Igreja

O Vaticano II e o seu Catecismo são incriticáveis? Considerações sobre a posição neoconservadora do Reverendíssimo Padre José Eduardo
Eder Moreira

 

1-   Introdução

2-   O Papa Bento XVI e a crítica ao Vaticano II

3-   Os protestantes ajudaram a escrever o Vaticano II

4-   O ambíguo “subsist”: o modus operandi no Concílio

5-   Papa Pio VI contra a manobra da ambiguidade

6-   Um Concílio para agradar os inimigos: o secreto e traidor Pacto de Metz

7-   Conclusão

 

1-   Introdução

 

O recente lançamento de um livro crítico ao Catecismo do Papa João Paulo II - publicação da editora Centro Dom Bosco – suscitou uma nuvem de protestos dos adeptos da hermenêutica da elasticidade. Com o manjado malabarismo de sempre, pretenderam salvar o polissêmico magistério do Concílio Vaticano II.

Por esse caminho insolúvel, enveredou o Padre José Eduardo, atualmente conhecido por defender os falsos carismas da Renovação Carismática.

Em suas postagens de instagram, o reverendo sacerdote fez uma breve exposição histórica sobre o referido Catecismo. No desfecho, explicitou que não se trata de um simples manual pastoral, mas de uma norma doutrinal de referência para toda a Igreja. Em suma, para tranquilizar a turba de revoltados, o Padre assegurou que o novo Catecismo, fruto do Vaticano II, exprime a continuidade da fé católica, sem rupturas ou ambiguidades.

Antes de tecermos nossas críticas, mostrando a superficialidade e a imprecisão da hermenêutica neoconservadora, queremos salientar, aos devotos emocionados, que a correção fraterna aos superiores é um dever de caridade, como bem ensina a Sabedoria Angélica:

“Compadecei­vos, não só de vós mesmos, mas também dele, isto é, do prelado, que quanto mais está, dentre vós, num lugar superior, a tanto maior perigo se acha exposto. Ora, a correção fraterna é obra de misericórdia. Logo, também os prelados devem ser corrigidos [..] a correção fraterna, ato de caridade, incumbe a todos, relativamente a qualquer pessoa para com quem se deve ter caridade, se nela se encontrar o que deva ser corrigido” (Santo Tomás de Aquino. Suma Teologia, Parte II-II, Q. XXXIII, a. IV).

Que os fiéis da batinolatria – crentes na inerrância de padres só porque usam batina – meditem nas palavras de Santo Tomás. Que aprendam, de uma vez por todas, que a verdadeira caridade não é bajular, acariciando os erros, mas ensinar e corrigir os que erram, sobretudo publicamente!

 

2-   O Papa Bento XVI e a crítica ao Vaticano II

 

Para o Padre José Eduardo, o Catecismo exprime a continuidade, e não uma ruptura com a doutrina tradicional

l. Lançar sombras sobre sua inatacável clareza doutrinária é, no dizer do sacerdote, um ato “leviano” inadmissível. Insistir nas críticas ao Vaticano II, seria um ato “ignorante”, uma “teimosia” do “círculo da pirraça”.

Primeiramente, cabe salientar que o próprio Papa Bento XVI destruiu, definitivamente, o mito da infalibilidade do Vaticano II. Ao erigir o Instituto do Bom Pastor – cuja missão é rezar somente a Missa de Sempre e CRITICAR o Concílio – Bento XVI reconheceu que o Vaticano II é falível e contém problemas textuais. Afinal, se o Papa realmente acreditasse na precisão ortodoxa dos textos do Concílio, ele jamais concederia a possibilidade de criticá-los, supondo existir, nos próprios documentos, erros ou imprecisões.

No site oficial do Instituto, podemos averiguar a seguinte explicação:

“Mas o Concílio data de 1965 e não é mais um discurso fechado em si mesmo. Reconhecemo-lo pelo que é: um concílio ecumênico pertencente ao magistério autêntico, MAS NÃO INFALIVEL EM TODOS OS ASPECTOS e, devido ÁS SUAS NOVIDADES, enfrentando CERTAS DIFICULDADES EM SUA CONTINUIDADE COM O EVANGELHO E A TRADIÇÃO

https://www.institutdubonpasteur.org/decouvrir-linstitut/questions-frequentes/

Na sequência, continua o esclarecimento:

“Desejamos, portanto, participar construtivamente DE UM TRABALHO CRÍTICO sobre certos temas desenvolvidos durante e após o Concílio Vaticano II. Este debate, aberto no seio da Igreja pelo Papa Bento XVI, diz respeito AOS PONTOS DE DESCONTINUIDADE DOUTRINÁRIA SUSCITADOS PELO CONCILIO VATICANO II e que ESTÃO ABERTOS A QUESTIONAMENTOS

https://www.institutdubonpasteur.org/decouvrir-linstitut/questions-frequentes/

Como pode, padre, um Instituto fundado pelo Papa dizer que as novidades do Vaticano II são difíceis de conciliar com o Evangelho e a Tradição? Seria um Instituto de padres “pirracentos”, “teimosos” e “ignorantes”?

Segundo os padres do “círculo da pirraça”, o Vaticano II deve ser criticado, porque suas novidades suscitaram uma descontinuidade doutrinária!

Isso não é pirraça da Montfort!

Essa declaração é do IBP, cuja missão é criticar as falsidades e as ambiguidades do Vaticano II.

Não pense que o termo “ambiguidade” e “falsidade” também é uma pirraça da Montfort!

O autor dessas acusações é o Superior do IBP, o padre Philippe Laguérie, que em seu primeiro sermão, explicitou a Missão do Instituto:

“Quero dizer com isso que tudo aquilo que há de AMBÍGUO e mesmo DE FALSO [Nos Textos do Vaticano II] deve ser CORRIGIDO por nós” (Primeiro sermão do Pe. Laguérie como Superior do Instituto do Bom Pastor, 10 de setembro de 2006).

Confirmando o dever concedido pelo Papa Bento XVI, o Padre Laguérie (Superior do IBP), ressaltou que a Missão do Instituto é corrigir as ambiguidades e até as falsidades do Vaticano II.

Seria o superior do IBP um “ignorante teimoso”, membro do “círculo da pirraça”?

E como poderia ser um ignorante pirracento, sendo que estava somente dando a conhecer a vontade do Papa?

O sr. terá coragem de chamar o Papa Bento XVI de “pirracento ignorante”, padre José Eduardo?

Sinto-lhe dizer, padre, mas o IBP foi o sepultamento do Vaticano II.

Esclarecendo os pontos AMBÍGUOS E FALSOS do Concílio, que precisam ser CRITICADOS, o Superior do Instituto citou dois exemplos. Um deles é o problemático “subsistit”, sobre o qual afirmou o padre Laguérie, debochando:

"Pode-se dar todo tipo de sentido a esse 'subsistit in'. É dito no concílio Vaticano II que a Igreja fundada por Jesus Cristo subsiste na Igreja Católica, ao passo que a doutrina tradicional é evidentemente que a Igreja fundada por Jesus Cristo é a Igreja Católica [...] Eu vos cumprimento pelo nome quando vos encontro na rua, eu não cumprimento 'aquele que subsiste em vós'"

(Primeiro sermão do Pe. Laguérie como Superior do Instituto do Bom Pastor, 10 de setembro de 2006).

Sobre a liberdade religiosa, enfatizou o Superior do IBP:

“[...] a liberdade religiosa fez escorrer muita tinta, vós o sabeis, e efetivamente, há coisas aparentemente e TEXTUALMENTE CONTRADITÓRIAS COM O MAGISTÉRIO PRECEDENTE

Tudo isso foi dito com a aprovação do Papa! Sob o pontificado de Bento XVI!

Seria o Papa um teimoso e pirracento, contra o Vaticano II?

Ao invés de digladiar com leigos de internet, porque o sr. não direciona suas críticas às autoridades da Igreja? Chame os padres do IBP, a serviço do Papa, de teimosos do clubinho da pirraça! Chame o Cardeal Ratzinger, que nos brindou com ácidas críticas ao Vaticano II e à Missa Nova. E por que o sr. não critica o Papa Bento XVI? E o que dizer de Dom Athanasius Schneider, que tem a mesma posição daqueles que o sr. chama de pirracentos ignorantes?

