Ciência e Fé

Ética e células-tronco
PERGUNTA
Nome:
Wilson
Enviada em:
01/01/2004
Local:
Curitiba - PR,
Religião:
Protestante
Idade:
33 anos
Escolaridade:
Superior em andamento
Profissão:
Aux. Enfermagem


Dois dias atrás enviei um comentário e uma pergunta,hoje envio mensagem por outra razão.
Li nos jornais que a Igreja Católica Apostólica Romana está, no Brasil e no Mundo, trabalhando para evitar o uso de células-tronco de embriões humanos, ainda que clonados, para uso em pesquisas e terapias por considerar que tal prática fere princípios éticos.
Eu, estudante de Física ( Licenciatura e Bacharelado) da Universidade Federal do Paraná vejo este avanço da Ciência com otimismo e, como futuro cientista, se o governo não cobrar mensalidades nas Universidades Públicas, não concordo com atitudes governamentais ou parlamentares que limitem a pesquisa cientìfica.
Ética? É muito difícil ser 100 % ético. Como é que aqui em Curitiba, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná ( dirigida pelos dos Irmãos Maristas) apresenta-se, na hora de cumprir com suas obrigações fiscais e tributárias, como uma entidade sem fins lucrativos e, na hora de cobrar mensalidades exclui pessoas de baixa renda? Afinal, na PUC-PR, há cursos cujos valores chegam a R$ 1.500.000.
Onde está a Ética de uma instituição que durante os anos 40 ( do século anterior) aliou-se a Mussolini e calou-se diante do Holocausto? Assinando até acordo com este tirano?Afinal as vítimas do Holocausto não mereciam proteção? Ou será que por a maioria não professar a Fé Católica não eram considerados seres humanos?
Onde está a Ética de uma intituição que, durante a Idade Média queimava pessoas vivas na Fogueira da Inquisição? Inclusive cientistas que usavam cadáveres, para estudos de anatomia, eram punidos com tal pena.
Onde está a Ética de uma instituição que punia com a morte pessoas que, igualmente durante a Idade Média, não professava o Catolicismo?
Comentando estes e outros assuntos a Folha de São Paulo, de domingo, será pequena para relembrarmos o desrespeito à vida humana, praticado por uma instituição que fala em amor cristão.
RESPOSTA

Prezado Wilson Mota, salve Maria,
 
Vejo que são diversas as questões que o afligem, e permita-me dizer que, como em geral acontece com aqueles que procuram atacar a Igreja Católica, você faz uma grande confusão entre elas. Buscando lhe ajudar, responderemos o que é pertinente ao conteúdo deste site. Quanto aos valores das mensalidades das universidades particulares, sinceramente, sugerimos que procure o PROCON.
 
Você, como futuro cientista, discorda da interferência do governo no andamento das pesquisas científicas.
 
Você diz que ”já que não é possível ser 100% ético”, -- do que discordamos -- as pesquisas científicas não deveriam ser limitadas por critérios éticos, pelo governo ou respresentantes da nação. No entanto, você acusa a Igreja de não ter ética.
 
Mas então, Wilson, na sua lógica, somente a Igreja tem obrigação de ser 100% ética?
 
Dois pesos e duas medidas?
 
Prezado Wilson, a Igreja obedece a Lei de Deus e não a lei dos homens. A Igreja obedece a uma lei imutável e prega valores morais imutáveis. A ética atual se baseia numa convencionada e artificial moral, pois se fundamenta em valores mutáveis. E porque os homens não buscam mais obedecer antes a Deus, mas apenas aos próprios homens, se preocupam mais com esta ética artificial relativista e mutável, do que com os 10 mandamentos. Dentre eles, o senhor deve conhecer, está o 5o: “não matar”. Assim, a Igreja e os seus fiéis têm obrigação não apenas de se posicionar contra, mas também de combater as pesquisas com células-tronco embrionárias, uma vez que as mesmas implicam na morte de embriões, ou seja, de vidas humanas.
 
O assunto das células tronco está constantemente presente na mídia nos últimos dias – o que agita os que se julgam pensadores -- e, na maioria dos casos, de maneira totalmente parcial, omitindo o parecer de diversos cientistas que se posicionam contra o uso das células tronco embrionárias.
 
Permita-nos então, esclarecer alguns pontos.
 
As tão famosas células-tronco possuem a característica de não serem especializadas, sendo potencialmente capazes de se especializar em qualquer tipo celular. Por isso são interessantes candidatas às pesquisas de regeneração de órgãos e tecidos.  
 
Durante os primeiros estágios de desenvolvimento, o embrião é constituído por estas células não especializadas, e por isso o grande interesse em sacrificar os embriões congelados em clínicas de fertilização para estas pesquisas.
 
O que a mídia em geral não divulga é que existem células tronco presentes em todos os seres humanos "já desenvolvidos’ – na medula óssea e no cordão umbilical – que também se prestam a tais pesquisas, com a vantagem de nos casos de implante não oferecerem risco de rejeição, pois podem ser retiradas do próprio indivíduo. Também se faz questão de omitir o fato de que em países onde a pesquisa das células tronco embrionárias infelizmente é permitida, os resultados não são satisfatórios ou conclusivos, enquanto que já são conhecidos casos de sucesso de implantes de células tronco adultas no próprio Brasil.
 
