PRIMEIRA PARTE

CAPÍTULO V
Da celebração da Missa: da sua instituição aos nossos dias

P. Quando foi celebrada a primeira Missa?
R. Ainda que o Filho de Deus seja sacerdote eterno, por decisão que se impôs como vítima dos homens, tornando-se para sempre pontífice da Nova e Eterna Aliança; ainda que, de fato, tenha começado o sacrifício com o primeiro batimento do seu coração, no instante da Encarnação, para cumprir-se na Ceia e no Calvário e receber sua perfeição nos mistérios da ressurreição e ascensão e na efusão do Espírito Santo, pode-se e deve-se crer que a primeira Missa foi celebrada no Cenáculo, à véspera da morte do Salvador.

P. Que nos diz a Igreja sobre isto, no prefácio da Missa de Quinta-feira Santa?
R. A Igreja nos diz: "Jesus Cristo, verdadeiro e eterno pontífice, único sacerdote puro e sem mancha, ao estabelecer na última ceia, com seus discípulos, seu sacrifício verdadeiro e permanente, se ofereceu primeiro como vítima, ensinando aos seus apóstolos o modo de oferecê-lo". Eis a idéia que se pode formar desta primeira Missa.

P. Que paralelo podemos estabelecer entre o Cenáculo e a Santa Missa?
R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:

CENÁCULO

SANTA MISSA
1 - Jesus dirige-se ao Cenáculo: acompanhado dos seus discípulos, chega ao Cenáculo, onde estava preparada a mesa do sacrifício e da comunhão; 1 - O sacerdote dirige-se ao altar: precedido dos seus ministros, onde tudo está disposto para o sacrifício da Santa Missa;
2 - Jesus deixa a mesa depois da ceia prescrita pela lei, humilha -se, ao lavar os pés dos apóstolos, e os manda que se os lavem mutuamente, voltando, depois, a ocupar o seu lugar à mesa; 2 - O sacerdote desce ao pé do altar: mesmo purificado de faltas graves, para lavar-se e purificar-se das faltas mais leves, o sacerdote faz a confissão mútua com os assistentes, subindo, depois, ao altar;
3 - Jesus senta-se à mesa eucarística: instrui seus apóstolos, e lhes dá o resumo da sua doutrina, dizendo: "Eu vos dei o exemplo para que façais como eu fiz" (Jo, 13...) 3 - O sacerdote faz no altar a instrução pública e preparatória, com o objetivo de explanar estes dizeres profundos de S. Justino ( Apol. 2 ...): "Só pode participar da eucaristia aquele que crê que nossa doutrina é verdadeira, que recebeu a remissão dos pecados e que vive como Jesus ensina".
4 - Jesus toma o pão e o vinho num cálice, e os abençoa; 4 - O sacerdote toma o pão e o vinho num cálice: eis a oblação, as orações e bênçãos que a acompanham;
5 - Jesus deu graças, elevando os olhos aos céus: embora os evangelistas não registrem as palavras de que Jesus se serviu nesta ação de graças, sabemos, pela tradição, que Ele enumerou os benefícios da criação, da providência e da redenção, que iriam se concentrar nesta vítima adorável; depois, o Senhor partiu o pão e o deu aos seus discípulos, dizendo: "isto é o meu corpo"; em seguido os deu também o cálice, dizendo: "isto é o meu sangue".
Eis a fórmula da consagração: "Tomai e comei, tomai e bebei"; esta é a Comunhão do Cenáculo.
5 - O sacerdote emprega as mesmas palavras e gestos no Cânon da Missa, repetindo a fórmula da Consagração.:"Tomai e comei, tomai e bebei". Esta é a comunhão na Missa.
6 - Jesus pronuncia um hino de reconhecimento. 6 - O sacerdote termina o sacrifício com a ação de graças.

 

P. Que fizeram Jesus e os apóstolos após a Ceia?
R. Os apóstolos saíram do Cenáculo com seu Mestre, e se dirigiram ao Horto das Oliveiras, para serem testemunhas da renovação e da consumação do grande sacrifício da Cruz, da mesma forma que o sacerdote se dirige ao santuário, subindo ao altar.

