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Comentário ao Vídeo do Padre José Eduardo: a Missa Nova não pode ser acusada de protestantizante, sob pena de excomunhão?
Eder Moreira
Em seu longo vídeo contra a posição tradicionalista da FSSPX e de seu fundador (Dom Marcel Lefebvre), Padre José Eduardo apresentou objeções aos pontos que ele qualifica como heréticos, cismáticos e até blasfemos. Sobre a Missa Nova, que é o ponto que nos interessa, disse o reverendo sacerdote que, afirmar que o rito de Paulo VI é prejudicial, na medida em que favorece uma interpretação protestante, é incorrer na excomunhão do Concílio de Trento.
Antes de entrarmos nessa questão, salientamos que não concordamos com todas as ações e prescrições da FSSPX, sobretudo com relação aos tribunais com poderes pontifícios que, cismaticamente, haviam sido erigidos para nulidade matrimonial. Entretanto, no que diz respeito à luta doutrinária contra a Missa Nova e aos erros do Vaticano II, concordamos perfeitamente!
Dito isso, reproduzo o cânon tridentino citado pelo padre José Eduardo:
“Se alguém disser que as cerimonias, as vestimentas e os sinais externos de que a Igreja Católica usa na celebração da Missa são mais incentivos de impiedade do que sinais de piedade — seja excomungado [Cân. 7, 954]”.
Sem considerar toda a trama histórica da revolução litúrgica – fartamente documentada –, além do próprio Ordo Missae, problemático em sua nova estrutura, Padre José Eduardo, na tentativa de sufocar o “problema”, se limitou a mencionar uma definição do infalível Concílio de Trento, indevidamente aplicada à Missa Nova de Paulo VI.
Na verdade, querendo contradizer ou excomungar os chamados tradicionais, o Padre José Eduardo criou, contra si mesmo, um grande problema. Ora, se a Missa Nova está protegida pelo cânon de Trento, não podendo ser acusada de favorecer a impiedade, muito mais protegida está a própria Missa Tridentina, cuja normatização está conectada diretamente com o Concílio de Trento.
Resumindo: se a Missa Nova não pode ser criticada, sob pena de excomunhão, tampouco a Missa de São Pio V.
Posto isso, segue o problema criado pelo Padre José Eduardo.
Sabemos, pelas fontes acessíveis, que Paulo VI e Bugnini foram os protagonistas na fabricação da Missa Nova. Entretanto, quando se descobre o motivo pelo qual ambos trabalharam pela revolução litúrgica, um problema se levanta, e deve ser resolvido, não pelos tradicionalistas, mas pelo neopentecostal Padre José Eduardo.
No seu Livro “O Movimento Litúrgico”, o padre Lefebvrista Didier Bonneterre nos serve com importantes informações. Uma delas é a ligação do Bugnini com esse movimento que, desde o início do século XX, trabalhou para aproximar a Missa católica da Ceia protestante. O grande arquiteto – fabricador da Missa de Paulo VI – participou de uma reunião dos membros do Movimento Litúrgico. Um dos participantes, Padre Duployé, nos proporcionou um dado interessante:
“Alguns dias antes da reunião do Thieulin, eu havia recebido a visita de um lazarista italiano, o padre Bugnini, que me havia pedido para ser convidado. O padre escutou atentissimamente sem dizer uma palavra, durante quatro dias. Quando voltávamos a Paris, e o trem estava na altura dos lagos Suíços, em Versalhes, me disse: ‘ADMIRO O QUE VOCÊS FAZEM, mas o maior serviço que lhes posso prestar É NUNCA DIZER EM ROMA UMA PALAVRA DE TUDO O QUE ACABO DE ESCUTAR’. (Didier Bonneterre. O Movimento Litúrgico. São Paulo: Caritatem, 2019, p. 79).
