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Pio IX vs Dupanloup
PERGUNTA
Nome:
Gabriel
Enviada em:
30/09/2020
Local:
Brasil

 Salve Maria, como responder a essa objeção a favor da liberdade religiosa?:

O autêntico significado do pensamento de Pio IX foi formulado pelo Bispo de Orleães, Mons. Dupanloup, num escrito que, aos 26/01/1865, comentava a Encíclica Quanta Cura e o Syllabus:

‘O Papa condena o indiferentismo religioso, esse absurdo que de todos os lados e em todas as tonalidades nos é incutido hoje em dia, a saber: o Evangelho ou o Alcorão, Buda ou Jesus Cristo, o verdadeiro e o falso, o bem e o mal, tudo é igual… Condenar a indiferença em matéria de religião não é condenar a liberdade política dos cultos‘.

Até aí poderíamos dizer que é só uma mera interpretação (que alguns correriam para chamar de “modernista”) do Cardeal. Mas segue o texto…


“Ora Pio IX, aos 4/08/1865, respondeu elogiosamente a Mons Dupanloup, dizendo:

 


‘Reprovastes tais erros no sentido em que Nós mesmos os reprovamos… Estais em condições de transmitir aos vossos fiéis o nosso autêntico pensamento pelo fato de terdes refutado energicamente as interpretações errôneas do mesmo

 

 

RESPOSTA

Muito prezado Gabriel Paz, salve Maria!

 

A autêntica interpretação da Encíclica Quanta cura é dada pelo próprio Syllabus, veja alguns parágrafos do sylllabus citando teses condenadas sobre a liberdade de Culto:

 

 

"77º Na nossa época já não é útil que a Religião Católica seja tida como a única Religião do Estado, com exclusão de quaisquer outros cultos";

"78º Por isso louvavelmente determinaram as leis, em alguns países católicos, que aos que para aí emigram seja lícito o exercício público de qualquer culto próprio";

"79º É falso que a liberdade civil de todos os cultos e o pleno poder concedido a todos de manisfestarem clara e publicamente as suas opiniões e pensamentos produza corrupção dos costumes e dos espíritos dos povos, como contribua para a propagação da peste do Indiferentismo" (lembrando que todas essas teses citadas pelo Syllabus são condenadas).

 

Veja, Gabriel, que o Syllabus deixa claro como a água mais pura o sentido que deve ser dado: condenar liberdade de culto para as falsas religiões. O Texto que você nos envia de uma carta de Pio IX é frequentemente citada pelos "católicos" liberais como sendo um elogio à tese modernista do Dupanloup. Dupanloup é um conhecido cardeal modernista da época de Pio IX, esse cardeal atuou contra a infalibilidade papal, defendia a Revolução francesa e era galicano (galicanismo é uma heresia muito difundida no clero francês onde se coloca uma espécie de igreja nacional francesa acima do Papa e onde o principal chefe seria o Rei francês). 

 

Eu desafio os liberais a mostrarem onde Pio IX cita nominalmente Dupanloup, sempre que mostram essa citação da carta de Pio IX eles omitem a identificação clara do destinatário, porque o que parece a carta não elogia diretamente Dupanloup mas uma certa parte dos bispos franceses que defendiam a boa interpretação dada por Pio IX: Le Syllabus

 Pie IX

Le Syllabus

Site officiel de la Contre-Réforme catholique au XXIe siècle.

Citação do site, segundo nossa tradução livre do francês: "Na biografia do bispo Freppel, o irmão Pascal desvenda os fios das intrigas dos liberais que queriam obter de Pio IX uma carta de louvor ao bispo Dupanloup. Esforço desperdiçado! Os elogios francos serão finalmente dirigidos, não ao bispo Dupanloup, mas aos bispos que “cuidaram, dirá o Papa, de proteger seus fiéis contra o perigo dos erros condenados por Nós e que professaram detestá-los absolutamente no mesmo significado que os condenamos ”. 

 

Se, por absurdo, o Papa Pio IX tivesse realmente errado e elogiado de forma equivocada as teses modernistas do cardeal liberal Dupaloup, ainda sim tal posição seria condenável, e seria uma posição privada tomada pelo Papa e não um ato do Magistério Infalível, pois infalivelmente tanto Syllabus quanto a própria encíclica Quanta Cura condenaram cabalmente a liberdade de culto das falsas religiões, por último deixo para sua reflexão o célebre sermão do Cardeal Pie sobre a intolerância católica:

 

"Faz parte da essência de toda verdade não tolerar o princípio que a contradiz. A afirmação de uma coisa exclui a negação dessa mesma coisa, assim como a luz exclui as trevas. Onde nada é certo, onde nada é definido, pode-se partilhar os sentimentos, podem variar as opiniões. Compreendo e peço a liberdade de opinião nas coisas duvidosas: in dubiis, libertas. Mas logo que a verdade se apresenta com as características certas que a distinguem, por isso mesmo que é verdade, ela é positiva, ela é necessária e por conseqüência ela é una e intolerante: in necessariis, unitas. Condenar a verdade à tolerância é condená-la ao suicídio. A afirmação se aniquila se ela duvida de si mesma, e ela duvida de si mesma se ela admite com indiferença que se ponha a seu lado a sua própria negação. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade. Quando se possui alguma coisa é preciso defendê-la sob pena de ser despojado dela bem cedo".

http://www.montfort.org.br/bra/veritas/religiao/intolerancia/ 

 

In báculo Cruce et in virga Virgine.

 

Francis Mauro Rocha.