrétienté et qui continuait, à quelques égards, l'unité du monde romain, la nationalité reste la condition rigoureuse, absolue, de toute humanité (LT,31). "Le nationalisme n'est donc pas seulement un fait de sentiment: c'est une obligation rationelle et mathématique" (YC,165).

É interessante notar que, três anos após a AF ter proclamado este princípio nacionalista, Leão XIII tenha ensinado exatamente o contrário numa encíclica:

"Repudiados os princípios cristãos nos quais reside a virtude de irmanar os homens e uni-los como em uma grande família, prevalece, pouco a pouco, na ordem internacional, um sistema de egoísmo e de inveja pelo qual as nações se observam reciprocamente, senão com rancor, certamente com desconfianças e competições" (Leão XIII, Parvenu, n.18).

Como estas palavras do Papa descrevem bem o nacionalismo de M. que proclamava a "deusa França" como sinônimo de civilização e de humanidade, enquanto negava, absurdamente - cego pela inveja e pelo rancor - qualquer valor a outros povos, especialmemnte se eram rivais da França, como era o caso da Alemanha.

"Les Allemands sont des barbares et les meilleurs d'entre eux le savent. Je ne parle ni des moscovites, ni des tartares. Le genre humain, c'est notre France, non seulement pour nous, mais pour le genre humain" (C. Maurras, MIP, 146).

O nacionalismo maurrassiano ia a extremos. Seu primeiro artigo no Figaro foi consagrado à "deusa França" (YC,184).

Esse nacionalismo radical exigia que os membros da "Ligue d'Action Française" se comprometessem a defender a monarquia francesa, par tous les moyens". "Ce dernier engagement donna lieu à bien des controverses de la part du mouvement, la violence, le coup de force devaient-ils être envisagés comme des moyens pour restaurer la monarchie? L'AF n'écartait aucune possibilité. Bientôt elle précisera par une formule restée celèbre: "par tous les moyens, même légaux" [eleições] ( YC,208).

Evidentemente, essa confissão de utilizar todos os meios - mesmo os legais! - deixava bem claro que a AF utilizaria até os meios violentos, o que levantava um problema moral. Ora, já nesse tempo o Abbé Brémond escrevera a Blondel: "Ce diable de Maurras est le plus merveilleux des entraîneurs intellectuels (...) c'est un Socrate intellectuel, sans ombre de préoccupation morale, mais d'une logique extraordinaire" (YC,185).

Sem sombra de preocupação moral... Era lógico então que, "desde a fundação do jornal AF até às vésperas da primeira guerra mundial, não se passará um ano sem que um ou vários livros denunciassem a incompatibilidade da doutrina cristã com a obra de M. e a AF (YC,218).

Em Romantisme et Révolution, M. declarou:

"La Politique n'est pas la Morale. La science et l'art de la conduite de l'État n'est pas la science et l'art de la conduite de l'Homme" (C. Maurras, Romantisme et Révolution, p.20, apud PRP, 130).

Se M. subtraía a ação do Estado do domínio da Moral, como poderia ele aceitar sinceramente a atuação da Igreja Católica na sociedade?

Era só em razão de seu nacionalismo radical que M. se propunha defender o Catolicismo. Ele o dirá cem vezes e jamais o ocultou. Sua defesa da Igreja Católica nunca foi motivada pela fé, que ele nem tinha, nem aceitava. Ele defendeu a Igreja enquanto componente da Nação francesa. E só por isso.

"En tant que nationaliste, je sais que l'intéret français et l'intéret catholique s'identifient. Je reconnais donc des droits politiques au catholicisme français, je me reconnais des devoirs envers le catholicisme" (YC, 201).

Se tivesse sido o budismo um dos fatores da formação histórica da "Nação Francesa", M. teria defendido o budismo. Não era por razões religiosas que ele defendia o Catolicismo, nem M. reconhecia-lhe direitos religiosos, mas apenas direitos políticos.

No item terceiro dos pontos fundamentais do documento de lançamento da AF, era adotada uma posição interconfessional:

"Par dessus leurs diversités politiques, religieuses et économiques, ils [os franceses] doivent se classer suivant le plus ou moins d'intensité et de profondeur de leur foi française" (LT,31).

Nesse item, pois, passa-se por cima sobre o problema de haver uma só religião verdadeira e que as demais são falsas, assim como se afirma o dever de classificar os franceses conforme sua "fé francesa"! Sua fé na "deusa França".

M. confessou que foram suas convicções filosóficas - como poderia ser de outro modo? - que o levaram à defesa da monarquia: o monismo metafísico conduzia à aceitação da realeza (Cfr. YC,80). Nos últimos anos do século XIX e primeiros do XX, M. se aproximou de Maurice Barrès, ardoroso nacionalista. Escreveu no jornal "La Cocarde", nacionalista e socialista, mas contra o socialismo estatista (???). "Bien d'autres campagnes allaient y être menées, nottamment contre le socialisme étatiste. "La Cocarde se voulait socialiste, mais d'un socialisme "féderaliste" où les droits de l'individu et les considérations nationales ne soient pas sacrifiés au coletivisme et à l'internationalisme" (YC,114).

"À la COCARDE il n'y a point d'unité de doctrine: on y trouve des anarchistes, des socialistes, des légitimistes" (JF,55).

Desde a juventude, M. teve tendências para o socialismo e para o anarquismo. "De fait, nous l'avons vu, ce qui domine d'abord chez lui, après les brèves périodes d'un vague socialisme chrétien lamennaisien, puis d'un anarchisme expression d'une révolte intérieure, c'est le souci d'un ordre social qui défende, poste et élève l'homme" (JF,109).

No LA COCARDE, M. não só convivia com os socialistas, mas aceitava suas idéias. "Et de ce socialisme, Maurras se réclame comme Barrès: "un socialisme bienfaisant et humanitaire qui avait toujours attiré la générosité naturelle (de Barrès) et celle de beaucoup de français réfléchis" (JF,56).

Conforme JF, o próprio M. aproximava o seu socialismo e o de seu amigo Maurice Barrès do socialismo "cristão" de La Tour du Pin. "Barrès s'était appliqué à la doctrine de l'esprit national et provincial uni à l'esprit socialiste, celle qui avait été mélée au boulangisme, celle dont s'étaient inspirés au fond La Tour du Pin et son groupe" (JF,56). "La Tour du Pin qui viendra bien vite effectivement du côté de Maurras, "rendre au monde ouvrier une juste place dans la cité", et, pour cela, de lier étroitement socialisme et patriotisme" (JF,88). "C'est un souci premier de ces esprits" (JF,57).