Para seu desgosto, padre, as críticas ao Vaticano II – admitidas e incentivadas pelo Papa Bento XVI – nos permite concluir que o Novo Catecismo também pode ser criticado, pois ele repete as novidades do Concílio. Podemos dizer mais: se é possível (conforme reconheceu o Papa) haver erros nos documentos do Concílio – pois só se permite criticar o que pode conter erros – do mesmo modo, porque repete os ensinamentos criticáveis do Vaticano II, pode o Novo Catecismo conter erros ou imprecisões censuráveis.

Espero que o sr. não faça um magistério privado, julgando, pejorativamente, o Papa que normatizou e incentivou a crítica ao ambíguo Vaticano II.

Resgatando os ensinamentos do Cardeal Joseph Ratzinger, encontramos os motivos pelos quais ele autorizou, enquanto Papa, a crítica ao Vaticano II.

Compreendendo a descontinuidade entre o Concílio e o Magistério precedente, declarou, bombasticamente:

“Se se deseja emitir um diagnóstico global sobre esse texto [Gaudium et Spes], poderia dizer-se que significa (junto com os textos sobre a liberdade religiosa e sobre as religiões mundiais) uma revisão do Syllabus de Pio IX, uma espécie de Antisyllabus” (Cardeal Joseph Ratzinger. Teoria de los Princípios Teológicos. Herder, Barcelona, 1985, p. 454).

Em termos claros, declarou o Cardeal que houve uma descontinuidade [ruptura] entre o documento do Vaticano II (Gaudium et Spes), e o Syllabus, do Papa Pio IX.

Firme nessa convicção, o Cardeal Ratzinger dirá – com justa propriedade – que é preciso ter COMPREENSÃO com aqueles que criticam o Vaticano II:

“Para outros, o concílio [Vaticano II] deu um grande escândalo ao ceder terreno ao mundo desvirtuado. Esses últimos lamentam-se pelo fato de o concílio ter provocado verdadeiras crises e ter discutido coisas que para eles estavam absolutamente certas [...] os mais conservadores se perguntam: e o concílio, não enveredou ele por um caminho completamente oposto e que só poderá conduzir a uma meta bem diversa que não a da conversão? Nenhuma dessas dúvidas, de qualquer corrente de pensadores que proceda, deve ser desprezada. É preciso haver muita compreensão com relação às críticas sobre o concílio." (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie. Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969. Trad. Clemente Raphael Mahl. O Novo Povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 1974, p. 282).

Compreensão, Padre José Eduardo, e não condenação!

Mas, não foi apenas um Cardeal (que depois se tornou Papa) que fez acusações graves ao Vaticano II, base doutrinária do Novo Catecismo. O próprio João Paulo II assim asseverou:

“Nos documentos do Vaticano II, pode-se encontrar uma sugestiva síntese da relação entre o cristianismo e o Iluminismo” (João Paulo II. Memória e Identidade. Editora Objetiva: Rio de Janeiro, 2.005, p. 126).

Ao invés de condenar o iluminismo maçônico (inimigo de Deus e da Igreja), encontramos nos documentos do Vaticano II uma síntese da relação entre as verdades de Cristo (Cristianismo) e as mentiras da maçonaria (o iluminismo).

Como concordar, com o Padre José Eduardo, que o Vaticano II é uma absoluta continuidade da fé tradicional?

Aceitar essa fantasia é um ato de estrangulamento intelectual!

Para trazer mais amargura ao coração neoconservador, lembramos que o Papa Paulo VI também explicitou as chagas modernistas do Vaticano II. Em seu discurso de encerramento, não hesitou em revelar a direção humanista do Concílio. Concorde ou não, é o próprio Papa [do Vaticano II] que garante que o Concílio tomou uma direção antropocêntrica, portanto, contrária a Lei de Deus e a doutrina tradicional, que é Teocêntrica:

“Tudo isto e tudo o mais que poderíamos ainda dizer acerca do Concílio, terá porventura desviado a Igreja em Concílio para a cultura actual que toda é antropocêntrica? Desviado, não; voltado, sim

https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651207_epilogo-concilio.html

É claro que um neoconservador, adepto da nova linguagem aggiornata do Vaticano II, dirá que se trata de um antropocentrismo cristão! Um culto que coloca o homem no lugar de Deus, com verniz de catolicismo!

Pode isso, padre?

Mas, Isso não é de causar espanto!

Já se pretender fazer até o funck cristão!

Por que não um satanismo evangélico?

Eis os frutos do primaveril Vaticano II!

Primavera que nunca chegou!

Ao contrário, como disse Paulo VI, trouxe a fumaça de Satanás para dentro do Templo de Deus!

Paulo VI disse mais, sobre a “continuidade” do Vaticano II:

“Vós, humanistas do nosso tempo, que negais as verdades transcendentes, dai ao Concílio ao menos este louvor e reconhecei este nosso humanismo novo: também nós — e nós mais do que ninguém somos cultores do homem

https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651207_epilogo-concilio.html

A maçonaria não diria diferente!

Uma vez que o Concílio adotou o antropocentrismo, que coloca o homem no lugar de Deus, era natural que houvesse um culto a esse novo deus do Vaticano II. Por isso, a Nova Missa tinha que agradar ao Homem. Em sua honra, o latim foi sacrificado! O altar virou mesa! O sacrário foi chutado para a lateral da Igreja! O padre virou as costas para Deus!

É isso que o sr. chama de continuidade?

 

3-   Os protestantes ajudaram a escrever o Vaticano II

 

Dizer que os protestantes ajudaram a escrever os documentos do Vaticano II, pode soar audacioso para o padre José Eduardo. Entretanto, é o que prova os testemunhos insuspeitos dos observadores e dos próprios peritos do Concílio. As provas históricas desse lastimável ocorrido é incontestável! E como diz a máxima: “contra fatos, não há argumentos”.

Para não sobrecarregar de citações, pois são numerosas, selecionaremos as mais escandalosas, que denotam, sem sobra de dúvidas, a cooperação dos protestantes na redação dos documentos do Vaticano II.

Isso é importante demonstrar, pois, como já dito, o Novo Catecismo repete a doutrina dos documentos do Concílio. Logo, se o Vaticano II tem o dedo protestante, o Novo Catecismo também contém um ensino protestantizado!

Isso é história e lógica!

Não é hermenêutica!

É fato!

Incontestável!

Comecemos pelo luterano Oscar Cullmann, observador no Vaticano II:

“As expectativas dos protestantes em relação ao Vaticano II não foram apenas satisfeitas, mas as realizações do Concílio foram muito além do que era considerado possível” (apud Michael Davies. O Concilio de João XXIII. Niterói: Permanência, 2018, p. 131).

Um Concílio que satisfaz as expectativas dos hereges é realmente preocupante. Se ele vai além do que era esperado, é algo gravíssimo! Normalmente um Concílio desagrada os inimigos de Deus, porque confirma a doutrina Católica. Mas, no caso do Vaticano II, seus documentos deixaram os hereges mais do que satisfeitos!

Diante da satisfação protestante, fica difícil, senão impossível, aceitar que o Vaticano II manteve a continuidade com a Fé bimilenar da Igreja.

Ouçamos o protestante George Lindbeck, também observador no Concílio:

“O Concílio marcou o fim da Contra-Reforma” (op. cit. p. 132).

Como pode, padre José Eduardo, um observador enxergar, no Vaticano II, o fim do Concílio Infalível de Trento? Isso é uma declaração incontestável de que houve uma ruptura com a doutrina tradicional.

Mas, ouçamos também o Dr. Moorman, observador Anglicano no Vaticano II:

“Apesar de não ser permitido que os observadores falassem no Concílio, seus discursos eram às vezes levados a público por um ou outro Padre... ‘Os observadores podiam’ comunicar seus pontos de vista nas reuniões semanais especiais do Secretariado ‘(para a Unidade)’, e estavam em contato pessoal com os Padres conciliares, peritos e outras personalidades” (op. cit. p. 135).

