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FSSPX e Centro Dom Bosco: o risco de um Cisma!
PERGUNTA
Nome:
Douglas Saimon
Enviada em:
20/06/2025

 Bom dia, gostaria de saber qual a situação da fraternidade São pio X,  e se pode confessar e assistir missa com eles.

 

RESPOSTA
 

Muito prezado Saimon, salve Maria!

Não sei se você conhece bem a história da FSSPX, mas em janeiro de 2009, o então Papa Bento XVI, levantou as excomunhões dos quatro bispos que haviam sido sagrados por Dom Lefebvre sem a permissão de Roma no ano de 1988.

Em março de 2009, o mesmo Papa Bento XVI declarou irregular a situação canônica da dita Fraternidade, mesmo após o levantamento das excomunhões: "Enquanto as questões relativas à doutrina não forem esclarecidas, a Fraternidade não tem status canônico na Igreja, e seus ministros — mesmo que tenham sido isentos de pena eclesiástica — não exercem legitimamente nenhum ministério na Igreja" (AAS 101, pp. 270-276).

Portanto, retomando a expressão do Papa “a Fraternidade não tem status canônico na Igreja, e seus ministros (...) não exercem legitimamente nenhum ministério na Igreja”.

Entretanto, em 27 de Março de 2017, o então Papa Francisco concedeu um indulto à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, permitindo que seus sacerdotes absolvam validamente os fiéis que frequentam suas igrejas e autorizando os bispos a conceder permissão para casamentos celebrados por padres da FSSPX. O Indulto não regulariza plenamente a situação canônica da FSSPX com Roma, mas abre a possibilidade para os sacramentos da Penitência e o Matrimônio.

Agora, caro Saimon, para além do indulto do Papa o que se alega para o caso da Fraternidade é o chamado “Estado de Necessidade”, segundo a definição do Padre Matthias Gaudron, que é uma referência doutrinária na Fraternidade:

“Todo membro da Igreja tem o direito de Dela receber a Doutrina e os Sacramentos de que tem necessidade para se salvar. Se, pois, sua hierarquia normal (padre, Bispo, etc.) não cumpre seu dever, o fiel se encontra num estado de necessidade, que lhe permite se dirigir a qualquer sacerdote católico (por causa da necessidade, esse sacerdote recebe então da Igreja, para se ocupar desse fiel, o que se chama jurisdição de suplência)” (Catecismo Católico da Crise Na Igreja, Padre Matthias Gaudron FSSPX, Pág. 278)

Ou seja, o caso de necessidade que tem como objetivo a suprema lei da Igreja, salus animarum suprema lex [a salvação das almas é a lei suprema], justificaria a atuação da Fraternidade São Pio X, pois que dada a situação de crise na Igreja onde grande parte da hierarquia está contaminada pelo ensino heterodoxo do Concílio do Vaticano II, se justificaria, excepcionalmente, a atuação de uma comunidade que, em certa medida, preserva muito do ensinamento tradicional e da liturgia anterior à catástrofe que foi o Concílio do Vaticano II.

Em regiões onde não existe a possibilidade de recebimento de sacramentos segundo a disciplina tradicional anterior ao Concílio do Vaticano II, se justificaria, a princípio, a atuação da FSSPX, para oferecer esses mesmos sacramentos, com todo seu arcabouço de fidelidade à doutrina tradicional da Igreja.

É por esta razão que no passado o Professor Orlando apoiou o trabalho da FSSPX, inclusive as sagrações episcopais.  O superior da FSSPX padre Franz Schmidberger, por volta de 1985, esteve em São Paulo realizando uma palestra para a Montfort, e neste tempo a Fraternidade não tinha qualquer ação no Brasil.

É preciso, agora, caro Saimon, ter claro que após seu santo fundador, Dom Marcel Lefebvre (“santo” por minha conta e risco, pois se trata de um herói da fé mas que nunca foi canonizado pela Igreja) a fraternidade tem caminhado para um abuso de sua posição que escandaliza a muitos e coloca em risco a justificativa da sua própria existência. Não é verdade que a posição de Dom Lefebvre em relação a aproximação com as autoridades do Vaticano e a da atual direção da Fraternidade sejam as mesmas.

