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Garoto, teólogo de Instagram, ataca a tradição e pede ajuda à Montfort
PERGUNTA
Salve Maria e Viva Cristo Rei
Amado irmão em Cristo, eu tenho me entristecido muito com posturas radicais de tradicionalistas que, cegados por uma soberba tremenda e arrogante, desprezam as decisões papais em relação ao CVII.
Muitos dos que se dizem católicos, não fazem jus ao nome que carregam, pois preferem seguir seus próprios critérios de tradição e não confiam na Santíssima Igreja.
Eu sou dono do perfil @john_catolico no Instagram, e ultimamente tenho feito respostas e refutações a adeptos desse câncer chamado tradicionalismo pré-cismático que tanto contaminam os fiéis e minam a autoridade da Igreja e o sumo Pontífice.
Vos peço que indique materiais, documentos, encíclicas, bulas e qualquer coisa essencial para combater e expulsar esse tipo de escória de dentro da Igreja.
Saliento que não sou adepto a nenhuma vertente radical, seja Teologia da Libertação, Seja Sedevacantista ou qualquer outra que exista, sou somente um católico tradicional que segue com confiança e devoção a Santa Igreja e seu Sumo Pontífice.
Abraços
RESPOSTA
Muito prezado Joãozinho, salve Maria!
Acho que você caiu de paraquedas em nosso site, a Montfort há mais de 40 anos critica a reforma litúrgica promovida pelo Papa Paulo VI e erros espalhados graças às ambuiguidades do malfadado Concílio do Vaticano II.
Joãozinho, vi rapidamente o seu Instagram de, de cara, dá para ver que você não faz ideia do embate teológico-doutrinário em que você quer se meter, veja, caro Joãozinho, só um comentário básico que você faz em seu Instagram demonstra, notadamente, como incipiente é seu conhecimento:
“O Brasileiro mal entende o português e vai entender latim”
Um padre bem importante, já na época do Concílio, respondeu essa pergunta usando uma citação do Anjo a Escola, o Príncipe da Teologia Católica, o Doctor Communis:
“O Padre Benedikt Retz, superior geral da Congregação Beneditina de Beuron, refutou a tese segundo a qual era necessário recorrer ao vernáculo para os fiéis terem de compreender todos os aspectos da liturgia:
“Respondo: deve dizer-se que os fiéis não têm de compreender tudo nem nós, os sacerdotes, compreendemos tudo! -, mas basta que compreendam na globalidade, não tendo de compreender todos os por-menores. A participação activa dos fiéis não consiste tanto no canto e na oração, mas antes em seguir com a vista as coisas que se fazem no altar. Já São Tomás refere aqueles que, na Igreja, não compreendem o significado dos cânticos, proferindo sobre eles - em lla-llæ, q. 91, a. 2, ad 5 - palavras belissimas: "Mesmo que, por vezes, não com-preendam aquilo que é cantado, compreendem por que razão se canta, ou seja, que é para o louvor de Deus, e tanto basta para suscitar a devoção".»
Agora, vejamos outras citações importantes sobre o assunto:
O Papa João XXIII, na Constituição Apostólica Veterum Sapientia, diz que a língua latina tem “um estilo conciso, rico, harmonioso, cheio de majestade e de dignidade, que singularmente contribui à clareza e à seriedade”. E continua o Papa João XXIII, citando Pio XI: «De fato, a Igreja, como mantém unidos no seu conjunto todos os povos e durará até a consumação dos séculos… exige, pela sua natureza, uma linguagem universal, imutável, não vulgar.»
"Por estes motivos a Santa Sé tem cuidadosamente zelado na conservação e progresso da língua latina e a considera digna de ser utilizada como « magnífica vestimenta da doutrina celeste e das santíssimas leis» (Pio XI, Motu Proprio Litterarum Latinarum, 20/10/1924), no execício do seu magistério, e quer ainda que seus ministros a utilizem".