P. Que paralelo podemos estabelecer entre a paixão, morte e ressurreição de Cristo e a Santa Missa?
R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:

CENAS DA PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

CENAS DA MISSA
1 - Jesus ora no Horto, com o rosto prostrado na terra; 1 - O sacerdote, ao pé do altar, recita o Confiteor, em humilde postura;
2 - Jesus, amarrado, sobe a Jerusalém; 2 - O sacerdote, cingido com todos os paramentos, sobe ao altar;
3 - Jesus foi, de tribunal em tribunal, instruindo o povo, seus acusadores e seus juizes; 3 - O sacerdote vai de um ao outro lado do altar, para multiplicar e difundir a instrução preparatória;
4 - Jesus Cristo, assim que sentenciado e despojado de suas roupas, oferece seu corpo à flagelação, prelúdio da sua execução e morte; 4 - O sacerdote descobre as oblações, retirando o véu que cobre o cálice e a hóstia, ainda não consagrados, e faz a oferenda do pão e do vinho, que vão ser consagrados, e cuja substância vai ser consumida;
5 - Jesus é pregado na cruz; 5 - Da mesma forma como Ele se fixa no altar com as palavras da Consagração;
6 - Jesus é suspenso na Cruz, entre o céu e a terra; 6 - Como no momento da Elevação, na Missa;
7 - Jesus expira na cruz; 7 - O sacerdote parte a Hóstia, indicando, sensivelmente, esta morte;
8 - Jesus é colocado no sepulcro; 8 - Na Comunhão, Jesus é colocado no coração do sacrificador e dos cristãos;
9 - Jesus ressuscita glorioso; 9 - A ressurreição é significada pelo lançamento de um fragmento da hóstia consagrada ( o corpo de Cristo) no cálice que contém o sangue de Cristo, na hora em que o sacerdote diz a oração “Pax Domini sit semper vobiscum”, fazendo cinco cruzes sobre o cálice e fora dele. O sacerdote pede o efeito desta vida nova através das orações após a Comunhão;
10 - Jesus sobe aos céus, abençoando sua Igreja; 10 - O sacerdote se despede dos fiéis e os abençoa;
11 - Jesus envia seu espírito ao coração dos discípulos; 11 - No final da missa, é lido o início do Evangelho de S. João, que nos exorta a tornar-nos filhos de Deus (Jo, 1, ...), dirigidos e movidos pelo seu espírito, conforme estas palavras do apóstolo S. Paulo: "aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus" ( Rom 8, 14).

 

P. Podemos considerar a Ceia e a Paixão de Cristo como as duas primeiras Missas?
R. Sim. Podemos considerá-las como as duas primeiras Missas, celebradas pelo Salvador, cuja oblação Ele renovou com seus discípulos durante os 40 dias que precederam sua ascensão aos céus, como deduzimos da história dos discípulos de Emaús e das divinas aparições em que o Senhor era reconhecido pela fração do pão (Lc 24, 30).

P. Que relação há entre a Missa atual e as palavras de Cristo após a última Ceia?
R. Nosso Senhor instituiu, após a última Ceia, a parte essencial das orações e cerimônias da Missa atual.

P. Quem estabeleceu as orações e as cerimônias das outras partes?
R. As orações e cerimônias das outras partes foram estabelecidas pelos apóstolos, pela Tradição, e pela Igreja, que acrescentaram o conveniente à dignidade do sacrifício, em nada alterando o substancial da Instituição Divina.

P. Como podemos ter certeza disto?
R. Porque notamos, tanto nas orações como nas cerimônias introduzidas, transcrições de circunstâncias ocorridas no Cenáculo e no Calvário, observando-se cuidadosamente o que as felizes testemunhas destas cenas viram e conservaram, através da tradição.

P. A Igreja utilizou a tradição somente para o sacrifício da Missa?
R. Não. Também em relação às cerimônias e orações dos sacramentos, a Igreja faz como fizeram os apóstolos, acrescentando orações costumeiras. No batismo, por exemplo, Nosso Senhor simplesmente mandou que se batizasse com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; as orações acessórias, que expressam seus efeitos e as obrigações que dele derivam, nos vêm da tradição e da piedade de todos os séculos.

P. Quando os apóstolos começaram a celebrar os santos mistérios?
R. Os apóstolos começaram a celebrar os santos mistérios depois da ascensão de Nosso Senhor, como constatamos em muitas passagens dos Atos, escritos por S. Lucas, como, por exemplo:
1 - Os cristãos perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão da fração do pão e na oração (At 2, 42) enquanto faziam o serviço público do Senhor (At 13, 2);
2 - No primeiro dia depois do sábado (que corresponde ao Domingo), nome já dado por S. João (Apoc. 1, 10), estando reunidos, diz S. Paulo, para partir o pão (At. 20,7)...