Transmitir as próprias opiniões (serpentinas), não era um obstáculo para os hereges protestantes. Essa participação foi facilitada e incentivada pelos padres conciliares. Resta saber, por qual motivo os redatores dos documentos queriam saber a opinião dos protestantes antes de promulgar os documentos! Queriam eles [os protestantes], ajudar a Igreja católica a reafirmar a sua doutrina tradicional? É claro que a cooperação visava mudar a doutrina, no sentido de agradar aos protestantes!

Ouçamos agora o Robert McAfee Brown, observador presbiteriano no Concílio:

“Particularmente durante a discussão sobre o ecumenismo, era aparente que muitos bispos queriam saber quais eram as reações protestantes às declarações do schema sobre o protestantismo, e queriam descobrir as opiniões protestantes sobre como o Schema podia ser melhorado. Assim, apesar de não termos tido uma ‘voz’ direta no plenário do Concílio, tivemos realmente uma voz indireta por meio dos muitos contatos possíveis com os Padres e seus fortes e indispensáveis braços direitos, os peritos” (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 501).

Prossegue esse Observador:

“Á medida que as sessões do Concílio se desenvolveram, o papel dos observadores tornou-se mais e mais o de participantes informais. Eles não tinham obviamente voz ou voto, mas à medida que se estabelecia a confiança e harmonia entre os observadores e os Padre Conciliares, havia uma crescente troca de opiniões. O Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos organizava reuniões oficiais semanais entre os observadores e os membros do Concílio, nas quais os observadores eram convidados a comentar francamente sobre os documentos sob discussão, e – particularmente quando os documentos lidavam com questões ecumênicas – suas opiniões eram tratadas com verdadeira seriedade pelos líderes do Concílio. Mudanças frequentes na redação ou no tom dos documentos finais pode ser rastreadas até essas sessões de troca de informações” (apud Michael Davies. O Concilio de João XXIII. Niterói: Permanência, 2018, p. 135).

Os textos do Vaticano II eram adequados à vontade dos protestantes!

Continuidade, padre José Eduardo?

Segundo esse Observador, havia ocasiões em que os observadores eram capazes de ter voz direta no Concílio:

“Há algo que vocês, observadores, querem que seja dito no plenário do Concílio sobre o ecumenismo? ‘Os observadores colocavam então suas opiniões por escrito, e estas eram incorporadas nas intervenções escritas feitas em nome deles pelos bispos’” (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 501-502).

Aterrorizante, não acha Padre José Eduardo?

Está estampado que os observadores protestantes ajudaram a elaborar os documentos do Vaticano II. Logo, o Novo Catecismo, repetidor da doutrina do Concílio, contém o dedo do protestantismo.

A própria história se encarrega de desmantelar a hermenêutica da elasticidade, que faz de tudo para salvar a língua ambígua do Vaticano II.

Tem mais, Padre!

Como disse, as provas não numerosas e irrefutáveis!

Ouçamos o Arquidiácono Pawley, observador anglicano no Concílio:

“... no curso do próprio Concilio, as mais pelas cortesias e oportunidades para comunicação e troca de ideias eram dadas aos observadores em cada etapa, e traços do processo podem ser reconhecidos nos próprios documentos” (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 501).

Para confirmar que os protestantes ajudaram a escrever o Vaticano II, o anglicano Pawley diz que os próprios documentos do Concílio mostram essa contribuição.

Para não dizer que tudo isso é pura invenção dos protestantes, ouçamos um importante membro do Vaticano II, o provável maçom Augustín Bea (Presidente do Secretariado para a Unidade dos Cristãos).

 Referindo-se ao Decreto sobre o Ecumenismo, declarou esse Cardeal:

“Não hesito em afirmar que eles [os protestantes] contribuíram de forma decisiva para alcançarmos esse resultado” (Michael Davies. O Concilio de João XXIII. Niterói: Permanência, 2018, p. 135).

Compreendeu, padre Eduardo? É o próprio Presidente do Secretariado (Confessor do Papa Pio XII) que atesta a contribuição protestante, particularmente quanto ao texto sobre o Ecumenismo.

O sr. ainda duvida, padre? Acredita, contra todas as evidências, que existe uma absoluta continuidade do Vaticano II com a Fé tradicional?

O Professor B. Mondim, do Pontifício Colégio para a Propagação das Missões, também trouxe à tona essa escandalosa participação. Segundo essa autoridade, os observadores (protestantes) prestaram “uma contribuição válida” para a redação dos Documentos do Concílio” (op. cit. p. 135).

Os documentos do Vaticano II são, portanto, frutos das mãos heréticas!

É o que também atesta um perito do Vaticano II, o Padre Schillebeeckx:

“Espanta quando você vê que tem mais simpatia pelo pensamento de ‘observadores’ cristãos não católicos do que pelas opiniões de seus próprios irmãos do outro lado da linha divisória. Logo, a acusação de conivência com a Reforma [Protestante] não é de todo infundada” O que está, de fato, acontecendo então?” (op. cit. p. 136).

De acordo com esse perito do Vaticano II, não é infundada a acusação dos tradicionalistas. Portanto, tem fundamento a acusação de que os protestantes ajudaram a escrever o Vaticano II.

As fontes são insuspeitas!

O Novo Catecismo é tão criticável quanto o Vaticano II, expressão da vontade protestante!

 

4-   O ambíguo “subsist”: o modus operandi no Concílio

 

Empenhado em sua defesa do Vaticano II – cuja lendária infalibilidade foi destruída pelo Papa Bento XVI – o Padre José Eduardo enveredou na defesa do serpentino “subsistit”, termo nebuloso do protestantizado Vaticano II.

Imprudentemente, o Vaticano II abandonou a solene definição: a Igreja de Cristo É a Igreja Católica.

Este foi o ensino do Papa Pio XII:

“... esta verdadeira Igreja de Cristo - que É a santa, católica” (Papa Pio XII. Encíclica Mystici Corporis, nº. 13).

Do modo idêntico, o ensino do Papa Leão XIII:

“A Igreja [...] É o corpo de Cristo dotado de vida sobrenatural” (Satis Cognitum)

Também o Apóstolo, em sua Carta ao Efésios:

“E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu [Cristo] chefe supremo da Igreja, que É o seu corpo” (Efésios I, 22-23).

Essa tradicional expressão do Magistério da Igreja, nunca deu margem para falsas interpretação! Já o ambíguo subsistit – novidade do Vaticano II – gerou uma celeuma que obrigou a Santa Sé a intervir para precisar o vocábulo protestantizante!

Perguntamos ao Padre José Eduardo: a Igreja errou ao insistir – por dois mil anos – que a Igreja de Cristo É a Igreja Católica? Se a Igreja sempre acertou, adotando (por inspiração divina) o verbo Ser – e não o ambíguo subsistit – porque então abandonar uma expressão segura, garantida pela assistência divina, para inaugurar, depois de dois milênios de Magistério, uma terminologia com sabor de heresia? Um vocábulo que favorece uma interpretação errônea acerca da Igreja de Cristo?

Os defensores do subsistit, juntamente com o Padre José Eduardo, alegam um sentido ortodoxo, em sintonia com a verdade tradicional. Sem querer ensinar o padre, afirmamos que o problema não é, especificamente, a possibilidade de um sentido católico para a novidade terminológica do Vaticano II. O que deve ser indagado, exatamente, é o motivo de tal mudança, passando [imprudentemente] de uma expressão absolutamente segura, para outra ambígua, que suscitou uma hermenêutica da descontinuidade.

Antes de avançarmos para o motivo da infeliz mudança terminológica, mostraremos, ao Padre José Eduardo, que a crítica ao subsistit não é exclusiva de leigos de internet, tampouco de meros católicos da periferia!

Como já demonstramos, o Superior do Instituto do Bom Pastor – Padre Laguérie – cuja missão é CRITICAR as falsidades e ambiguidades do Vaticano II, observou, como bom teólogo, o problema da ambiguidade subjacente no serpentino subsistit.