Por volta de 1996 ocorreu uma grande desavença entre a Montfort e a FSSPX por conta de tribunais criados por essa comunidade para julgar supostas nulidades matrimoniais, como explica o próprio Professor Orlando Fedeli (fundador da Montfort) numa carta resposta de 2005, publicada em nosso site:

“Discordei dos lefrevistas, e me separei deles, quando eles fizeram tribunais com pretensos poderes para tratar da nulidade do vínculo matrimonial, coisa que só cabe ao Papa. Fui eu quem denunciou esses tribunais por amor a Roma e à Igreja. Separei-me então dolorosamente deles, o que me trouxe a perseguição do atual Dom Rifan, que negava a existência desses Tribunais (agora, ele confessa que eles existiam, e até os ataca....”.

O próprio bispo da Fraternidade Mons. Tissier de Mallerais, em carta dirigida ao Professor Orlando Fedeli, confirmou a existência dos ditos tribunais:

“Quanto às sentenças que nós pronunciamos em terceira instância, nós aplicamos por analogia a nossa Comissão Canônica os poderes do tribunal da Santa Rota Romana pelas mesmas razões de necessidade, já que a própria Rota está imbuída de falsos princípios personalistas. Aí também vale o princípio "Ecclesia supplet” (Mons. Tissier de Mallerais - presidente da Commission Canonique Saint Charles Borromée, 9 de outubro de 1996)”.

Na época, o professor Orlando Fedeli fez um estudo sobre o assunto (que você pode ver aqui) cuja conclusão foi:

“Conclusão: por tudo o que acabamos de expor, a instauração de tribunais eclesiásticos e de órgão ao qual se atribuem os poderes da Rota Romana pela Fraternidade São Pio X nos parece evidentemente um ATO CISMÁTICO”.

E em consequência desta conclusão o Professor afirma:

“Tendo em vista tudo isso, nós membros da Associação Cultural Montfort declaramos que queremos manter-nos na Igreja Católica Apostólica Romana de sempre, submissos à autoridade do Sumo Pontífice, o papa João Paulo II. E por isso nos declaramos totalmente separados do movimento tradicionalista da Fraternidade São Pio X fundada por Monsenhor Lefebvre”.

Alguns ex-integrantes da Monfort afirmam que o Professor teria reconsiderado sua posição antes de falecer. Isto é totalmente falso!

                Ainda a respeito dos tribunais recomendo a leitura da entrevista realizada com o Padre Mercury, que foi da FSSPX e estudou de maneira muito profunda a questão da “suplência da FSSPX”. Veja o que ele afirma:

“... O poder de suplência não se estende indistintamente a todo o poder de governo.  Isso que significa que os Superiores da Fraternidade não podem pretender estar à frente de um instituto, no sentido canônico do termo. Eles estão à frente de uma associação de Padres, que se encontram reunidos, partilhando os mesmos ideais, para se ajudar mutuamente, mas não existe um instituto canônico propriamente dito. E por que? Porque se se considera que se trata de um instituto propriamente dito, isto significa que eles teriam uma autoridade religiosa própria, com pleno poder de governo. Se eles se atribuem esse poder de governo, sem jamais terem recebido esse poder de Roma, por consequência, eles se estabelecem enquanto tal ao lado do poder romano. E isso é precisamente a definição de um cisma. (grifo nosso).

                E continua o Padre Mercury

“Eu não nego a possibilidade de utilizar o processo da suplência para dar continuação a um trabalho apostólico, eu mesmo utilizei esse princípio durante 25 anos e isso não me incomodou em nada. Mas sob a condição de saber que a suplência possui aplicações que são limitadas e, se não se respeita esses limites, colocam-se atos que estão fora do âmbito da suplência e, portanto, fora da mão da Igreja. Assim esses atos não podem assegurar a salvação das almas, contrariamente ao que a Fraternidade tem tendência a afirmar. (grifo nosso)

A entrevista do Padre Mercury à Montfort, você pode ler integralmente aqui.

Veja que o padre Mercury é muito claro sobre o risco de cisma da FSSPX.

Para além da questão dos tribunais existe o próprio abuso da Fraternidade com relação ao “Estado de Necessidade”, por exemplo, na cidade de São Paulo temos várias Missas tridentinas, a princípio não há um estado de necessidade que justifique a presença da FSSPX, e mesmo assim eles se fazem presentes, como se fosse a coisa mais normal do mundo se constituir como uma paróquia paralela à autoridade do cardeal e do Papa, um absurdo.