Nesse tempo, M. já se proclamava anti-capitalista e preconizava a expulsão dos judeus e estrangeiros da França. No fim do século passado e princípios do século XX, M. esperava que os monarquistas mais conscientes se aliassem "à un socialisme anticapitaliste" (JF62). É por isso que ele se aproximou de La Tour du Pin "qui, lui non plus, ne craint pas les contacts avec le socialisme et même les recherches" (JF,62).

O próprio M. escreveu estas linhas: "Bien avant tant d'autres, Barrès et ses amis ont vu la nécessité de rendre à l' ouvrier une juste place dans la cité, et, pour cela, de lier étroitement socialisme et patriotisme" (JF,88). E continua o próprio M.: "Si la protection des produits s'appelle protectionisme, la protection des producteurs n'a qu'un nom: socialisme. C'est une idée française et Maurras de rappeler qu'elle a été "enseigné dès 1865 par le Comte de Chambord dans une Lettre aux ouvriers, reprise après 1871 par La Tour du Pin et Albert de Mun: "tous les coeurs bien placés s'appliquaient ainsi à rallier les travailleurs, leur classe" (JF,89).

Quando, em 1926, a AF foi condenada pelo Cardeal Andrieu de Bordeaux, os católicos da AF escreveram ao Cardeal que a doutrina social da AF "était celle de l'école catholique de La Tour du Pin et Mun " (JF,312). Isto é, a dos católicos de cariz socialista.

A respeito disto, convém lembrar que o melhor comentador de La Tour du Pin, Robert Talmy, notou que "le maître de l' OEuvre des Cercles catholiques d'Ouvriers voulait travailler à reconstituer des institutions que ne fussent pas confessionelles. Cela est vrai, et c'est bien pourquoi l'accord entre Maurras et La Tour du Pin pourra être si constant" (JF, 215).

"Non, ce n'est pas une construction confessionelle qu íl veut faire, et c'est encore moins une simple reconstitution historique ( ... ) La Tour du Pin écrit à Gaillart-Bancell qu'il y faut convier des protestants et des socialistes" (JF,215).

Como se vê, a AF tinha um caráter e um objetivo interconfessional. Ora, o interconfessionalismo da AF a fazia tão condenável, sob esse ponto de vista, quanto o intercofessional Sillon de Marc Sangnier.

Então, o direitista M., o "cristão" agnóstico M., o mestre e líder de muitos direitistas e tradicionalistas que punha a França antes de tudo, era defensor do socialismo! Como podem os tradicionalistas condenar hoje o socialismo-"cristão" de João XXIII e de Frei Boff, se defendem o socialista-"cristão" M.?

M., porém, não aceitava Marx. Marx era judeu e era alemão, e queria um socialismo internacional. M. queria um socialismo nacionalista. Um socialismo francês. Era de espantar então que, defendendo M. um socialismo nacional, alguns de seus discípulos tenham, mais tarde, aderido e colaborado com o nacional-socialismo de Hitler, apesar de ser este alemão? Os princípios trazem conseqüências.

Dos dirigentes da AF, da qual M. era o secretário, quase nenhum era então monarquista. M. o era. Para ele, o nacionalismo, na França, exigia ser monarquista: "Plus on se sent nationaliste, plus on se sent orienté et acheminé vers le monarchisme. L'idée royaliste n'est que le maximum de l'idée de patriotisme" (YC,165).

A concepção monárquica de M. confundia a idéia de rei com a de ditador. Dizia ele que o rei tinha que ser um ditador, o que não se coadunava com a idéia tradicional de rei. É claro que hoje, essa tese choca, e Yves Chiron se apressa em defender seu biografado: "Par cette image du Roi-dictateur M. sacrifiait un peu à la mode du temps, et il ne faut pas l'interpréter selon nos catégories politiques actuelles" (YC,170). De acordo com as categorias atuais e de todos os tempos, a idéia de Rei católico e a de Ditador moderno são inconciliáveis.

Para ter êxito em sua pregação monarquista, M. se mostrava oportunista de modo escancarado: "(...) n'y a-t-il pas de grands avantages politiques à paraître, dans le pays des antisémites tout à fait radicaux? L'antisémitisme est une force naturelle à utiliser: si nous n'usons pas de ce grand courant, quelles forces emploierons-nous" (YC,174).

Além desse oportunismo, M. se revelava um monarquista anti-aristocrático e igualitário na medida em que, como Napoleão, admitia uma nobreza de talentos. Ora, o talento é democraticamente encontrado em qualquer classe.

Quando, hoje, fala-se de AF, tem-se a impressão de um movimento monarquista e católico. Entretanto, "Maurras lui-même, présentant à Barrès le premier groupe de l`Action Française, y note une marque socialiste" (JF,148).

Em Economia, M. se dizia contrário ao socialismo internacional - mas favorável a um socialismo nacionalista - e anti-capitalista. Ele recusava aceitar a tese de que as leis do mercado, por si só, seriam capazes de produzir o equilíbrio social. Dizia ele: "Non, non, le jeu spontané des lois naturelles ne suffit pas pour établir l'équilibre économique" (YC,182).

Aliás, não era só M. que nesse tempo demonstrava inclinações para o socialismo. Também o presidente da AF, H. Vaugeois, se dizia simpático ao socialismo: "Je ne me sens d'estime, quant à moi, que pour deux partis: le parti socialiste et la droite, parce que tous les deux répresentent une vérité pure, radicale. J'ai horreur de l'eau tiède qui est l'élément du parti bourgeois opportuniste. Mon désir serait de raviver, en les mettant en présence, ces deux vérités pures, celle du passé et celle de l'avenir, celle du parti réactionnaire et celle du parti socialiste, de faire voir leur égale noblesse et de préparer, non pas le mélange, mais la paix entre elles par une série de discussions sincères sur les questions vitales de la politique actuelle" (LT,26).

Como se vê, o que o presidente da AF propunha no pricípio do século era já "appertura a sinistra" e o "diálogo" que a Democracia cristã e a Teologia da Libertação fizeram mais tarde com os socialistas de todos os matizes de vermelho. É então muito natural que Lucien Thomas, ex-membro da AF, discípulo e apologista de M., se apresse a acalmar seus leitores direitistas de 1960-70, pondo em nota de pé de página a seguinte pudica e preocupada advertência: "Le lecteur est prié de ne pas oublier que ce propos date de l'an 1899" (LT, 26, nota 12). Nós, de nosso lado, rogamos ao leitor de não esquecer que o partido socialista de 1899 era condenado pela Igreja tanto quanto o de 1960.