Quais eram os princípios do Movimento Litúrgico que conquistou a admiração do revolucionário Bugnini? Consultemos algumas declarações do Padre Louis Bouyer, discípulo de Dom Lambert Beauduin, o cabeça da conspiração. Segundo esse membro do movimento pela protestantização da Missa, a liturgia sofreu uma corrupção na Idade Média:
"No maior trabalho de erudição de nossa época sobre a história da Missa Romana Missarum Sollemnia de Jungmann, vemos com uma evidência indiscutível que a história da missa romana durante a Idade Média, é a história da maneira pela qual ela começou a se desintegrar por culpa dos próprios liturgistas medievais [...] uma insistência por demais unilateral sobre a presença real na santa Eucaristia, e a noção muito sentimental dessa presença...” (Louis Bouyer. Architecture et Liturgie. Paris: Ed. Cerf, 1991)
Segundo Bouyer, discípulo do chefe do Movimento Litúrgico, elogiado por Bugnini, a Missa da Igreja foi desintegrada pelos liturgistas medievais, passando a insistir - equivocadamente - na presença real de Cristo na Eucaristia!
Na visão protestante do padre Bouyer – que vai triunfar na Missa Nova – era preciso consertar a liturgia, dando menos ênfase no dogma da Eucaristia e na finalidade sacrificial da Missa!
Não é por acaso que o Movimento Litúrgico tinha simpatias pela Reforma Protestante, fonte de inspiração e um caminho a ser trilhado pelo Movimento admirado por Bugnini.
A propósito, é por ver no protestantismo uma inspiração de Reforma Litúrgica, que o ecumenismo caminhou de mãos dadas com o Movimento Litúrgico. Não é por acaso que o cabeça (Dom Lambert Beauduin) era um defensor do ecumenismo, razão pela qual acabou sendo alvo de condenação da Encíclica Mortalium Animos de Pìo XI (Didier Bonneterre. O Movimento Litúrgico. São Paulo: Caritatem, 2019, p. 42).
Para não dizer que esse pensamento – impiedoso contra a missa pré-conciliar – era exclusivo do padre Louis Bouyer, trago também o pensamento de Dom Ildefonso Herweger, do Mosteiro de Maria Laach, com o qual concordava o padre Bouyer:
“Dom Herweger – escreve – mostrou com mais força do que ninguém que o período medieval, por mais que sua maneira de praticar a liturgia tradicional tenha sido superior à prática barroca, já havia começado a OBSCURECER A LITURGIA COM INTERPRETAÇÕES FANTASIOSAS E DESENVOLVIMENTOS ESTRANHOS À SUA NATUREZA. Por isso, muito longe de produzir uma compreensão e uma prática ideal da liturgia católica, o período medieval, na realidade, abriu o caminho para o abandono da liturgia pelo protestantismo, e para o desfavor e a negligência de que finalmente seria objeto em uma parte tão grande do catolicismo pós-tridentino” (Didier Bonneterre. O Movimento Litúrgico. São Paulo: Caritatem, 2019, p. 91).
Para o Movimento Litúrgico, admirado por Bugnini, a liturgia da Igreja foi obscurecida com interpretações fantasiosas! Por causa dos desenvolvimentos estranhos à sua Natureza, a Missa foi desfigurada, provocando a ruptura protestante!
Acusações Gravíssimas!
Mas, dignas da aprovação do “mestre” Bugnini.
O Padre José Eduardo deve concordar, segundo sua exposição, que os membros do Movimento Litúrgico – ao acusarem tão impiedosamente a liturgia pré-conciliar – incorreram na excomunhão do Infalível Concílio de Trento.
A propósito, não apenas contra a definição de Trento. A heresia do Movimento Litúrgico, não escapa da Condenação da Constituição “Actorum fide”:
“A proposição que afirma: ‘Nestes últimos séculos se difundiu um ofuscamento geral sobre as verdades de maior importância que dizem respeito à religião e que são a base da fé e da doutrina moral de Jesus Cristo [É Herética]” (Denzinger 2601).
Exatamente o que dizia o Movimento Litúrgico admirado por Bugnini, isto é, que a Missa, base da fé na Idade Média, foi obscurecida com interpretações fantasiosas, necessitando ser corrigida por uma reforma litúrgica.
Como vimos, Bugnini – construtor da Missa Nova – admirava o Movimento Litúrgico que tinha ideias excomungadas!
Mas, prevejo um protesto continuísta: “calúnia rad-trad”!
Dirão os fervorosos malabaristas: admiração não significa que Bugnini tinha as ideias heréticas do Movimento Litúrgico, contra a Missa da Igreja.
Será?