Veja o que dizia Dom Lefebvre sobre a disponibilidade normalizada da Missa Tradicional para os fiéis em detrimento do chamado “estado de necessidade”. Em uma carta dirigida ao Vaticano, Dom Lefebvre comentava sobre um hipotético documento, que depois se tornaria concreto, que liberaria a Missa Tradicional para todos os fiéis da Igreja, e não algo exclusivo para a fraternidade:

“Durante minhas visitas [ao Vaticano], você [Cardeal Seper então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé] me comunicou várias vezes de um documento que deveria colocar fim ao ostracismo da liturgia anterior a 1969. Nós o aguardamos com uma grande esperança. Ele causará um grande alívio na Igreja e será a ocasião de uma grande renovação do fervor e de fé. O documento será a ocasião de normalizar novamente as relações entre a Fraternidade Sacerdotal e a Santa Sé e tirará todo o motivo a um apostolado de suplência” (Intinéraires, Chroniques et documents. Número spécial hors série: Mgr Marcel Lefebvre et Le Vatican sous Le pontificat de Jean-Paul II I- Jusqu’à la mort du cardinal Seper, p. 51).

Portanto, segundo Don Lefebvre a liberação da Missa Tradicional “tirará todo o motivo a um apostolado de suplência”, ou seja, tira a razão de necessidade que justificaria a presença da FSSPX.

Na já mencionada entrevista do padre Mercury, ele observa que:

“Eu destaco ainda que o aparecimento dos institutos reconhecidos canonicamente como a Fraternidade São Pedro, o Instituto do Cristo Rei e o Instituto do Bom Pastor, falando de maneira cronológica, a aparição desses institutos hipoteca cada vez mais a possibilidade da São Pio X de reivindicar a suplência, no que concerne aos sacramentos da Penitência e do Matrimônio. Claro, sabemos que é preciso bem discernir a ignorância ou a confusão que podem existir na cabeça dos fiéis, porém, no nível dos princípios, é preciso que nós vejamos claro sobre esta questão”.

A presença de Institutos que oferecem os sacramentos segundo a forma da liturgia tradicional desautoriza a presença da FSSPX disponibilizando aquilo que esses mesmos institutos já oferecem, porém, a alegação da FSSPX é que esses mesmos institutos que oferecem a liturgia tradicional estariam contaminados pelos mesmos princípios modernistas do Concílio do Vaticano II, mesmo o Instituto do Bom Pastor (IBP) que possui como norte dois princípios em seus estatutos, estatutos esses aprovados pelas autoridades de Roma: (1) a crítica construtiva ao Concílio do vaticano II, (2) exclusividade de celebrar apenas a Missa Tradicional.

O superior da FSSPX no Brasil padre Jean-François Mouroux pouco após a publicação a do triste e absurdo Motu Proprio Traditionis Custodes que colocava limites na celebração da Missa Tradicional fez um sermão, no qual afirmava que para a FSSPX o documento não produziria qualquer consequência negativa, pelo contrário, levaria mais fieis para a Fraternidade. Já os Institutos tradicionais da Ecclesia Dei, como deviam obediência ao Papa e, sobretudo, para manter a aprovação do seu estado canônico, deveriam aceitar essas restrições e com isto estariam silenciados sobre a doutrina católica, aceitando os erros do Vaticano II, o que provaria que a submissão à Roma seria algo impossível para um católico. Somente na FSSPX a doutrina poderia ser defendida em toda a sua pureza

Mas a pureza doutrinária pretendida pela Fraternidade, quando analisamos o texto de um padre dos mais conceituados de suas fileiras, parece não ser tão límpida assim. Veja o que comenta o padre Matthias Gaudron no livro Catecismo Católico da Crise da Igreja, considerado verdadeiro farol de orientação, ao tratar da interpretação dos textos do Vaticano II, na questão 29. 

“29. Todos os textos de Vaticano II devem ser rejeitados ?

Podem-se dividir os textos do Concílio Vaticano II em três grupos:

i) Alguns poderiam ser aceitos, pois estão conformes à Doutrina Católica, como, por exemplo, o decreto sobre a formação dos padres;

ii) Outros são equívocos, isto é, podem ser compreendidos corretamente; mas também podem ser interpretados em sentido errôneo;

iii) Alguns, enfim, não podem ser compreendidos num sentido ortodoxo; na sua atual formulação, não podem ser aceitos. É o caso da Declaração sobre a Liberdade Religiosa.