Não era só o agnosticismo de M. que chocava. Era também o interconfessionalismo da AF e suas simpatias pelo socialismo, e mesmo pelo anarquismo manifestadas em contactos com a CGT e em artigos favoráveis às greves socialistas. Isto chegou ao ponto de o jornal da AF publicar artigos do pensador socialista Georges Sorel. "Ces articles étonnèrent et firent croire à certains pendant quelque temps, qu'une alliance était en train de se nouer entre socialistes et monarchie, entre syndicalistes révolutionnaires et royalistes" (YC,233). Até na primeira edição do famoso livro de M. "Enquête sur la monarchie", há um elogio de M. a Georges Sorel (YC,234).

Na sua entrevista com o Duque de Orléans, pretendente ao trono francês, "Maurras ne manque point de glisser à son interlocteur que la politique royale est un commencement de socialisme" (JF,116). O movimento monárquico relançado por M. declarava que "la royauté n'est pas la garde d'un coffre-fort", elle appliquera le mot du Comte de Chambord: "Ensemble, nous reprendrons le grand mouvement de 1789", enfin vint la trilogie autorité-liberté-responsabilité" (JF,117).

Poderia haver coisa pior do que a própria Monarquia introduzir o socialismo? Poderia haver traição pior do que o Rei retomar o movimento de 1789? Se o Conde de Chambord pensava fazer isso, ainda bem que a Providência divina não permitiu que ele subisse ao trono. Se M. pretendia unir Monarquia e socialismo e recomeçar o que a Revolução iniciara em 1789, não se compreende como os direitistas e monarquistas podiam apoiá-lo. Menos ainda se compreende que até hoje os tradicionalistas o defendam e, ao mesmo tempo, sejam contrários à revolução de 1789.

E não se nos venha dizer que M. só quis isso nos primeiros anos de sua vida. Se assim fosse, já seria razão para não seguí-lo. Acontece porém que essas idéias absurdas expostas na Enquête sur la Monarchie de M. foram reproduzidas num volume de 600 páginas, o "compendium du catéchisme que Maurras enseignera cinquante années durant" (JF,117).

Em sua entrevista com o pretendente à coroa da França, "Maurras ne manqua point de glisser à son interlocuteur que la politique Royale est un commencement de socialisme" (JF,116). Em concordância com isso, o movimento monárquico relançado por M. declarava que "La Royauté n'est pas la garde d'un coffre-fort", elle appliquera le mot du Comte de Chambord : "Ensemble, nous reprendrons le grand mouvement de 1789" (JF,117).

M. considerava que entre os belgas e ingleses "qui sont aussi les peuples chez lesquels le socialisme municipal et les grandes cooperatives fédérées ont apporté un élément de vraie nouveauté à l'économie générale", il y a euaccroissement - "considérable' - du pouvoir monarchique" (JF,155).

Para M., a democracia, e não o comunismo, era o pior mal. Ele não considerava que na democracia ainda se permite o direito de propriedade, e que nela ainda há possibilidade de propagar e defender a religião. Para M., a democracia era tão má, que se o comunismo fosse democrático, por isso ele se tornaria pior. Um comunismo ditatorial era mais aceitável que a democracia, na opinião de M.. Ele preferiria o stalinismo à democracia.

"C'est que le grand mal ne vient pas du Communisme, ni du Socialisme, ni de l`Étatisme radical, mais de la démocratie. Otez la démocratie, un communisme non égalitaire peut prendre des développements utiles, à la lueur d'expériences passées: les biens communaux ont été plus fréquents dans la vieille France que dans la nouvelle: de même, les communautés possédantes; le cénobitisme des congrégations religieuses a poussé à l'extrême divers modes de possessions non appropriées, mais que dominait le détachement des biens matériels et non la fureur de l`égalité dans la répartition ou la jouissance. Par la même raison, un socialisme non égalitaire conformerait son système de proprietés syndicales et corporatives à la nature des choses non à des utopismes artificieux" (C.Maurras, Mes idées politiques, Fayard, Paris,1937, pp. 61-62).

[A respeito deste problema, permita-se-nos narrar uma experiência pessoal. Quando, certa vez, mostramos esse texto a um monge tradicionalista, ele sem titubear declarou: "Eu assino isso em baixo". E, quando outro monge tradicionalista mostrou esse texto a um padre tradicionalista francês, este escapou da questão dizendo que essas frases de M. deviam ser examinadas em seu contexto. Ora, o livro com o texto e o contexto estava em suas mãos... Mas M. não podia ser condenado, nem sequer por defender o socialismo].

Essa defesa do Comunismo, do Socialismo e do Estatismo radical, e evidentemente nacionalista, mas não igualitários [???] com propriedades sindicais e corporativas, feita por M., cheira enormemente a fascismo. E M. não recuou: defendeu o fascismo, por impor uma ditadura socialista, corporativista e nacionalista à Itália.

"Qu'est-ce, en effet, que le FASCISME? Un socialisme affranchi de la démocratie. Un syndicalisme libéré des entraves auxquelles la lutte des classes avait soumise le travail italien. Une volonté méthodique et heureuse de serrer en un même "faisceau"toutes les facteurs humains de la production nationale: patrons, employés, techniciens, ouvriers. Un parti pris d'aborder, de traiter, de résoudre la question ouvrière en elle même, toute chymère mise à part, et d'unir les syndicats en corporations, de les coordonner, d'incorporer le prolétaire aux activités héréditaires et traditionnelles de l'État historique de la Patrie, de detruire ainsi le scandale social du prolétariat. Ce FASCISME unit les hommes pour l'accord" (Charles Maurras, Mes idées politiques, pp.62-63).

Não contente com essa posição tão claramente socialista e fascista, M. elogiou diretamente o "Duce": "Il a fallu en Italie une dictature. Le génie de la dictature et du dictateur a calmé, pacifié, ranimé un pays qui hésitait entre les fièvres et les langueurs. Il a rendu à son destin une race ardente, intelligente, patiente, courageuse" (C. Maurras, Mes idées politiques, p.63).

É muito comum que os atuais defensores de M. o oponham a Marc Sangnier, o líder do SILLON. De fato, entre a AF e o Sillon havia muitos pontos divergentes, especialmente face à Democracia e à igualdade. Maurras era monarquista. Sangnier era fanaticamente democrático. M. defendia uma desigualdade, que chegava ao ponto de desprezar os inferiores. Sangnier sonhava com o estabelecimento de uma igualdade total entre os homens. Esta oposição política era tão profunda que acabou por provocar choques de rua entre os Sillonistas e os Camelots du Roi da AF.