P. Destas afirmações, que idéia podemos formar da Missa e da liturgia dos tempos apostólicos?
R. Podemos deduzir:
1 - No primeiro dia da semana, em especial, e o mais freqüente possível, os fiéis se reuniam, sob a direção dos apóstolos, ou de pastores que eles haviam eleitos, na casa de algum cristão, ou em lugares bem ocultos, devido à perseguição dos judeus e dos gentios;
2 - Iniciava-se a oblação com a leitura dos profetas, das epístolas dos apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas, ou mesmo das cartas que estas mutuamente trocavam;
3 - É muito provável que, quando se escreveu o Evangelho, este passou a ser lido nas reuniões cristãs, principalmente para prevenir os fiéis contra a grande quantidade de Evangelhos apócrifos, que muitos se apressavam em escrever, para confundir a doutrina que Cristo nos deixara com seus apóstolos.
Estas leituras eram explicadas, conforme se lê em S. João, que, sendo conduzido a Éfeso em avançada idade, e não podendo mais discursar, limitou-se a esta curta exortação, digna do discípulo mais amado: "Meus filhos, amai-vos uns aos outros".
4 - Em seguida benzia- se o pão e o vinho; esta oferenda era seguida de orações e de súplicas, por todos os homens, pelas necessidades públicas e particulares, e de ações de graças.
5 - No momento mais solene destas ações de graças, se consagravam o pão e o vinho, com as mesmas palavras usadas por Nosso Senhor.
6 - Seguia-se a oração dominical e o ósculo da paz, que todos trocavam mutuamente, partindo-se os dons sagrados para comunhão, depois da qual, sob juramento, se obrigavam a evitar todo o crime, a fugir de todo o pecado, e a morrer com Jesus Cristo e pela fé de Jesus Cristo. Finalmente, os fiéis eram despedidos com a saudação da paz de Deus e da graça de Nosso Senhor.

P. Que outras testemunhas temos da oblação da Eucaristia nos primeiros séculos?
R. Temos diversas, tais como:
1 - S. Inácio, terceiro bispo de Antioquía, sucessor de S. Pedro e de Evódio, nesta cátedra, contemporâneo dos apóstolos, e que declarou ter visto Nosso Senhor ressuscitado, nos apresenta alguns detalhes sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de Esmirna.
2 - Nos meados do segundo século, e pouco depois da morte do último apóstolo, S. Justino, célebre filósofo pagão que se convertera aos trinta anos de idade, tornando-se sacerdote e mártir, contemporâneo de Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor), de S. Inácio, de Clemente, companheiro de S. Paulo na pregação, de Potino e de Irineu, discípulos de Policarpo, dirigiu uma apologia a Antônio , o Piedoso, para justificar as reuniões cristãs. É um antigo e precioso monumento da tradição dos primeiros séculos.

P. Que nos diz, este precioso documento de S. Justino?
R. S. Justino, na sua famosa Apologia 2, escreve:
"No chamado dia do Sol (primeiro dia da semana, que corresponde ao nosso Domingo; o segundo dia era o dia da Lua, dies lunae, etc) todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as coisas, por Jesus Cristo, seu Filho, e pelo Espírito Santo".
"Lêem-se os escritos dos profetas e os comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos exemplos".
"Em seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e oferecemos pão, vinho e água".
"O sacerdote pronuncia claramente várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a aclamação Amem!".
"Distribui-se os dons oferecidos, comunga-se desta oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam esta comunhão aos ausentes".
"Os que possuem bens e riquezas, dão uma esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o encarregado de aliviar todas as necessidades".
"Celebramos nossas reuniões no dia do Sol, porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos".

P. Que notamos neste documento que conta 18 séculos de existência?
R. Nesta descrição do Santo Sacrifício da Missa, feita por S. Justino em meados do século II, notamos claramente os principais traços do serviço divino, tal como se conserva nos nossos dias, e como é praticado em todas as igrejas.

P. Por que a liturgia da Missa resplandece hoje com tanto brilho?
R. Porque, se acrescentarmos àquela descrição de S. Justino, em si já tão luminosa contendo o corpo principal da Missa, os brilhantes escritos de Sto. Irineu, dos Clementes, dos Tertulianos, dos Cirilos, dos Ciprianos e Agostinhos, só com acréscimos acidentais, teremos a resplandecente liturgia da Santa Missa de hoje, sempre enriquecida, mas nunca alterada, através dos séculos, renovando sempre, e em todas as partes do mundo, na mesma forma e na mesma língua, o mesmo sacrifício propiciatório do Calvário.

