Igreja


     A história da Igreja já conheceu muitas falsas escolas de espiritualidade: certos grupos ou movimentos que, sem separar-se abertamente da Igreja, no entanto difundiam princípios e práticas que não condiziam com as verdades da Fé, com os costumes da Tradição e com os ensinamentos e exemplos dos Santos.
     Assim, por exemplo, nos séculos XVII e XVIII, a Europa foi infestada por um “movimento” intitulado Jansenismo, iniciado por um bispo católico (Cornélio Jansênio) e abraçado por uma verdadeira legião de bispos, padres, religiosos e fiéis, com plena convicção de ser este o caminho ideal de santificação para uma alma. 
     O que os fatos demonstraram, porém, é que o jansenismo, embora jurasse ser um movimento absolutamente católico, e realmente pudesse iludir a qualquer desavisado, era, na verdade, uma infiltração do protestantismo dentro da Igreja Católica, seja por seus princípios, seja por suas práticas. E demorou muito tempo para a Igreja conseguir extirpar o jansenismo. 
     No começo do século XX um outro movimento que passava por católico, o Sillon, conseguiu iludir a todos, até o Papa de então, o grande São Pio X, que chegou a aprovar esse movimento. Mais tarde, porém, o próprio São Pio X teve de reconhecer que se enganara, ou melhor, fora enganado, e se retratou condenando oficialmente o mesmo movimento que antes aprovara. (Lembramos que o Papa só é infalível quando fala ex cátedra, podendo perfeitamente errar nos demais casos)  
     Pois bem. Chegamos agora à década de 1970, Estados Unidos: tem início no meio protestante um movimento destinado a “afervorar” a espiritualidade dos grupos protestantes, tendo por base um suposto “batismo no Espírito Santo”, acompanhado de manifestações estranhas, como falar sílabas sem nexo, desmaiar pelo chão, sentir um ardor no rosto, cantar músicas barulhentas, dançar, etc. 
     Sabe-se lá sob a inspiração de qual demônio, mas o fato é que algumas pessoas resolveram trazer este movimento protestante, genuinamente protestante, para dentro da Santa Igreja Católica. Preste-se bem atenção nisto: o mesmo movimento, não outro.
     Convencionou-se chamar a esta infiltração do protestantismo dentro da Igreja Católica de Renovação Carismática Católica (R.C.C.). 
     Com certeza, qualquer “carismático” que ouça isso ficará indignado.  
     Mas o fato é que a RCC nasceu protestante, e tem sabido “honrar” muito bem o seu nascimento.
     Se estou errado, então, por favor, aponte-se-me um único Doutor da Igreja que costumasse promover grupos de oração onde as pessoas gritavam, histericamente e ao mesmo tempo, cada qual uma oração diferente, emitindo sons ininteligíveis (animalescos até), desmaiando pelo chão, dançando, aplaudindo, pulando, etc. E então?...
     A teologia ascética e mística da Igreja jamais acolheu semelhantes desatinos.
     E, a bem da verdade, o protestantismo clássico (isto é, o das seitas mais antigas e organizadas, embora sempre desprezíveis) também não.
     Logo, quando se diz que a RCC é uma infiltração do protestantismo dentro da Igreja, subentenda-se do baixo protestantismo, do protestantismo de “porta de esquina”, das “igrejolas” pentecostais.
     E é muito fácil perceber os indícios que o comprovam.
     A Santa Igreja sempre pregou e administrou o Batismo sacramental, único, indelével, irrepetível, cujos efeitos sobrenaturais são imperceptíveis aos sentidos.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, pregam e “administram” também o “batismo no Espírito Santo”, misterioso, com freqüência acompanhado de manifestações “extraordinárias”...
     A Santa Igreja sempre interpretou a passagem bíblica do “dom de línguas” no dia de Pentecostes, como sendo a descrição da graça recebida pelos Apóstolos de falarem línguas de outros povos sem as ter estudado e aprendido antes, com o fim de facilitar-lhes a pregação do Evangelho. Graça esta repetida na vida de alguns santos, como Santo Antônio de Pádua e São Vicente Ferrer, por exemplo.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, imaginam o dom de línguas como um emitir sons sem sentido algum, repetindo rapidamente sílabas desconexas, de modo histérico e descontrolado, ou então de modo frio e calculado, podendo-se até ensinar o dom de línguas aos demais, mandando-os repetir sílabas sem sentido...  
     A Santa Igreja sempre considerou o emitir sons ininteligíveis como possível sintoma de possessão demoníaca.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, consideram seus “zumbidos” como sendo a “língua dos anjos”, “o Espírito orando em nós”...
     A Santa Igreja valoriza tanto quanto pode a razão humana e nega dogmaticamente que possa haver qualquer oposição entre a fé e a razão, embora, é claro, a fé tenha a primazia. Todas as obras de Deus têm o selo de não serem nunca contrárias à razão, embora muitas vezes a superem. Sem a razão seria impossível qualquer Teologia.  