Estas divergências em pontos tão fundamentais levaram o chefe do Sillon a declarar que os católicos franceses deveriam escolher entre o Sillon e a AF. "Le 25 mai 1904, Sangnier écrivait dans Le Sillon: "Un impérieux dilemme doit, tôt ou tard, se poser: ou le positivisme monarchique de l`Action Française, ou le christianisme social du Sillon".

"À leurs débuts cependant, le jeune Sillon et la non moins jeune Action Française n'entretinrent pas de mauvaises relations. Maurras éprouvait une certaine sympathie à l'endroit de Marc Sangnier, et, lorsqu'il dut polémiquer, il reconnut ce qu'il y avait de noble dans les campagnes du chef du Sillon et de généreux dans son action personnelle." (LT,48).

E, quando Marc Sangnier propôs o "dilema": ou o cristianismo social do Sillon, ou o positivismo monárquico da AF, M. respondeu que líderes cristãos sociais jamais recusaram o positivismo monárquico da AF, que, por sua vez, não recusara nunca as doutrinas cristãs sociais de La tour du Pin, por exemplo (Cfr. LT,49).

E M. concluía: "L'Action Française se déclare amie du Sillon". Si le Sillon a le droit de se déclarer hostile à l'Action Française ce peut être en tant que Sillon, mais ce ne peut pas être en tant que chrétien social." "Toutes nos idées favorites, ordre, tradition, discipline, hiérarchie, autorité, continuité, unité, travail, famille, corporation, décentralisation, autonomie, organisation ouvrière, ont été conservées et perfectionnées par le catholicisme. Comme le catholicisme du Moyen-Âge s'en complu dans la philosophie d'Aristote, notre naturalisme social prennait dans le catholicisme un de ses points d'appui les plus solides et les plus chers". Notons la distinction d'importance: les idées ont été conservées et perfectionnées par le catholicisme, elles n'en sont pas nées" (JF,218-219).

No prosseguimento da polêmica, M. mostrou que o cristianismo social, tal qual Sangnier o entendia, "conduisait tout droit au socialisme marxiste, à l'internacionalisme, au démantèlement de la France pour la négation du devoir patriotique" (LT,51). De novo, M. só era contra o socialismo enquanto internacionalista.

Também Marc Sangnier, "Le chef du Sillon constate lui aussi "qu'il y a entre le Sillon et l'Action Française plus d'une idée commune" (JF,222).

Qual era a raiz de onde provinham esses pontos de contacto entre dois movimentos simpaticamente inimigos? Há quem tenha mostrado que as afinidades entre o Sillon liberal e a AF ditatorialmente autoritária provinham, ainda que longinquamente, do Modernismo: "Só de muito longe podemos relacionar com o Modernismo duas formas de pensamento que se manifestaram em sentidos completamente opostos na França: o Sillon (o sulco) de Marc Sangnier e a Action Française (Ação francesa) de Charles Maurras. Em ambos os casos se trata de limitar a Igreja a uma concepção política: à democracia, no Sillon; e à monarquia tradicional, na Action Française. Ambos os movimentos foram sucessivamente condenados em nome do caráter supra-político da Igreja. Não podemos negar que Charles Maurras muitas vezes tenha apresentado sua adesão externa ao catolicismo em forma profundamente anti-evangélica, e, conseqüentemente, anti-cristã. Mas, eram apenas erros passageiros. Urgia uma retificação. A retificação foi feita e parece que tudo ficou em ordem" (Cônego Léon Cristiani, Breve História das heresias, Coleção Sei e Creio -S.J.- Flamboyant, São Paulo, 1962). De passagem, note-se o otimismo e para onde vai a simpatia desse autor: Maurras foi anti-cristão, mas "foi um erro passageiro" dele, e, feita a retificação, "tudo ficou em ordem".

Assim como sempre houve uma passarela política comunicando o nazismo ao comunismo, assim também se deu entre o Sillon e a AF, esses dois movimentos gêmeos xipófagos inimigos.

"Assim é que "un Henry du Roure [do Sillon] se sentira appellé à une sorte de "ralliement" national et le plus grand esprit de chez Sangnier, Léonard Constant le compremdra et l'approuvera" (JF,249).

Dois fatos são arguidos em favor da AF por seus apologistas atuais:

    1. Enquanto a AF defendia a Igreja das perseguições cinicamente democráticas promovidas pelo governo maçônico e republicano da França, no início do século, o Sillon jamais se opôs a essa democracia inimiga da Fé;
    2. o Sillon foi condenado pela Igreja durante sua polêmica com a AF, e foi condenado pelo único Papa santo do século XX", São Pio X, pela Carta Apostólica "Notre Charge Apostolique". Isto e os alegados elogios de São Pio X a M. são dados como provas de que São Pio X era favorável a ele, e que a condenação dele por Pio XI, em 1926, foi uma vingança dos modernistas contra M., um "belo defensor da fé", como o teria denominado o Papa Santo.

Portanto, criticar M., hoje, seria dar razão a seus inimigos liberais e modernistas.

Tudo isto nos conduz ao tema das relações entre a AF e a Igreja.

 

Até hoje M. é defendido com ardor e seguido com simpatia fiel por muitos católicos direitistas franceses que não toleram que se o critique. Admitem eles que M., em sua juventude, foi pagão e agnóstico. Mas alegam que ele se portou sempre como um "Catholique du dehors" e que ele foi um "belo defensor da fé". Sobretudo, alegam que São Pio X recusou-se a condená-lo e que lhe fez grandes elogios. Sublinham que as irmãs de Santa Terezinha sempre rezaram e trabalharam pela sua conversão e pelo levantamento de sua condenação pela Igreja. Ambas estas coisas teriam sido conseguidas, pois a AF teve levantada a sua condenação por Pio XII, e M. teria se convertido e se confessado na hora de sua morte.

Sem querer julgar os segredos de Deus e das almas, e mesmo desejando que M. tenha se salvado, ao fazer uma análise da obra de M. e da AF, cremos que não se deve deixar de lado nem o que ele escreveu contra a Fé Católica, nem o fato de que ele jamais fez uma retratação explícita e clara de seus erros.

Em primeiro lugar, devemos recordar que o próprio M. jamais negou que tinha uma concepção do mundo oposta à católica. O que M. recusava aceitar é que atribuissem suas opiniões religiosas e anti-cristãs à AF.

Respondendo aos ataques do jornal Correspondant, M. protestou contra dois artifícios que teriam sido utilizados por esse jornal:

"Par le premier, il mettait sur le dos de l'Action Française tout entière l'ensemble de mes opinions privées en matière de religion, de philosophie ou d'histoire.

Par le second, il dérivait le corps de mes idées politiques et sociales uniquement d'un formulaire irréligieux plus ou moins bien lu et interpreté qu'il avait pu glaner à travers mes écrits." (LT,57).

