História

Homenagem aos imigrantes japoneses - 100 anos da imigração japonesa (18/06/2008)

No séc. XVI, a Companhia de Jesus fundada por Santo Inácio empreendeu uma das maiores cruzadas pela Fé da História da Igreja. Homens corajosos, de grande valor e abrasados pelo fogo da Verdadeira Fé, saíram pelo mundo para espalhar este fogo, fazendo valer a vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Que quero eu do fogo, senão que arda?” (Lc XII, 49); ou ainda quando Ele ordenou aos apóstolos: “Ide e ensinai” (Mt XXVIII, 19).
No Oriente, o maior destes homens foi, sem dúvida, São Francisco Xavier (1506-1552).
São Francisco Xavier chega ao Japão em 15 de Agosto de 1549, festa da Assunção de Nossa Senhora e apenas três anos após o início das relações luso-japonesas. No mesmo ano chegava ao Brasil um grupo de jesuítas chefiados pelo famoso Pe. Manoel da Nóbrega.
O efeito da chegada do catolicismo ao Japão foi rápido e notório. Inúmeras famílias aderiam à religião verdadeira e vocações sacerdotais começaram a florescer.
Segundo o autor José Yamashiro (in: Choque Luso no Japão dos Séculos XVI e XVII, Editora Ibrasa, São Paulo 1989), “no auge da cristianização dos nipônicos, o número de cristãos atinge 400 mil ou 750 mil (um milhão segundo alguns autores). Mas o Prof. Kiichi Matsuda acredita que esses números talvez representem o total de japoneses convertidos desde a chegada de Francisco Xavier a Satsuma. (A população do Japão no início do século XVII está estimada em aproximadamente 20 milhões)”.
São Francisco também admirava as qualidades do povo japonês, tais qualidades naturais seguramente ajudaram em uma rápida assimilação da religião Católica.
 
Tanto quanto posso julgar - escreveu ele - os japoneses excedem em virtude e honestidade todos os demais povos descobertos até hoje. Possuem temperamento amável. Não são velhacos e colocam a honra acima de tudo” (in: “O almirante Togo - Samurai do Mar, Georges Blond, Flamboyant).
 
O santo permanecerá no Japão por apenas dois anos e três meses. Tempo suficiente para que centenas de milhares de japoneses ficassem católicos. Em 1560 já havia seis jesuítas no Japão, número que chegará a vinte uma década depois.
Em pouco tempo, a Igreja produz no Japão a benesse que produzira séculos antes na Europa. Igrejas, escolas, santas casas de misericórdia (hospitais), colégios e seminários são construídos. Os jesuítas também levam ao Japão as técnicas da medicina ocidental e ministram aulas das mesmas aos japoneses interessados. Onde a Luz da Verdade é levada pela Igreja o obscurantismo vai dando lugar à luz. Com o Japão não foi diferente, as trevas da alma e das ciências em geral, foram sendo vencidas pela Luz dAquele que é Luz do mundo.
No Japão, como no Brasil e em toda a América, os jesuítas dão aos povos nativos aulas de suas próprias línguas.
Imigrantes da colônia em Araponga-PR com o bispo local
Imigrantes da colônia em Araponga-PR com o bispo local
 
Este sucesso, porém, foi interrompido por uma série de medidas que, entre o final do século XVI e início do século XVII, tendo seu desfecho em 1639, acabaram por reprimir a religião católica e decretar o fechamento total do país. Grande parte dessa atitude foi devida a intrigas criadas pelos protestantes ingleses e holandeses junto à corte nipônica.
A religião católica foi proibida no Japão. Muitos cristãos foram perseguidos e morreram pela Fé. Calcula-se em um milhão o número de mártires japoneses, número igual à soma dos católicos mortos pelo Império Romano nos primeiros séculos e que eleva o Japão ao honroso título de país com o maior número de mártires da Igreja.
E, também como na Roma antiga, o sangue dos mártires é semente de novos cristãos:
 
“Os missionários não se atemorizaram diante do sacrifício de seus colegas. Pelo contrário, mostravam-se estimulados pelo exemplo dos mártires. E não obstante a severa fiscalização, missionários decididos a morrer no Japão, chegavam uns após os outros, a maioria procedente de Luzon, na Filipinas” (in Choque Luso no Japão dos Séculos XVI e XVII, idem).
 
No Japão, prêmios são oferecidos a quem denuncia os católicos que, para manterem-se vivos, foram obrigados a se esconder.
 
“Mandar pisar imagens de Cristo e da Virgem constitui um dos métodos usados pelo regime para descobrir cristãos. Agentes secretos percorrem Kyûshû e outras regiões atrás de cristãos escondidos. Crianças com nomes cristãos, quando descobertas, são impiedosamente sacrificadas. Não raro, aldeias inteiras sofrem destruição completa, por abrigar alguns cristãos” (in: Choque Luso no Japão dos Séculos XVI e XVII, idem, p.80).
 
O catolicismo, no entanto, não morre no Japão. Há famílias que permanecem fiéis a única verdadeira Fé.
Na era Meiji, a partir em 1868, o país é novamente aberto. Os missionários que retornam descobrem católicos que ali viviam de forma clandestina escondendo em público sua fé para não serem perseguidos.
É o que relata o Pe. Petitijean, que em 1865 descobriu muitos católicos no Japão que, mesmo depois de 250 anos de perseguição, perseveravam à espera do fim das perseguições e de padres para ministrarem-lhes os sacramentos dos quais eles estavam privados. Este emocionante relato é contado no livro “A História do Martírio Cristão no Japão”, de Yakichi Kataoka.
Estes fatos mostram a força e o valor do povo japonês, especialmente destes discípulos de São Francisco Xavier, que souberam manter o tesouro transmitido por esse grande santo por gerações a fio, apesar da perseguição.
Depois disso, mesmo embora deixasse de ser proibido, o catolicismo não ficou isento de perseguições no Japão. Muito ainda haveria de sofrer os japoneses católicos por causa da Fé. E foram estas perseguições que motivaram muitos destes heróis da Fé a saírem do Japão, para procurar refúgio em nações católicas como o Brasil.
Não pode deixar de ser motivo de orgulho para nós, brasileiros, poder encontrar hoje entre nós muitos dos filhos destes bravos homens, que tanto agradaram a Deus por tanto terem sofrido por causa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E por ocasião das festividades dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, a Montfort não poderia deixar de prestar uma sincera homenagem a este povo que tanto valor já mostrou em sua História.
 
Procissão de Corpus Christi em Araponga-PR
Procissão de Corpus Christi em Araponga-PR

    Para citar este texto:
"Homenagem aos imigrantes japoneses - 100 anos da imigração japonesa (18/06/2008)"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/imigracao_japonesa1/
Online, 28/04/2024 às 20:07:10h