Agora entramos no problema. Eu diria, na própria arapuca que o padre José Eduardo elaborou contra sua intenção – desastrosa – de salvar a produção protestante da Missa Nova.
Monsenhor Bugnini, impregnado pelos princípios do Movimento Litúrgico – contra a Missa pré-conciliar – exprimiu suas ácidas e impiedosas críticas contra a Missa Tridentina. A citação, retiro do próprio livro escrito pelo Bugnini:
Em resposta a um artigo do professor Hubert Jedin – que relacionava a crise com a liturgia reformada – contra-argumentou o admirador do Movimento Litúrgico:
“Por que, como historiador competente, que sabe ponderar una e altera pars, para um juízo equânime, não falar dos milhões e centenas de milhões de fieis que reencontraram, finalmente, o culto em espírito e verdade? Que, finalmente, podem rezar a Deus na própria língua, e não em sons ignotos, felizes, doravante, em saber o que dizem? Estes não são a Igreja? [...] Mas o senhor acredita que não há outros meios na Igreja para ‘construir’ a unidade? Acredita em uma profunda e sincera unidade quando há incompreensão, ignorância, ‘noite escura’ de um culto sem rosto e sem luz, pelo menos para ‘aqueles da nave da Igreja’” (Annibale Bugnini. A Reforma Litúrgica. São Paulo: Paulinas - Paulus - Edições Loyola, 2018, p. 253).
Para Bugnini, a Missa Tridentina não favorecia um culto em espírito e verdade! Seria, então, um culto medieval mecânico e fraudulento? Com a mesma convicção herética do Movimento Litúrgico (a Idade Média corrompeu a Missa) Bugnini ataca o culto da Igreja, acusando-o de incompreensível, uma noite escura (para não dizer treva) de um culto sem luz, que favorece a ignorância!
Como pode, padre José Eduardo, o pai da Missa Nova incorrer na excomunhão do Concílio de Trento, atacando, tão impiedosamente, a Santa Missa da Igreja? Terá o sr. coragem de dizer que o arquiteto da Missa de Paulo VI era um herege digno de excomunhão?
Quer mais uma prova, padre, de que Bugnini, seguindo os princípios heréticos do Movimento Litúrgico, queria aproximar a Missa Católica da Ceia protestante? Dou-lhe, com muita satisfação, na esperança de que o senhor compreenda a magnitude do problema.
Acredito que o Padre José Eduardo tem plena ciência de que, junto com o Missal da Nova Missa, havia uma Instrução Geral, também obra do “mestre” Annibale Bugnini, o provável agente da maçonaria!
Essa Instrução Geral foi alvo do Breve Exame Crítico, dos Cardeais Ottaviani e Bacci. Para uma objetiva demonstração – dentre várias – de que Bugnini tinha a intenção de aproximar a Missa católica da Ceia protestante, transcreveremos o trecho escandaloso da Instrução Geral do Missal:
“A Ceia dominical é a assembléia sagrada ou congregação do povo de Deus, reunindo-se sob a presidência do sacerdote, para celebrar a memória de Nosso Senhor” (Nº. 7).
Qualquer protestante, inclusive Lutero, aceitaria essa definição que, de forma alguma, faz alusão a presença real e a finalidade sacrificial da Missa. Ao contrário, reduz o culto católico a uma simples Ceia - dependente da presença da assembleia - para celebrar a memória, e não propriamente o Sacrifício da Cruz.
Embora um simples fiel consiga perceber que essa definição é favorável aos protestantes, convém ressaltar a explicação de quem é especialista:
“Nada disso implica por mais mínimo que seja nem a Presença Real, nem a realidade do Sacrifício, nem a função sacramental do padre que consagra, nem o valor intrínseco do Sacrifício Eucarístico, independente da presença da ‘assembléia’. Em uma palavra, a definição dada pela Instrução não implica nenhum dos valores dogmáticos que são essenciais à Missa e os quais, tomados em conjunto, fornecem a sua verdadeira definição. A omissão, num tal lugar, desses dados dogmáticos, não pode ser senão VOLUNTÁRIA. Semelhante omissão voluntária significa que já se consideram como obsoletos, e equivale, ao menos na prática, a negá-los”.
https://fsspx.com.br/sites/default/files/documents/breve_exame_critico_do_novus_ordo_missae.pdf
Quem estava por trás dessa definição protestante de Missa? Precisamente, Annibale Bugnini, o admirador do Movimento Litúrgico que via, na reforma protestante, o verdadeiro modelo para corrigir os desvios da Idade das Trevas!