Por outro lado, as reportagens de TV insistem em associar este tema com imagens de doentes desesperados que confiam sua cura  no resultado das pesquisas com células tronco dos embriões sacrificados, impondo um falso dilema: “o que mais vale:um monte células congeladas num freezer duma clínica, ou uma criança abandonando a cadeira de rodas?”.
 
Se a mídia insiste nesta comparação absurda, para não dizer criminosa, é para fazer esquecer o ponto principal de toda a questão: os embriões são seres humanos e portanto têm direito à vida.
 
Já antes deste “amontoado de células” existe vida humana, pois desde o momento da fecundação aquela célula primeira possui toda a informação necessária para desenvolver-se em um adulto como nós ou você – grandes “amontoados” de células, certo?
 
Não: errado, pois nem o embrião nem o adulto são amontoados de células, e sim um todo altamente organizado e ordenado, em estágios diferentes.
 
Como se pretende determinar em qual estágio começa a vida? Hoje em dia há parâmetros para tal fim de acordo com o gosto do freguês: conforme o número de células ou número de dias, a partir do aparecimento de determinada estrutura, e tem até aqueles que dizem que só após o nascimento.
 
Em recente reportagem no Jornal Nacional, o repórter comparava o embrião humano nos primeiros dias de vida a um ponto, um mero ponto, buscando assim, estimular o desprezo por este “ponto”, desonestamente esquecendo o repórter que, caso o “ponto”, que ele foi um dia, fosse desprezado, ele não estaria em frente às câmeras para anunciar tamanha injustiça.
 
Ora, o Ministério da Saúde não despreza uma bactéria pelo seu tamanho nem por ser unicelular. E por isso mesmo, reconhecendo a vida neste ser, para o qual um “mero ponto” é gigantesco, e que esta vida pode causar um sério estrago, promove campanhas de vacinação.
 
De fato, você há de convir conosco, que tamanho não é documento.
 
Claro está, portanto, que a legalização do sacrifício de embriões para pesquisa com células tronco neste país abrirá as portas para a legalização do aborto. Afinal, já que se podem matar embriões congelados, porque não se podem matar embriões no útero?  
 
Não são também apenas amontoados de células?
 
Perceba, caro Wilson, a que ponto chegou o desprezo pela vida humana. E chegou a um ponto tão absurdo que se justifica tal sacrifício pelo bem da humanidade, para cura de doenças, ou seja, para o melhoramento da espécie.
 
Então quer dizer que se justifica o assassinato de seres humanos em prol da espécie? Isto é nazismo, contraditório Wilson.
 
Você, que se mostrou tão indignado com o nazismo, até mesmo acusando injustamente a Igreja de ser cúmplice do nazismo alemão, deveria, portanto, acusar e lutar contra todos aqueles que defendem a pesquisa com células-tronco embrionárias.
 
Há aqueles que pretendem justificar tal sacrifício alegando que os embriões congelados em clínicas de fertilização por certo período já não servem mais para nada.
 
Ora, não se pode corrigir um erro cometendo outro! Perguntemos então a estas pessoas se, quando forem idosos, doentes e onerosos, desejarão ser eliminadas, uma vez que já não servem mais pra nada?
 
A utilidade é o parâmetro para a dignidade de uma vida humana? Novamente, isto é nazismo, contraditório Wilson. É a aplicação da mais pura eugenia, mascarada pela idéia de progresso biotecnológico.
 
A defesa do uso de células-tronco embrionárias é, em última análise, um ato homicida e nazista. Por isso a Santa Igreja, como já se pronunciou o Papa João Paulo II, é contra esta imensa e injusta campanha mundial que está sendo promovida para destruição dos embriões congelados. Como a Igreja se pronunciou em 1938, pela palavra do Arcebispo de Münster Monsenhor Von Gallen, contra o extermínio de doentes mentais nas câmaras de gás, por Hitler, que pretextava que os dementes eram apenas um peso para o Estado e para a Sociedade.
 
Este combate contra o uso de células-tronco embrionárias torna-se ainda mais necessário, considerando que os embriões são seres humanos que não podem se defender do ataque da mídia, de cientistas inescrupulosos e sem ética, das clínicas de fertilização que não querem mais pagar o ônus da manutenção dos embriões e dos interessados em negociar órgãos humanos.
 
Salve Maria, Mãe do Meu Senhor,
Marina Marques.
 
PS. Você já leu o que Pio XI  escreveu no documento Non Abbiamo Bisogno?
Você conhece a distinção entre política pessoal de um Papa e doutrina da Igreja enquanto tal?
Você conhece a chamada encíclica secreta que Pio XI ia publicar contra o Fascismo, e que só não a publicou, porque morreu na véspera da publicação?
E você sabia que Pio XI implorava ao seu médico que fizesse todo o possível para que ele o fizesse viver até o domingo, para poder publicar essa encíclica contra o Fascismo?
E você sabia que o médico de Pio XI era o Doutor Pettacci?
E você sabia que o Doutor Pettacci era o pai de Claretta Pettacci, a amante de Mussolini?
Claro que você, muito provavelmente, nunca ouviu falar nada disso.
E você sabia que fazer acusações à Igreja -- só pelo que diz a Mídia -- sem conhecer a História, não só não é moral, como também nem mesmo é ético? M.M.