Reações a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis do Papa Bento XVI
Autor: Orlando Fedeli
“O documento Sacramentum Caritatis não é outra coisa senão o definitivo selo papal à Restauração. O Sumo Pontífice – Bento XVI – reafirmou que “os políticos e legisladores católicos” não devem votar leis contrárias à “natureza humana”. Isto é o fim do Vaticano II. E foi assim que no ano da graça de 2007 foi colocada a pedra tumular sobre o Concílio Vaticano II, para cujo sepultamento há anos já se havia cavado a fossa. A Exortação pós Sinodal Sacramentum Caritatis, publicada hoje, não é senão o selo definitivo de Bento XVI à grande Restauração”. (Paolo Giorgi, em seu artigo “A Grande Intervenção” in ABRIL Info ON LINE . 13 de Março de 2007
http://www.aprileonline.info/2189/la-grande-ingerenza).2) Golias: Bento XVI quer retornar ao Pré Concílio. Resistir ao Papa seria dever.
Também o famoso site modernista francês, Golias, manifesta a mesma amargura, e a leva até à revolta. Sob o título: “O Grande Manifesto da Restauração: Golias Apela à Resistência Espiritual” (Edição de 13 de Março – http://golias.ouvaton.org/spip.php?article1338), entre outras coisas, se lê:
“O presente documentointitulado « Sacramentum Caritatis » pretende colocar os pingos nos « is » em um certo número de questões controversas e decidir no sentido da maior intransigência.
E enumera alguns pontos:
“a obrigação do celibato sacerdotal na Igreja latina“
3) Vaticanistas acusam o Papa de Rigorismo
Outros jornalistas cantaram no mesmo tom. Valquíria Rey, correspondente em Roma escreveu:
“Vaticanistas vêem rigor e conservadorismo em texto papal”
4) Jornal El Pais acusa retorno a valores Pré Conciliares
No jornal El País, de Madri, se publicou o seguinte comentário:
“A Exortação Sacramentum Caritatis se ajusta ao espírito programático do pontificado. O Papa considera que décadas de relaxamento católico permitiram a promulgação de leis “socialmente corrosivas”, e exige um cerrar fileiras. Quer ele que a Igreja não se defina pelo número de fiéis mais ou menos teóricos, mas pela qualidade, conscientização e ativismo dos mesmos. Para ele, o catolicismo deve refletir-se da mesma forma no silêncio da reflexão prévia à eucaristia e no fragor dos debates públicos. O termo “inegociável”, aplicado a questões como o aborto, a eutanásia, o divórcio, as uniões homossexuais ou o ensino católico, resulta significativo. O cerrar fileiras vem junto com um certo retorno a valores pré conciliares, como a missa em latim e o canto gregoriano, preferíveis, segundo a Exortação, às missas em língua local e aos acompanhamentos musicais mais ou menos modernos. A lembrança de que os católicos divorciados e casados de novo não podem receber a comunhão, e que devem esforçar-se para compensar sua situação irregular com “penitências e obras de caridade”, complementa um quadro ao mesmo tempo retrógrado e, em um sentido político, “revolucionário”. (El País, Madrid,– 14 03 -2007 artigo de Enric González, correspondente em Roma).
“Mas contrariamente ao documento Deus caritas est, que trazia claramente a marca de Bento XVI, a Exortação é antes de tudo um documento eclesiástico elaborado a partir da assembléia sinodal que reuniu 252 Bispos do mundo inteiro em Outubro de2005 no Vaticano. Contrato cumprido: o documento é bem o reflexo do equilíbrio que se tinha então realizado nessas três semanas de discussões.
2) Le Figaro atinge o equilíbrio, mas anuncia que os Missais da Missa tridentina já estariam para ir ao prelo.
O jornal Le Figaro toma uma posição mais equilibrada entre a reação violenta dos modernistas e a posição apressada de certos tradicionalistas. Para Le Figaro:
«O texto pontifício é sem grande surpresa. O Papa respeitou a regra da colegialidade, retomando, ponto por ponto, as cinqüenta proposições que lhe tinham sido feitas quando do décimo primeiro Sínodo dos Bispos. Bento XVI respeitou o consenso encontrado no curso desses “Estados Gerais” nos quais o conjunto das correntes da Igreja, desde os mais “progressistas” aos mais “conservadores”, puderam se exprimir. Esse texto pontifício se arrisca assim a decepcionar, de um lado os que esperavam aberturas em matéria de disciplina eclesiástica, e, de outro lado, os católicos mais tradicionalistas.
“Obediência fiel” às normas em vigor
“Com efeito, o Papa no documento não aborda diretamente a questão da Missa tridentina que lhes é cara. Mas ele dá pistas.
No final de seu artigo, o jornalista Hervé Yannou, de Le Figaro, dá uma informação preciosa do Cardeal Scola, informe pouco noticiado e pouco comentado. Ao apresentar a Exortação Sinodal aos jornalistas no Vaticano no dia 13 de Março, o relator do sínodo, Cardeal Scola disse que já estão sendo preparados os Missais para a Missa Antiga:
“Para o Cardeal Ângelo Scola, Patriarca de Veneza, e relator geral do Sínodo, essas indicações deveriam “contribuir a aplanar dificuldades e incompreensões” com os integristas católicos. E o Cardeal teve que lembrar que “jamais aconteceu que a introdução de um rito novo coincidiu com a abolição do rito precedente”. Não se pode “lançar sombra” nem sobre a antiga Missa, nem sobre “a importância das reformas do Vaticano II”. Assim, na perspectiva de um decreto papal liberando a Missa anterior ao Vaticano II, os impressores italianos já prepararam as provas do Missal abandonado depois de 1969”. (14 mars 2007 – Hervé Yannou – Le Figaro – lefigaro.fr. Destaques nossos).