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, não levam em consideração a razão humana, preferindo guiar-se simplesmente por seus sentimentos, e acusando os teólogos de serem incapazes de compreender os “fenômenos carismáticos” por falta de “simplicidade” e excesso de estudos. Afirmam que os seus “fenômenos” não são para serem entendidos, mas sentidos, experimentados. Não aceitam discutir com argumentos razoáveis suas práticas. Vivem uma mística cega, emocionalista e anti-racional. Seu histérico “blablablá” não é lá muito argumentativo, convenhamos...
     A Santa Igreja sempre reserva a prática do Exorcismo aos sacerdotes devidamente autorizados por seu bispo.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, costumam promover “exorcismos” com bastante freqüência, realizados sob a forma de “orações de libertação”, inclusive sobre pretensos possessos.
     A Santa Igreja reserva qualquer “imposição das mãos” aos sacerdotes, pois não faz sentido algum que os leigos, cujas mãos nunca foram consagradas, as imponham sobre os outros.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, praticam constantemente a imposição das mãos, quase num gesto mágico. Chegam, até mesmo, a ungir as pessoas com óleo, o que muitos ignorantes podem confundir com um gesto sacramental.
     A Santa Igreja sempre valorizou sumamente a oração silenciosa, recolhida, ordenada, séria, reverente e ortodoxa, bem como a solenidade e esplendor da sagrada Liturgia.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, preferem a oração barulhenta, espontânea, sem ordem nenhuma, sem preocupação com ser teologicamente ortodoxo, aos gritos e em meio a diversas outras irreverências, como palmas, danças, desmaios ridículos, sons absurdos, etc.
     A Santa Igreja valoriza a piedade séria, pautada pelo senso do dever e do compromisso, sem busca de agradar aos próprios sentimentos.
     A RCC e os protestantes pentecostais, porém, vivem uma espiritualidade guiada pelo sentimentalismo, como basta conferir em suas canções, por exemplo, profundamente românticas umas e estrondosamente festivas outras. Emoções, emoções e emoções... Vivem à caça destas. O que jamais a piedade católica admitiu.
     A Santa Igreja é extremamente cautelosa com respeito às supostas revelações privadas e carismas extraordinários. Os santos e os mestres católicos sempre ensinaram a nunca pedir a Deus qualquer carisma fora do comum.
     RCC e pentecostais em geral, pelo contrário, fazem sensacionalismo sobre suas supostas “revelações”, “profecias”, “carismas”, e instigam as multidões a pedir a Deus dons extraordinários. Imprudência e presunção são a sua marca constante.
     A Santa Igreja vê como superstição a prática de tirar ao acaso uma passagem bíblica, pensando que assim se está em “linha direta” com o Espírito Santo.
     Na RCC, porém, bem como entre os protestantes pentecostais, isso é plenamente costumeiro. São mestres em fazer interpretações subjetivas (e errôneas) da Sagrada Escritura.    
     A Santa Igreja ensina-nos a sermos reverentes para com as coisas sagradas.
     A RCC, porém, não parece gostar muito de ouvir falar em reverência... Danças diante do Santíssimo Sacramento, danças até com o Santíssimo, multidões tocando no ostensório com o Santíssimo exposto, modos irreverentes, excessivamente íntimos, de falar de Nosso Senhor e Nossa Senhora, baldes de água-benta jogados sobre os fiéis na Igreja, camisetas com estampas blasfemas de Nosso Senhor (representado como uma “formiguinha”, por exemplo), estampas piedosas em roupas indecentes, etc. Tudo isto pode ser perfeitamente encontrado na RCC.
     A Santa Igreja, como mãe zelosa, sempre teve muito cuidado com as regras da modéstia cristã, a fim de evitar ocasiões de pecado a seus filhos.
     A RCC porém, e nesse ponto mais que os protestantes pentecostais, praticamente não se preocupa com as regras da modéstia cristã, permitindo o uso de roupas indecentes, fazendo com que homens e mulheres rezem de mãos dadas, ou abraçados, promovendo certos movimentos e danças em suas músicas, que facilmente degeneram em sensualidade, e etc. Suas “Cristotecas”, seus “carnavais com Cristo”, seus “Halleis”, são ocasiões espetaculares de pecado. Além disso, é facilmente verificável que muitos membros da RCC, sobretudo os seus jovens, negam obstinadamente que o beijo na boca e outras intimidades antes do casamento sejam pecado mortal, como ensina a Santa Igreja. Seus “grupos de jovens” que o digam...
     A Santa Igreja ensina que a Santa Missa é a renovação incruenta do mesmo Sacrifício realizado por Nosso Senhor no Calvário há dois mil anos atrás. E como tal, a sagrada Liturgia da Missa precisa ser envolvida em seriedade, reverência e devoção.
