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Padre José Eduardo vs FSSPX: nem modernista nem lefebvrista
PERGUNTA
Nome:
Davi Cavaleiro
Enviada em:
24/09/2025

 

Boa tarde, caros participantes da Montfort

Venho lendo o site de vocês há algum tempo. Li várias cartas sobre a defesa da fé, a doutrina, a gnose, os arautos e a TFP, entre outras, e quero agradecê-los pelo trabalho que fazem ensinando muitos católicos sobre a doutrina e a defesa da fé necessária, faz muita falta em tempos de crise.

Mando esse email por causa de dúvidas que me surgiram vendo o vídeo do Pe. José Eduardo e lendo os artigos de vocês sobre ele. 

Nos comentários do vídeo, há um caso de uma pessoa que alega ter frequentado a missa de sempre na FSSPX, e que depois de ter "aberto os olhos", foi se confessar para um bispo por ter ido a essa missa, que o advertiu de que ele estava sob risco de pena de excomunhão.
Também, no próprio vídeo o Pe. Jose Eduardo adverte que, segundo o concílio de Trento, incorreria em excomunhão, como vocês mencionaram em seus artigos, quem falasse que a missa era impiedosa, se não me engano. 
E por último, em algumas cartas que li no site, vocês mencionaram que ninguém tem autoridade para julgar o papa, e que os ensinamentos dele devem ser seguidos, também salvo engano.

Portanto, minhas dúvidas são várias:
Por ter pensado críticas à missa nova, incorro em excomunhão? Até onde é lícito a um leigo pensar sobre as mudanças da missa sem ser apartado de Cristo e sua igreja? Até frequentar a missa de sempre é causa de excomunhão?
E sobre o papa, dado que até onde sei, ele não é inerrante, certo? Então não se pode julgar o papa, sabendo que ele erra, mas não apontando os seus erros? Me ficou muito confuso.

Agradeço se tiverem tempo de me responder.
Grato.

RESPOSTA
 Muito prezado Davi, salve Maria!

Primeiro, vamos responder à questão do Padre José Eduardo que parece se autodenominar o inquisidor contra todos que ousam criticar o malfadado Concílio do Vaticano II e a protestantizante reforma litúrgica de Paulo VI, seríamos excomungados por criticar a Missa de Paulo VI?

Analisemos mais de perto o anátema proferido pelo Concílio Trento:

“Se alguém disser que as cerimônias, vestimentas e sinais externos usados pela Igreja Católica são provocações à impiedade, e não serviços de piedade, seja anátema.” (Concílio de Trento, Sessão XXII, Cânon 7).

Agora, de que tipo de “cerimônias, vestimentas e sinais externos” fala o Concílio de Trento que não podem ser criticados? O próprio Concílio de Trento responde:

“Cap. 5. — As cerimonias solenes do santo sacrifício da missa

943. Já que a natureza humana é tal, que não pode, facilmente e sem socorros exteriores, elevar-se a meditar as coisas divinas, por isso a Igreja, piedosa Mãe que é, instituiu certos ritos para se recitarem na missa, uns em voz submissa [cân. 9], outros em voz alta. Juntou a isto cerimonias [cân. 7], como bênçãos místicas, luzes, vestimentas e outras coisas congêneres da Tradição apostólica, com que se fizesse perceptível a majestade de tão grande sacrifício, e para que o entendimento dos fiéis se excitasse, por meio destes sinais visíveis da religião e da piedade, à contemplação das coisas altíssimas que se ocultam neste sacrifício” (grifos nossos).

Portanto, para o Concílio de Trento, as “cerimônias, vestimentas e sinais externos” que não podem levar à impiedade são aqueles que são considerados “congêneres da Tradição apostólica”, portanto, outro conceito importante entra nessa equação do importantíssimo anátema retomado pelo padre o de: “da tradição apostólica”. Acidentalmente esquecido pelo padre, para nosso escopo este conceito é de suma importância, e, antes de cair, irremediavelmente, no anátema continuístico, ouso perguntar: seria a Missa Nova de Paulo VI um fruto “da Tradição apostólica”? Prefiro me abster de tamanha pretensão de responder tal “infame” pergunta, porém, pretendo dar espaço neste mísero texto a autoridades muito mais insignes do que o reverendo, para tentar chegarmos a um veredicto.

Agora vejamos o que um cardeal, aliás, não um, mas dois cardeais, falam sobre a Missa de Paulo VI pertencer, e um desses cardeais não era qualquer cardeal mas o chefe do Santo Ofício:

“a Novus Ordo Missae – considerando-se os novos elementos amplamente suscetíveis a muitas interpretações diferentes que estão nela implícitos ou são tomados como certos -- representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão 22 do Concílio de Trento” (Estudo crítico da Nova Missa promovido pelos Cardeais Ottaviani e Bacci. Breve Exame Crítico do Novus Ordo Missae, enviado, por carta, ao Papa Paulo VI, 25 de setembro de 1969).

Será, prezado Davi, que um rito que promove “um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão 22 do Concílio de Trento” pode ser considerado “da Tradição Apostólica”? O que você acha?

