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Os padres do IBP não me respondem. Devo abandonar o seminário conservador?
PERGUNTA
Me chamo X, tenho 23 anos e sou Frade Capuchinho. Atualmente estou cursando Filosofia, em preparação para o Sacerdócio. Apesar de estar feliz com minha vocação, há algo que me inquieta e resolvi tirar dúvidas com os senhores, a fim de que se possível, possam me ajudar e orientar.
Cresci em uma Paróquia "conservadora", com bons Padres, zelosos e litúrgicos (dentre o possível). Assim sendo, sempre mantive essa posição e admiração pela Santa Tradição. Sempre acompanhei Padres que têm essa linha; Padre Paulo Ricardo, os Padres do IBP, CDB etc etc Porém, preferi por uma série de circunstâncias entrar no Convento dos Capuchinhos de forma muito natural, pois foi onde eu nasci e cresci.
Porém agora, depois de 4 anos de Convento, tenho me perguntado se devo continuar na Ordem por esses motivos que os senhores tanto conhecem nos seminários... crise na liturgia, modernismo, falta de seriedade nos estudos etc etc Apesar de que na Província da qual faço parte, os Frades se mantém ainda muito ortodoxos... usam o hábito, atendem confissões diariamente, muito dos Frades recém ordenados são bem corretos liturgicamente. E não existe, (pelo menos de forma muito assídua e escancarada) uma "perseguição" ao Tradicionalismo e aos seus adeptos.
E justamente aqui reside a inquietação... Por um lado, desejo continuar e buscar fazer aquilo que o Padre Paulo Ricardo e outros bons Padres dizem: se "infiltrar", resistir, e me preparar ao máximo espiritualmente e intelectualmente, para quando me ordenar, se Deus permitir, fazer diferente e buscar uma restauração, dentro daquilo que me é permitido.
Por outro lado, existe o desejo de sair e buscar um Seminário Tradicional, que seria o IBP, para viver de fato a Tradição e a Defesa integral da fé. O problema é que, caso eu saia, as possibilidades de ingressar no IBP são muito remotas, seja pelo fato de que percebo uma espécie de "seleção" entre eles (por exemplo, nunca responderam um email meu), mas principalmente, questões práticas como a financeira (não tenho condição nenhuma para bancar os estudos)... isso acaba fazendo com que eu não tenha escolha.
Dito isso, os senhores recomendam que de fato, eu continue no Convento e busque fazer de tudo para ser um religioso/sacerdote conforme os desejos de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou que tente de todos os meios para me mudar para o IBP? E uma vez que recomende que eu permaneça, quais conselhos os senhores dão para que eu possa resistir, e perseverar neste ideal?
Espero ansiosamente pela vossa resposta. Contem com as minhas orações. Deus os abençoe e que São Boaventura e São Lourenço de Bríndisi - Doutores Franciscanos - intercedam por este apostolado. Paz e bem.
15/08/2025
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
RESPOSTA
Em primeiro lugar, prezado Frei, agradecemos os elogios, mas, sobretudo, pedimos a caridade das suas orações, pois nossa fidelidade, perseverança, e, sobretudo, os frutos do nosso apostolado são sustentados pelas orações dos amigos e leitores, Deus lhe pague!
Em segundo, caro Frei, o sr. precisa compreender com clareza o verdadeiro significado da vocação sacerdotal, que, para muitos parece uma coisa óbvia, porém, não é tão óbvio assim, a maioria não tem muita noção do seu verdadeiro significado, e, perdoe-me a franqueza, o sr. também precisa aparar algumas arestas, para isso aconselho o sr. ler esse artigo muito bem feito por um padre do IBP (que assina com pseudônimo) aqui.
A vocação sacerdotal não pode ser uma satisfação das minhas necessidades, por mais piedosas que sejam elas, nem a satisfação das minhas inclinações, por mais virtuosas que sejam elas, a vocação é um serviço oferecido a Deus, e, este mesmo Deus, a sua Igreja, pode recusar o servidor segundo suas próprias necessidades, por mais virtuoso e piedoso que seja ele (a piedade e a virtude não são uma espécie de selo infalível de vocação sacerdotal), e, tudo bem, tal servidor pode ainda, com muitos possíveis méritos, servir a Igreja de Cristo de muitas outras formas.
Em terceiro lugar, caro Frei, você pergunta sobre a permanência num seminário supostamente conservador, começo a resposta a isso retomando um texto do professor Orlando Fedeli, fundador da Montfort, são palavras bem duras, é verdade, mas que sempre vale à pena serem lidas, lembre-se, caro Frei, essas palavras duras não são para o sr., elas falam sobre o comportamento da maioria dos padres conservadores, com raríssimas exceções:
“Padre conservador é aquele que fará depois de amanhã os sacrilégios que os padres mais radicais fizeram anteontem... Em nome da prudência e da moderação...