     A RCC, porém, à imitação do que fazem os protestantes pentecostais em seus cultos, profana a Santa Missa com palmas, danças, músicas agitadas, oração “em línguas”, “profecias”, “exorcismos”, “curas”, e mil e uma desobediências litúrgicas.
     Por tudo isso, parece ficar bem claro o caráter protestante da RCC.
     Alguém, entretanto, certamente perguntará: “se a RCC é uma infiltração protestante, como então pode ter sido acolhida de braços tão abertos por tantos bispos e padres católicos?”
     “Ora, os pastores da Igreja não são obrigados a defender o seu rebanho contra todos os erros e heresias?”
     “Se a RCC é tão perigosa já não devia ter sido oficialmente condenada?”
     Sim, devia.
     E com certeza o teria sido se não fossem os erros do Concílio Vaticano II (Concílio meramente pastoral e, portanto, não infalível). Erros como o ecumenismo, o “pastoralismo”, o antropocentrismo, a Nova Teologia neo-modernista e a funesta reforma da Liturgia. 
     O ecumenismo com os hereges protestantes não podia deixar de abranger a RCC. Afinal, como “acolher” a “árvore” e deixar o “fruto” de fora?...
     O “pastoralismo” também não permitiria condenar a RCC, pois isso seria desagradar a muitos, e a regra máxima da “pastoralidade” contemporânea é nunca desagradar ao povo (ainda que a custo do agrado de Deus)...
     O antropocentrismo, por sua vez, não parece condizer perfeitamente com o “culto” dos próprios sentimentos e emoções realizado pela RCC?
     A “Nova Teologia” neo-modernista repugna a teologia escolástica (eminentemente intelectual) e dá a entender que a Revelação significaria, principalmente, uma experiência pessoal, subjetiva, emocional com Deus, relegando a segundo plano as verdades a serem admitidas intelectualmente. Ora, a anti-racionalidade da RCC e a sua tal “experiência pessoal com Cristo” são apenas uma popularização disso.
     Foi a própria reforma litúrgica (na verdade, deforma litúrgica) que abriu as portas para Missas como as da RCC.
     A RCC não é senão uma das nuvens de “fumaça do inferno” que conseguiram entrar na Igreja após o Concílio Vaticano II e como conseqüência dele.
     Não há a menor dúvida que, se a RCC tivesse surgido na primavera da Fé, ou seja, na Idade Média, teria sido esmagada como uma seita herética qualquer.
     São Domingos teria enviado seus pregadores para extirpá-la.
     A refutação de seus erros teria sido imortalizada pela pena de São Tomás de Aquino.
     E sobretudo a Santa Sé não lhe teria poupado suas excomunhões.
     Mas como vivemos em tempos de ecumenismo...
     E assim multidões inteiras vão sendo enganadas.
     Há  pessoas ignorantes, que não são totalmente culpadas, entre os membros da RCC, como pode haver coisas que fazem não erradas na RCC. Com certeza. 
     Bem como pode haver alguma verdade em todas as heresias e falsas religiões (no Islamismo, no Judaísmo), já que o erro absoluto não existe...
     Elementos bons há em toda parte. O mal absoluto não existe mesmo. Sempre supõe um abuso do bem.
     Já Santo Inácio de Loyola, em suas “Regras para o discernimento dos espíritos” alertava que o demônio não hesita em usar coisas boas para levar a alma, no fim das contas, ao seu mau intento.
     Uma gota de veneno basta para contaminar todo um copo de suco.
     Quanto mais uma mentira tem semelhança com a verdade, tanto mais perigosa se torna.
     O Jansenismo parecia católico. Mas não era.
     O Sillon parecia católico. Mas não era.
     A RCC, bem considerada, nem parece católica. Tanto que um protestante pode, muitas vezes, participar tranqüilamente de suas reuniões.  
     A RCC é uma infiltração protestante dentro da Santa Igreja.
     Infiltração disfarçada, em diversos pontos.
     Mas descarada em muitos outros.
     O que consola é saber que as portas do inferno não prevalecerão contra a Esposa Imaculada do Cordeiro, a Santa Igreja Católica.
     Um dia veremos a Igreja livre dos erros do Concílio Vaticano II e dos delírios da Renovação Carismática Pseudo-Católica.
     Então adeus “blablablá”, adeus desmaios absurdos, adeus palmas e danças diante do Santo Sacrifício...
     E também: adeus Missa nova, adeus ecumenismo, adeus modernismo...
     A velha serpente será mais uma vez derrotada pela Celeste Vencedora de todas as heresias.
     Porém, não nos iludamos: somos nós o calcanhar da Virgem, com que Ela esmagará a cabeça do infernal sedutor.
     De que lado você está?

    Para citar este texto:
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MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/rcc_catolica/
Online, 27/04/2024 às 03:30:37h