PRIMEIRA PARTE

CAPÍTULO IV
Do sacrifício da Nova Lei, instituído e oferecido por Nosso Senhor Jesus Cristo

 

P. Que significa a expressão "plenitude dos tempos" encontrada nas Sagradas Escrituras?
R. "Plenitude dos tempos" significa a época em que a espera e a preparação da salvação dos homens fixada por Deus, está totalmente cumprida. Assim, depois de 4.000 anos de promessas, de figuras e de profecias, a terra ouviu este feliz anuncio de S. João Batista: "Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (Jo 1, 29).

P. Quando se iniciou o sacrifício da nova lei?
R. Podemos dizer que o sacrifício da nova lei começou no mesmo instante da Encarnação do Verbo em Maria, ou seja, na Anunciação feita pelo anjo Gabriel, quando ela lhe respondeu: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Luc. 1, 38).

P. Que nos ensina S. Paulo sobre inicio do sacrifício de Cristo?
R. Segundo S. Paulo (Heb 10, 5 - 6) Jesus Cristo ao vir ao mundo aplicou a si as palavras do Salmo 39 e disse a Deus seu Pai: "Não quisestes hóstias nem oblações. Em vez disso, me destes um corpo. Os holocaustos não vos agradam, mas unistes à minha natureza divina um corpo no qual posso padecer e imolar-me à vossa santa vontade, que pede semelhante vítima; e eu disse: Eis que venho cumprir esta grande vontade, que não só esta escrita no livro da vossa aliança, com também desde este momento está gravado no meio do meu coração".

P. O nascimento de Cristo foi um prelúdio do seu grande sacrifício?
R. Sim. No nascimento do Homem Deus, hóstia já oferecida para a nossa salvação, ao nada a que se reduz, a privação por que passa, as lágrimas que derrama, são prelúdios do seu sacrifício final.

P. Que figuram o estábulo de Belém e o presépio?
R. O estábulo de Belém figura um templo, e o presépio, um altar; e as lágrimas deste Deus Menino já teriam sido oblação suficiente para salvar o universo, se o que bastava para o nosso resgate teria bastado à caridade e à misericórdia do nosso Deus.

P. Quando o Menino Jesus recebe o nome de Salvador, referência direta ao seu sacrifício?
R. Oito dias depois do venturoso nascimento, o Menino Jesus recebe o nome de Salvador: começa a exercer suas funções aos olhos dos homens, e, derramando as primeiras gotas do seu sangue, se obriga, por estas sagradas primícias, a derramá-las abundantemente no altar da Cruz.

P. Que relação há entre a "Apresentação de Jesus no Templo" e o sacrifício do Calvário?
R. O Menino Jesus é conduzido ao Templo nos braços de Maria, em obediência à Lei; lá é colocado no altar do Deus verdadeiro e renova a solene promessa de morrer para a salvação do mundo. Eis aqui a oferenda do sacrifício cuja imolação irá se realizar no Calvário, e sua participação no Cenáculo e na Missa.

P. A vida inteira de Nosso Senhor Jesus Cristo é considerada como oblação?
R. Sim. Toda a vida do Salvador, tanto no período obscuro de Nazaré, como no esplendor do seu ministério, foi uma seqüência desta oblação: os desejos do seu coração ansiavam, sem cessar, a consagração da vítima, até que se cumprisse o batismo de dor e de sangue em que devia ser imerso, para consumar o holocausto e abrasar as almas que se uniram ao seu sacrifício.

P. Como manifestou Nosso Senhor seu desejo pela consumação do seu sacrifício?
R. Quando chegou a hora tão ansiada por Ele para passar deste mundo à mansão de seu Pai celestial, Jesus declara aos seus apóstolos: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes da paixão" (Lc. 22, 15), porque aquela Páscoa devia ser a última de Israel segundo a carne, bem como o verdadeiro cordeiro pascal seria substituído para os verdadeiros filhos de Abraão.

P. Por que a última Páscoa, ou última Ceia de Nosso Senhor é marco entre a Antiga e a Nova Lei?
R. Porque na última Ceia, estando à mesa com seus discípulos, Nosso Senhor observa totalmente o preceito legal imposto por Moisés, quanto aos alimentos a serem consumidos naquela celebração, e, após cumprir plenamente ao estabelecido pela Antiga Aliança, institui o excelso sacrifício da Nova Aliança, ou da Nova Lei.

P. Que fez Nosso Senhor, porém, na última Páscoa, pouco antes da instituição do Novo Sacrifício?
R. Nosso Senhor, cingindo-se com uma toalha derramou água numa bacia, e lavou os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. Esta cerimônia ficou para sempre conhecida como "Lava-pés".

P. Que significado tem a cerimônia do Lava-pés, antes da instituição do Novo Sacrifício?
R. O Lava-pés é a preparação próxima e pública do sacrifício que estava preste a ser instituído, e as palavras empregadas por Nosso Senhor, cheias de afeto e força, são a instrução que o precede.

P. Que fez Jesus após o Lava-pés?
R. Após o Lava-pés, Nosso Senhor tomou em suas santas e veneráveis mãos o pão e o vinho: eis aqui a oferenda.

P. Como Nosso Senhor instituiu o sacrifício da Nova Lei?
R. Segurando o pão e o vinho abençoou-os, deu graças ao seu Pai Celeste e, com suas bênçãos eucarísticas, ouvem-se estas palavras pronunciadas pelos lábios de quem criou o céu e a terra: ISTO É O MEU CORPO, meu corpo dado, entregue e morto por vós; ISTO É O MEU SANGUE, o sangue da Nova Aliança, derramado para a remissão dos pecados. TOMAI E COMEI; TOMAI E BEBEI. Eis as palavras da consagração!

