Igreja

A participação protestante na fabricação da Missa Nova: uma resposta à Orientação Pastoral de Dom Fernando Arêas Rifan
Eder Moreira

 “A Missa de Paulo VI parece ser a tradução de um serviço protestante”

(Jean Guitton).

 

No dia 6 de janeiro de 2007, Dom Fernando Arêas Rifan – Administrador Apostólico – havia publicado a Orientação Pastoral sobre o Magistério Vivo da Igreja. O cerne do documento visava orientar os católicos sobre o Concílio Vaticano II e a Nova Missa de Paulo VI. Ignorando a inquestionável evidência de uma descontinuidade litúrgica-teológica, fartamente documentada, sustentou a inequívoca ortodoxia dos textos conciliares e da atual liturgia fabricada.

Nesse artigo dedicaremos algumas linhas contra a tentativa lamentável de Dom Rifan em minimizar a participação dos protestantes no Concílio Vaticano II e, sobretudo, na elaboração do Novus Ordo Missae. Para tanto, apresentaremos o que disse o referido prelado acerca dessa questão:

“Por exemplo, a afirmação falsa de que seis teólogos protestantes teriam participado na elaboração dos novos textos litúrgicos, comprometendo assim a pureza da doutrina católica tradicional. A Sala de Imprensa da Santa Sé respondeu oficialmente, em 25 de fevereiro de 1976, que, como certos membros de comunidades protestantes haviam expresso em 1965 o desejo de acompanhar os trabalhos da Comissão Pontifícia para a aplicação da Constituição sobre a liturgia (Consilium – composto de 2 presidentes, 58 membros, 121 consultores e 73 conselheiros, todos católicos, é claro), em agosto de 1966, seis teólogos de diferentes denominações protestantes foram admitidos como simples observadores, (como também o Papa Beato Pio IX convidara, em 1868, todos os cristãos cismáticos e protestantes para assistirem o Concílio Vaticano I), mas que esses observadores protestantes não participaram na elaboração dos textos do novo Missal. Não seria honesto, portanto, continuar a usar tal argumento que não corresponde à verdade” (Dom Fernando Arêas Rifan. Orientação Pastoral sobre o Magistério Vivo da Igreja, em 06 de janeiro de 2007, disponível em: https://www.adapostolica.org/orientacao-pastoral-sobre-o-magisterio-vivo-da-igreja/).

A partir de uma exposição fundamentada, provaremos ser verdadeira a afirmação de que os seis pastores protestantes participaram da produção dos novos textos litúrgicos, comprometendo, desse modo, a exatidão da doutrina católica na Missa ecumenicamente adulterada. Com efeito, demonstrado esse fato histórico irrefutável, tornar-se-á insustentável a defesa que Dom Rifan faz do Vaticano II e da Missa Nova, ensinando uma noção de infalibilidade contrária à natureza do Magistério e à definição do Concílio Vaticano I. Cabe salientar que, recentemente, a Editora Cristo e Livros lançou uma versão portuguesa do Livro “Os graus de autoridade do Magistério da Igreja”, do Padre Bernard Lucien, prefaciado por Dom Fernando Rifan. É uma obra que se esforça em provar – contra o bom senso – que o Vaticano II, assistido pelo Espírito Santo, constituiu uma expressão segura e inquestionável da Tradição Católica.

É irrecusável a relação entre palavra e realidade como condição de veracidade. Se digo algo que a realidade desabona, então a palavra não pode ser tida por verdadeira. Assim, quem dissesse que o fogo não tem poder de consumir objetos de madeira, certamente seria contestado, pois é fato comprovado que a madeira não resiste ao poder do fogo que a consome inteiramente. Por isso, ao invés de discutir teologicamente se o Vaticano II foi ou não infalível, provaremos com base na realidade que a propaganda em defesa da sua infalibilidade é contestada pelos próprios fatos documentados.

Na sequência, analisaremos os pontos principais da Orientação Pastoral do Bispo Rifan, concernente à participação dos Protestantes.

A primeira inferência do Bispo, com sabor de imprecisão, é dizer, sem ressalvas, que a Comissão responsável pela Liturgia era composta por membros genuinamente católicos, de confiança insuspeita. Ora, sabia realmente Dom Rifan se entre os membros da Comissão não havia nenhum lobo em pele de cordeiro? Algum modernista ávido de modificar e assim revolucionar a verdade tradicional da Igreja? Já entre os doze Apóstolos houve um traidor de Cristo. Na história, os maiores inimigos da ortodoxia eram membros da Igreja. E São Pio X, em sua Encíclica Pascendi Dominici Gregis, advertiu que os fautores do erro “se encontram no próprio seio da Igreja”. Ademais, não é preciso ir mundo a fundo para verificar que o principal responsável pela “reforma” – Monsenhor Annibale Bugnini – não possuía um admirável histórico de catolicidade, fato que será comentado em um outro artigo subsequente.