Seria esse padre – a serviço de Bento XVI – um ignorante pirracento, padre José Eduardo?

A crítica ao subsistit também aparece na pena do Bispo Athanasius Schneider:

“Esta afirmação do oitavo capitulo de Lumen Gentium traz um sério ENFRAQUECIMENTO e OBSCURECIMENTO dessa verdade. Repito, ela não constituiu uma rejeição direta da verdade; não é errado meramente dizer que a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica, mas pode conduzir a declarações ENGANOSAS, FALSAS E AMBÍGUAS. Essa declaração pode significar que a Igreja de Cristo, a Igreja que Deus quis, subsiste também em várias comunidades e igrejas não católicas. Essa é a conclusão lógica dessa inovação conciliar. É PERIGOSO, AMBÍGUO, e ainda EXIGE UMA INTERPRETAÇÃO CORRETA. Teríamos que dizer: a Igreja de Cristo é a Igreja Católica e nela permanece. A expressão subsistit por si mesma, não é suficiente” (Dom Athanasius Schneider. A Primavera que nunca chegou. SJC: Gratia, 2024, p. 243).

Veja que não é uma discussão de periferia!

Não é birra ou pirraça de leigo de internet.

Teria coragem, padre, de também chamar o Bispo Schneider de teimoso, ignorante e membro do círculo da pirracinha?

Que o troiano subsistit – inovação infeliz do Vaticano II – favoreceu a hermenêutica modernista, admite o Padre K. J. Becker, professor da Gregoriano e Consultor da Congregação para a Doutrina da Fé:

“Infelizmente, durante esses quarenta anos após o Concílio, UM GRANDE NÚMERO DE PUBLICAÇÕES PROPÔS UMA INTERPRETAÇÃO DO SUBSISTIT IN QUE NÃO CORRESPONDE À DOUTRINA DO CONCÍLIO” (apud Pe. Álvaro Calderón. Prometeu: a Religião do Homem. São Paulo: Castela Editorial, 2020, p. 229).

No mesmo sentido, asseverou o Monsenhor Fernando Ocáriz:

“Como se sabe, esta celebre expressão – subsistit in – TEM SIDO OBJETO DEINTERPRETAÇÕES CONTRADITÓRIAS” (apud Pe. Álvaro Calderón. Prometeu: a Religião do Homem. São Paulo: Castela Editorial, 2020p. 231).

A razão dessa mudança terminológica, agradável aos irmãos separados, expõe o Padre Álvaro Calderón:

“Como já dito, esta misteriosa expressão foi empregue para cumprir duas tarefas: a tarefa ‘ad extra’ de abrir a porta para o ecumenismo, dando a entender que a Igreja de Cristo não se identifica totalmente com a Igreja Católica, e a tarefa ‘ad intra’, de permitir a tradução, em caso de urgência, pelo bom e velho ‘est. A tarefa ecumênica fôra cumprida com sucesso, e com tal sucesso que já pouco se acreditava na unidade da Igreja” (Pe. Álvaro Calderón. Prometeu: A Religião do Homem. São Paulo: Catela Editorial, 2020, p. 226).

Eis a astuta manobra serpentina da ambiguidade Conciliar!

Manobra, esta, confirmada pelos próprios integrantes do Vaticano II.

O ecumenismo modernista precisava do subisistit, tal como o diabo precisa da língua dupla para mais facilmente ludibriar!

É o que confessou o Cardeal Ratzinger, em uma Conferência sobre “A Eclesiologia da Lumen Gentium”:

“Chegados a este ponto, precisamos analisar um pouco mais profundamente o significado da palavra ‘subsistit’. Com esta expressão o Concílio afasta-se da fórmula de Pio XII que, em sua encíclica Mystici Corporis Christi dissera: a Igreja Católica ‘é’ (‘est’) o único corpo de Cristo. NA DIFERENÇA ENTRE ‘SUBSISTIT’ E ‘EST’ SUBJAZ TODO O PROBLEMA ECUMÊNICO (apud Pe. Álvaro Calderón. Prometeu: a Religião do Homem. São Paulo: Castela Editorial, 2020, p. 238).

Quão importante era a introdução do subsistit para o ecumenismo! Era preciso livrar-se do empecilho tradicional, o inequívoco “EST” de Pio XII, para favorecer o diálogo irenista do Vaticano II.

Da ambiguidade propositalmente introduzida, tirou-se as conclusões implícitas, conforme havia delatado o padre Schillebeeckx. Por isso, depois do Concílio, houve uma “Instrução para o dialogo” do Secretariado para os Não Crentes (28 de Agosto de 1968). Nessa Instrução, afirmou-se que o diálogo não tem por objetivo a refutação e nem a conversão dos não crentes (apud Romano Amerio. Iota Unum: Um estudo das mudanças da Igreja Católica no século XX. Rio de Janeiro: Permanência, 2020, p. 336).

O Secretário do Secretariado, o modernista Cardeal Koening, assim declarou sobre os fins do diálogo ecumênico, proclamado pelo Vaticano II:

“O diálogo coloca os interlocutores em pé de igualdade. Nele, o católico não está posto como alguém que possui toda a verdade, mas como aquele que, tendo a fé, procura essa verdade com os outros, crentes e não crentes” (ICI, n0 322, p.20, 15 de Outubro de 1968 apud Romano Amerio. Iota Unum: Um estudo das mudanças da Igreja Católica no século XX. Rio de Janeiro: Permanência, 2020, p. 338-339).

Esse ecumenismo irenista, condenado pelo Papa Pio XI na Mortalium Animos, é a conclusão da letra venenosa do Vaticano II.

Lembrando que esse ecumenismo condenado foi aprovado e aplicado sob o pontificado do Papa Paulo VI. Mas isso é compreensível, uma vez que o próprio Papa do “diálogo” explicitou a raiz do novo ecumenismo:

“Descobre-se no diálogo como são diversas as vias que levam à luz da fé, mas como apesar disso é possível fazê-las convergir para o mesmo fim. Ainda que sejam DIVERGENTES, PODEM TORNAR-SE COMPLEMENTARES, levando o nosso raciocínio para fora das sendas comuns e OBRIGANDO-O a aprofundar as investigações e A RENOVAR OS MODOS DE EXPRESSÃO. A dialética deste exercício de pensamento e de paciência far-nos-á descobrir elementos de verdade mesmo nas opiniões alheias” (Paulo VI. Ecclesiam Suam, Nº. 48).

É justamente o ecumenismo – condenado pelos Papas – que irá afirmar (com Paulo VI) que os caminhos contrários podem ser complementares, e até convergentes!

Imagine, padre, dois caminhos contrários: catolicismo e protestantismo.

Diga-me: como esses dois caminhos (católico e protestante) podem ser complementares e convergentes? Podem ambos levar para o Céu?

É Paulo VI quem declarou!

Diante da nova concepção sobre as seitas (caminhos contrários à salvação), o Papa vê a obrigação de mudar os conceitos e as expressões [tradicionais], para as novas expressões [falsas e ambíguas] do Vaticano II.

Pelo menos o Papa definiu essa primeira Encíclica (Ecclesiam Suam) como uma despretensiosa conversação epistolar. Em outras palavras, ele escreveu – pela primeira vez na história da Igreja – um encíclica para simplesmente bater um papo!

Mas, o Padre José Eduardo insiste em sua hermenêutica fora da realidade! E para salvar o subsistit da Lumen Gentium, informou que, o autor dessa novidade, foi o Tomista Sebastian Tromp, e não um pastor protestante, como sugeriu o Centro Dom Bosco. Conclusão: se o termo foi proposto por um “tradicional”, ele é insuspeito de má intencionalidade!

O Padre realmente não conhece o modus operandi no Concílio.

A presença de “tomistas” no Vaticano II não foi suficiente para assegurar uma letra sem erros e ambiguidades! Desculpe, padre, mas isso é uma pura ingenuidade! Basta considerar a vergonhosa trapaça no Concílio para NÃO condenar o Comunismo. O mesmo se pode dizer com relação a Nossa Senhora, cujo destaque foi sufocado para não comprometer – definitivamente – o desastroso diálogo ecumênico do Vaticano II.

