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Vocação tardia?
PERGUNTA
Enviada em:
27/12/2025

 

Salve Maria!

Tudo bem? Eu sou uma pessoa mais velha do que a média que entra nos seminários, tenho 23 anos. Eu sempre quis ser padre na infância, mas minha família era católica de IBGE, e os meus caminhos acabaram me levando para o ateísmo militante. Na adolescência fui um leitor ávido de Nietzsche, no ensino médio fui aprovado em um instituto federal, e o professor de filosofia me inspirou a entrar no curso de filosofia. Entrei na UFRGS e lá comecei estudando os filósofos analíticos, mas graças a Deus fui guiado à filosofia medieval e a Santo Tomás. Estudei dois anos de latim (ainda estudo), estudei paleografia, e estou sob a orientação de um professor muito renomado na área.

A questão é: por volta de dois anos atrás me converti, foi uma conversão forte e desde então tenho estudado muito e também frequentado a paróquia mais perto e ajudando como posso. Desde o início eu já percebi que o catolicismo que eu estudava não era o mesmo que eu via nas paróquias que eu ia, mas não tinha muito o que fazer. Afinal, o Cardeal Spengler, meu arcebispo, com base na Traditionis Custodes, proibiu a missa tridentina; apenas a FSSPX atua, e o acesso é bem difícil para mim, pois moro na região metropolitana.

Eu tinha um namoro de cinco anos, estava com uma carreira acadêmica encaminhada, mas desde que me converti o desejo de se tornar padre retornou, e com força. No início eu até aceitava o "caminho fácil", ser padre na Arquidiocese; eu imaginei que poderia suportar o seminário modernista sem me corromper, e que conseguiria celebrar uma missa nova com a devida reverência. Mas quando eu finalmente tomei a decisão de seguir a vocação que eu analisei desde a conversão (sinais internos e externos) e consagrei a vocação a Nossa Senhora, o caminho ficou mais claro: eu deveria buscar um seminário tradicional.

No entanto, como a conversão é recente, fiz a catequese na paróquia mais perto de casa para receber a crisma; a tendência é que agora, dia 11 de abril, eu a receba.

Sei que, dentre os seminários, o do IBP é o que mais se assemelha ao que estou buscando, mas a questão é: em que medida a minha idade, a conversão recente, e o fato de eu receber o sacramento da crisma apenas em abril seriam um impeditivo? E, sobretudo, devido à Traditionis Custodes, o meu acesso à missa tridentina é limitadíssimo, embora já tenha ido, e sempre que possível também assisto online.

E devido a todas essas questões eu não quis me precipitar e por isso ainda não enviei e-mail para o IBP (ou outro seminário).

Gostaria muito de receber algum conselho sobre como prosseguir.




Cordialmente,

Anônimo

RESPOSTA
 

Prezado, salve Maria!

Eu fui seminarista do IBP durante quatro anos, de Outubro de 2009 à Dezembro de 2013, fui companheiro de seminário da maior parte dos padres brasileiros do IBP que temos hoje no Brasil e na França.

Fui para o seminário, com a indicação do falecido professor Orlando Fedeli, que dizia sempre que o IBP era o único fiel ao Papa e à Missa Tridentina. Nessa época eu tinha 29 anos, conheço um brasileiro de Belém do Pará que recentemente se tornou padre e entrou no seminário com uma idade maior que a sua, Padre Pasquotto e Padre Daniel Pinheiro, que provavelmente são os padres mais conhecidos do IBP do Brasil, entraram no seminário com uma idade mais avançada que a sua, o Padre Pasquotto, por exemplo, já estava fazendo residência no curso de medicina e ele largou tudo para entrar no seminário.

Eu havia passado no curso de Oficiais da Polícia Militar do meu estado, cursava o curso de Biomedicina na Federal do meu estado e estava quase noivo de uma moça quando resolvi largar tudo para entrar no seminário do IBP na França, não me tornei sacerdote, mas não me arrependo nenhum pouco de fazer tudo o que fiz, foram os melhores anos de minha vida, hoje ajudo muitos padres a rezarem a Missa Tridentina com tudo o que aprendi no seminário.

Enfim, meu caro, você não é uma vocação tardia, muito pelo contrário, acho até que a idade ideal para um seminário como o do IBP deveria ser a partir de 25 anos, mas é claro que isso não é um número absoluto, depende da maturidade, formação e convicção de cada um.

Você precisa primeiro se preocupar em não ter uma visão romântica sobre a vocação, isso é muito importante, a vocação não é uma espécie de sentimento mágico em que basta sentir um calorzinho no coração e pronto, já tenho certeza que serei um santo sacerdote custe o que custar.

A Igreja é uma esposa muito exigente, basta lembra que o próprio Cristo é seu esposo querido e todo sacerdote apenas participa da plenitude do sacerdócio de Cristo. A vocação é um caminho tortuoso, cheio de cruzes e decepções, sobretudo, hoje em dia num mundo cheio de inimigos de Deus e da Igreja.

Sobre o verdadeiro significado da vocação sacerdotal sugiro que você leia o artigo que foi feito por um padre do IBP aqui.

Sobre o preceito da Missa nova de Paulo VI, você pode ler os artigos aqui e aqui.

Sobre a FSSPX, você pode ler aqui.

Prezado, escreva-nos sempre que achar necessário, e, por caridade, reze pelo nosso apostolado e pelo IBP.

In báculo cruce et in virga virgine.

Francis Mauro Rocha.