Últimas Cartas

Quero ser padre, para onde devo ir?
PERGUNTA
Nome:
João Vitor Machado
Enviada em:
20/11/2023

 

Itu. 20 de novembro de 2023.


Caro prof. Orlando Fedeli,
Salve Maria Santíssima

Tenho 15 anos, então por favor me perdoe pelos erros de português e estruturais, afinal não estou acostumado a escrever uma carta. Me converti ao catolicismo este ano após ter meu primeiro contato verdadeiro com a fé através do argumento das 5 vias de São Tomás de Aquino, que na cabeça de um jovem ateísta como eu, me abriram um mundo de possibilidades ao contemplar que o catolicismo não era irracional. Venho de uma família secular, que decidiu por não me batizar, e obviamente também não recebi qualquer tipo de formação católica. Na realidade, o que aconteceu foi exatamente o oposto, pois sempre fui ensinado sobre os supostos erros da Igreja Católica, e genuinamente desenvolvi um ódio pela religião (não só católica). Não quero acusar ou julgar meus pais, quero deixar claro que minha intenção não é esta, pois os amo e jamais gostaria de desonrá-los. Minha conversão se deu ao entrar em contato com quatro coisas: a beleza da doutrina católica, a vida dos santos (a vida de São Tomás de Aquino foi crucial), os milagres (em especial o de Nossa Senhora de Guadalupe) e a sacralidade da Santa Missa (em especial, a de rito extraordinário). Digo tudo isso para dizer que o que me atraiu na Igreja não foi nada de cunho modernista ou carismático, mas sim a beleza da tradição católica.

Eu comecei a discernir minha vocação, e de fato tenho quase certeza que ela é sacerdotal. Rezei e meditei nela, e não consigo mais me imaginar não sendo sacerdote no futuro. Ao começar a pesquisar mais sobre os seminários, em especial os brasileiros, o que me deparei é uma verdadeira barbárie. São diversos relatos, incluindo muitos aqui do site, de seminaristas beirando a heresia. E obviamente a culpa geralmente não é deles, pois na realidade são muito mais vítimas do que culpados, mesmo assim, me preocupa muito a péssima qualidade dos seminários diocesanos no Brasil. Tenho medo de ir para um seminário modernista e não aprender a verdadeira fé e doutrina católica. Li um relato aqui do site em que o seminarista em questão estava beirando o arianismo. Pesquisei sobre alguns seminários mais tradicionalistas, como o IBP ou o seminário da FSSPX na Argentina, mas que eu saiba eu teria que morar na diocese em que fiz o seminário para o resto da minha vida. Ao menos foi o que entendi conversando com meu amigo vocacionado. Não quero morar na Argentina, nem ficar longe da minha cidade natal (claro que se for preciso, farei).

Bem, minha intenção com o texto é entender: quão ruim são os seminários brasileiros? Caso sejam tão ruins quanto de fato eu creio que sejam, como me criar como bom padre em um seminário modernista? Como seira para eu cursar um seminário outra diocese se não a diocese em que resido (teria de residir na diocese do seminário para o resto de minha vida ou poderia mudar)?

Novamente peço perdão pela ignorância e pela falta de domínio com o português.

Viva Cristo Rei,

João Vitor Machado

RESPOSTA
 Muito prezado João Vitor, salve Maria, a Virgem Mãe do Senhor!

 

Meu caro, em primeiro lugar, você tem uma ideia muito equivocada do que seria vocação, a atração ou forte desejo que um jovem possa ter pelo sacerdócio não é, nem de longe, um requisito definitivo para lhe dar uma certeza na busca pelo sacerdócio, na verdade, desculpe decepcioná-lo, esse tipo de coisas (falo dos desejos, atrações ou sentimentos) mais atrapalham aos que querem ter uma visão clara do assunto, do que ajudam.

 

Quem decide se você tem ou não vocação, não é você, ou os seus pais, ou um diretor espiritual, mas a Igreja por intermédio de um bispo, que esteja em situação regular na Igreja, no exato momento da ordenação, para entender melhor o que é vocação, aconselho você a ler atentamente o artigo: O verdadeiro significado da Vocação Sacerdotal - MONTFORT

 

 

O verdadeiro significado da Vocação Sacerdotal - MONTFORT

 

 

 

Não estou dizendo que a atração pelo sacerdócio advinda de um jovem como você é uma coisa ruim, não, longe disso, mas nem de longe isso pode trazer para você alguma certeza, quando jovens somos movidos frequentemente pelo o que os mais velho chamam de "fogo de palha", desejos passageiros, efêmeros, atrações avassaladoras que passam tão rápido quanto chegaram. Agora, como saber que tais atrações não são apenas sentimentalismos baratos de um jovem imaturo? Pela paciência, perseverança, resiliência, desprendimento, renúncias, palavras tão estranhas a nós quando somos jovens que só veem a nos rodear pelos sermões dos mais velhos contra os ímpetos de uma juventude arredia e indomável.

 

As escolhas maduras são feitas com anos de espera, com meses a fio de perseverança e espera, adornada de muitos "nãos" e pouquíssimos "sim"! E depois de muita persistência e luta, você ainda não terá certeza, ainda poderá receber um NÃO definitivo, e ainda sim você estará realizado, não por ter realizado o seu grande desejo de ser padre, mas por ter recebido um belo NÃO que veio todinho ele da vontade de Deus, você estaria disposto a isso, caro João Vitor? Duvido! Ainda que você queira responder prontamente, agora, com um claro e retumbante SIM, mas você não pode, melhor dizendo, não deveria, pois como eu já disse a você: as escolhas maduras são feitas com anos de espera, com meses a fio de perseverança e resiliência, adornada de muitos "nãos" e pouquíssimos "sim"!

 

Não estou dizendo que você deve procurar o sacerdócio apenas depois de velho, estou dizendo que o caminho para o sacerdócio, sobretudo, no atual contexto em que vivemos de Crise na Igreja, deve ser buscado com muita paciência, resiliência e espera.

 

Você me pergunta sobre os seminários do Brasil, bom, todos, sem exceção, são abarrotados de gayzismo, modernismo e heresias, os mais conservadores são completamente subservientes ao Concílio do Vaticano II, por isso mesmo, são péssimos! Os seminários da FSSPX estão em situação irregular, assim como a própria FSSPX, que vive em seu estado profundo de sedevacantismo-prático, onde simplemesmente generalizam um "estado de necessidade perene" em que tudo lhe é lícito desprezando por princípio qualquer autoridade legítima da Igreja!

 

O mais confiável, com certeza é o seminário do IBP, mas mesmo este, pelo menos no Brasil, sofre de um rigorismo seletivo tão incompreensível, que, eu mesmo que fui companheiro de seminário da maioria dos que hoje são padres no Brasil, posso afirmar que nenhum teria sido aprovado diante de tamanha exigência.

 

Enfim, prezado João Vitor, sem querer desanimá-lo, mas tratando a sua questão com o devido respeito e seriedade merecida, tento ser realista, mostrando a você que o caminho para o sacerdócio não é um conto de fadas, mas é uma escolha de vida regada com muitas dores e paciência.

Que Deus te ajude sempre, que a Virgem Puríssima seja teu grande amparo, reze por nós, pelo nosso apostolado, e busque sempre, não aquilo que você quer, mas o que Deus quer de ti.

Escreva-nos sempre que achar necessário.

“Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando-se às fábulas” (2Tim. 2,2-4).

In báculo Cruce et in virga Virgine,

Francis Mauro Rocha.