P. Por que até a fase da paz, concedida por Constantino à Igreja, havia poucas orações e cerimônias no sacrifício da Missa?
R. Porque assim exigia o perigo vivido pelos cristãos naqueles tempos. Porém, tanto as orações como as cerimônias estabelecidas, deviam ser observadas religiosamente e com muito mais cuidado, visto serem tradições orais referentes a uma prática rigorosa e solene.

P. Quando foram introduzidas outras orações e a majestade do culto?
R. Quando foi possível erigir grandes basílicas e oficiar publicamente, com grande afluência do povo.

P. Quando surgiram as primeiras redações litúrgicas?
R. No final do século IV, e início do século V, redigiu-se o corpo das tradições litúrgicas existentes.

P. Quais foram as primeiras redações litúrgicas referidas ao santo sacrifício da Missa?
R. As primeiras redações litúrgicas relativas ao santo sacrifício da Missa foram:
1 – Liturgia de Jerusalém: também denominada de S. Tiago, visto esta igreja ter recebido e conservado a liturgia daquele seu primeiro bispo.
2 – Liturgia de Alexandria: conhecida também como de S. Marcos, cuja tradição fora deixada por este santo bispo àquela cidade.
3 – Constituições apostólicas: atribuídas ao Papa S. Clemente I, se bem que os autores destas diferentes obras compostas no século V, foram testemunhas e redatores dos veneráveis usos das igrejas mais antigas.
4 - Liturgia de S. Basílio, no Oriente, conhecida sob o nome de S. João Crisóstomo, e ainda hoje utilizada pelos orientais.

P. Quem ordenou a liturgia no Ocidente?
R. A liturgia no Ocidente foi ordenada por Sto. Ambrósio e por outros escritores.

P. A liturgia de Sto. Ambrósio foi totalmente seguida?
R. Essencialmente, sim. Porém, entre os latinos, houve muita variedade tanto nas orações acessórias como nas cerimônias não essenciais.

P. Quem unificou as orações acessórias e as cerimônias não essenciais?
R. Foi S. Gregório, no século VI, através do famoso Sacramental que leva seu nome.

P. Que estabeleceu o Sacramental de S. Gregório?
R. O Sacramental de S. Gregório estabeleceu: intróitos, o Kyrie eleison, o Gloria in excelsis, as coletas, o tema da epístola e do Evangelho, as orações para as oblações, o prefácio comum e o cânon até o Agnus Dei, exatamente como o recitamos hoje.

P. O Sacramental de S. Gregório permitia ainda alguma variedade nas orações acessórias?
R. Sim. Como cada província tinha santos bispos que acrescentavam algo ao acessório do sacrifício, por muito tempo se respeitou esta variedade, pela antigüidade das orações e pela santidade dos seus autores.

P. Que resultou desta variedade acessória ao sacrifício?
R. Como conseqüência daquela variedade, surgiram os diferentes missais e sacramentais da Igreja romana e das Igrejas particulares do Ocidente. Porém, o essencial do sacrifício para a oblação, a consagração e comunhão, era rigoroso e invariável em todo o mundo cristão, e a regra secundária da liturgia manteve sua variedade até o século XIII.

P. Que houve nesse século?
R. No século XIII foi fixado o Ordinário da Missa, tal qual permanece em nossos dias.

P. O Ordinário da Missa manteve algumas variantes secundárias?
P. Sim. O Ordinário da Missa do século XIII manteve algumas variantes secundárias adotadas pelas diferentes dioceses, como, por exemplo, a antífona e o salmo do intróito, no rito romano, não é o mesmo empregado nas outras Igrejas. Porém, esta diferença, tolerada pela autoridade eclesiástica, não prejudicou em nada a unidade essencial da liturgia.

P. Houve, naquele período, alguma assimilação de orações e cerimônias secundárias entre os diversos ritos?
R. Sim; em especial no que de edificante tinham. Roma, por exemplo, depois de haver extinguido o rito galicano e o rito gótico, da Espanha, não duvidou em deles tomar algumas orações e cerimônias secundárias e inseri-las no Ordinário da Missa.