Apesar do selo de ortodoxia concedido aos membros da Comissão, segundo a chancela falível de Dom Rifan, mostraremos, com testemunhos e documentos, o grau de interferência, participação e colaboração dos “pastores” protestantes, sob o beneplácito do Papa e dos clérigos conciliares.  

Uma segunda imprecisão do epíscopo, sobre o tema em discussão, é induzir à ideia de que não havia, por parte dos membros do Concílio, um interesse prévio quanto à presença dos líderes protestantes no Vaticano II. Como se essa participação fosse uma iniciativa dos próprios sectários, cabendo a Santa Sé apenas a concessão na condição de “observadores”.

Para realçar a patente fragilidade da informação, é importante recordar as medidas preliminares que visavam preparar o terreno para o início da revolução ecumênica. Dentre essas deliberações pré-conciliares, não mencionadas por Dom Rifan, temos a criação do Secretariado para a União dos Cristãos, em 5 de junho de 1960. A finalidade desse organismo era promover relações ecumênicas com os hereges e convidá-los, não à conversão, conforme o precedente exemplo do Papa Pio IX, no contexto do Concílio Vaticano I, mas a interativa cooperação junto aos reformadores na modificação da doutrina e da liturgia do catolicismo:

“O fato de o primeiro Concílio do Vaticano não ter conseguido realizar a união dos cristãos pairava como uma nuvem ameaçadora sobre o segundo. Mas João XXIII, em seu otimismo, não quis levar isso em consideração. Quando informou ao mundo sua intenção de convocar um concílio ecumênico, falou imediatamente ‘de um novo convite feito aos fiéis das Igrejas separadas para que se unam amigavelmente a nós, nesta busca pela unidade e de graça a que tantas almas aspiram pelo mundo a fora’. E entre as numerosas comissões e secretarias que ele instituiu em 5 de junho de 1960, para empreender a tarefa imediata de preparar o Concílio, figurava o Secretariado para a União dos Cristãos. Tinha por finalidade estabelecer contatos com os Ortodoxos, os Velhos Católicos, os Anglicanos e os Protestantes, e convidá-los a enviar representantes oficiais ao Concílio” (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p.124).

Quanta diferença entre as palavras do Papa Pio IX, convidando os hereges e cismáticos à conversão à única e verdadeira Igreja de Cristo, e o ecumênico convite do Papa João XXIII, que parece colocar, ambiguamente, a Una Igreja de Cristo no mesmo nível das seitas divorciadas, como se, junto com elas, estivesse em busca de uma unidade inexistente. Ora, a Igreja Católica é Una desde a sua fundação, como bem ensinou o Papa Pio XI em sua Encíclica Mortalium Animos:

“Ocorre-nos dever esclarecer e afastar aqui certa opinião falsa, da qual parece depender toda esta questão e proceder essa múltipla ação e conspiração dos acatólicos que, como dissemos, trabalham pela união das igrejas cristãs. Os autores desta opinião acostumaram-se a citar, quase que indefinidamente, a Cristo dizendo: ‘Para que todos sejam um’... ‘Haverá um só rebanho e um só Pastor’ (Jo 27,21; 10,16). Fazem-no, todavia, de modo que, por essas palavras, queriam significar um desejo e uma prece de cristo ainda carente de seu efeito. Pois opinam: a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo, quase nunca existiu até hoje e nem hoje existe [...] Que, no máximo, a Igreja foi única e una, da época apostólica até os primeiros concílios ecumênicos. Assim, dizem, é necessário colocar de lado e afastar as controvérsias e as antiquíssimas variedade de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome cristão…” (Mortalium Animos, IX).

Que contraste ao se comparar esse pronunciamento com a súplica ecumênica de João XXIII, pedindo o esquecimento tolerante dos erros que arrastam as almas para o Inferno: “Pense portanto cada um, não no que os divide, mas no que os pode unir na mútua compreensão e recíproca estima” (Papa João XXIII, Encíclica Ad Petri Cathedram, XX).

Esquecer e não combater, eis a caridade aggiornata do Vaticano II

Enquanto o Papa Pio XI considera um erro promover a unidade pelo esquecimento das divergências, João XXIII incentiva uma união recíproca pelo esquecimento dos pontos discordantes

Dois ensinamentos!

Duas orientações incompatíveis!

Na linha do Magistério de Pio XI, em consonância com a tradição bimilenar, a Igreja sempre advertiu os hereges quanto a necessidade do arrependimento e a submissão ao Romano Pontífice, convidando-os, sob pena de eterna condenação, a retornar à unidade da Igreja Católica. É o que ensinou, no mesmo documento, o referido Pontífice com uma linguagem digna de um Magistério sem ambiguidades:

“Aproximem-se, portanto, os filhos dissidentes da Sé Apostólica, estabelecida nesta cidade que os Príncipes dos Apóstolos Pedro e Paulo consagraram com o seu sangue; daquela Sede, dizemos, que é ‘raiz e matriz da Igreja Católica’ ( S. Cypr., ep. 48 a d Cornelium, 3), não com o objetivo e a esperança de que ‘a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade’ ( 1 Tim 3, 15) renuncie à integridade da fé e tolere os próprios erros deles, mas, pelo contrário, para que se entreguem a seu magistério e regime” (Mortalium Animos, XVIII).

