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Alguns pensamentos para agosto (D. Willianson, FSSPX)
PERGUNTA
Nome:
Rafael
Enviada em:
16/08/2005
Local:
São Paulo - SP,
Religião:
Católica
Idade:
26 anos
Escolaridade:
Pós-graduação em andamento
Profissão:
Engenheiro


Prezado Professor Orlando,
 
Veja esse importantíssimo texto de D. Williansom, da Fraternidade Sacerdotal S.Pio X, sobre o acordo com o Vaticano. )Recebi de uma lista de discussão de Tradicionalistas americanos)
 
Salve Maria,
rafael
 

 
ALGUNS PENSAMENTOS para AGOSTO, 2005
por D. Richard Williamson
 
 
Na edição de Maio-Junho deste ano da revista francesa bimestral “Sous la Bannière”, na página 7, há uma interessante citação atribuída ao Cardeal Ratzinger, agora Papa Bento XVI. Lê-se o seguinte:
 
“Uma fonte na Áustria, que prefere ficar anônima, nos assegura que o Cardeal Ratzinger recentemente admitiu a seguinte frase a um bispo austríaco seu amigo: ‘Eu tenho dois problemas em minha consciência: D. Lefebvre e Fátima. Quanto ao último, minha mão foi forçada. Quanto ao primeiro, eu falhei’.”
 
Com certeza se a “fonte na Áustria” prefere ficar anônima nós não temos como verificar se o Cardeal verdadeiramente disse essas coisas sobre D. Lefebvre e Fátima, mas a citação é pelo menos verossímil, portanto vale a pena falar sobre isso um pouco.
 
Quanto ao que o Cardeal diz sobre Fátima, nós suspeitamos em Junho de 2000, quando o Vaticano – com o Cardeal na liderança – supostamente publicou o terceiro Segredo, que haveria alguma trapaça acontecendo. Ou Roma ainda estava escondendo o verdadeiro Segredo, aquele mantido em seu quarto por Pio XII mas nunca lido, ou Roma estava revelando o verdadeiro segredo mas distorcendo sua interpretação. De qualquer modo, nos dissemos naquele tempo, Roma estava querendo por um fim em Fátima, e nós vimos o Cardeal Ratzinger representando um papel importante na manobra. Agora chega a citação da Áustria confirmando que o Cardeal estava realmente participando na manobra. Quem “forçou sua mão”? Foi João Paulo II? Algum poder oculto por trás do Papa e do Cardeal? Só Deus sabe.
 
Quanto ao que a citação diz sobre D. Lefebvre, aqui também se a citação não é verdadeira, é bem verossímil. Em Maio de 1988 quando D. Lefebvre estava ameaçando consagrar bispos para a Fraternidade São Pio X, com ou sem a permissão de Roma, foi o Cardeal Ratzinger que representou a Santa Sé nas negociações que pretendiam impedir a “ruptura” que tais consagrações implicariam. Nós lembramos que o Cardeal quase obteve “sucesso” em 6 de Maio, quando D. Lefebvre assinou o rascunho de um acordo, mas o Cardeal “falhou” quando o Arcebispo, depois de passar a noite em claro, retirou sua assinatura no dia seguinte. E agora chega a citação da Áustria confirmando que o Cardeal ainda vê a finalização daquelas negociações como uma “falha”.
 
Esta confirmação é importante pois sugere que o Cardeal continuará, agora que ele é Papa, com a mesma idéia de negociar com a Fraternidade São Pio X na audiência que em 29 de Agosto ele dará ao sucessor de D. Lefebvre na direção da Fraternidade, D. Bernard Fellay. Em outras palavras, é muito provável que o atual papa esteja sinceramente convencido de que a “quebra” entre a Fraternidade e Roma precisa chegar ao fim, e que ele dará todas as aparências de estar de boa vontade quando empregar todos os meios possíveis, incluindo sua longa experiência na diplomacia romana e todo o prestígio do seu atual posto elevado, para levar a “ruptura” a um fim.
 
Na verdade, um acordo Roma-Fraternidade parece impossível. E com certeza se a Fraternidade se reunir a Roma, a resistência da Tradição Católica continuaria sem ela; e se o Papa se “convertesse”, então no lugar da guerra suave atualmente sendo travada à sua direita pela Tradição, ele se veria numa guerra selvagem à sua esquerda com os neo-modernistas. De qualquer modo, a guerra continua entre amigos e inimigos da Fé de Nosso Senhor Jesus Cristo.
 
Mas o que é importante aqui e agora para os católicos que estarão acompanhando com interesse o encontro entre Roma e a Fraternidade é não cair em nenhuma das armadilhas que o demônio estará preparando para eles.
 
Primeiramente, o fato da Fraternidade estar sendo recebida em audiência pelo Santo Padre não significa que estamos fazendo uma traição. Se não houver contato entre a Tradição e Roma, como a verdadeira Tradição se fará ser ouvida em Roma?
 
Segundo, o contato não implica que um acordo é possível. Que todos os católicos que sonham em juntar a Tradição Católica e as atuais autoridades neo-modernistas da Igreja voltem a por os pés no chão. A Autoridade Católica e a Verdade Católica estarão um dia reunidas, mas nada por enquanto indica que o dia é amanhã – ou o dia seguinte!
 
Finalmente – e esta é a armadilha mais sutil – que ninguém pense que porque o Papa é de boa vontade, ele não possa ser um neo-modernista, ou que, porque ele é um neo-modernista, ele não poderia ser de boa vontade. A atual crise na Igreja seria bem menos grave e enganaria menos pessoas se os neo-modernistas tivessem obviamente má vontade. É característico desses últimos tempos que maus princípios estão tão disseminados que poucas pessoas estão cientes do fato, e muitas pessoas fazem o mau convencidas que estão fazendo o bem. É por isso que a citação do Cardeal é verossímil quando diz que sua “falha” em 1988 pesa “em sua consciência”.
 
Rezemos para a Mãe de Deus para que Bento XVI possa ver, acima de tudo, a necessidade de consagrar a Rússia ao seu Imaculado Coração; e se nós podemos ver, rezemos para que nós não fiquemos também cegos – “Aquele que está de pé, cuide para que não caia”, diz S. Paulo (I Cor X, 12). Os tempos são ruins!