Últimas Notícias

Crônica romana: Francisco se foi muito rapidamente, e o Colégio de Cardeais flutua sem rumo
Jaime Gurpegui
 
 

Roma está vivendo atualmente um clima de irrealidade. A sensação que transmite a cidade eterna, em meio ao pré-conclave, é uma mescla de perplexidade, discrição e silêncio.

de Jaime Gurpegui

para InfoVaticana

Roma, 29 de abril de 2025

Francisco expirou numa velocidade que ninguém esperava – nem mesmo ele próprio – e os setores mais afins ao pontificado dele parecem ter se dissolvido sem a capacidade de reagir. Não há reuniões, não há estratégia, não há palavra de ordem. O pontificado acabou e o “franciscanismo”, se é que existiu como um corpo sólido, implodiu.

O Colégio de Cardeais, por sua vez, apresenta-se como um corpo surpreendentemente plano e horizontal. Não há uma liderança evidente, ninguém marca o ritmo, ninguém levanta a voz. Mas, como nos antigos conclaves medievais, o que acontece na superfície mal dá a entender os movimentos reais. E o que se detecta hoje em dia é que muitos cardeais mais jovens divisam os eméritos. Sim, aqueles que foram relegados, marginalizados ou simplesmente aposentados pelo regime anterior, e que agora andam pelas ruas de Roma como se fossem os verdadeiros repositórios de uma tradição ressurgente.

Entre esses líderes eméritos, destacam-se nomes como O'Malley, Ruini, Piacenza, Bagnasco, Cipriani, Antonelli e Onaiyekan. Estão lá, conversando com todos, ouvindo mais do que falando e gerando um tipo de consenso que não se baseia em ideologia, mas em memória. Não estão procurando um novo papa com programa, mas com coerência.

A autoridade dos maiores incomoda alguns que gostariam de poder manobrar as conversas e tentam desacreditá-los, sem sucesso. Ontem foi a vez do emérito de Lima, Cipriani, que foi alvo de uma campanha grosseira que tentava questionar sua presença nas congregações gerais, usando uma denúncia anônima e de nula credibilidade apenas pelo alvoroço. O padre Inca, secretário do episcopado peruano, rapidamente resolveu o debate: "Ele tem muito a contribuir para o pré-conclave".

Um momento importante desses dias foi a homilia do Cardeal Re na Praça de São Pedro durante o funeral. Sua intervenção não apenas marcou uma forte presença dos cardeais mais velhos, mas também teve um efeito muito positivo sobre os mais jovens. A pregação de Re foi um exemplo claro de como os cardeais mais velhos, com sua experiência e sabedoria, conseguem incutir uma calma que se tornou muito apreciada nesses tempos incertos. Foi um gesto de unidade e controle que contrastou com a sensação de desorientação que ainda persiste.

A Congregação Geral de Cardeais de ontem também nos forneceu detalhes saborosos. Os discursos do Cardeal Willem Eijk e do Cardeal Robert Sarah foram calorosamente aplaudidos. O primeiro, com sua clareza doutrinária e diagnóstico preciso da situação eclesial na Europa; o segundo, com uma voz que, como sempre, combina força espiritual com uma elegância verbal que não precisa gritar para convencer. Ademais, surpreende o bom tom que prevalece entre os cardeais. Há cortesia, há escuta e – apesar das feridas abertas dos últimos anos – há um desejo de unidade.

Há uma sensação de paz no ar que, embora frágil, parece ter substituído a intriga e a conspiração que marcaram as semanas anteriores. O conclave ainda não começou, mas Roma já sabe a eleição. Enquanto isso, os corredores do Vaticano já reptem em voz baixa uma ideia se impõe por pura evidência: o Papa se foi, e os seus não estavam preparados

    Para citar este texto:
"Crônica romana: Francisco se foi muito rapidamente, e o Colégio de Cardeais flutua sem rumo"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/ultimas/conclave2025/
Online, 01/05/2025 às 04:39:57h