O próprio efeito diverso de ambos os convites confirma o propósito discordante. Diante do chamado de Pio IX, evidentemente alinhado com o verdadeiro espírito missionário, “nenhum patriarca ou bispo ortodoxo aceitou o convite”. Quanto aos protestantes e outros não católicos, a carta de convite “foi igualmente considerada ofensiva, e teve um resultado mínimo” (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p.124).

Já em relação ao convite para o Concílio de João XXIII, a reação dos observadores foi positiva e satisfatoriamente correspondida.

Isso comprova que houve sim o interesse e a iniciativa do Papa e de seus subordinados conciliares, no sentido de obter a presença colaborativa dos cismáticos e protestantes nas sessões do Vaticano II. Infelizmente Dom Rifan omite muita informação para inocentar o Concílio e sua Missa desfigurada. Basta recordar o traidor pacto de Metz, solidamente documentado, pelo qual o Vaticano se comprometeu a não condenar o comunismo, em troca de observadores da Igreja Ortodoxa Russa no Concílio. Logo, mais uma vez ficou demonstrado, de modo inapelável, que houve a iniciativa do Concílio, a ponto de silenciar diante do comunismo, por um miserável acordo Vaticano-Moscovo (Romano Amerio. Jota Unum, Ricardo Ricciardi editori, Milano - Napoli, 1985).

A terceira prova de que os organizadores e condutores do Concílio almejavam, ardentemente, a presença dos hereges na condição de cooperadores, será adiante desenvolvida, com as devidas citações que Dom Rifan desconhece – julgando precipitadamente – ou talvez simule uma suposta ignorância para não comprometer a suposta infalibilidade do Vaticano II e da Missa Nova.

No intuito de desqualificar como mentirosa a participação dos protestantes na posição de consultores e cooperadores na produção do Novus Ordo, Dom Rifan faz referência ao pronunciamento da Sala de Imprensa da Santa Sé, que respondeu oficialmente dizendo que, como simples observadores, os seis teólogos protestantes foram admitidos, não tendo qualquer participação na elaboração dos textos do novo Missal.

Para dar mais força ao argumento de Dom Rifan, poderíamos citar a própria declaração de Monsenhor Annibale Bugnini, secretário responsável pela elaboração e implementação do Novus Ordo Missae. Segundo esse muito provável “agente” da maçonaria, os protestantes não ajudaram a fazer a Missa Nova. Eles participaram como meros observadores (apud Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Ed. Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 500). Outras declarações seguem esse mesmo protocolo de negar, a todo custo e contra fatos, a participação querida, promovida e facilitada pelos clérigos conciliares, no sentido de aproximar, tanto quanto possível, a Missa católica da Ceia protestante (Jean Guitton apud Padre Dominique Bourmaud. Cien Años de Modernismo. Edição PDF, p. 211).

Essa objeção foi muito bem respondida por Michael Davies, em sua supracitada obra A Missa Nova de Paulo VI:

“Essas negações tem sido desde então citadas pelos apologistas da reforma oficial como ‘refutações’ da alegação de que os observadores protestantes tiveram uma participação ativa na compilação dos novos ritos. Há, entretanto, uma diferença considerável entre uma negação e uma refutação, e essas negações particulares são totalmente gratuitas e contradizem a evidência disponível” (Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 499-500).

Era esperada uma declaração negativa por parte da Imprensa do Vaticano, bem como daqueles que participaram dessa conspiração deformadora da liturgia. Quem organiza um crime não quer ter revelado seu plano desonesto. Quando denunciado, normalmente nega o feito e a intenção malévola. Por isso devemos ir além das puras declarações gratuitas, e considerar os fatos concretos envolvendo a ativa participação dos protestantes.

Em outro artigo “Missa Nova e a hermenêutica da ruptura”, havíamos comprovado a participação protestante na reforma litúrgica pela declaração de Monsenhor W. Baum: “Eles [os pastores protestantes] ali estão não simplesmente como observadores, mas também como consultores, e participaram nas discussões sobre a renovação litúrgica católica. Não teria muito sentido se só ouvissem, mas contribuem de fato” (Detroit News apud padres tradicionalistas de Campos. A Missa Nova: um caso de consciência. São Paulo: Artpress, 1982).

Esse pronunciamento não provém de um simples padre da Igreja. Por isso Michael Davies ressalta a posição desse monsenhor quando da sua enfática declaração:

“Para colocar essa declaração em seu contexto correto, tem de se deixar claro que, quando feita, o monsenhor Baum era diretor-executivo da Comissão para Assuntos Ecumênicos dos Bispos Católicos Americanos e o primeiro porta-voz católico convidado a discursar para o Sínodo Geral da Igreja Unida de Cristo, uma denominação protestante americana, Durante seu discurso, revelou aos delegados que estudiosos protestantes ‘tinham tido influência’ na revisão da liturgia católica” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 500).