Além do próprio texto da Instrução Geral, temperada com sabor protestante, a própria atuação do Bugnini confirma sua intenção herdada do Movimento Litúrgico. Para conseguir passar a Instrução protestantizante da Missa, Bugnini desobedeceu o Papa Paulo VI, não enviando a Instrução Geral para a Congregação para a Doutrina da Fé. É o que nos informa o Cardeal Journet:
“Bugnini trouxe o texto proposto do ordo da Missa e da Instrução Geral até o Santo Padre. O Papa disse que se limitaria a examinar o texto do Ordo da Missa e instruiu Bugnini a submeter a Instrução Geral à Congregação para a Doutrina da Fé. Entretanto, num ato de desobediência sem precedentes, Bugnini mandou o texto da Instrução Geral para a impressão sem submetê-lo à Congregação” (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 432).
A indignação provocada pela Instrução Geral, obra da mente protestante e desobediente de Bugnini, fez com que Paulo VI providenciasse os devidos retoques amenizadores. Assim, com muita má vontade, sutis modificações foram feitas “de maneira a evitar dificuldades de qualquer tipo, e para tornar certas expressões mais claras” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Niterói: Permanência, 2019, p. 256)
O texto propositalmente protestante do Bugnini, facilitado por sua deliberada desobediência, teve que ser clarificado, para parecer católico e menos favorável ao protestantismo. Por causa da manobra canalha do Bugnini, o Papa Paulo VI aprovou um texto com sabor protestante que, mesmo a contragosto, precisou sofrer retoques para não escandalizar.
Contudo, a manobra de protestantizar a Missa não se limitou à Instrução Geral. É óbvio que a definição luterana de Missa do Bugnini explicitou a sua intenção na própria estrutura da nova liturgia. E o mais importante: o rito da Missa não foi retocado. Passou ileso, satisfazendo a vontade protestante do Monsenhor Annibale Bugnini.
Que realmente o rito novo tinha uma orientação ecumênica, no sentido de agradar aos protestantes, confessou com entusiasmo o próprio Bugnini, no documento oficial da Congregação para Culto Divino:
“A reforma litúrgica é uma grande conquista da Igreja Católica, COM PROJEÇÃO ECUMÊNICA, já que outras Igrejas e denominações Cristãs veem nela não apenas algo a se admirar, mas também uma espécie de caminho a seguir” (Annibale Bugnini. Notitiae: Sacra Congregatio pro cultu Divino, N.º 92, abril 1974, p. 126).
A Missa católica que antes era detestada pelos “irmãos separados”, especialmente por Lutero, passou a ser admirada como referência de caminho para os protestantes!
Ora, se a Missa Nova não é favorável ao protestantismo, como agradou tanto aos protestantes?
A conclusão é inevitável: a Missa Nova é obra de um revolucionário! De um adepto do Movimento Litúrgico que, impiedosamente, atentou contra o cânon tridentino e trabalhou para protestantizar a Missa Católica. Em termos precisos: um excomungado, segundo o entendimento do Padre José Eduardo.
O sr. ainda acredita, padre, que a definição do Concílio de Trento pode salvar a Missa Nova? Ora, foi Bugnini, e não os tradicionalistas, que agiu contra as normas infalíveis da Igreja. Foi o protestante Bugnini que atacou a liturgia católica, acusando-a de rito tenebroso, favorecedor da ignorância, da incompreensão e contrário ao verdadeiro culto em espírito e verdade.
Assim foi fabricada a Missa Nova: com as ideias e as mãos de um inimigo da Missa da Igreja e do Concílio de Trento!
Mas, o sr. protestará, dizendo que apesar do plano maçônico do Bugnini, Paulo VI tinha boa intenção!
Como vimos, nem mesmo a suposta boa intenção do Papa impediu que a obra-prima do Bugnini - a Missa Nova – fosse impedida pela autoridade pontifícia. A Instrução Geral sofreu modificações. O rito protestantizante de Bugnini, passou sem modificações!