P. Naquele tempo, todo o povo dispunha do Ordinário da Missa?
R. Do século XIII ao século XV, o Ordinário da Missa permaneceu em poder do clero. A invenção da imprensa, porém, permitiu maior difusão entre os fiéis.

P. Além da invenção da imprensa, que outro acontecimento colaborou para maior difusão do Ordinário da Missa entre os fiéis?
R. Foi a Reforma Protestante. A Igreja deu aos seus ritos a mais augusta publicidade, para auxiliar aos leigos a examinar as orações da Missa, visando combater as heresias de Lutero e de Calvino, que negavam, em especial, o caráter propiciatório do divino sacrifício. Ou seja, Lutero e Calvino afirmavam que a Missa era somente a representação da última Ceia, uma cerimônia só de agradecimento e louvor ao Senhor, negando seu caráter fundamental de renovação incruenta do sacrifício do Calvário, estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo e sempre ensinado e defendido pela sua Igreja.

P. Houve determinação oficial da Igreja para maior divulgação dos textos da Missa?
R. Sim. Os Concílios de Magúncia e de Colônia, em 1547, determinaram que as orações do Ordinário da Missa fossem explicadas ao povo, mostrando sua unidade em relação às suas finalidades, ou seja, de adorar a Deus, de agradecer-Lhe pelos benefícios recebidos (impetração), e pedir-Lhe o perdão pelos pecados cometidos (propiciação).

P. Que outra determinação oficial houve para isso?
P. O Concílio de Trento (1570) determinou aos párocos que, nos domingos e dias santos, explicassem aos fiéis as orações da Santa Missa e as fórmulas sacramentais, para instrui-los, não só na verdade dos seus mistérios, mas também no significado das suas orações e cerimônias.

P. O sacrifício da Missa recitado em nossos dias é o mesmo sacrifício estabelecido por Jesus Cristo?
R. Sim é o mesmo sacrifício de Jesus Cristo que recebemos dos apóstolos, dos santos doutores e dos nossos pais na Fé, os Padres Apostólicos.

P. Não houve alterações essenciais entre o estabelecido por Cristo e o que é recitado hoje na Santa Missa?
R. Não. Essencialmente, Cristo tomou o pão e o vinho, nós tomamos a mesma matéria de oblação; Cristo a abençoou, o sacerdote a abençoa; Cristo deu graças, nós as damos; Cristo as consagrou pelas palavras onipotentes relatadas no Evangelho, o padre repete as mesmas palavras por sua ordem, a Ele unido, in persona Christi, e em Sua memória.

P. As orações acessórias da Missa, introduzidas pelos apóstolos e pela Igreja, não alteraram a ação de Cristo?
R. Não. As orações acessórias, introduzidas no decorrer dos tempos, em nada alteraram a ação de Cristo porque, em relação a esta, tais orações somente estabeleceram:
1 - a preparação pública ao santo sacrifício, com a introdução de salmos e do Kyrie (Senhor, tende piedade);
2 - a entoação, no altar, do hino da redenção (Gloria), cantado pelos anjos no nascimento de Jesus Cristo;
3 - o preceder e a seqüência das leituras, com orações e reflexões;
4 - o hino cantado pelos serafins (Sanctus), para que ressoe no momento em que a vítima vai abrir os céus;
5 - o invocar por três vezes o Agnus Deis (Cordeiro de Deus), com sua misericórdia e paz;
6 - os sinais exteriores de humildade, de esperança, de respeito e de amor.
Trata-se, portanto, do mesmo sacrifício de Jesus Cristo, acompanhado de orações e ritos para expressar a piedade diante de tão excelsa maravilha.

P. Que outros fatores concretos nos certificam daquela verdade?
R. Bastaria lembrar que a Igreja recolheu as orações e cerimônias acessórias da missa:
1 - das lembranças apostólicas e da mais remota tradição do tempo e dos usos estabelecidos por S. João, testemunha da dupla imolação, a da Ceia e a da Cruz;
2 - das regras e disposições de S. Paulo, instruído neste mistério pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor;
3 - das meditações de Sto. Agostinho, da unção de Sto. Ambrósio, de S. Basílio e de S. Gregório;
4 - da piedade e sabedoria dos seus santos pontífices e doutores, manifestadas no decorrer de 13 séculos.
A Igreja as reuniu no mais feliz e santo modelo para regrar definitivamente sua liturgia, cujas palavras são a aplicação maravilhosa da Sagrada Escritura, nos infundindo admiração e respeito profundos.