Havia conspirações, padre! Ou o sr. acredita, contra os fatos históricos, no homem bonzinho de Rousseau?

O historiador Roberto de Mattei, nos brinda com uma informação que minimiza a força do “tomismo” nas decisões do Vaticano II:

“Já desde o dia 15 de outubro o Cardeal Suenens tinha pedido ao teólogo Gérard Philips que redigisse um novo texto do De Ecclesia. Philips tinha trabalhado EM SEGREDO, COM A COLABORAÇÃO DE ALGUNS TEÓLOGOS DA SUA CONFIANÇA, como Congar, Colombo, Rahner, Ratzinger, Semelroth e McGrath, ÁS OCULTAS DA COMISSÃO TEOLÓGICA PREPARATÓRIA, mas o texto tinha chegado às mãos de Tromp, o secretário da Comissão Teológica, que tinha mostrado irritado. Com efeito, era uma prova de inegável deslealdade um teólogo trabalhar em segredo sobre um texto alternativo ao da própria comissão à qual pertencia e da qual era consultor. Philips estava ciente da incorreção de tal iniciativa: ‘O trabalho é, por assim dizer, SECRETO. [...] Prevejo que, a determinada altura, os fatos se tornarão conhecidos, e que eu ficarei numa situação muito incômoda. Mas NÃO POSSO RECUSAR ESTE SERVIÇO, QUE ME FOI SOLICITADO PELO EPISCOPADO BELGA” (apud Roberto de Mattei. Concílio Vaticano II: uma história nunca escrita. São Paulo: Editora AC, 2013, p. 226-227).

 

 

 

Havia, então, uma forte e organizada atuação secreta no Vaticano II. Força essa, capaz de sufocar e até de se impor contra o mais genuíno tomismo trompeuse. A propósito, o fato de Tromp estar envolvido na proposital implantação do ambíguo subsistit, ressalta a astúcia da organização secreta no Concílio:

“Era preciso por algo no lugar do ‘est’, e quanto mais misteriosa fosse a expressão escolhida melhor, pois era um expediente que não devia dar nas vistas. E tanto melhor se o seu autor fosse o mesmo que havia defendido o ‘est’ em Mystici Corporis” (Padre Álvaro Calderón. Prometeu: a religião do Homem. São Paulo: Editora Castela, 2020, p. 238).

Estratégia modernista, padre!

Quem estuda a história eclesiástica não se surpreende com as conspirações dentro da Igreja.

O fato do pastor Wilhelm Schmidt não ter sido o “autor” direto do subsistit, não significa – de modo definitivo – que não tenha sido, nos contatos informais, uma sugestão protestante que foi absorvida pelas autoridades do Concílio. Como demonstramos nas citações, os protestantes influenciaram as decisões do Concílio e a redação dos seus documentos, sobretudo nas questões relacionadas ao ecumenismo!

Para saber se realmente os subsistit do Vaticano II agradou os protestantes, por causa da ambiguidade que os favorecia, basta recordar a reação deles quando da publicação da Declaração Dominus Jesus:

“Em Paris, o presidente da Federação Protestante da França, pastor Jean Arnold de Clermont, disse que o documento era uma ‘triste surpresa’. Para o presidente do Conselho da Igreja Evangélica Alemã, reverendo Manfred Kock, FOI UM ‘REVÉS’. Na Inglaterra, o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, George Carey, disse que O TEXTO PARECE IGNORAR MAIS DE TRÊS DÉCADAS DE DIÁLOGO ECUMÊNICO [...] ‘FOI UM ENORME PASSO PARA TRÁS’, disse o secretário executivo da entidade, o pastor luterano Ervino Schmidt. ‘É doloroso ouvir um representante do papa dizer que as igrejas nascidas da Reforma não são igrejas’”. (Roldão Arruda. Declaração provoca reações imediatas In O Estado de São Paulo, Geral, Quarta-feira, 6 de setembro de 2000).

Por que a decepção protestante com a Declaração Dominus Iesus? Porque o documento voltou a exprimir a clássica identidade entre a Igreja de Cristo e a Igreja Católica, condenando a falsa interpretação, gerada pela ambiguidade da expressão:

 

"Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica – radicada na sucessão apostólica – entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: Esta É a única Igreja de Cristo” (Dominus Iesus, 16).

A Dominus Iesus sepultou o subsistit, cavalo de troia do ecumênico Vaticano II.

A manobra da ambiguidade, que tanto agradou aos protestantes, foi sufocada pela autêntica interpretação!

A letra do Concílio – propositalmente ambígua – precisou ser esclarecida para minimizar a confusão hermenêutica!

O desagrado dos protestantes revelou a simpatia que eles tinham pelo subsistit, e que sua introdução estava nos planos da manobra da ambiguidade, cujo fim era atender às suas sugestões!

O grande motivo dessa mudança – est para subsistit – nos revela a própria história, devidamente documentada!

A ambiguidade foi o cavalo de tróia dos modernistas no Vaticano II. O modus operandi da aliança revolucionaria foi exposto pelo Padre Schillebeeckx:

“Nós o expressamos de uma forma diplomática, mas depois do Concílio TIRAREMOS AS CONCLUSÕES IMPLÍCITAS” (apud Romano Amerio. Iota Unum: Um Estudo das Mudanças na Igreja Católica no Século XX. Rio De Janeiro: Editora Permanência, 2020, p. 120).

Falar ambiguamente, para depois tirar as conclusões modernistas!

Eis o modus operandi nos textos do Vaticano II.

No que se refere a questão da Colegialidade, revela o perito conciliar (Padre Schillebeeckx), que “a minoria tinha compreendido perfeitamente que O FRASEADO VAGO DO ESQUEMA SERIA INTERPRETADO EM UM SENTIDO MAIS FORTE DEPOIS DO CONCÍLIO [...] A maioria, dizia, tinha recorrido a uma TERMINOLOGIA DELIBERADAMENTE VAGA E EXCESSIVAMENTE DIPLOMÁTICA” (Ralph Wiltgen. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 2007, p. 245).

Conforme expõe o Teólogo Romano Amerio, a manobra modernista pela ambiguidade também se manifestou nas próprias palavras do Cardeal Pericle Felici, secretario geral do Concílio. Para essa autoridade importante do Vaticano II, “a Constituição Gaudium et Spes ‘maiore litura’ [isto é, com maior polimento] PODIA TER SIDO APERFEIÇOADA EM ALGUMAS EXPRESSÕES” (apud Romano Amerio. Iota Unum: Um Estudo das Mudanças na Igreja Católica no Século XX. Rio De Janeiro: Editora Permanência, 2020, p. 115).

Um texto imperfeito para uma manobra perfeita!

Isso não é tudo, padre José Eduardo!

Temos também a revelação de outro teólogo do Vaticano II.

Veja o que nos informa o padre Karl Rahner, sobre a operação ambiguidade no Vaticano II:

“... deixou-se aberto um certo número de questões teológicas importantes, sobre as quais não se chegaria a acordo, escolhendo-se formulações que poderiam no Concílio ser interpretadas DIFERENTEMENTE POR GRUPOS E TENDENCIAS TEOLÓGICAS” (K.Rahner e H.Vorgrimler, Kleines Konzilskompendium. Samtliche Texte dês Zweten Vatikanumes, Fribourg, Herder, 1986, p. 21).

Que o Vaticano II foi propositalmente ambíguo, conforme confessam as autoridades insuspeitas, pode-se deduzir da própria confissão do Papa Bento XVI:

“São todos temas de grande alcance - eram os grandes temas da segunda parte do Concílio – sobre os quais não é possível deter-se mais amplamente neste contexto. É claro que em todos estes setores, que no seu conjunto formam um único problema, podia emergir alguma forma de descontinuidade e que, em um certo sentido, se tinha manifestado de fato uma descontinuidade, na qual todavia, feitas as diversas distinções entre as históricas situações concretas e as suas exigências, resultava não abandonada a continuidade nos princípios – FATO ESTE QUE FACILMENTE FOGE À PRIMEIRA PERCEPÇÃO” (Bento XVI, Discurso à Cúria em 22 de Dezembro de 2.005. O destaque é nosso).