Os textos ambíguos podem ser aceitos, se forem – segundo a expressão de Monsenhor Lefebvre – interpretados à luz da Tradição.

Os textos do terceiro grupo não podem ser aceitos antes de terem sido retificados.”

 

Portanto, segundo a FSSPX, os textos dúbios do Concílio devem ser interpretados à luz da Tradição.

Ademais, nada mais falso do que dizer que na FSSPX há liberdade para a condenação do erro.

Por exemplo, o padre Rafael Navas foi sumariamente expulso da FSSPX por perguntar sobre os tribunais de nulidade matrimonial já mencionados. Quando ele foi expulso nem sequer tinha recursos para comprar uma batina e foi literalmente morar em um barracão. O padre Laguerie foi expulso da FSSPX porque enviou um relatório aos superiores da FSSPX sobre os erros do seminário em Ecône. Primeiro foi expulso sem qualquer advertência, depois ele recorreu, e os superiores instauraram um processo contra ele. Resultado: ele e o advogado que o defendia foram expulsos. O Padre Aulagnier, braço direito de Dom Lefebvre, foi expulso por publicar uma entrevista, e o padre Mercury foi expulso porque permitiu ao Bispo da diocese fazer o sacramento do crisma no rito antigo. Você pode ler esta história completa do Padre Mercury na entrevista já citada (aqui)

Quero entrar aqui, caro saimon, numa aplicação prática daqueles que se aproximam da Fraternidade São Pio X, trata-se do famoso Centro Dom Bosco que já se pronunciou publicamente como dirigidos espirituais da Fraternidade São Pio X, representada pelo monge Dom Lourenço Fleichman (sobre as tendências sedevacantistas de Dom Lourenço você pode ver aqui ) e sua comunidade no Rio de Janeiro. Atualmente o CDB entrou em uma grande polêmica por conta da publicação de um livro que critica de forma veemente o modernista Catecismo da Igreja Católica.

Sem entrar diretamente no mérito das críticas do livro, porém, é evidente que esse catecismo é passível de críticas pois que apresenta vários problemas doutrinários como, por exemplo, a condenação irrestrita da pena de morte, coisa nunca defendida pela Igreja (você pode ver um estudo doutrinário sobre a pena de morte aqui).

A Polêmica em que se envolveu o CDB, onde foi atacado, ao que parece, injustamente por muitos continuístas-modernistas nos interessa pouco no presente momento, todavia, essa polêmica escancarou uma posição atual do CDB, completamente dominado pela FSSPX, que, para dizer o mínimo nos preocupa muito.

Em primeiro lugar, o presidente do CDBÁlvaro Mendes, chega a dizer numa live que as Missas ditas do Motu Proprio Summorum Pontificum (Missas Tradicionais rezadas por padres diocesanos, que ele chama de “migalhas”!), teriam sido feitas para impedir a realização das chamadas “paróquias tradicionais”. Essa é uma antiga acusação, mesmo entre membros da Fraternidade na Europa, de que o Papa Bento XVI teria promulgado o dito Motu Proprio para prejudicar a FSSPX. Para eles a Fraternidade é o centro da Igreja, tudo que é feito em vista da parcela tradicional da Igreja, é feito para prejudicar a fraternidade, o sr. Álvaro só repete um velho jargão vociferado ad nauseam por fiéis e clérigos da fraternidade.

Ao que parece, segundo o que é possível interpretar das falas do sr. Álvaro, essas tais “paróquias tradicionais” seriam paróquias dirigidas por padres dissidentes do clero obediente à Roma e que resolveram se ligar e obedecer exclusivamente à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, os dois exemplos exaltados pelo sr. Álvaro e por muitos membros do CDB são dois sacerdotes famosos no meio conservador: o padre Pe. Wander de Jesus Maia que era da diocese de Santo Amaro (SP) e o Padre Françoá Costa de Anápolis (GO). Esses dois padres abandonaram suas respectivas dioceses para se tornarem padres dissidentes, independentes, apenas ligados à FSSPX.

Veja, Saimon, aliciar ou mesmo incentivar padres diocesanos a abandonar suas respectivas dioceses para constituírem “paróquias” em suas regiões independentes da autoridade eclesiástica local e submissos exclusivamente à FSSPX, isto é um ato que beira o cisma, para dizer o mínimo.