Isso é simples constatação, padre! Não é preciso um grande esforço hermenêutico. Nem mesmo a fantástica elasticidade dos continuístas pode contornar um fato incontestável.
Mas não pense que não temos nada a apresentar sobre Paulo VI e sua concordância com o Movimento Litúrgico!
A história fala, padre!
Fala até o que menos esperamos!
O sr. deve conhecer o filósofo Jean Guitton. Ele era amigo e confidente do Papa Paulo VI. Portanto, é natural que o amigo-confidente saiba mais detalhes que a maioria desconhece. Mas, antes de expor as interessantes revelações de Jean Guitton, acredito ser oportuno dar a conhecer a estima e a confiança que o Papa tinha em seu amigo predileto.
No livro do Guitton, intitulado “Diálogos com Paulo VI”, encontramos a seguinte informação:
“Por muito poderoso, porém, que seja o meu desejo de escrever, na esteira do Concílio, um livro intemporal, teria atirado este trabalho ao fogo se tivesse crido desagradar a Paulo VI. Foi por isso um instante de alegria quando, na manhã de 27 de Dezembro (dia em que a Igreja festeja um Evangelista que é também o meu patrono), recebi um telegrama de Paulo VI, onde pude ler estas palavras de censura e de doce absolvição: NIMIS BENE SCRIPSISTI DE NOBIS” (Jean Guitton. Diálogos com Paulo VI. Lisboa: Edições Livro Brasil, p. 7)
O amigo-confidente confessa sua preocupação em não dizer nada que desagrade a Paulo VI. Isso salienta seu interesse em transmitir com precisão fatos e confissões relacionados ao seu amicíssimo Pontífice. E que de fato ele é fiel em suas revelações, confirmou o mesmo Papa ao enviar-lhe uma carta com a seguinte declaração: “Haveis escrito (dito) excessivamente bem de nós”
Por ocasião de outra publicação, o Papa direcionou as seguintes palavras elogiosas ao seu “admirável” filósofo:
“Desde o primeiro dia do vosso ‘Monsieur Pouget’ e do seu diálogo de aprofundamento de si mesmo ao mesmo tempo que de comunicação com os outros, nunca mais deixámos de seguir com simpatia o desenvolvimento da obra que escrevíeis no prolongamento do seu universo de pensamento, onde a fé e a Inteligência vão ao encontro uma da outra e se enriquecem mutuamente com os seus fecundos apoios” (Jean Guitton. Diálogos com Paulo VI. Lisboa: Edições Livro Brasil, p. 11).
As palavras de confiança e satisfação do Papa colorem a enorme credibilidade que ele depositava no trabalho de seu “amigo-confidente”.
Colocada em evidência a credibilidade de Jean Guitton perante Paulo VI, vamos trazer uma interessante revelação do confidente do Papa. O livro em questão é “Pablo VI Secreto”. O título é sugestivo! Jean Guitton nos revelará algo que lhe foi confidenciado! Pelo Papa do Concílio e da Missa Nova.
“O Santo Padre me disse: ‘Considere a reforma litúrgica. Vou ainda mais longe que o senhor. Não só mantivemos todo o passado, mas reencontramos a fonte que é a tradição mais antiga, a mais primitiva, a mais próxima das origens. Ora, esta tradição fora obscurecida no curso dos séculos, e particularmente no Concílio de Trento” (Jean Guitton. Pablo VI Secreto. Madrid: Encuentro, p. 149).
Padre, percebeu a semelhança do pensamento de Paulo VI com o do Bugnini e do Movimento Litúrgico? Exatamente, a mesma opinião de que a Missa teria sido obscurecida na Idade Média, particularmente – diz o Papa – no Concílio de Trento.
Contra o Papa Pio VI, que condenou como herética essa ideia de que houve, no decorrer da história, um obscurecimento das verdades que são a base da Fé da Igreja.
Contra o Concílio infalível de Trento!
Como pode, padre, o Santo Papa da Missa Nova acusar tão gravemente o Magistério infalível da Igreja? Ora, concordando com o Movimento Litúrgico, Paulo VI acusa gravemente a Missa da Igreja de obscurantista, de treva, de ter se afastado da verdadeira tradição, como declarou o Bugnini.