Seus próprios amigos e apologistas reconhecem que M tinha idéias heréticas.

O antigo professor de M, o abbé Penon, já como Bispo de Moulins, escreveu a M., em 1912, após reler Anthinéa e Politique religieuse, que, apesar de tantas belas páginas, seu relativismo e agnosticismo eram graves lacunas, e dizia a M.: "Vous ne tirez pas la conclusion, mais je crains bien que vos adversaires acharnés n'abusent de certaines phrases qui la contiennent. J'avoue d'ailleurs qu'il vous est difficile, tant que vous n'admettrez pas de vérité absolue, de sortir de cette difficulté" (LT,73).

Lucien Thomas cita ainda, em defesa de M., o Pe. Descoqs: "l'impiété de M. Maurras, son manque complet, sur certains points fondamentaux, de sens chrétien sont évidents (...) "La justice toutefois oblige à reconnaître que nombre des textes allégués contre lui ou ses amis ont été détournés de leur vraie signification et poussés au pire, ce qui est d`une méthode déloyale, et que, si les opinions de M. Maurras n'ont pas varié sur les matières qui touchent à la métaphysique et à la foi, si l'ordre surnaturel lui reste toujours fermé, une évolution indéniable dans ses sentiments et son attitude à l'égard de ces mêmes matières s'est produite sous l'influence des circonstances, des réalités de la vie, des rapports surtout avec les catholiques dans l'intimité desquels il a été à même de pénétrer" (LT,73-74).

Registremos a afirmação que M. "não variou" em Metafísica e em questões de fé, mas "inegavelmente evoluiu" em seus sentimentos nestas matérias. E ressaltemos que são as idéias que valem e não os sentimentos.

Enfim, o próprio LT diz: "Certes, chacun sait que Maurras avait perdu la foi. Il n'est donc pas étonnant que l'expression de sa pensée en matière philosophique ou religieuse ait pris parfois un tour dont une conscience catholique ne pouvait pas ne pas se choquer" (LT,75). Mas, LT se apressa a dizer que esses "propos condamnables ne représentent qu'une infime partie de l'oeuvre de Maurras qui a surtout traité de politique vue dans les principes et dans la pratique" (LT,76).

O próprio M. confessou que: "On peut extraire de mes livres d'autrefois des paroles exprimant des sentiments inacceptables par l'Église et qui lui sont même en horreur" (LT,77). Ele lembra que retirou essas frases nas edições posteriores e que "J'avais saluée cette Eglise comme la plus vénérable, la plus féconde des choses visibles et comme la plus noble et la plus sainte idée de l'univers; ainsi se montra le sentiment que m'inspire l'Église de l'Ordre" (LT,77). Será preciso mostrar que considerar a Igreja Católica como a mais santa, a mais nobre, a mais fecunda, etc, é absolutamente contra o Credo que proclama a Igreja "unam, sanctam"?

Se foram os liberais e modernistas que se aproveitaram desses erros de M. para o acusarem ante a Santa Sé, isto não torna nem ortodoxos os seus textos, nem justifica sua defesa pelos católicos.

Conforme JF, "Elle [o pensamento de M.] n'en reste pas moins étrangère à la perspective chrétienne, et cela il ne l'a jamais caché" (JF, 235). Apesar de nunca ter ocultado que não era cristão, M. se exprimia com tal ambigüidade que sua linguagem enganava a muitos católicos, ainda que sua intenção não fosse essa. O que só Deus sabe. Não cabe a nós dar-lhe um atestado de condenação de suas intenções. Mas também seus amigos não podem dar diploma de sua boa intenção.

Os textos mais belos de M. em defesa da Igreja são sempre ambíguos. Exemplo típico disso é seu famoso canto em homenagem a Roma:

"Je suis Romain, parce que Rome, dès le Consul Mrius et le divin Jules, jusqu'à Théodore, ébaucha la première configuration de ma France. ( ... ) Je suis Romain, parce que, si je ne l'étais pas, je n'aurais à peu près plus rien de français. (... ) Je suis Romain dans la mesure où je me sens homme (...) (C. Maurras, La démocratie religieuse, p. 26, apud PRP, 116).

"Je suis Romain dans la mesure où je me sens homme: animal qui construit des villes et des Etats ... animal social ... qui excelle à déduire une loi rationelle ... Rome dit: oui, l'Homme dit oui. Je suis Romain, je suis humain, deux propositions identiques"(JF,337). Se Paulo VI tivesse talento, ele teria escrito essas frases em seu discurso de encerramento do Vaticano II, esse Concílio Pastoral que colocou a Igreja a serviço do Homem.

Jean de Fabrègues comentando estas últimas frases de M. diz: "C'est une vérité humaine qu'il salue dans le catholicisme" (JF,330). "Dire: 'Je suis romain dès que j'abonde en mon être historique, intellectuel et moral', c'est restreindre la catholicité à une aire du monde" (JF,330). Esta observação de JF é tão verdadeira que PB afirma que M. declarou sua "conviction forte et fidèle de la nécessité humaine du catholicisme universel" (PB,565). Tornamos a dizer: Paulo VI não pensava diversamente, quanto a esse ponto.

O que M. considerava positivo no Cristianismo era o de ter conservado uma certa ordem na humanidade, contradizendo o que ele havia escrito a respeito do Magnificat :

"Le catholicisme traditionnel, pour lui, c'est ce qui "soumettant les visions juives et le sentiment chrétien à la discipline reçue du monde hellénique et romain, porte avec soi l'ordre naturel de l'humanité" (JF,61).

Note-se bem que M. considera que :

    1. no Cristianismo, a disciplina grega submeteu as "visões judaicas";
    2. que o bem do Cristianismo foi principalmente humano.

Que se nos permita ainda outra citação de alguém diretamente contrário a M., para que se tenha uma noção mais equilibrada do papel que ele atribuía, de fato, à Igreja Católica na história. Se ele certamente afirmou que o catolicismo conservou a ordem na humanidade - note-se: conservou, e não, estabeleceu - ordem que teria herdado da civilização gerco-romana e não do "Cristo hebreu", como dizia M. de modo blafemo, é muito conveniente acrescentar que, segundo declarou Louis Dimier, antigo colaborador e amigo de M, que depois se afastou dele, o chefe da AF lhe disse um dia :

"Avec votre Religion, me dit-il un jour, il faut que l'on vous dise, que depuis dix-huit cents ans, vous avez étrangement sali le monde" (L. Dimier, Vingt ans d'Action Française, p. 30, apud PRP, 82).