A frase em destaque é a chave que confirma a falta de precisão terminológica do Vaticano II. Bento XVI afirma que “a primeira percepção” da letra do Concílio leva para uma conclusão de ruptura com a doutrina tradicional. Ora, é justamente o efeito da ambiguidade, cuja terminologia favorece sentidos contraditórios.

É o Papa quem acusou o Vaticano II de ter adotado uma linguagem serpentina! Uma letra nova, com expressões que, “à primeira vista”, favorece uma hermenêutica da descontinuidade!

Ambiguidade implantada!

Ambiguidade constatada!

Pelo Papa!

Não pela Montfort!

Interpretando esse Discurso do Papa, declarou o Abbé Tinotti:

“Se a ‘má’ interpretação, que se apresenta como a do ‘espírito’ do concílio eventualmente contra o próprio ‘texto’ oficial, se pode se apoderar dos textos a ponto de quase desqualificar a sua boa leitura, é que esses textos POR SI MESMOS ABRIAM GRAVEMENTE O FLANCO PARA ESSAS LEITURAS, é que em parte ELES ESCONDIAM TAIS AMBIGUIDADES QUE ESSAS LEITURAS PODIAM SE APODERAR DELES IMPUNEMENTE. Caso contrário essas leituras teriam sido logo abandonadas em vez de se imporem” (Abbé Charles Tinotti, publicado pelo Abbé Aulagnier in Regard sur le Monde, no. 28, 17 de janeiro de 2.006).

A ‘pirraça” contra a letra ambígua do Vaticano II não é somente dos leigos, padre José Eduardo. O círculo da “ignorância” e da “teimosia” vai além dos limites da periferia! Ela envolve padres, bispos e até um Papa! O sr. precisa analisar melhor, antes de rotular os críticos do Vaticano II e do Novo Catecismo!

 

5-   Papa Pio VI contra a manobra da ambiguidade

 

A hermenêutica da ruptura foi possível – conforme ensinou bento XVI – por causa da imprecisão terminológica do Vaticano II. Essa proposital ambiguidade foi, em grande parte, o mal do Concílio. Ora, a Igreja sempre condenou essa manobra dos hereges, que consiste em introduzir erros com a aparência de verdade, por meio de expressões ambíguas.

Prova dessa condenação, encontramos no ensinamento do Papa Pio VI, que condenou o Sínodo de Pistoia. O trecho é grande, mas vale a pena reproduzi-lo:

"Eles [os Papas nossos predecessores, os Bispos, e certos Concílios Gerais] CONHECIAM BEM A ARTE MALICIOSA PRÓPRIA DOS INOVADORES, os quais, temendo ofender os ouvidos dos católicos, se esforçam por encobrir SOB FRAUDENTOS JOGOS DE PALAVRAS os laços das suas astúcias, AFIM DE QUE O ERRO, ESCONDIDO ENTRE SENTIDO E SENTIDO (São Leão Magno., Carta 129 da edição Baller), SE INSINUE MAIS FACILMENTE NOS ESPÍRITOS E ACONTEÇA QUE – ALTERADA A VERDADE DA SENTEÇA por meio de um curtíssimo acréscimo ou variante o testemunho que devia dar a salvação, EM CONSEQUÊNCIA DE UMA SUTIL MODIFICAÇÃO, conduza à morte. Se esta INDESEJÁVEL E FALAZ MANEIRA DE DISSERTAR é viciosa em qualquer manifestação oratória, DE NENHUM MODO DEVE SER PRATICADO NUM SÍNODO, cujo primeiro mérito deve consistir no ADOTAR NO ENSINO UMA EXPRESSÃO DE TAL MODO CLARA E LÍMPIDA QUE NÃO DEIXE ESPAÇO AO PERIGO DE CONTROVÉRSIAS. Porém, se no falar se engana, não se pode admitir aquela subdola defesa que se costuma aduzir e pela qual, quando tenha sido dita alguma expressão dura demais, se se encontra a mesma explicada mais claramente em outra passagem, ou ainda corrigida, como se esta desenfreada licença de afirmar e de negar a bel prazer, QUE SEMPRE FOI UMA FRAUDULENTA ASTÚCIA DOS INOVADORES COMO COBERTURA DO ERRO”.

Censurando a manobra da ambiguidade dos hereges, modus operandi no Vaticano II, declara o Romano Pontífice:

“É danosíssima esta habilidade de insinuar o erro que Nosso Predecessor Celestino (São Celestino, Carta 13, n. 2, in Coust) descobriu nas cartas do Bispo Nestório de Constantinopla e condenou com duríssimo apelo. O impostor, descoberto, repreendido e alcançado por tais cartas, com o seu incoerente multilóquio ENVOLVIA O VERDADEIRO COM O OBSCURO E, CONFUNDINDO DE NOVO UMA COISA COM OUTRA, CONFESSAVA AQUILO QUE HAVIA NEGADO OU SE ESFORÇAVA EM NEGAR AQUILO QUE TINHA CONFESSADO. Contra tais insídias, apesar de tudo renovadas em toda época, não foi colocada obra melhor em ação do que aquela de expor as sentenças que SOB O VÉU DA AMBIGUIDADE ENVOLVEM UMA PERIGOSA DISCREPÂNCIA DE SENTIDOS, ASSINALANDO O PERVERSO SIGNIFICADO SOB O QUAL SE ACHA O ERRO QUE A DOUTRINA CATÓLICA CONDENA” (Pio VI. Bula Auctorem Fidei de 29 de Agosto de 1794).

Esse texto pontifício atinge diretamente o ambíguo Vaticano II, cuja letra propositalmente confusa, favoreceu uma interpretação anticatólica!

Conforme o ensino do Papa Pio VI, uma letra ambígua também é condenada!

Sobre isso, reproduzimos uma oportuna consideração do professor Orlando Fedeli:

Uma proposição com sabor de heresia (passível de excomunhão para quem a proferir pertinazmente) é aquela cuja natureza é tal, que seu sentido primeiro, mais facilmente captável, é herético, pois que tudo nela sugere a heresia, mas que, com um grande esforço de interpretação, de hermenêutica, se pode extrair dela um sentido católico correto. Tais proposições são condenáveis com a censura teológica de sabor de heresia —sapiens heresim. É o que ensinam grandes teólogos como Ad. Thankerey, Synopses Theologiae Dogmaticae, Desclée, Paris, 1959, tomo II, p.117; J. M. Hervé, Manuale Theologiae Dogmaticae, Berque, Paris, 1952, Vol. I, p. 504; Iosephus Mors, S.J., InstitutionisTheologiae Fundamentalis,Vozes, Petrópolis, 1943,197; Cardeal Pietro Parente, Dizionario di Teología Dogmática, verbete Censura Teológica; apud Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, artigo Não Só a Heresia Pode Ser Condenada pela Autoridade Eclesiástica, no mensário Catolicismo, Ano XVII, N0 203, pp. 4 e 5)”

(Orlando Fedeli. Bento XVI condena o "espírito" do Concílio Vaticano II. Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/veritas/papa/espirito_vaticano_ii/).

Considerando que os textos do Vaticano II – sobretudo sobre o ecumenismo – tiveram a contribuição dos hereges protestantes; que houve uma deliberada intenção de falar ambiguamente e que os inimigos da Igreja ficaram satisfeitos, com essas inovações, podemos dizer que, no mínimo, o vaticano II tem sabor de heresia, isto é, favorece um sentido contrário a Fé da Igreja.

Partindo disso, podemos dizer que o Novo Catecismo é tão ambíguo e censurável, quanto a letra serpentina do Vaticano II.

Concorda com o Papa Bento XVI, padre? Concorda com o Papa Pio VI? Ou, segundo o seu magistério privado, sem base na realidade, seriam todos os críticos do Vaticano II, inclusive o Papa, pessoas birrentas, teimosas, ignorantes, filiadas ao clubinho da pirraça?