Por causa desse texto de um importante clérigo-diretor, fomos acusados, na época, de mentirosos e difamadores do Papa Paulo VI. Como a Sala de Imprensa do Vaticano disse que os protestantes foram admitidos somente na condição de simples observadores, deveríamos abandonar, com dócil obediência, todas as provas que conduzem logicamente para uma conclusão adversa.

O itinerário das provas abonará nossa posição contra a infundada Orientação Pastoral de Dom Rifan.

***

No início do Vaticano II, os leigos eram, até então, simples observadores das decisões conciliares. Porém, essa situação foi revertida quando, em 13 de novembro de 1963, introduziu-se um novo artigo no Regimento Interno do Concílio que, sob aprovação do Papa, concedia aos leigos observadores o direito de intervenções discursivas durante as sessões:

“Por gratuita concessão do Sumo Pontífice, renomados leigos podem assistir às sessões públicas, às Congregações Gerais e às reuniões das Comissões. Mas só podem tomar a palavra se forem solicitados pelo Moderador da assembleia ou pelo presidente de uma comissão, a dar a sua opinião em circunstâncias particulares e do mesmo modo que os especialistas” [Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p. 188].

Oficialmente, os leigos observadores poderiam dar opiniões, participando e assim contribuindo com as decisões do Concílio.

Os meros observadores - segundo Dom Rifan, começavam a ter voz participativa no Vaticano II.

Sob esse espírito democrático, Paulo VI convidou onze homens para participarem da segunda sessão do Vaticano II, na qualidade de “Auditores”. Esses personagens eram então leigos que, após prévia autorização, poderiam discursar e opinar democraticamente.

A primeira intervenção leiga aconteceu em 13 de outubro, quando foi concedida a palavra ao Sr. Keegan, de Londres, presidente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos. Diante da Assembleia Geral, pronunciou suas considerações em favor da abertura do Concílio às opiniões dos leigos, recebendo, por isso, um caloroso aplauso dos Padres Conciliares (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p. 191).

Esses auditores também elaboravam propostas que eram oficialmente submetidas às Comissões. Tinham também não raras oportunidades de discutir, com os padres, os especialistas e os observadores das Igrejas Cristãs Separadas, os assuntos debatidos no Concílio (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p.189).

Além de submeterem suas propostas às Comissões, os leigos “observadores” também eram livres para discutirem com os “observadores” das Igrejas cristãs separadas. Desse modo, seria possível aos leigos católicos retransmitirem às Comissões as queixas e as opiniões dos “irmãos separados”. Mas, como os hereges tinham contato direto com os padres conciliares, para manifestarem suas considerações, essa mediação certamente tornou-se desnecessária.

Ao término da sexta semana da primeira sessão, concedeu uma entrevista o Sr. Cullman, professor nas universidades de Basiléia e de Paris, na condição de hóspede do Secretariado para a União dos Cristãos. Nessa entrevista, o professor disse que era autorizado aos convidados e observadores assistir a todas as Congregações Gerais, comunicar seus pontos de vista nas reuniões semanais especiais do Secretariado, além de terem contato pessoal com os Padres Conciliares, especialistas e outras personalidades romanas (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p.127-128).

No começo da segunda sessão do Concílio, Paulo VI recebeu em audiência os observadores e convidados. Na circunstância, dirigiu-se ao Papa o observador da Federação Luterana Mundial, Dr. Kristen Skydsgaard, exprimindo sua gratidão pela renovação do convite para a segunda sessão do Concílio. Retribuindo ecumenicamente a gratidão do herege, manifestou o Pontífice o desejo de receber os observadores e convidados “no coração de sua intimidade” (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p. 129).

Simples observadores ou ativos cooperadores?

No dia 18 de outubro, o Cardeal Bea concedeu uma recepção aos observadores e convidados. Na circunstância, o prelado solicitou que encaminhassem suas críticas, recordando as seguintes considerações do Papa: “Devemos acolher com humildade, reflexão, e mesmo com reconhecimento, as críticas que nos são feitas; Roma não precisa se defender; não deve permanecer surda às sugestões que lhe vêm de vozes honestas, e muito menos quando estas vozes são de amigos e de irmãos” (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p. 129).

Roma deveria então acolher as sugestões dos amigos e irmãos (separados), mesmo em se tratando de líderes de seitas, inimigos da Igreja Católica.

Se o Vaticano II quisesse realmente reafirmar a Fé tradicional da Igreja, e combater os erros contra a Ortodoxia, não haveria lógica em solicitar aos inimigos da Fé o envio de críticas ou sugestões que, provenientes de hereges, deveriam ser combatidas em defesa da Fé, e não acolhidas e reconhecidas amigavelmente.