Se são citadas frases que São Pio X teria dito, particularmente a alguém, a favor de M., por que não se deveria aceitar a citação de frases ditas por ele, e que iriam contra ele? A fonte é tida por suspeita por ser de alguém que se tornou inimigo de M.? Examine-se, pelo menos, se o que é testemunhado é coerente com o que M. escreveu, com alguns véus, mais ou menos diáfanos, ou não. Se é coerente, por que recusá-la?

Na década de 30, quando se desenvolviam as negociações com a Santa Sé para que fosse levantada a excomunhão da AF, M. escrevia que tinha "la conviction forte et fidèle de la nécéssité humaine du catholicisme universel" (PB,565).

Quando M. via algum valor no Cristianismo, era apenas um valor humano e naturalista, e, mesmo assim, manchado por um anti-semitismo que ele jamais escondeu.

Para M., o valor do catolicismo era considerado apenas enquanto coincidente com o bem da nação francesa - "da deusa França" - como ele dizia.

"Ce n'est pas seulement cent fois, mille fois, Maurras y est revenu, c'est pour des raisons politiques qu'ìl loue et écoute l'Église de Rome: "les intérets du catholicisme romain et ceux de la France se confondent presque toujours, ne se contredisent nulle part" (JF,330).

O próprio Perre Boutang - discípulo preferido de M. - confirma que a AF fez "Une défense politique des intérêts religieux" (PB, 324).

Na França, o catolicismo foi um dos fatores componentes - não o único - da mentalidade nacional. É sob este aspecto que M. se põe como defensor da Igreja contra as perseguições do governo republicano e maçon, e não por causa da Fé. Considerava M. que, atacar a Igreja, era solapar um dos pilares naturais em que se fundava a nacionalidade francesa:

"C'est d'abord que l'Église en France étant un des composantes traditionnelles de la vie nationale, étant génératrice d'ordre social et de dévouement national, elle a droit dans la guerre comme dans la paix au libre développement de son action" (JF, 268)

A AF "condamnait l'action de Combes, non pas du point de vue religieux, mais au nom de l'unité nationale, du fait que la religion catholique était, et la représentation de l'ordre de l'esprit et de l'ordre humain, et la composante majeure de l'esprit français et de la vie nationale" (JF,189).

O amigo e companheiro de M. - aliás, dirigente principal da AF -, o ex-radical e socialista Vaugeois, disse abertamente o que M. pensava e praticava: "On peut être métaphysiquement athée, si l'on professe le respect du Catholicisme comme religion de la France" (JF,194). E "Maurras affirme que sa pensée "est suffisamment païenne et chrétienne pour mériter le beau titre de catholique", mais refuse "le bizarre Jésus romantique et Saint simonien de 1840" (JF, 35 ).

E, entre os católicos, qual era a posição que M. preferia? Os "integristas" ele não suportava a não ser com dificuldade:

"Enfin, et l'auteur de ce livre peut apporter un témoignage personnel, Maurras lui même ne souffre les millieux "intégristes" du moment qu'avec peine, il les juge (à juste titre) intellectuellement très médiocres, plus profondément il se sépare d'eux sur deux points majeurs, sa pensée refuse cette sorte "d'internationale blanche" (c'est ainsi qu'il la désigne) où les problèmes religieux sont jugés sans rapport avec le contexte national ou social auquel ils s'appliquent, on pourrait dire qu'il répugne à ce que les millieux d'Action catholique nommeraient bientôt un blocage sans nuance du politique et du spirituel. Il se refuse aussi - et ceci le concerne très personnellement - à une perspective où le principe religieux commande à toute la politique: comment lui agnostique, pourrait-il y entrer?" (JF, 299-300).

Portanto, M. não podia aceitar duas coisas no catolicismo chamado "integrista":

    1. a submissão dos interesse nacionais à religião católica;
    2. a submissão da política à religião.

Era lógico que M., não aceitando a existência de uma ordem sobrenatural, à qual todos os valores naturais devem estar subordinados, recusava-se a subordinar o interesse da França ao da Igreja, a política à religião. O que é ilógico e inconcebível é que os católicos - e especialmente os tradicionalistas - o aceitassem como mestre e como líder. O que é incompreensível é que até hoje eles não admitam criticá-lo e o tenham como mestre intocável e indiscutível.

Enquanto os integristas queriam a restauração da antiga ordem cristã, M. certamente nem pensava nisso. Relembremos esta citação já feita:

"Non, ce n'est pas une construction confessionnelle qu'il veut faire, et c'est encore moins une simple reconstituition historique. Ce qu'il veut, c'est que naisse une société conforme à la nature, et tous doivent y trouver leur place" (JF,215). E o "tous" englobava os protestantes e os socialistas.

Às vésperas da primeira guerra mundial, não se passou ano sem que M. não fosse atacado por eclesiásticos que o denunciavam como autor não católico. Não conhecemos a posição política de cada um desses autores que vamos citar. Mas, ainda que fossem liberais ou modernistas, convém examinar se suas acusações contra M. e a AF eram pertinentes.

Assim, Mons. Chapon, Bispo de Nice, em carta pastoral datada de 1913, escreveu: "(...) d'écrivains aveugles ou perfides, qui s'efforcent d'ériger, sur les plus purs principes de l'athéisme et du positivisme à peine dissimulés, toute une morale sociale et politique; et ce qu'on n'aurait jamais imaginé, c'est sous prétexte et avec la prétention de servir l'Église qu'ils s'efforcent de discréditer Jésus-Christ, sa morale et sa doctrine" (YC,260-261).

Repetimos: não importa afirmar que a intenção de Mons. Chapon, ao atacar a AF, era de defender o liberalismo. Importa, isto sim, verificar se sua acusação contra M. era ou não procedente.

Por sua vez, o Padre Jules Pierre acusava a AF de apoiar e elogiar os ateus e maçons Stendhal e Proudhom, e de querer organizar uma festa nacional para o ateu Saint-Beuve (Cfr. YC,261).

Mons Sévin, Arcebispo de Lyon, embora considerasse inoportuna uma condenação de M., reconhecia que ele era condenável: "Dans l'oeuvre littéraire ou philosophique de M. Charles Maurras, il y a cent propositions contraires à la foi et aux moeurs. M. Maurras est digne d'être condamné, nul n'en doute". Mais il estimait aussi qu'une condamnation serait très inopportune dans les circonstances actuelles, car "M. Maurras n'a pas écrit ou enseigné que des erreurs agnostiques, il a aussi porté des coups très rudes au Sillonisme, au Liberalisme, au Démocratisme". Condamner certaines oeuvres de Maurras fournirait à ses adversaires un pretexte "por conclure que tout ce cet écrivain a publié, spécialement ce qu'il a très justement contre eux, est repoussé" (YC,261).