Pois então, os Missais em latim voltaram a ser impressos…
Monsenhor Vingt Trois, Arcebispo de Paris, discípulo de Lustiger, e enfileirado na linha modernista resistente à liberação da Missa de sempre, comentou a Exortação Sinodal com as seguintes palavras:
“A Exortação Apostólica Pós Sinodal Sacramentum Caritatis que o Papa Bento XVI acaba de nos dirigir, nos propõe uma releitura muito argumentada do trabalho dos Bispos reunidos para décima primeira sessão sinodal em Roma, em Outubro de 2005.(…) Essa Exortação apostólica não traz nenhuma revelação e nem nenhuma inovação quanto à disciplina da Igreja; ela recoloca o conjunto dessa disciplina numa ampla meditação da realidade eucarística em todas as suas dimensões (…) Os padres Sinodais, escreve ele [ o Papa], constataram e relembraram particularmente a benéfica influência que a reforma litúrgica realizada a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II teve para a vida da Igreja… Concretamente, trata-se de ler as mudanças queridas pelo Concílio no interior da unidade que caracteriza o desenvolvimento histórico do próprio rito, sem introduzir rupturas artificiais”(…) ”A Exortação Apostólica não quer ser um catálogo de prescrições rituais (…) “Nós estamos confortados em nosso desejo de melhorar sem cessar nosso modos de celebrar dignamente a liturgia, em nossa resolução de corrigir o que deve ser corrigido em nossas práticas a fim de que progrida ainda a beleza de nosso vida eclesial” + André Vingt-Trois Archevêque de Paris (Apresentação da Exortação Apostólica por Mons. André Vingt Troishttp://catholique-paris.cef.fr/a-1-2034-exhortation-apostolique-sacramentum-caritatis.html 14/03/07).
“Os padres Sinodais, escreve ele [o Papa], constataram e relembraram particularmente a benéfica influência que a reforma litúrgica realizada a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II teve para a vida da Igreja…”.
Essa redação faz entender que é o Papa quem reconhece a benéfica influência da reforma da liturgia realizada por Paulo VI. Ora, o que dizia o documento papal é que foram os Bispos que afirmaram isso no Sínodo e não o Papa.
“De modo particular, os padres sinodais reconheceram e reafirmaram o benéfico influxo que teve, na vida da Igreja, a reforma litúrgica actuada a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II.(5) O Sínodo dos Bispos pôde avaliar o acolhimento que a mesma teve depois da assembléia conciliar; inúmeros foram os elogios; como lá se disse, as dificuldades e alguns abusos assinalados não podem ofuscar a excelência e a validade da referida renovação litúrgica, que contém riquezas ainda não plenamente exploradas. Trata-se, em concreto, de ler as mudanças queridas pelo Concílio dentro da unidade que caracteriza o desenvolvimento histórico do próprio rito, sem introduzir artificiosas rupturas” (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n* 3. Os destaques são nossos).
Monsenhor Vingt Trois aprendeu bem a arte de fazer textos dizerem o que eles não disseram. É uma arte capciosa que se poderia chamar de ventriloquismo redacional da hermenêutica fenomenológica.
“Nós estamos confortados em nosso desejo de melhorar sem cessar nosso modos de celebrar dignamente a liturgia, em nossa resolução de corrigir o que deve ser corrigido em nossas práticas a fim de que progrida ainda a beleza de nosso vida eclesial”.
Permita Deus que essa correção se faça para maior glória de Deus.
E disse mais Sandro Magister:
“Sabe-se que a recusa das “rupturas artificiosas” – conforme o que disse o Papa no discurso, citado em nota, à Cúria Romana em 22 de Dezembro de 2005, sobre a correta interpretação do Concílio – é um dos motivos que, para Joseph Ratzinger, justificam a permanência em uso do rito tridentino” (Sandro Magister, “Sacramentum caritatis”: No domingo, todos à Missa, Roma, 14 Março de 2007 http://chiesa.espresso.repubblica.it/dettaglio.jsp?id=126741).
Mas, se se exige uma “correta interpretação do Concílio”, não sabemos como essa interpretação possa se harmonizar com outro posicionamento do Cardeal Ratzinger, dizendo:
“Mas algo que necessita de interpretação para continuar existindo na verdade já deixou de subsistir. Com toda razão, o espírito humano volta-se para a verdade mesma, e não para aquilo que, pelo método da interpretação e lançando mão de desvios, ainda pode ser declarado compatível com a verdade” (Joseph Ratzinger, Introdução ao Cristianismo: preleções sobre o Símbolo Apostólico, trad. Alfred J. Keller, São Paulo: Loyola, 2005, p. 106).
- Seção: Artigos Montfort
- Assuntos: Apologética • Igreja
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