P. Que fez Nosso Senhor em seguida?
R. Nosso Senhor partiu o pão da vida eterna e o distribui; apresentou o cálice da salvação e o deu de beber aos seus discípulos. Eis a COMUNHÃO no SACRIFÍCIO.

P. Que disse Nosso Senhor após aquelas sagradas palavras?
R. Nosso Senhor disse: FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM (Lc. 22, 19).

P. Que afirmou Cristo com tais palavras?
R. Ao pronunciar Fazei isto em memória de mim, Nosso Senhor transmitiu seu próprio poder aos apóstolos e sucessores, instituindo e estabelecendo a ordem do novo sacerdócio.

P. Em suma, que cerimônias Cristo estabeleceu na última Ceia?
R. Na Última Ceia, Nosso Senhor estabeleceu a s cerimônias da Nova Aliança, ou Nova Lei, também denominada Santa Missa, ou seja:
1 - Com o Lava-pés, a preparação para a consagração;
2 - Com a benção do pão e do vinho, a própria consagração da oferenda;
3 - Com a distribuição do pão da vida e do sangue da salvação, a comunhão.

P. Que Sacramentos Cristo instituiu na última Ceia?
R. Na última Ceia Nosso Senhor instituiu dois sacramentos:
1 - a Eucaristia; e
2 - a Ordem.

P. Por que a Eucaristia precedeu a imolação de Cristo na Cruz?
R. A Eucaristia, sob as espécies de pão e de vinho, precedeu a imolação de Cristo na Cruz para sustentar a fé dos discípulos.

P. Qual a relação entre o sacrifício da Missa e o do Calvário?
R. Assim como a Eucaristia precedeu a imolação de Cristo na Cruz, assim o sacrifício da Missa devia seguir e perpetuar a imolação do Calvário, como sinal de que o sacrifício de Cristo foi, e sempre será, o único sacrifício propiciatório, instituído no Cenáculo, consumado no Calvário e perpetuado nos nossos altares.

P. Que nos revela a oblação da Cruz?
R. Na oblação da Cruz, tudo nos é sensível e patente: a escolha da vítima, sua oferta a Deus pelas mãos do sacerdote eterno e sua imolação sangrenta.

P. Que encontramos, ainda, na oblação da Cruz?
R. Esta oblação encerra, ainda, o holocausto de adoração, a hóstia dos pacíficos e a expiação dos pecados.

P. Podemos também ver a realização das figuras dos antigos holocaustos?
R. Sim, neste holocausto vemos a verdade das figuras antigas, como a do pássaro ou ave pura sacrificada para libertar a outra ave com seu sangue; a do bode expiatório lançado fora de Jerusalém, com as prevaricações de todo o povo; o sangue da hóstia levada ao céu, verdadeiro Santo dos Santos, não feito pelas mãos dos homens; e, no lugar das vítimas prescritas pela lei, que somente figuravam a salvação sem nunca poder nos dar, temos na Cruz a única oblação de um Deus que, numa única hóstia, estabelece para sempre a santificação dos homens (Heb 10, 14), pelo precioso manancial que dela emana até a consumação dos séculos.

P. Que conclui S. Paulo sobre este sacrifício da Cruz?
R. S. Paulo conclui não ser mais necessário que Jesus Cristo reitere seu sacrifício sangrento para a remissão dos pecados, como se reiteravam os sacrifícios da lei mosaica, bastando somente que os atos repetidos desta oblação, perpetuada na Missa, apliquem seu valor e seus méritos a cada fiel em particular.

P. Que nos ensina, sobre isto, o Concílio de Trento?
R. Baseado na doutrina de S. Paulo, o Concílio de Trento claramente nos ensina: "Ainda que bastasse Nosso Senhor se oferecer uma só vez ao seu Pai, unindo-se no altar da Cruz para realizar a redenção eterna, Ele quis deixar à sua Igreja um sacrifício visível, tal como requer a natureza dos homens, pelo qual se aplicasse, de geração em geração, para a remissão dos pecados, a virtude deste sangrento sacrifício, que devia cumprir-se somente uma vez na Cruz; na última ceia, na mesma noite em que foi entregue, declarando-se sacerdote eterno, conforme a ordem de Melquisedeque, Ele ofereceu, a Deus Pai, seu corpo e seu sangue, sob as espécies de pão e de vinho, os deu aos seus apóstolos, a quem os tornou, então, sacerdotes do Novo Testamento, com estas palavras: Fazei isto em memória de mim, investindo-os, assim, e aos seus sucessores, no sacerdócio, para que oferecessem a mesma hóstia" (Sessão XXII, I).

P. Portanto, porque se instituiu o sacrifício da Missa?
R. O sacrifício da Missa foi instituído, portanto, para nos aplicar o preço do sangue derramado na Cruz, para tornar a oblação única de Jesus Cristo, eficaz e proveitosa para cada um de nós, e para nos comunicar, pela sua própria virtude, o mérito geral e superabundante da fé e da penitência que conduzem aos sacramentos, nos quais aperfeiçoamos a justificação que a graça do altar começou.

 

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    Para citar este texto:
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MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/cadernos/pratica/missa4/
Online, 04/05/2024 às 19:34:57h