Na conclusão, o Cardeal prometeu grande atenção às suas críticas positivas, anseios e sugestões (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, 129).

Que crítica positiva poderia vir dos hereges que corrompem almas ensinando doutrinas contrárias ao Evangelho de Cristo? De seitas que combatem a doutrina e o culto do Catolicismo? Inocência Vaticana ou anseio por uma doutrina e culto ecumenicamente modificado ao gosto da opinião protestante?

Os fatos respondem essa questão indubitavelmente.

Durante um discurso de agradecimento do Papa Paulo VI, o chefe da delegação anglicana transmitiu, diante do Pontífice, seu discurso em nome dos observadores-delegados: “Nenhuma vez sequer durante estes quatro anos [...] sentimos que nossa presença incomodasse fosse a quem fosse. Ao contrário, sempre nos pareceu que ela havia CONTRIBUIDO, em vários aspectos, para o ÊXITO DO CONCÍLIO e da grande tarefa de REFORMA que ela empreendeu(O Reno se Lança no Tibre. p. 285].

Na presença do Papa Paulo VI, o simples “observador” da delegação anglicana afirmou que os representantes de outras religiões contribuíram para o êxito do Concílio e da reforma que ele promoveu. Ora, como seria possível essa contribuição protestante através de uma simples presença sem possibilidade de intervenção? Logo, essa colaboração sugere uma atuação dos protestantes no Vaticano II. Ademais, esse discurso foi dito diante do Papa que, ao invés de contestá-lo em defesa da pureza do Concílio, corroborou essa contribuição, como veremos posteriormente.

Na descrição do chefe da delegação anglicana (Dr. Moorman), entrevemos a bem sucedida “pressão” exercida pelos observadores protestantes:

“Estavam [os protestantes] exercendo algum tipo de fiscalização sobre o que estava sendo dito. Cada bispo que se levantava para falar sabia que na tribuna de São Longuinho estava um grupo de pessoas inteligentes e críticas, com seus lápis e canetas preparados para registrar o que foi dito e possivelmente usar como evidência contra ele e seus colegas em alguma ocasião futura. (...) Portanto, membros do Concílio tendiam a ser muito sensíveis ao que os representantes daquelas outras comunhões estavam pensando, e faziam o que era possível para evitar dizer qualquer coisa que pudesse causar ofensa. Se algum Padre esquecesse e dissesse coisas que causassem alvoroço na tribuna dos observadores, era às vezes repreendido por algum orador que lhe sucedia” (J. Moorman. Vatican Observed. Londres, 1967, p. 26 apud Michael Davies. O Concílio de João XXIII. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 134).

Com esse eficiente poder de interferência nas decisões do Concílio, nem seria preciso conceder aos “observadores” o direito de voto e voz. Entretanto, não tardou a participação discursiva deixar de ser, de algum modo, uma impossibilidade aos “não-católicos”. Habilmente burlou-se a interdição, como se pode visualizar nas palavras do chefe anglicano:

“... apesar de não ser permitido que os observadores falassem no Concílio, seus discursos eram às vezes levados a público por um ou outro Padre” (J. Moorman. Vatican Observed. Londres, 1967, p. 28 apud Michael Davies. O Concílio de João XXIII. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 135).

Não é preciso direito de voz para quem dispunha de porta-voz. Os protestantes transmitiam suas ideias por intermédio de alguns padres. A participação, portanto, não consistia apenas em observar os acontecimentos. Os hereges atuaram e contribuíram para a mudança doutrinal e litúrgica do Vaticano II, e com a ajuda traidora de padres conciliares.

Segundo o testemunho do delegado luterano, Oscar Cullmann, os protestantes eram elementos vivos e ativos no Concílio: “Cada manhã [...] eu me admiro mais em ver a que ponto tomamos verdadeiramente parte no Concílio” (Ralph Wiltgen S.V.D. O Reno se Lança no Tibre: O Concílio Desconhecido. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2007, p. 128).

Em uma reunião organizada pelo seu Secretariado, O Cardeal Bea delimitou o alcance da ação dos observadores na redação do Decreto sobre o Ecumenismo: “Não hesito em afirmar que eles contribuíram de forma decisiva para alcançarmos esse resultado” (The Tablet, 31 de outubro de 1964 apud Michael davies. O Concílio de João XXIII. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 135). O professor B. Mondin, do Pontifício Colégio de Propaganda para as Missões, também testemunhou que os observadores, a exemplo do Dr. Cullman, produziram uma “CONTRIBUIÇÃO VÁLIDA” para a redação dos documentos conciliares. (L’Osservatore Romano (edição inglesa), 14 de junho de 1973, p. 8 apud Michael Davies. O Concílio de João XXIII. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 135). A infiltração protestante também é atestada pelo Padre Holandês Schillebeeckx:

Espanta quando você vê que tem mais simpatia pelo pensamento de ‘observadores’ cristãos não católicos do que pelas opiniões de seus próprios irmãos do outro lado da linha divisória. Logo, a acusação de conivência com a Reforma Protestante não é de todo infundada. O que está, de fato, acontecendo então?” (Catholic Gazette, janeiro de 1964, p. 6 apud Michael Davies. O Concílio de João XXIII. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 136).