Será que essa Missa causa algum mal à fé dos fiéis e mesmo do clero? Os mesmos cardeais respondem:

“As inovações na Novus Ordo e o fato de que tudo o que possui um valor perene encontra ali apenas um lugar secundário – se é que continua a existir – poderiam muito bem transformar em certeza as suspeitas, infelizmente já dominantes em muitos círculos, de que as verdades que sempre foram objeto de crença pelos cristãos podem ser alteradas ou ignoradas sem infidelidade ao sagrado depósito da doutrina ao qual a fé católica está para sempre ligada. As reformas recentes demonstraram amplamente que novas alterações na liturgia não podem ser efetuadas sem levar à completa confusão por parte dos fiéis, os quais já demonstram sinais de relutância e um indubitável afrouxamento da fé. Entre os melhores clérigos, o resultado é uma agonizante crise de consciência, da qual um sem número de exemplos chega a nós diariamente”.

Será que o Padre José Eduardo excomungaria dois proeminentes cardeais da cúria romana? Talvez exista quem não fique satisfeito com o testemunho desses cardeais, que tal um cardeal que criticou a Missa de Paulo VI e posteriormente ele próprio se tornou Papa:

“O que ocorreu após o Concilio é algo completamente distinto: no lugar de uma liturgia fruto de um desenvolvimento continuo, introduziu-se uma liturgia fabricada. Escapou-se de um processo de crescimento e de devir para entrar em outro de fabricação. Não se quis continuar o devir e o amadurecimento orgânico do que existiu durante séculos. Foi substituído, como se fosse uma produção industrial, por uma fabricação que é um produto banal do momento” (Cardeal Joseph Ratzinger em prefácio ao livro de Monsenhor Klaus Gamber. A Reforma da Liturgia Romana, 2009, p.8).

Para quem ainda não está satisfeito, citemos um padre, ao que parece, bem amigo do Padre José Eduardo, e também, ao que parece, amigo mesmo no que se refere à posição teológica (e ainda, o padre José Eduardo parece se orgulhar em compartilhar com frequência fotos acompanhado com esse sacerdote):

“De fato, o chamado Missal de Paulo VI não cumpre devidamente a missão de transmitir e salvaguardar a fé católica, por ser suscetível de uma interpretação em chave tanto católica quanto protestante. Por conta dessa ambiguidade, há um grande número de sacerdotes que já não creem mais no mistério eucarístico” (Padre Paulo Ricardo no seu texto intitulado “Por que uma “reforma da reforma”?”, em seu site padrepauloricardo.org, que você pode verificar aqui).

Será que o Padre José Eduardo irá excomungar o seu grande amigo sacerdote?

Portanto, Davi, creio que todas essas citações de eminentes autoridades respondem aos seus questionamentos sobre a possibilidade de se poder, e mesmo, dever criticar a Missa de Paulo VI.

Um exemplo recente é um conhecido conspiracionista da bolha raditradi, o professor Carlos Bezerra, junto com um mequetrefe canal de podcast chamado Trashtalk, acusaram o atual Papa de ser cabalista, veja, recentemente, em cumprimento a uma instituição judia, o Papa Leão XIV proferiu as palavras “tikkun olam”, tais palavras são expressões da Cabala judaica (a cabala é uma antiga gnose judaica). De fato, é péssimo o Papa usar tais palavras, mesmo que seja por pura ação diplomática para com os judeus, entretanto, agora, o Papa conhece aas profundas raízes gnóstico-cabalistas dessas palavras? Como os conspiracionistas da bolha raditradi provam isso? Se o Papa conhece as raízes profundamente cabalistas dessas palavras e as usou nesse sentido, portanto, o Papa é um cabalista, assim teria falhado a promessa de Cristo aos sucessores do Príncipe dos Apóstolos "Simão, Simão, eis que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça" e ainda “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Por esse motivo acusar o Papa com tamanha irreverência de ser cabalista é uma coisa gravíssima, que evidentemente faltam provas e evidências, isso mostra como a tendência sedevacantista e sectária dessa gente os faz agir com tamanho desrespeito e desprezo pelo Papado.

Prezado Davi, não caia nas armadilhas do zelo amargo e sectário dessa gente!

Sobre a crítica ao Papa, prefiro retomar as sábias palavras que Dom Lefebvre dizia aos padres em um retiro sacerdotal de 1980: “Penso que é preciso permanecer diante da realidade tal como ela é e, sobretudo, não somos obrigados a fazer comentários sobre o Papa todos os dias. As pessoas não esperam isso dos padres. As pessoas não esperam que nos seus sermões haja sempre algo sobre o papa. Há vários outros assuntos. Deixem esse problema que é justamente muito delicado, difícil, doloroso, que faz sofrer os fiéis. Agora, se alguém vem procurar-vos em particular, dê a ele a solução do problema. Mas não façam disso sempre o assunto do sermão, o que faz que as pessoas saiam angustiadas… Isso perturba as pessoas, não serve para nada.”

Veja, Davi, mesmo o Papa Francisco permitiu a confissão e o Matrimônio na FSSPX, portanto, é evidente que ao frequentar à Missa na FSSPX você não incorre em risco de excomunhão, entretanto, o grande problema disso é você, ao frequentar esses ambientes,  acabe sendo tragado pelas  tendências sectárias e sedevacantistas de total desprezo pela jurisdição do Papa que proliferam nesses meios, afaste-se desse tipo de possibilidade, e trate esses ambientes com extrema prudência e vigilância!

Caro, Davi, esperando tê-lo respondido, peço, por caridade, que reze pelo nosso apostolado, e escreva-nos sempre que achar necessário.

In báculo cruce et in virga virgine,

Francis Mauro Rocha.