Diga-nos, padre, estaria São Paulo VI excomungado pelo Concílio de Trento, por atacar de forma impiedosa uma Missa aprovada pela Igreja? Como sair dessa arapuca que o sr. mesmo armou ao tentar defender, indevidamente, a Missa Nova com o cânon tridentino?
Os dois protagonistas da Missa Nova (Paulo VI e Bugnini) contra o Concílio de Trento!
Hereges?
Excomungados?
Explique-nos, padre José Eduardo!
Para não ficarmos só nas palavras do Jean Guitton, que já tem um grande peso, vamos apresentar as próprias palavras do Papa, também ofensivas à Missa Tridentina.
Na Audiência Geral de 19 de novembro de 1969, o Papa Paulo VI explicou as razões da Reforma da Missa.
“A reforma, portanto, que está prestes a ser anunciada [...] é um passo à frente em sua tradição autêntica [...] Esta reforma põe fim às incertezas, às discussões e às decisões abusivas; e nos lembra daquela uniformidade de ritos e sentimentos que é própria da Igreja Católica, herdeira e continuadora daquela primeira comunidade cristã, que era toda "um só coração e uma só alma’”
Então, segundo Paulo VI, era necessária uma reforma da Missa para acabar com “incertezas, discussões e decisões abusivas”, aproximando a liturgia da tradição autêntica! Isso quer dizer que a Missa de Paulo VI foi uma correção da Missa Tridentina, fonte de dúvidas, de discussões e de decisões abusivas? A Missa Nova reaproximou a liturgia da autêntica tradição que, segundo Paulo VI, havia sido obscurecida pela Idade Média e, sobretudo, pelo Concílio de Trento?
Gravíssimo, padre!
Acusações inaceitáveis de Paulo VI!
Contra a Missa Tridentina!
Contra a Missa da Igreja!
Contra o Concílio de Trento!
Seria São Paulo VI um herege excomungado?
Aguardamos sua solução, padre José Eduardo!
Para confirmar que a mudança da Missa tinha por princípio a ideia herética do Movimento Litúrgico (a Missa foi corrompida na história e precisava ser corrigida) apresento uma outra prova na própria tradução portuguesa do Missal, baseada no texto original aprovado pela Congregação para o Culto Divino:
“Este documento procura orientar: a) Uma liturgia que alimenta e exprime a fé do povo cristão.Todo ele procura revelar a significação dos diversos elementos da liturgia, para que se torne rica de sentido para o povo” (Celebração da Eucaristia. São Paulo: Editora “Ave Maria”. p. 6).
Embora não o faça com a mesma agressividade de Bugnini e Paulo VI, o documento apresenta uma clara crítica ao Missal Tridentino. Nas próprias palavras do texto, sustenta-se que uma reforma da liturgia era necessária, uma vez que, perdendo seu sentido, o rito antigo não alimentava e não mais exprimia a fé do povo. De maneira clara, embora “educada”, o texto acusa a Missa de Sempre de ser prejudicial, necessitando, portanto, de reformulação!
Não é preciso muito esforço intelectual, padre, para perceber o incontestável!
A Missa Nova favorece o protestantismo!
Favorece por uma razão comprovada: ela foi feita por protestantes, com uma intenção protestante e para agradar aos protestantes.
Por isso o Concílio de Trento não pode garantir a pureza da Missa Nova!
Os tradicionalistas, ao constatar uma evidência, não atentaram contra a solene definição do Concílio de Trento. Os verdadeiros desobedientes foram os reformadores que, acusando gravemente a Missa de Sempre, fizeram uma Missa Nova para aproximar o Culto Católico da Ceia do protestantismo!
Cabe ao sr. padre José Eduardo, dizer se Bugnini e Paulo VI - autores da Missa Nova - incorreram ou não na excomunhão do Infalível Concílio de Trento.
Nossa Senhora lhe conceda a correta e justa compreensão, pois temos esperança de que isto venha a acontecer, uma vez que, no passado recente, o senhor já concordou com essas ideias quando, em conjunto com outros padres da Diocese de Osasco, assistia as aulas do Professor.
Creio não ser difícil mudar novamente.
Para citar este texto:
"Comentário ao Vídeo do Padre José Eduardo: a Missa Nova não pode ser acusada de protestantizante, sob pena de excomunhão?"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/pejoseeduardomissanova/
Online, 15/07/2025 às 02:08:55h