Padre conservador é o que fica de "boca fechada" diante dos hereges, e, se algum dia for forçado a falar, fará um sem número de distinções para desculpar o mal, e camuflará a heresia que outros proclamam ousadamente, com mil distinções e ambigüidades. Foi assim que o Vaticano II foi gestado e aprovado pela maioria que aprendeu a ficar de "boca fechada" desde a juventude.
Prudentemente...
Em nome da moderação...
Nos seminários. E até antes de entrar nos seminários...
(...)
Lembre-se do que Nosso Senhor disse na sétima carta do Apocalipse aos católicos da Igreja de Laodicéia:
"Antes foras frio ou quente, e não morno. Mas porque és morno, nem frio e nem quente, começarei a te vomitar de minha boca" (Professor Orlando Fedeli, carta “Repreensão dura e caridosa produz arrependimento”, de setembro de 2007).
O sr. pode ler o texto completo do professor Orlando aqui.
Portanto, prezado frei, com toda certeza, não aconselho o sr. continuar em um seminário dito conservador, por amor ao sacerdócio, por amor à Santa Madre Igreja, abandone esse seminário, e procure o seminário do IBP, ainda que grandes dificuldades lhe impeçam.
Veja, por exemplo, o grande exemplo de sacerdote que o sr. exalta, o padre Paulo Ricardo, desculpe lhe revelar uma verdade, o Padre Paulo é um padre modernista que ensina uma doutrina perenialista, eu tenho uma aula desconstruindo a doutrina deste sacerdote que o sr. pode ter acesso aqui.
O sr. nos diz que tenta buscar o IBP mas os padres do IBP não lhe respondem, prezado frei, infelizmente, ouvimos esse tipo de depoimento repetidamente de muitos jovens que procuram o IBP, de fato, existe uma grande precariedade no trabalho do IBP em responder as vocações, muitas vezes, eles parecem completamente indiferentes a tantos jovens que procuram entrar em contato com eles, entretanto, posso assegurar ao sr. que isso é uma particularidade do IBP do Brasil, na França, por exemplo, os padres são bem solícitos para com as vocações.
O que eu posso aconselhar ao sr. é continuar tentando, insistindo, não tem outra saída, tente procurar pessoalmente os padres, ainda que seja muito difícil para o sr., talvez seja mais produtivo.
Já foi levado a vários padres do IBP essa falta zelo de alguns padres pelas vocações, entretanto, infelizmente, tudo continua na mesma, eu mesmo tenho um bom amigo, rapaz excelente, muito piedoso e dedicado, que procura os padres mas sofre muito com a falta de clareza deles par com a vocação dele. Enfim, rezemos para que os padres responsáveis do IBP se sensibilizem pelo menos um pouco e resolvam essa absurda precariedade para com as vocações!
Frei, o sr. fala ainda sobre questões financeiras, de fato, são questões muito difíceis, sobretudo, no caso do IBP em que o seminário fica fora do país, na França, e, portanto, os custos são ainda mais altos. Bom, eu sou ex-seminarista do IBP, passei quatro anos no seminário na França, fui da mesma turma do Padre José Zucchi e do Padre Pedro Gubitoso, na época eu morava em Belém do Pará, o sr. deve imaginar como deve ter sido difícil conseguir ingressar no IBP na França, aqui o sr. pode ver algumas imagens da minha época de seminário, foi uma das melhores épocas da minha vida. Hoje, graças ao que aprendi na França, posso cooperar com o apostolado da Montfort e mesmo ensinar muitos padres a rezarem a Missa Tridentina.
Bom, tudo isso para lhe dizer que se eu consegui, eu que na época dispunha de pouquíssimos recursos financeiros, se for da vontade de Deus, com muita dedicação sua e com uma procura sincera e honesta de bons benfeitores, o sr. também consegue, Deus proverá!
Por fim, caro frei, insisto para que o sr. não se iluda com um seminário pretensamente conservador, é só o sr. começar a rezar a Missa Tridentina e buscar defender, sem concessão nenhuma, a doutrina límpida e tradicional da Igreja, o sr. logo-logo será perseguido, abandonado e colocado de lado, de forma violenta e humilhante, nós já vimos isso acontecer incontáveis vezes.
Que a Virgem Puríssima Virgem o proteja sempre, conte, desde já, com nossas empenhadas orações, e pedimos, por caridade, que os leitores da Montfort rezem com fervor pela sua vocação.
E não esqueça de rezar por nós.
In báculo cruce et in virga virgine,
Francis Mauro Rocha,