 

6-   Um Concílio para agradar os inimigos: o secreto e traidor Pacto de Metz

 

Todo o procedimento do Concílio mostra um inquestionável interesse de agradar – com novidades – os inimigos da Igreja Católica. A organização da ambiguidade soube trabalhar astutamente para mudar a Fé no Vaticano II. Para ilustrar os efeitos dessa mudança, concernente à Nova Missa de Paulo VI, trago um paralelo da visão protestante, antes e depois da mudança da Missa.

 

Missa de Sempre

Missa Nova

 

Martinho Lutero:

 

“Declaro que todos os Bordeis, todos os assassinos, bandidos, ladrões e adúlteros produziram menos abominações do que a Missa do Papa. As Missas são o cume da idolatria e da impiedade, um mal introduzido pelo próprio Satanás” O bêbado alemão vai dizer que, é sobre a Missa, como sobre uma rocha, que se sustenta o papado, juntamente com seus mosteiros, dioceses, rito, ministros e doutrina. Tudo isso desabará quando for destruída sua Missa abominável (apud Michael Davies. A Reforma Litúrgica de Cranmer: a destruição do catolicismo por meio da mudança litúrgica. Niterói: Permanência, 2017, p. 57).

 

 

Roger Mehl (Teólogo Protestante):

 

“Se levamos em conta a evolução decisiva na liturgia eucarística da Igreja Católica, a opção de substituir o Cânon da Missa por outras orações eucarísticas, o apagamento da ideia de que a Missa seja um sacrifício, e a possibilidade de se receber a Comunhão sob duas espécies, NÃO HÁ MAIS JUSTITICATIVA PARA QUE AS IGREJAS REFORMADAS PROÍBAM SEUS MEBROS DE ASSISTIR À EUCARISTIA NUMA IGREJA CATÓLICA” (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 231).

 

Calvino: “Satanás trabalhou para obscurecer, corromper e adulterar a sagrada ceia de Cristo, para que, no mínimo, sua pureza não pudesse ser preservada na Igreja [...] Mas quando tiver sido claramente demonstrado pela palavra de Deus que essa missa, não importa o quanto tenha sido envernizada e adornada, representa o maior dos insultos a Cristo, suprime e esconde sua cruz, confina sua morte ao esquecimento, priva-nos do benefício que resulta desta, invalida e destrói o sacramento que nos foi deixado como um memorial de sua morte” (ibidem).

 

M. G. Siegvalt (Professor de teologia Dogmática da Faculdade protestante de Estrasburgo:

 

“... NADA na Missa renovada precisa realmente preocupar o protestante evangélico” (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 242)

 

Bradford:

 

“Se o anticristo tem um filho ou filha, essa missa é a mais pestilenta e perniciosa: sob o nome de Cristo, destrói o Cristo; sob o título de culto a Deus, destrói o culto a Deus; sob a aparência de Igreja, destrói a Igreja... não pode ser querida nem tolerada sob nenhuma circunstância, mas deve ser considerada detestável e monstruosa por todos nós que amamos Cristo” (op. cit., p. 58).

 Consistório Protestante

"Tendo em vista as formas atuais da celebração eucarística na Igreja católica [a Missa Nova de Paulo VI], e em razão das CONVERGÊNCIAS TEOLÓGICAS existentes, MUITOS OBSTÁCULOS QUE PODERIAM IMPEDIR A UM PROTESTANTE DE PARTICIPAR DESTA CELEBRAÇÃO LITÚRGICA PARECEM EM VIAS DE DESAPARECER. PODERIA SER POSSIVEL, hoje, A UM PROTESTANTE RECONHECER NA CELEBRAÇÃO LITÚRGICA CATÓLICA A CEIA INSTITUIDA PELO SENHOR"

(Consistório superior da confissão de Augsbourg e da Lorraine. Declaration de 8 dezembro de 1973, publicada na L' Eglise en Alsace apud Louis Salleron. La nouvelle Messe. 2ª edição, p.193)

 

Como pode, padre José Eduardo, uma mudança tão radical em relação a Missa? Passar de um ódio violento para uma simpatia amorosa, em relação a Missa de Paulo VI? Tudo indica, sem sombras de dúvidas, que o Novus Ordo Missae se afastou a teologia católica, para agradar, ecumenicamente, os hereges protestantes. E cabe lembrar que esse reconhecimento simpático a Missa Nova não vem de qualquer protestante de periferia. São hereges graduados, munidos de erudição e competência para perceber o que realmente foi alterado!

Já não bastasse agradar aos protestantes – que ajudaram a escrever o Concílio e a fabricar a Missa Nova – o Vaticano II também tinha que agradar os comunistas! Esse fato vergonhoso diz respeito a um acordo firmado entre o Vaticano e a Igreja Ortodoxa Russa que, na época, estava sob o domínio do governo comunista de Moscou.

Esse pacto traidor entre católicos e cismáticos teve lugar em 1962 na cidade de Metz, França. Nas condições firmadas, a Igreja Ortodoxa se comprometia a enviar dois observadores ao Concílio, enquanto que, da parte do Vaticano, não seria proferida qualquer condenação ao comunismo.

A notícia sobre essa concordata comunicou o Partido Comunista Francês através de seu boletim central de janeiro de 1963:

“Posto que o sistema socialista mundial manifesta de forma incontestável sua superioridade e recebe sua fortaleza da aprovação de centenas e centenas de milhões de homens, a Igreja já não pode contentar-se com um tosco anticomunismo. Inclusive comprometeu-se, por ocasião do diálogo com a Igreja Ortodoxa Russa, que não fara no Concílio um ataque direto contra o regime comunista” (apud Romano Amerio. Iota Unum: Um estudo das mudanças na Igreja Católica no século XX. Rio de janeiro: Editora Permanência, 2020, p. 93).

Exatamente o ecumenismo traidor, condenado pela Mortalium Animos do Papa Pio XI. Uma falsa união “ecumênica” à custa do sacrifício da Verdade! E depois ainda querem, os continuístas de internet, dizer que o diálogo do Vaticano II não tem relação com o ecumenismo que foi condenado.

Esse “silêncio, secretamente combinado, sofreu as severas críticas do Cardeal Giacomo Biffi, ex-Arcebispo de Bolonha, autor do livro “Memórias e digressões de um italiano Cardeal”. Nessa obra de 640 páginas, o prelado censura o Vaticano II por sua omissão em face da perversidade comunista. Sem emitir nenhuma condenação textual, observa o Cardeal que o Concílio simplesmente calou-se, enquanto “rios de sangue” eram derramados por uma ideologia criminosa, sempre denunciada pelos Papas anteriores (Sandro Magister. Antes do Último Conclave: “Que Disse Eu ao Futuro Papa”, Disponível em: http://www.montfort.org.br/old/index.php?

secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=magister_biffi&lang=bra

Contra essa traição vergonhosa do Vaticano II, a serviço dos inimigos de Deus, ensinou o Papa Pio XI que a Igreja não deve silenciar diante do perigo comunista:

“Vós, sem dúvida, Veneráveis Irmãos, já percebestes de que perigo ameaçador falamos: é do comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã [...] diante destas ameaçadoras tentativas, não podia calar-se nem de fato se calou a Igreja Católica. Não se calou esta Sé Apostólica, que muito bem conhece que tem por missão peculiar defender a verdade, a justiça e todos os bens imortais, que o comunismo despreza e impugna. Já desde os tempos em que certas classes de eruditos pretenderam libertar a civilização e cultura humanística dos laços da religião e da moral, os Nossos Predecessores julgaram que era seu dever chamar a atenção do mundo, em termos bem explícitos, para as conseqüências da descristianização da sociedade humana” (Papa Pio XI. Divini Redemptoris, 19 de março de 1937).

Rompendo com o Magistério precedente, o Vaticano II não se pronunciou. Por vias de um acordo deplorável, tornou-se cúmplice de uma grave perversidade.