O que CDB está fazendo, ao que parece, com apoio da FSSPX é contribuir com a concretização de uma verdadeira igreja paralela completamente independente do Papa e de seu clero, isso é um erro gravíssimo!

O Padre Wander, num podcast do próprio CDB chegou a declarar que a Missa reformada de Paulo VI mudou de “SUBSTÂNCIA”, isto é uma acusação gravíssima, pois se ela mudou de substância, ela se tornou inválida, eu nunca vi nem mesmo os padres da própria FSSPX defenderem tal absurdo. É claro que a Missa segundo o rito reformado de Paulo VI, como dizia o Cardeal Otavianni, se afastou e muito da doutrina tradicional da Igreja:

"a Novus Ordo Missae – considerando-se os novos elementos amplamente suscetíveis a muitas interpretações diferentes que estão nela implícitos ou são tomados como certos -- representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão 22 do Concílio de Trento" (Carta dos Cardeais Ottaviani e Bacci, Roma, 25 de setembro de 1969).

Porém, acusar de mudar a substância, ou seja, de ser inválida, é uma acusação absurda, esse é o nível de formação dos padres que o CDB confia para formar as tais “paróquias tradicionais”.

E qual seria, segundo eles, a solução para crise na Igreja? O outro sacerdote, Padre Françoá Costa, em seu Instagram chega a postar que na sua “paróquia tradicional”: “batizamos somente as crianças que nascem na tradição e crianças de pais que são da capela há pelo menos seis meses”, quer dizer, ele só batiza crianças que são da FSSPX. Nesta mesma linha ele afirma: “Casamentos? Apenas daqueles noivos que estão conosco na tradição”, e mais ainda “Extrema Unção? (...) tão somente os fiéis extremamente doentes e moribundos da capela”, ou seja, o padre Françoá parece ser padre apenas para atender exclusivamente membros da FSSPX, trata-se de um comportamento evidentemente sectário.

Que, hoje em dia, para batizar, crismar ou para o sacramento do matrimônio um sacerdote sério deve analisar com cuidado, caso a caso, a formação doutrinária das pessoas para o bem da alma dos fiéis, nisso é claro que concordamos, porém, recusar por princípio todo fiel que está fora da FSSPX é notoriamente um ato sectário!

Eu conheci, quando morei na França, o Padre Paul Aulagnier (ele foi meu diretor espiritual, na França) que foi um dos primeiros sacerdotes ordenados no início da formação da Fraternidade São Pio X, esse padre foi durante muitos anos superior da Fraternidade na França, eu nunca vi o padre Aulagnier adotar métodos sectários tais como esses padres. Esse é o nível dos sacerdotes que o CDB confia para formar as tais “paróquias tradicionais” e para solucionar a crise na Igreja!

O sr. Álvaro, em suas lives no canal do CDB, insiste para que seus espectadores estudem para entenderem a crise na Igreja, mas o mesmo pode ser cobrado do sr. Álvaro, que ele estude para entender os absurdos das ações da Fraternidade que beiram o cisma.

Ainda mais, eles, do CDB, repetem com orgulho que foram alunos do Professor Orlando Fedeli, entretanto, apoiam a heterodoxa TFP, e se recusaram a apoiar a associação de mães que criticavam os Arautos do Evangelho.  Será que o sr. Álvaro nunca estudou a principal obra do Professor Orlando Fedeli “No país das maravilhas: a Gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho”, evidenciando o sectarismo da TFP?

O sr. Álvaro precisa estudar.  Basta ouvir um pouco as suas lives para ficar claro a deficiência na sua formação.  Assim, por exemplo, temos o personagem altamente pernicioso, queridinho da direita, Olavo de Carvalho, também exaltado pelo CDB. Na propagando da sua “Gramática Latina” o CDB usa a figura do Olavo como uma jogada de Marketing e ainda faz questão de mostrar a figura do Olavo no vídeo em que promovem a sua história e o seu apostolado, com o título “Por que Lutamos”. Olavo continua sendo uma figura bem presente no espectro do CDB, e eles insistem em não o criticar diretamente.

