Retorno do filho pródigo (acordo Roma-FSSPX)
Autor: Orlando Fedeli
- Consulente: Marcelo Moraes
- Idade: 40
- Localizaçao: Rio de Janeiro – RJ – Brasil
- Escolaridade: Superior concluído
- Profissão: Advogado
- Religião: Católica
Prezado Prof. Fedeli
Gostaria de manifestar minha estranheza com relação ao posicionamento de Vossa Senhoria ao comentar o recente encontro entre S. Santidade Bento XVI e Mons. Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, sendo certo que o mesmo pode ser encontrado no espaço de “última notícias” existente no sítio Montfort.
A razão de tal sentimento deve-se ao fato da complacência com a qual Vossa Senhoria reportou-se a um cismático excomungado pela Santa Igreja.
O Sr. há de convir que tal postura não é usual de sua parte com relação a pessoas em tal situação jurídico-canônica e de ordem espiritual, eis que a mesma exclui o cristão da comunhão dos santos e da recepção dos sacramentos, podendo comprometer até mesmo a salvação eterna, em que pese acreditar, conforme ensinou o Senhor e ensina a Igreja, que Deus está sempre pronto a receber de volta o pecador, a começar por mim, apesar de não me encontrar em situação de excomunhão.
Ora não há maior reconhecimento público de pecado e erro do que a excomunhão.
Da mesma forma não compreendi sua empatia para com os dois excomungados Dom Lefebvre e de Dom Mayer, sendo certo caber a Deus e não a mim fazer juízos sobre salvação eterna, mas por outro lado, lembrando que em pública rebeldia realizaram ordenações episcopais sem a compulsória intervenção do Bispo de Roma, necessária para legitimá-las.
O que diferenciaria tais personagens dos ortodoxos, a quem o Sr. se refere sistematicamente com a alcunha desairosa de cismáticos?
Acaso não teriam incorrido nas penas previstas no cânon 1364 c/c cânon 751 do Código de Direito Cânonico?
Contando com uma resposta a altura de sua inequívoca cultura e argúcia.
Respeitosamente, como convém no Senhor.
Marcelo Moraes
Salve Maria!
Preferiria o senhor que Dom Fellay não se reunisse com o Papa e que não houvesse paz?
Orlando Fedeli
Replica
Prezado Prof. Fedeli.
Salve Maria, Mãe do Bom Conselho!
Após refletir sobre a sua resposta, gostaria de tecer as seguintes considerações.
Inicialmente, gostaria de dizer que me sinto honrado pela resposta tão pronta e detida de V. Senhoria.
Além disso, creio que nosso interesse, como cristãos e homens honrados, certamente, não é estabelecer um debate odioso e estéril, muito pelo contrário, entendo que deixar de aproveitar tal oportunidade, de minha parte, seria um desperdício.
Assim, passo a tecer os comentários que se seguem.
Quando V. Senhoria se utiliza da parábola do filho pródigo ou como alguns preferem chamar, parábola do pai misericordioso, e me compara ao rabugento filho mais velho, corre o risco, conforme, inclusive, observou na sua resposta, de colocar os lefrevistas na condição de filhos pródigos, o que não parece justo nem com eles nem comigo.
Por outro lado, insisto no ponto, que não foi objeto de suas análises, da ordenação episcopal realizada por D. Mayer e D. Lefebrve sem a autorização compulsória do Papa.
Assim diz o Catecismo da Igreja Católica: “somente a Simão, a quem deu o nome de Pedro, o Senhor constituiu em pedra de sua Igreja. Entregou a chave da mesma, instituiu-o pastor de todo o rebanho. Porém, o múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao colégio dos apóstolos, unido a seu chefe. Ele é o princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis”. (Catecismo da Igreja Católica – Edição Típica Vaticana – Edições Loyola, pág. 253, 881).
Dessa maneira, Ilustre Professor, sem querer ser desrespeitoso para com caros amigos seus ou sua memória, nem D. Lefebrve, nem Mons. Bernard Fellay, nem D. Pedro Casaldáliga ou D. Hélder Câmara, sozinhos ou unidos somente entre eles, o que reconheço: é impossível, têm autoridade para exercer o ministério sacramental consistente no múnus de ensinar, santificar e reger, se nele não se considerar incluído o Romano Pontífice.
A verdade é que a desobediência de realizar ordenações episcopais não autorizadas e a conseqüente excomunhão, que é um fato objetivo, jurídico, que se dá no mundo concreto, apesar de inegáveis e dramáticas implicações de natureza espiritual e de consciência, as torna ilegítimas e, por conseqüência, ilegítimo é o múnus que dela decorreria.
Não pense, por favor, que fico triste ou raivoso com o retorno dos membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio X à plena comunhão.
Muito pelo contrário fico feliz e esperançoso, eis que se trata de católicos fervorosos, em que pese os desencontros que estão sendo superados, como o Sr. e como meu padroeiro, Santo Antônio, mas há de convir que, quando se fala de “retorno”, “acordo”, bem como outros termos similares, é porque o vínculo da unidade em algum momento se rompeu, tanto isso é verdade que até mesmo o Sr. admite ter deles se separado, devido à questão dos Tribunais do Vínculo.
Eu lhe digo mais, ficarei muito feliz, porque essa é a Vontade de Nosso Senhor, quando ortodoxos, anglicanos, luteranos, velhos católicos, etc. retonarem (observe que usei a expressão retornarem), porque também é Vontade do Senhor que a unidade se dê em torno de Pedro e seus sucessores, eis que princípio e fundamento dela, como anteriormente dito.
Faço as observações suso mencionadas porque respeito sobremaneira o seu apostolado e o bem que ele realiza (e como). É um parâmetro numa época de descartáveis, ressaltando, ainda, que sou freqüentador habitual do sítio, em que pese tenha, também, toda a consciência de que tal profícuo trabalho é meio e não fim em si mesmo e que a matéria que estamos conversando não se constitui verdade de fé o que, tenho certeza, também é sua opinião.
Por fim, devo confessar que fiquei um pouco impressionado com o fato do Sr. ter me considerado raivoso e zangado. Vou refletir detidamente sobre a questão porque, se me permite a brincadeira, nestes assuntos o Eminente Professor, e seu florete afiado, são mestres.
Respeitosamente, no Senhor.
Marcelo Moraes.
- Seção: Cartas
- Assunto: Polêmicas
- Tema: Concílio Vatinano II
Publicações relacionadas
Cartas: Grandeza e humildade admiráveis de uma alma sacerdotal - Orlando Fedeli
Artigos Montfort: Outro torpedo contra o Concílio Vaticano II - Orlando Fedeli
Cartas: Obrigatoriedade de aceitar o Concílio Vaticano II - Orlando Fedeli
Para comentar esta publicação
O site Montfort não permite a inclusão de comentarios diretamente em suas publicacões.
Para enviar comentários, sanar dúvidas, obter informações, ou entrar em debate conosco, envie-nos sua carta.
TAGS