Eis aí uma opinião que nos parece equilibrada: M. era condenável, mas, naquelas circunstâncias era inoportuno condená-lo. Só que hoje aquelas circunstâncias já não existem. Portanto, não há mais nenhuma razão para defendê-lo.

Em 17 de dezembro de 1913, Mons. Guillebert, Bispo de Fréjus e antigo professor de M. escreveu ao Vaticano, atacando os erros de Maurras.

No Natal de 1913, foi o abbé Gaudeau que em sua revista anti-liberal La Foi Catholique, dénonçait "les dangers d'un groupement catholique dans sa masse et dont le chef intellectuel professe l'athéisme". Le zèle de l'abbé Gaudeau était d'autant plus malvenu qu'il avait lui-même participé quelque temps aux activités du mouvement royaliste en donnant des cours à l'Institut d'Action Française" (YC,264).

Verifica-se então que autores de todas as tendências, inclusive anti-liberais ou simpáticos a M., todos reconheciam que ele era condenável.

M. levara a AF a empreender lutas de rua contra seus oponentes. Maurice Pujo, um dos primeiros que aderira à pregação de M, organizara os pelotões de jovens monarquistas para o combate direto contra os comunistas e liberais. Essa tropa de choque maurassiana começara a agir vendendo o jornal da AF nas portas das igrejas. Por isso, seus membros começaram a ser chamados de os "Camelots du Roi". Logo, dessa ação de propaganda pacífica se passou para a ação física direta. Os "Camelots du Roi " começaram a utilizar métodos que se tornariam tipicamente fascistas: pintavam os adversários de pixe, obrigavam-nos a tomar óleo de rícino, dissolviam reuniões dos seus inimigos a socos. Nessas lutas de rua e nos corredores da Sorbonne, os "Camelots du Roi" adquiriram grande experiência . O "Quartier Latin" tornou-se seu feudo.

Quando os católicos perseguidos iniciaram suas próprias manifestações de rua contra o governo perseguidor da Igreja, os "Camelots du Roi" se apressaram a fazer causa comum com eles, o que foi tanto mais fácil quanto muitos dos dirigentes dos "Camelots" e da AF eram católicos praticantes. Naturalmente, como os "Camelots du Roi" tinham larga experiência de lutas de rua, eles organizavam e defendiam as manifestações dos católicos. Era natural então que a AF ganhasse as simpatias dos católicos menos avisados. Não defendia a AF a monarquia católica? Não queria ela restaurar a ordem contra o liberalismo dissolvente? Para esses católicos ingênuos, as idéias agnósticas e socialistas de M. eram desconhecidas, ou de somenos importância.

Desse modo, desde 1910, mais ou menos, "l'incroyant Maurras était le maître à penser d'un immense horizon de la jeunesse catholique, c'étaient ses troupes qui encadraient et souvent conduisaient la bataille catholique quand il fallait organiser l'action dont l'épiscopat avait confié la responsabilité aux équipes du général de Castelnau" (JF,292).

Em 1920, quando Joana d'Arc foi canonizada pela Igreja, M. desenvolveu grande campanha nacionalista a favor dessa canonização, tendo em vista utilizar o nome desta santa como fator de incentivo ao patriotismo nacionalista francês. Para se compreender o caráter equívoco da ação de M. com relação à Santa Joana d'Arc, basta lembrar que o desfile da AF em Paris, em 1920, em homenagem à Santa da Lorena, foi descrito por Maurice Barrès a Léon Daudet nos seguites termos: "Mon cher Léon, je vais vous dire une folie qui m'a prodigiesement frappé hier, quand je rentrais chez moi, après le défilé (de Jeanne d'Arc) et que je vous croisais. C'était le cortège du jeune Dionysios" (JF,279). Como se poderia comparar Santa Joana d'Arc e Dionísio, isto é, Baco?

A primeira vez que se levantou, em Roma, a possibilidade da condenação de M., foi em 1914. Nessa data submeteram-se a exame do Santo Ofício várias obras de M.. Ele foi advertido da possibilidade de uma condenação e mandou emissários a Roma sondar o que estava ocorrendo, e atuar, se possível, em sua defesa. Nesse tempo, reinava em Roma São Pio X. Os partidários de M. afirmam que M. só não foi então condenado por causa da proteção do Papa Santo. Como prova da atitude de São Pio X a favor de M., eles citam testemunhos de pessoas que teriam ouvido desse Papa palavras de elogio para o chefe da AF. Assim, o padre Pègues teria falado com o Papa sobre M. e sobre a possibilidede de ele ser condenado pelo Santo Ofício e o Pontífice ter-lhe-ia respondido: "Ah! Cette affaire, tant poursuivie en ce moment. Aujourd'hui même, maintenant ils sont réunis contre elle [...] Maurras! Maurras! ajouta le Saint-Père, comme ils lui en veulent! "Et le Pape d'ajouter: "Faranno niente !" "Non è opportuno! Non è opportuno! ", en concluant : "Maurras se convertira!" (YC, 265). E, depois que o Padre Pègues leu ao Papa um trecho de carta de M. ao pontífice, São Pio X teria dito: "Il poveretto! Le cher enfant (...) Écrivez-lui et dites-lui que je le bénis" (PB,361).

Que dizer desse testemunho? Ainda que ele fosse verdadeiro, - e não é crime duvidar dele - das palavras atribuidas ao Papa se conclui apenas que M. era condenável, embora não fosse conveniente sua condenação naquela época. Entretanto, consideramos estranho que São Pio X criticasse desse modo a Congregação do Index de seu tempo da qual participavam eclesiásticos de sua confiança. Ademais, São Pio X criticou os que citavam palavras do Papa em audiências particulares, pois isto pode levar a grandes abusos e confusões. Por fim, convém lembrar que o próprio São Pio X, no documento em que condenou o Sillon, lembra que ele enviara elogios e incentivos ao Sillon anteriormente, em documento público:

"Il Cardinale Merry del Val, Segretario di Stato di Pio X, cosí in data 4 Gennaio 1905 scriveva al Cardinale Richard, Arcivescovo di Parigi:

"Sua Santità loda Vostra Emminenza per la protezione concessa ai giovani del "Sillon", desiderando che Ella prosegua nell'incoraggiarli nel prosseguimento della loro opera, per il suo progresso e per il suo maggiore profitto. L'augusto pontefice è certo che anche tutto l'Episcopato di Francia accorderà la propria benevolenza e la propria protezione alla Società del "Sillon" (Cfr. Acta S. Sedis ann. III (1905) pp. 15-16. Cfr. anche: "L'Univers di Parigi del 13 marzo 1905. Apud P. Girolamo dal Gal, Il Papa Santo, Pio X, Ed. Messaggero di S. Antonio di Padova, 1954, p. 270, nota 1).