E, pasme, caro Saimon, ainda tem mais, uma prática, ao que parece, comum da Fraternidade é reordenar “sob conditione” os sacerdotes que foram ordenados segundo o rito reformado pós-vaticano II e buscam se tornar membros da FSSPX.  Esse procedimento coloca em dúvida todas as ordenações pós Vaticano II, ou seja, é praticamente um eclesiovacantismo, pois é colocar em dúvida as ordenações de todos os padres do clero pós Vaticano II, o que é uma outra acusação absurda! Todos os sacramentos da Igreja seriam colocados em dúvida.

Quais padres, então, seriam padres de verdade? Só existiriam padres ordenados de forma indubitável dentro da FSSPX? Então, temos que duvidar se existe um clero verdadeiro entre todos aqueles que não pertencem à FSSPX? Esse tipo de procedimento, evidentemente, só causa dúvidas escandalosas na cabeça dos fiéis.

Segundo algumas informações atuais, parece que a Fraternidade está abandonando está posição de reordenação. Pela denúncia do Padre Calixto que deixou a FSSPX e informou que seu abandono derivou desta posição da FSSPX de não mais reordenar padres dissidentes da liturgia reformada, segundo ele esse procedimento de reordenar padres dissidentes era ensinada e justificada na formação dos seminaristas da Fraternidade.

Rezemos para que a fraternidade realmente volte atrás e se recuse a perpetuar essa prática lamentável.

Falta ainda falar que mesmo o Sacramento da Confirmação é colocado em dúvida pela Fraternidade, pelo menos é o que é informado por membros da FSSPX, em que os fiéis vindos de fora devem se recrismar. Portanto, todos os sacramentos são colocados em dúvida pela FSSPX. É possível existir uma verdadeira Igreja sem sacramentos?

O Código de Direito Canônico publicado sob o pontificado do Papa João Paulo II, também é inteiramente recusado pela FSSPX, outro ato que beira o cisma, pois o Papa é o supremo legislador da Igreja, só ele pode legislar. Que se recuse algum ponto do CDC de João Paulo II por algum princípio modernista que o justifique, é uma coisa factível, porém, recusar, por princípio, toda uma legislação promulgada pelo Supremo Legislador da Igreja, é um ato de insubmissão que evidencia uma disposição cismática!

Enfim, caro Saimon, o problema é muito mais complexo do que uma simples resposta de sim ou não, se você deve ou pode participar de missas ou de sacramentos da FSSPX, e também se deve refletir sobre a questão se a participação no apostolado da FSSPX estaria, em certa medida, incentivando ou, de alguma forma, contribuindo para a FSSPX continuar com essas ações para lá de contestáveis que beiram o cisma.

O que é absolutamente certo é que é falso o dilema colocado por muitos da FSSPX de que ou se adere a ela ou se aceita o modernismo.

Diante de todas essas informações, você mesmo deve julgar se deve ou pode participar de tais sacramentos, se possível, recorra a um sacerdote prudente e de boa formação, que não seja modernista como muitos hoje nas mídias sociais, e que também conheça os graves problemas eclesiológicos da FSSPX, para tomar essa decisão, eu não posso tomá-la por você.

O sr. Pedro Affonseca, ex-presidente do CDB, afirmou em um podcast que ouviu de um clérigo da Fraternidade que “A Igreja é a Barca, mas a Fraternidade é o bote salva-vidas”, ora, se a fraternidade é o bote salva-vidas, é porque a Barca está afundando e quem realmente salva é a fraternidade e não a Igreja.  A verdadeira “igreja” seria a própria fraternidade, a salvação viria da fraternidade, o que você acha dessa afirmação esdrúxula?

A obra do Grande Bispo Dom Marcel Lefebvre, parece-me claro, é a obra de um santo, e como todas grandes obras, como, por exemplo, aconteceu com os jesuítas, passam grandes momentos de dificuldades e desvios, entretanto, não tenho dúvida, que o retorno integral da FSSPX para a Igreja de Cristo seria uma grande alegria e uma riqueza imensa, rezemos todos por isso, que um grande Papa salve a Fraternidade, que Deus proteja sempre essa obra de um verdadeiro herói da fé!

Esperando tê-lo respondido, caro Saimon, peço, por caridade, que reze por nós, e nos unamos numa sincera oração pelo Papa e pela Fraternidade São Pio X. Rezemos também pelo CDB e seus membros, para que acordem de sua cegueira e se afastem das posições cismáticas da FSSPX, que a Virgem Puríssima os ajude!

In báculo cruce et in virga virgine,

Francis Mauro Rocha,

12 de julho de 2025.