Então os padres do Concílio tinham mais interesse na opinião dos hereges protestantes. Por essa razão - abonando nossa posição - asseverou o “perito conciliar” não ser desprovida de fundamento a ideia de que observadores protestantes, de fato, ajudaram na letra do Vaticano II. Logo, podemos seguramente reafirmar nossa primeira conclusão, declarando que a Missa Nova e alguns documentos do Concílio são produções da mútua cooperação entre padres traidores e líderes de seitas do Diabo. 

Não se pode, portanto, recusar a realidade para defender a indefensável infalibilidade da Missa Nova ou a inequívoca ortodoxia do Vaticano II. Nesse sentido, tanto a Orientação Pastoral de Dom Rifan, como o Livro do Padre Lucien, que o bispo prefaciou, não resistem aos fatos que se impõe de modo irreversível. Nenhuma proposição, por mais engenhosa, pode ser sustentada quando refutada pelas próprias evidências.  

Por esses fatos, registrados e testemunhados, é impossível minimizar o papel desempenhado pelos seis observadores protestantes, enfatizando que não lhes era permitido votar nas Sessões Plenárias. Conforme observou Dom Lucey, bispo de Cork na Ross, “No próprio Concílio [...] os especialistas que trabalhavam nos bastidores redigindo os documentos conciliares eram pessoas com poder real e mais influentes do que muitos bispos” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 40).

Assim como os pedreiros de uma obra não participam do lançamento de um novo edifício, mas cooperam na fase principal que é a sua construção, os observadores não participaram da votação nas Sessões Plenárias, mas atuaram, como colaboradores, na fase principal de elaboração da nova doutrina e da nova liturgia, fruto do espírito democrático e ecumênico do Vaticano II. Esse dado nos fornece a dissertação de Michael Davies:

“... o trabalho da Consilium foi realizado principalmente nas fases preparatórias que desembocavam nas Sessões Plenárias. Os observadores protestantes eram capazes não apenas de usar sua influência durante o trabalho preparatório, mas podiam também participar das Sessões Plenárias e, pelo menos em uma ocasião, pudera até falar durante uma das sessões – uma revelação em que, não tivesse sido feita pelo padre Anthony Boylan, secretário da Comissão Litúrgica de Inglaterra e Gales, seria difícil acreditar” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 240-241).

Simples observadores?

Impossível continuar repetindo essa inverdade histórica. Isso é, com todo respeito à dignidade episcopal de Dom Rifan, uma Desorientação Pastoral!

Por mais que seja suficiente o volume de provas apresentadas, é preciso muita luz contra quem insiste em negar, de modo obstinado, a amarga realidade de uma Missa construída com o empenho de mãos indignas. Na esperança de reverter a crônica cegueira dos defensores da infalibilidade da Missa Nova e do Vaticano II, esticaremos um pouco mais o assunto, reproduzindo mais algumas preciosas informações, fruto da diligente investigação de Michael Davies.

No intento de obter a verdade sobre a atuação dos protestantes, Michael escreveu a um dos observadores, o cônego Ronald Jasper, que lhe concedeu a seguinte resposta, conforme descrição contida no livro a Missa Nova de Paulo VI: “Em sua resposta datada de 10 de fevereiro de 1977, ele explicou que os observadores recebiam todos os documentos dos redatores do novo rito da mesma forma que os outros membros da Concilium. Estavam presentes nos debates quando os textos eram apresentados pelos especialistas e debatidos pela Concilium, mas não lhes era permitido participar do debate” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 501).

Ora, se os protestantes eram meros observadores, por qual razão eram tratados como se fizessem parte da Comissão responsável pela reformulação do Missal? Queriam os redatores do novo rito incentivar e favorecer a participação dos protestantes, mantendo-os tão informados e participativos quanto os membros da Concilium?

Na sequência da resposta, Ronald Jasper – observador convidado – faz mais algumas revelações narradas por Michael Davies:

“Na parte da tarde, entretanto, sempre tinham uma reunião informal com os peritos que tinham preparado os textos dos ritos e, nessas reuniões, certamente podiam comentar, criticar e fazer sugestões. Ficava então por conta dos peritos decidir se valia a pena levar para os debates da Consilium alguns dos pontos levantados pelos observadores” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 501).

Os redatores da Concilium foram designados para fabricar uma nova liturgia. Ora, se o propósito era fazer uma Missa católica, que fosse reflexo da doutrina tradicional da Igreja - fortemente odiada pelos protestantes - porque possibilitar aos hereges a intervenção por meio de comentários, críticas e sugestões, sendo que, o desejo dos sectários é, seguindo os passos de Lutero, transformar a Missa numa ceia teatral, esvaziada de sentido sacrifical propiciatório? Consultar protestantes para fazer uma Missa católica é o mesmo que consultar Karl Marx para fazer o Catecismo da Igreja. É algo absurdamente inadmissível, fato que, de si, prova a intenção de obter uma Missa que pudesse ser aceitável aos protestantes.