Ora, se São Pio X confessou ter se enganado no caso do Sillon, poderia também ter se enganado com a AF e M..

Outro depoimento pessoal citado por PB conta que, em 1911, ao receber a mãe de M., São Pio X lhe teria dito: "Ne parlez pas à votre fils de ce que je vais vous dire (...) Ne lui en dites jamais rien, mais je bénis son oeuvre. Elle aboutira" (PB,362).

Ora, a obra de M. "n'aboutit pas". Se o depoimento é verdadeiro, dever-se-ia explicar como a profecia de um santo falhou...

Sobre o resultado do julgamento da Congregação do Index, em 1914, registrou-se uma grande polêmica. Consta que M. foi condenado, mas que São Pio X recusou assinar a condenação. Os inimigos de M., por sua vez, afirmam que o decreto de condenação de M. de Pio XI foi o mesmo que São Pio X fizera em 1914, deixando sua publicação para ocasião mais oportuna. Exigindo porém que, quando publicado, o fosse com a data de 1914. Os defensores de M. negam essa versão, garantindo que São Pio X jamais permitiu a condenação do líder da AF.

É muito difícil provar uma ou a outra versão. O que importa é saber se M. era condenável ou não, e, se agora, - passadas já muitas décadas - é ainda oportuno e necessário continuar a defendê-lo.

Yves Chiron, em seu livro, diz que, na reunião da Congregação do Index, realizada em 15 de janeiro de 1914: "Tous les consulteurs furent unanimement d'avis que les quatre oeuvres de Charles Maurras: le Chemin de Paradis, Anthinéa, Les amants de Venise et Trois idées politiques, étaient vraiement mauvaises et donc méritaient d'être prohibées; à ces oeuvres, ils déclarèrent qu'ils faisaient ajouter l'oeuvre intitulée L'avenir de l'intelligence. Plusieurs consulteurs voulurent qu'on y ajoutât aussi les livres intitulés La Politique Religieuse et Si le coup de force est possible" (YC,266).

No dia 26 de janeiro de 1914, a Congregação do Index decidiu por unanimidade colocar no Index essas sete obras de M. e também a revista Action Française, "deixando à sabedoria do Pontífice a decisão da publicação do decreto".

O insuspeito Yves Chiron diz a esse propósito : "Maurras et l'AF étaient-ils fondés à dire et à écrire, comme ils le firent à plusieurs reprises quand le texte de la condamnation fut reconnu en 1927, que le décret exhumé était un faux et que le document d'origine avait été déchiré et brulé, après que Pie X eut refusé de le promulguer? En l'absence d'une consultation des documents dans les archives vaticanes, impossible pour le moment, on ne peut répondre en toute certitude à cette question.

"Il est certain, en revanche, que le pape ne pouvait pas ne pas trouver répréhensibles des ouvrages et une revue où avaient été publiées des pages injurieuses pour la religion chrétienne. C'était son devoir de gardien de la foi." (YC, 267).

Conforme outro testemunho pessoal, São Pio X teria dito, em 1914, a Camille Bellaigue, que agradecia ao Papa não ter condenado M.: "Elle est là [a condenação] répondit le pape en montrant son bureau, et elle n'en sortira pas".

"Puis il ajouta: "Ils venaient, en colère, comme des chiens, me dire: "Condamnez-le, très Saint Père, condamnez-le".

"Je leur répondais: "Allez-vous en, allez lire votre bréviaiare, allez prier pour lui". (LT,81)

E quando Camille Bellaigue pediu ao Papa uma benção para M., o Papa teria contestado: "Notre bénédiction! Mais toutes nos bénédictions. Et dites-lui qu'il est un beau défenseur de la Foi".(LT,81) Até M. duvidou da objetividade deste relato, indagando se o Papa não teria dito "um belo defensor da Igreja" e não da Fé. (Cfr. YC,268)

Um outro depoimento pessoal sobre o caso M. e São Pio X foi dado por Mons. Charost, Bispo de Lille. Contou ele que, em visita ao papa, este, indicando uma gaveta, lhe disse: "Nous avons là, mon cher fils, tout ce qu'il faut pour condamner Maurras. Mais nous croyons fort que les personnes qui nous ont si bien documenté ont agi beaucoup moins par amour et par zèle de la sainte religion que par haine des doctrines politiques soutenues par l'Action Française."

"Puis, refermant d'un geste sec le tiroir de son bureau, Pie X ajouta: "Aussi, moi vivant, l'Action Française ne sera jamais condamnée. Elle fait trop de bien. Elle défend le principe d'autorité. Elle défend l'ordre". (LT, 83)

Conforme esse depoimento, São Pio X reconhecia, portanto, que M. era condenável, e só se opunha então à sua condenação por razões de oportunidade. Como então se defende hoje a ortodoxia de M? Aliás, o próprio LT reconhece que se o Papa Pio X não condenou M., não era porque este não merecesse condenação, mas para não prejudicar a obra da AF, naquele tempo, na França.(Cfr. LT,84)

Esse mesmo autor, Lucien Thomas, que foi da AF, mostra bem a mentalidade com que se defende hoje M., ao dizer: "Qu'on n'oublie pas que le secrétaire de la Congrégation de l'Index était un prélat allemand, Mgr. Esser" (LT,84), insinuando que a Alemanha tinha interesse em condenar M., para solapar a resistência patriótica francesa, às vésperas da primeira guerra mundial. A que absurdos leva o nacionalismo! (Cfr. LT,84-85)

Pierre Boutang conta que, nesses primeiros dias de 1914, M. "s'attend donc au pire, comme le prouve ce passage étrange: "J'étudie même un nouveau procedé destiné à fournir à l'Église une nouvelle marque de respect, et cela en toute hypothèse, que la condamnation soit rendue ou non, publiée ou non". (PB,360)

Nem todos porém se deixavam enganar. Um antigo condisdípulo de M., o abbé Brémond, escreveu-lhe pouco depois, dizendo que ele, M., era "incapable de voir les réalités, soit du présent, soit du passé, telles quelles sont [...] je me suis persuadé que votre philosophie - catholique - est foncièrement antichrétienne. Vous ne pouvez pas le sentir. Tact infini, décence parfaite, rien n'y fera". (YC,292)

 

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MONTFORT Associação Cultural
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Online, 02/05/2024 às 10:00:24h