A veracidade desse acordo “vaticano-moscovo” teve uma surpreendente confirmação a partir de uma carta de Monsenhor Georges Roche, secretario por trinta anos do Cardeal Tisserant, que conduziu as negociações de acordo com os comunistas da KGB. Segundo as revelações do prelado, existiu verdadeiramente o acordo entre Roma e Moscou, e que a iniciativa dos encontros foi tomada pessoalmente por João XXIII, por sugestão do Cardeal Montini, futuro Papa Paulo VI (apud Romano Amerio. Iota Unum: Um estudo das mudanças na Igreja Católica no século XX. Rio de janeiro: Editora Permanência, 2020, p. 94).

Para que esse pacto do silêncio – cúmplice do comunismo - fosse perfeitamente executado, o Cardeal Tisserant “recebeu ordens formais tanto para firmar o acordo como para monitorar, durante o Concílio, sua exata execução” (Carta de Mons. Roche em Itinéraires, nº. 285, P. 153).

Os efeitos desse acordo foram rapidamente notados no decurso do Vaticano II. O sumiço misterioso de uma declaração anticomunista, elaborada por 450 padres conciliares e entregue ao Secretariado do Concílio, mostra a preocupação dos dirigentes em não direcionar ataques ao comunismo” (Ralph Wiltgen. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Niterói: Editora Permanência, 2007, p. 277-278

O que podemos deduzir deste pacto ecumênico de silêncio?

Vimos que em Fátima Nossa Senhora pediu a consagração da Rússia como forma de impedir a propagação de seus erros pelo mundo. Ora, o comunismo é um dos graves erros da Rússia Soviética. A Virgem Maria, que não faz acordos traidores com os homens, queria efetivamente combater os erros da Rússia. O Vaticano II, ao contrário, se calou voluntariamente, contribuindo – pelo silêncio – com a disseminação do comunismo.

Esse fato novamente denota o interesse do Concílio em agradar os inimigos da Igreja. Mostra, de modo inequívoco, o poder de influência dos “não-católicos” nas decisões do Concílio!

Não é por acaso que, por ocasião da morte do Papa Paulo VI, o grão-mestre da maçonaria fez a seguinte declaração:

 “... é a primeira vez – na História da Maçonaria moderna – que morre o chefe da maior religião ocidental, não em estado de hostilidade com os maçons. E pela primeira vez na História os maçons podem render homenagem ao túmulo de um Papa, sem ambiguidades nem contradições. (Dr. G. Gamberini apud J.A.E. Benimeli, G. Caprile e V.Alberton. Maçonaria e Igreja Católica. São Paulo: Editora Paulus, p. 101-102).

E o sr., Padre José Eduardo, quer nos obrigar a aceitar um Concílio que, tanto na letra quanto no proceder, ´procurou agradar ao homem e não a Deus? E quer que aceitemos, contra a realidade, que o Catecismo desse Concílio não tem problemas, mesmo repetindo suas ambiguidades que agradaram os protestantes, os comunistas e os maçons?

Lembre-se, padre, da oportuna observação do Cardeal Ratzinger: “É preciso haver muita COMPREENSÃO com relação às críticas sobre o concílio”.

Que o sr. ouça mais o Magistério da Igreja, e menos o seu falho magistério privado!

 

7-   Conclusão

 

Algumas vezes pude acompanhar os debates do padre José Eduardo contra os protestantes. Curioso que, quando se trata de conversar com os inimigos da Fé, o reverendo sacerdote manifesta uma inabalável paciência, empregando sempre um tom suave e respeitador. Mesmo sabendo que esses não católicos afrontam o Papa e a Virgem Maria, não perde a compostura, preservando um diálogo ecumênico muito simpático, bem nos moldes do Vaticano II.

Entretanto, quando a questão diz respeito aos católicos chamados tradicionalistas, o seu respeito ecumênico rapidamente desaparece! O tom amistoso torna-se agressivo! A paciência logo se converte em fúria e deboches! Enquanto os hereges blasfemadores são bem tratados, os católicos fieis a Missa e a Verdade de Sempre são achincalhados, sendo caridosamente rotulados, por sua retórica ecumênica, de ignorantes, teimosos, pirracentos, e outros suaves adjetivos.

A verdade, padre, é que o sr, não obedece ao Vaticano II.

Permita-me iluminar sua memória!

No Discurso de abertura do Concílio, declarou o Papa João XXIII:

“A Igreja nunca deixou de se opor a esses erros. Ela muitas vezes os condenou, e de forma muito severa. Mas hoje, a Esposa de Cristo prefere recorrer ao remédio da misericórdia, em vez de empunhar as armas da severidade. Ela considera que, em vez de condenar, atende melhor às necessidades de nosso tempo destacando mais as riquezas de sua doutrina [...] A Igreja Católica [...] deseja ser para todos uma mãe muito amorosa, boa, paciente, cheia de bondade e misericórdia para com seus filhos que estão separados dela” (DC, col. 1383-1384).

Ora, padre José Eduardo, por que com relação aos chamados tradicionalistas o sr. não procura se conformar com o método ecumênico do Vaticano II? Por que não se esforça para ser fiel ao propósito do Concílio, não condenando os “tridentinos” com as armas da severidade? Respeite o Vaticano II, padre José Eduardo! Nos moldes do Concílio, procure ser mais amoroso, paciente e cheio de bondade, para com os filhos da Missa e do Catecismo de sempre!

A propósito, ante de finalizar, há ainda uma curiosa pergunta a ser feita ao padre José Eduardo: por que quando alguém, considerado um tradicionalista, produz tanta celeuma ao afirmar que há uma descontinuidade entre o ensinamento do Vaticano II e o magistério anterior, enquanto nenhuma reação acontece quando os progressistas e os modernistas fazem exatamente essa mesma afirmação? Veja-se, por exemplo, a UNISINOS, expoente jesuíta da TL que, em vários de seus artigos, coloca o Vaticano II como uma ruptura com o passado da Igreja! Pelo que se sabe, não houve, nem há, qualquer indignação por parte do Padre José Eduardo, que não afirma ser este um ato “leviano” inadmissível, atitude de “ignorantes” e “teimosos” do “círculo da pirraça”.

Do mesmo modo, nenhuma autoridade eclesiástica apresenta uma queixa sobre esta posição; nenhum bispo ou seu representante pede aos católicos para que não se matriculem nessa Universidade. Ouve-se, de muitos prelados, que a Igreja de hoje, fruto do Vaticano II, não seria a mesma do passado, as vezes se referindo a Idade Média e muitas vezes a tempos mais recentes. Mas, diferente da reação agressiva e debochada contra os chamados tradicionalistas, nada acontece efetivamente!

Fica a pergunta que talvez o Padre José Eduardo possa responder: por que só os modernistas tem o direito de afirmar que o Vaticano II foi uma ruptura na Igreja, sem serem, por isso, objetos de qualquer crítica, censura ou deboche ecumênico?

Com essa resposta, esperamos ter esclarecido que, diferente do que prega o padre José Eduardo, o Vaticano II e o seu Catecismo não são incriticáveis! Ambos possuem problemas! Por isso, como admitiu o próprio Papa Bento XVI, estão sujeitos às críticas. Portanto, compreenda e seja paciente, padre José Eduardo! Não seja desobediente ao diálogo ecumênico, misericordioso e tolerante do Vaticano II.

Assim como os padres do Instituto do Bom Pastor não precisaram aceitar o Vaticano II, com as suas terríveis ambiguidades, tendo, além disso, recebido do próprio Papa o dever de criticá-lo, também nós, fieis da Missa e da verdade de sempre, não temos a obrigação de aceitar integralmente esse Concílio, que tanta confusão trouxe para dentro da Igreja.

Estamos sob a égide do Papa, e não sob o magistério privado do Padre José Eduardo!

Contra as novidades confusas do Vaticano II, ficamos com o Magistério de Sempre!

Sem ambiguidades!

Na esperança de tê-lo feito compreender, despedimo-nos, rogando sua benção sacerdotal.

 

In Corde Maria Regina
Eder Moreira



    Para citar este texto:
"O Vaticano II e o seu Catecismo são incriticáveis? Considerações sobre a posição neoconservadora do Reverendíssimo Padre José Eduardo"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/catecismo_neoconservador/
Online, 18/06/2025 às 21:32:23h