P. Por que, além das orações e cerimônias acessórias, a Igreja também regulamentou os templos, os altares, os adornos, os trajes e as atitudes do sacrificador?
R. Porque a Missa representa perfeitamente aquela rainha que está de pé, à direita do trono de Deus, com manto de ouro de Ofir, realçada pela variedade das mais ricas cores, como diz o Salmo 44. Assim, como a Igreja não deveria regrar, para o sacrifício, também seus templos, seus altares e seus adornos, bem como, as vestes e os movimentos do corpo, dos olhos e das mãos do seu sacrificador?

P. Que preocupação teve a Igreja quanto à língua em que os santos mistérios deveriam ser celebrados?
R. Embora a Igreja jamais tivesse afirmado que o serviço divino fosse celebrado em língua ininteligível ao povo, tão pouco ela julgou conveniente o emprego de língua vulgar, para não submeter a Missa às vicissitudes deste.
Assim, na celebração da santa Missa, onde estão consignados a maior parte dos nossos dogmas, a Igreja se preocupou com o uso de língua vulgar e, genericamente, nunca a recomendou, -- até, no Concíliode Trento, a proibiu -- para evitar o grave inconveniente do surgimento de erros doutrinários, que poderiam advir das variações de sentido, comuns na linguagem viva.

P. Inicialmente, que línguas foram empregadas na celebração da santa liturgia?
R. Nos tempos apostólicos foi utilizado o siríaco, idioma de Jerusalém de então, como o grego e o latim, muito divulgadas naquela época, as quais foram conservados como língua litúrgica, mesmo quando deixaram de ser utilizadas vulgarmente. Assim como no quirógrafo da Cruz estava escrita a sentença de morte de Cristo em latim , grego e hebraico -- Jesus Nazareno Rei dos Judeus -- assim, na Missa, que renova o sacrifício do Calvário, a Igreja usa palavras em latim, grego e hebraico.

P. A Igreja do Oriente e do Ocidente utilizaram a mesma língua na celebração da santa liturgia?
R. Não. A Igreja do Oriente utiliza, até hoje, tanto o grego antigo como o moderno, enquanto a Igreja do Ocidente adotou o latim, que era a língua mais usual e mais universal.

P. Que outros inconvenientes traria o uso da língua vulgar na celebração dos mistérios litúrgicos?
R. Além dos já apontados, quem não compreende que seria necessário multiplicar a publicação dos livros sagrados, não só para cada povo, mas para cada idioma de cada nação, e em todos os dialetos de cada língua; que seria necessário substituir as palavras conforme elas tomassem outro sentido ou se tornassem ridículas e inconvenientes; que a expressão da doutrina se alteraria infalivelmente em todas estas correções (lex orandi, lex credendi); que os fiéis que se deslocassem de uma província, ou de um país para outro, não entenderiam, absolutamente, nada; que poderiam ser introduzidos costumes e atitudes locais, quebrando a universalidade de expressão do sacrifício; e que, si se utilizassem línguas modernas, sem submetê-las às suas alterações e aos perigos delas provenientes, com o tempo voltaria a surgir a dificuldade que se pretendia solucionar, pois a própria língua pátria chegaria a ser ininteligível, como acontece, por exemplo, com o castelhano antigo ? Em suma, o uso do latim na Liturgia favorece a unidade da Igreja. O uso do vernáculo na Missa, além dos inconvenientes já apontados, de certo modo, faria da Liturgia da Igreja, uma torre de Babel.

P. Por que a Igreja conserva o uso do latim em seus ofícios litúrgicos?
R. A Igreja conserva em seus ofícios, e com suma prudência, sua antiga linguagem para manter e preservar, não só a unidade e a universalidade do santo sacrifício em si, mas também a doutrina nele contida e por ele ensinada, que é uma, invariável e eterna, como o próprio Deus que a instituiu. Os fiéis, que facilmente dispõem de traduções, e que recebem explicações em língua vulgar, com o constante e contínuo acompanhamento da liturgia em latim, irão se familiarizar com os textos sagrados e o entenderão perfeitamente. Ademais, o culto divino, em língua vulgar, perderia algo de sua misteriosa dignidade, por cuja única razão não seria, de forma alguma, conveniente que a Missa fosse celebrada em língua vulgar.

 

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MONTFORT Associação Cultural
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Online, 25/04/2024 às 02:21:43h