"Além disso, a língua latina, que «justamente podemos chamar de católica» (ibidem), pois que é própria da Sede Apostólica, mãe e mestra de todas as Igrejas, e consagrada pelo uso perene, deve ser mantida como « tesouro de incomparável valor» (Pio XII, Alloc. Magis quam, 23/11/1951) e como porta pela qual se abre a todos o acesso às mesmas verdades cristãs, vindas dos tempos antigos, para interpretar o testemunho da doutrina da Igreja (Leão XIII, Epist. Encicl. Depuis le jour, 08/09/1899) e, finalmente, como vínculo mais que idôneo, mediante o qual a época atual da Igreja se mantem unida com os tempos passados e com os tempos futuros de modo admirável».
Sobre o uso da língua vulgar na liturgia, temos:
De S. Francisco de Sales, final do século XVI, contra os ensinamentos dos reformadores protestantes que, ainda dentro da Igreja Católica, defendiam a utilização do vernáculo na liturgia:
"Examinemos seriamente porque pretendem ter o Servíço divino em língua vulgar. Seria para ensinar a doutrina?" (...) "Para isto há a pregação, na qual a palavra de Deus, além de lida, é explicada pelo sacerdote... De modo algum nós devemos simplificar nossos ofícios sagrados em linguajar particular, pois, como nossa Igreja é universal no tempo e no espaço, ela deve também celebrar os ofícios públicos em língua também universal no tempo e no espaço." (Controverses, 2ème partie, discours 25).
Do Papa Alexandre VII, em 1661, contra o Jansenismo, que substituíra o latim pelo francês na liturgia:
"Alguns filhos da perdição, ansiosos por novidades para a perda das almas, chegaram a este cúmulo de audácia, de traduzir o Missal romano para o francês, originalmente escrito em latim, seguindo o costume aprovado pela Igreja há tantos séculos... Assim fazendo, eles tentaram, com temerário esforço, degradar os mais sagrados ritos, rebaixando a magestade que a língua latina os reveste, e expondo de forma vulgar a dignidade dos mistérios divinos" (Yves Daoudal, La liturgie enseignement sacré - Itinéraires, n° 263, mai 82).
O Papa João XXIII, na Constituição Apostólica Veterum Sapientia: "... Em fim, visto que a Igreja Católica, por ter sido fundada por Cristo Nosso Senhor, excede sem medida em dignidade sobre todas as sociedades humanas, é sumamente conveniente que ela use uma língua não popular, mas rica de magestade e de nobreza".
Caro Joãozinho, o Concílio do Vaticano II causou uma grande crise para a Igreja de Cristo e seus erros devem ser combatidos de forma ininterrupta, eu aplicaria a esse Concílio aquelas mesmas palavras que o Cardeal Ottaviani aquele que, à época, era o Chefe do Santo Ofício, aplicou para a Missa Reformada de Paulo VI:
“considerando-se os novos elementos amplamente suscetíveis a muitas interpretações diferentes que estão nela implícitos ou são tomados como certos -- representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia (...) do Concílio de Trento”; “o fato de que tudo o que possui um valor perene encontra ali apenas um lugar secundário – se é que continua a existir – poderiam muito bem transformar em certeza as suspeitas, infelizmente já dominantes em muitos círculos, de que as verdades que sempre foram objeto de crença pelos cristãos podem ser alteradas ou ignoradas sem infidelidade ao sagrado depósito da doutrina ao qual a fé católica está para sempre ligada”. “As reformas recentes demonstraram amplamente que novas alterações (...) não podem ser efetuadas sem levar à completa confusão por parte dos fiéis, os quais já demonstram sinais de relutância e um indubitável afrouxamento da fé. Entre os melhores clérigos, o resultado é uma agonizante crise de consciência, da qual um sem número de exemplos chega a nós diariamente” (Estudo crítico da Nova Missa promovido pelos Cardeais Ottaviani e Bacci. Breve Exame Crítico do Novus Ordo Missae, enviado, por carta, ao Papa Paulo VI, 25 de setembro de 1969).
Deus te ajude, caro Joãozinho, a enxergar os problemas doutrinários e a grande crise de fé enfrentada pela Igreja em nossos tempos. Conte, desde já, com nossas orações.
In báculo cruce et in virga virgine,
Francis Mauro Rocha.