Ainda que os líderes das seitas não pudessem votar no Concílio, eles poderiam – e assim o fizeram – participar das sessões de estudo, desempenhando um papel ativo nas discussões informais, onde o trabalho mais importante, de redigir os documentos, era realizado. Ajudantes da “reforma”, encaminharam críticas e sugestões aos redatores da comissão litúrgica.

Para se fazer uma Missa Católica é preciso recorrer à Tradição Católica, e não à opinião dos hereges que destruíram o verdadeiro culto a Jesus Cristo. Quem pretendesse fazer uma liturgia católica consultando protestante, certamente não teria um resultado de inequívoca ortodoxia, mas um compilado de imprecisões e de aproximação da “teologia” do protestantismo.

Que os observadores-cooperadores tiveram essa participação, contribuindo na produção do que se denominou Novus Ordo Missae, temos mais algumas provas coletadas por Michaels Davies. Em sua muito bem documentada investigação, recorrendo diretamente às testemunhas participantes do evento, encontramos o depoimento do arquidiácono Pawley, observador anglicano, que assim descreveu a real atuação dos observadores protestantes:

“... no curso do próprio Concílio, as mais plenas cortesias e oportunidades para comunicação e troca de ideias eram dadas aos observadores em cada etapa, e traços do processo podem ser conhecidos nos próprios documentos” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 501).

Ainda mais esclarecedora é a confissão do observador presbiteriano Robert McAfee Brown:

“Particularmente durante a discussão sobre o ecumenismo, era aparente que muitos bispos queriam saber quais eram as reações protestantes às declarações do schema sobre o protestantismo, e queriam descobrir as opiniões protestantes sobre como o schema podia ser melhorado. Assim, apesar de não termos tido uma ‘voz’ direta no plenário do Concílio, tivemos realmente uma voz indireta por meio dos muitos contatos possíveis com os Padres e seus fortes e indispensáveis braços direitos, os peritos” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, 501)

Segundo essa confissão, havia um grande interesse no sentido de que os protestantes realmente contribuíssem para a modificação da doutrina e da Missa Católica.  

Esse observador protestante - Robert McAfee Brown - faz outra surpreendente revelação, conforme a redação investigativa de Michael Davies:

“O Dr. McAfee Brown também revela que havia ocasiões em que os observadores eram capazes de ter voz direta no plenário. ‘Há algo que vocês, observadores, querem que seja dito no plenário do Concílio sobre o ecumenismo?’ perguntava um bispo. Os observadores colocavam então suas opiniões por escrito, e estas eram incorporadas nas intervenções escritas feitas em nome deles pelos bispos” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 501-502).

A sala de Imprensa do Vaticano - órgão falível - não pode contradizer, gratuita e tiranicamente - as próprias testemunhas que participaram do Vaticano II. Nem mesmo o suspeito Annibale Bugnini, agente secreto da maçonaria. Os fatos derrubam essas declarações como carentes de fundamentação e sem conexão com a realidade documentada e testemunhada.  

A própria atitude do Papa Paulo VI, depois da reforma litúrgica, confirma essa participação cooperativa dos protestantes. Após o término do trabalho de modificação da Missa, o Pontífice recebeu os colaboradores dessa traição ecumênica. Esse evento revelador ficou marcado pela fotografia de Paulo VI juntamente com seis pastores protestantes. A foto foi publicada pela revista La Documetation Catholique:

“A revista La Documentation Catholique de 3 de maio de 1970 publicou uma fotografia do Papa Paulo VI com os seis consultores protestantes, quando aquele recebeu os membros da Consilium pela primeira vez em 10 de abril de 1970, assim que o trabalho desta tinha sido concluído” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 237)

Na edição de dezembro de 1973 de Itinéraires, Jean Madira, editor da revista, fez um comentário particularmente perspicaz em relação à fotografia e à reportagem:

“O Novus Ordo Missae foi conquista por excelência, a obra-prima dessa Comissão Consilium, que o criou com a cooperação ativa de seis hereges, os seis que podem ser vistos na fotografia à direita do santo Padre [...] o Novus Ordo Missae não foi apenas fabricado com a colaboração e o acordo de seis pessoas que possuem conhecimento especializado, escolhidas individualmente por sua reputação internacional ou sua boa aparência e que, por acaso, também calhavam de ser hereges. Não. O Novus Ordo Missae foi fabricado com a conivência de seis representantes oficiais de várias heresias, convocados especificamente como tais, para organizar nossa renovação litúrgica. Eles produziram exatamente o tipo de liturgia e o tipo de renovação que se poderia esperar em vista do que representavam” (Michael Davies. A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 237-238).

Para o epílogo desta dissertação, nada mais apropriado que reproduzir, novamente, as próprias palavras de agradecimento do Papa Paulo VI que, após o término do trabalho da Comissão - fabricação da Missa Nova - direcionou aos presentes, incluindo seus queridos “observadores”, seu sincero agradecimento pela cooperação na empreitada em favor da “unidade” e do ecumenismo:

“Nós temos de agradecer-vos muito vivamente [...]. O que vos era pedido, não era fácil com efeito [...]: redigir de uma maneira nova textos litúrgicos provados por um longo uso, ou estabelecer fórmulas inteiramente novas” (La Documentation Catholique apud padres tradicionalistas de Campos. A Missa Nova: um caso de consciência. São Paulo: Artpress, 1982).

Sobre esse discurso aterrorizante, observou Michael Davies:

“Na p. 417 da mesma edição de La Documentation Catholique, é reportado que Paulo VI expressou seus agradecimentos aos membros da Consilium pela forma como ‘reeditaram de uma maneira nova textos litúrgicos experimentados e testados por longo uso, ou introduziram fórmulas completamente novas’. Agradeceu-os ainda por ‘concederem maior valor teológico aos textos litúrgicos, para que a lex orandi se conformasse mais com a lex credendi” (A Missa Nova de Paulo VI. Editora Permanência: Rio de Janeiro, 2019, p. 238).

Intrigante e ao mesmo tempo esclarecedora declaração de Paulo VI.

Por que os meros “observadores”, segundo a inverídica opinião de Dom Rifan, estariam presentes na reunião de recepção da Comissão responsável pela elaboração da Nova Missa? Se eram meros observadores que em nada participaram e contribuíram com a missão da Concilium, seria obviamente despropositada e injustificada a presença desses líderes de heresias. Logo, se ali estavam presentes, é porque eram também dignos dos louvores que o Papa direcionou a todos os contribuintes que atuaram, direta ou indiretamente, na produção e implementação de uma liturgia que foi motivo de aprovação e festa entre filhos de Lutero.

Esse nosso pensamento encontramo-lo nas conclusões lógica de Monsenhor Marcel Lefebvre::

“Podemos legitimamente pensar, que foi por isso que os protestantes foram convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica; para ficarmos sabendo se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam ou não rezar conosco. Eu penso que não pode existir outro motivo para esta presença dos protestantes na Comissão de reforma da Missa. Mas como podemos pensar que protestantes, que não têm nossa fé, possam ser convidados para uma Comissão destinada a fazer uma reforma de nossa Missa, de nosso Sacrifício, daquilo que temos de mais belo, de mais rico em toda a Igreja, o objeto mais perfeito de nossa fé?!” Monsenhor Marcel Lefebvre. A Missa de Lutero. Florence – 15 de fevereiro de 1975.

Por mais que se tente distorcer as evidências, é fato inquestionável essa contribuição herética na elaboração de uma Missa ecumênica, perfeitamente aceitável, segundo a interpretação dos protestantes. Nem mesmo uma “Orientação Pastoral” pode suplantar essa triste realidade histórica.

No desfecho dessa nossa resposta, a Editora Cristo e Livros postou uma nova mensagem-propaganda do Livro do Pe. Bernard Lucien, prefaciado por Dom Fernando Rifan. Recomendando a leitura do livro “Os graus de autoridade do Magistério da Igreja”, os responsáveis pela edição portuguesa garantem ser uma obra que resolve as principais controvérsias sobre o Vaticano II e o Magistério da Igreja. Essa produção pretende ser uma resposta adequada ao erro dos modernistas e aos equívocos dos tradicionalistas. Chega a ser cômico que, depois de tanta investigação, de tantas provas, declarações, realizações e testemunhos, alguém tenha a intenção de provar, contra uma avalanche de evidências, uma infalibilidade insustentável. É uma manobra que exige o enforcamento da lógica, da razão e do bom senso, sob a fachada de uma imprecisa “Orientação Pastoral”.

Em breve, dissertaremos sobre Monsenhor Annibale Bugnini, designado a conduzir a missão de modificação da Missa Católica. Em seguida, trataremos das declarações que comprovam a intenção ecumênica no processo de reforma da liturgia, de modo a satisfazer o crivo dos protestantes. Por fim, dedicaremos algumas linhas acerca da comemoração dos hereges, diante da alteração da Missa, e sobre o próprio Ordo Missae, que na sua nova estrutura composta de novos elementos e lamentáveis supressões, completa o quebra-cabeça revelador de uma conspiração para aproximar, tanto quanto possível, a Missa Católica da Ceia protestante, por meio da perversa colaboração dos inimigos de Cristo e de sua Santa Igreja.

In Corde Maria Regina

Eder Moreira da Silva

 


    Para citar este texto:
"A participação protestante na fabricação da Missa Nova: uma resposta à Orientação Pastoral de Dom Fernando Arêas Rifan"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/missa-nova-protestante-dom-rifan/
Online, 27/04/2024 às 21:57:29h