Comentário do Discurso-Bomba do Cardeal Ratzinger
Na Missa de abertura do Conclave mais dramático da História, o Cardeal Ratzinger, decano do Colégio Cardinalício, pronunciou uma homilia de extraordinária importância. Foi uma verdadeira declaração de guerra à ala modernista, defensora do “espírito do Vaticano II”.
Pela primeira vez na História, os fiéis puderam assistir à Missa de abertura do Conclave —Pro Eligendo Pontifice – e a expectativa não foi decepcionada.
O Cardeal Ratzinger, segundo os jornais, o líder da ala mais conservadora do Colégio Cardinalício, e um dos grandes candidatos ao Sumo Pontificado, não teve “papas” na língua: disse verdades tremendas e terríveis.
O Cardeal, que celebrou a Missa, tomou com fundamento de sua homilia textos das leituras e do evangelho dessa Missa, para dizer verdades jamais pronunciadas tão claramente.
Ele principiou citando o profeta Isaias que disse: “a misericórdia divina coloca um limite ao mal”.
Que significa isso na situação atual da Igreja senão que Ratzinger considera que não é possível prosseguir na orientação em que se tem caminhado há décadas, isto é, desde o Vaticano II?
Significa que, continuando a deterioração atual, se chegaria logo a um ponto em que as portas do inferno teriam realmente prevalecido sobre a Igreja, o que Cristo prometeu jamais aconteceria. Há limites para o mal
O Cardeal Ratzinger visava exatamente criticar a situação em que a Igreja se acha hoje, depois de 40 anos de aplicação da letra e do espírito do Vaticano II. Tem-se outra indicação disso no que ele disse, logo a seguir, quando explicou o que significa ser criança na fé:
“Em que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser “sacudidos pelas ondas e jogados cá e lá por qualquer vento de doutrina”.
“Uma descrição muito atual! Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas quantas modas de pensamentos…”
Esta última frase é terrível.
Por ela o Cardeal Ratzinger declarou então, e diante de todos os Cardeais eleitores do novo Papa, que há decênios se permitiu a introdução de doutrinas errôneas na Igreja, que nela penetraram como ventos convulsionadores. E lembramos que João XXIII quis abrir as janelas da Igreja para arejar o interior dela. Quarenta e poucos anos depois, se constata que esses ventos foram destruidores.
Ratzinger afirma em alto e bom som, em plena Basílica de São Pedro que há decênios, ventos portadores de má doutrina penetraram no interior da Igreja. E o Concílio Vaticano II se deu há quatro decênios. E o Papa João Paulo II governou a Igreja durante quase três decênios…
Evidentemente, nessa afirmação do Cardeal há uma acusação contra o que se fez na Igreja, há decênios, isto é, desde o Concílio.
Ratzinger descreveu dramaticamente a situação dos fiéis nessa confusão dominante nos decênios posteriores ao Vaticano II:
“A pequena barca do pensamento de muitos cristãos não raramente foi agitada por essas ondas – jogada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até ao libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo, e assim por diante. Todo dia nascem novas seitas e se realiza quanto diz São Paulo sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a arrastar ao erro”.
Não podia ser melhor descrito o lançamento do rebanho católico, de um lado, para o racionalismo da Teologia da Libertação, e, depois, para o lado oposto, no misticismo irracionalista da RCC.
Ratzinger, falando do infantilismo na fé que se deixa agitar pelos modismos ideológicos, – e quantos modismos se tem sucedido como vagalhões que passam pela Igreja — aproveitou a ocasião para criticar os modernistas que sempre se gabaram de ter uma “Fé adulta” quando, de fato, parecem crianças que se movem por instintos, por entusiasmos passageiros, infantilmente.
Disse o Cardeal Ratzinger:
“Adulta” não é uma fé que segue as ondas da moda e última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo”.
“(…) somos chamados (…) a sermos realmente adultos na fé. Não deveríamos permanecer crianças na fé em estado de minoridade. E em que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser “sacudidos pelas ondas e jogados cá e lá por qualquer vento de doutrina”.
Ratzinger atacou ainda o espírito de novidades modernista, propugnador do relativismo doutrinário:
“Enquanto o relativismo, isto é o deixar-se levar “aqui e acolá por qualquer vento de doutrina”, aparece como a única atitude que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida somente o próprio eu e as suas vontades”.
Em contra partida, Ratzinger afirmou que:
“Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, freqüentemente é etiquetado como fundamentalismo”.
Desse modo o Cardeal pintou os dois campos que se combatem nesse Conclave: o do relativismo modernista, contra os que defendem a integridade da Fé, e que são apodados muito injusta e caricatamente de “fundamentalistas”.
Há, pois, dois campos claramente opostos.
Nada mais verdadeiro do que a descrição dessas duas posições doutrinárias se degladiando, hoje, na Igreja e no Conclave.
Continuando em sua declaração de guerra aos modernistas, Ratzinger não hesitou em atacar o ecumenismo tão em voga nos últimos decênios, afirmando uma verdade esquecida há muito tempo:
“Esta fé adulta é a que devemos amadurecer, a esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé – somente a fé – que cria unidade e se realiza na caridade”.
Ora, todo o ecumenismo do Vaticano II contrariou este princípio.
Para o Vaticano II, o amor tinha primazia sobre a verdade. Agora o Cardeal Ratzinger vem dizer exatamente o oposto, aquilo que a Igreja Católica sempre afirmou: só pode existir unidade na unidade da Fé. A caridade sem a fé é falsa e é cega. Pior, é louca. Não é verdadeira caridade. É filantropia.
Isso é a condenação do ecumenismo do Vaticano II.
Daí Ratzinger afirmar que é o amor a Cristo que obriga a levar o dom da Fé, o dom da verdade aos que não a têm:
“Devemos ser animados por uma inquietude: a inquietude de levar a todos o dom da Fé, da amizade com Cristo”.
E prossegue o Cardeal decano:
“Recebemos a fé para dá-la a outros – somos sacerdotes para servir os outros”.
A Igreja tem que ser missionária para ser fiel a Cristo que ordenou a seus Apóstolos: “Ide e ensinai a todos”.
Depois do Vaticano II morreram as missões. Os novos missionários iam aos infiéis e aos pagãos louvando a sua “cultura”, ainda que idólatra. Ainda que contrária à natureza.
Essas palavras do Cardeal Ratzinger soam como trombeta de guerra.
Ratzinger poderia muito bem ter feito um discurso conciliador e “conciliarista” – pastoral — para ganhar votos no Conclave.
Ele que é, segundo declarou ainda ontem o ex-frei Boff, o Cardeal mais odiado pelos modernistas, não temeu desafiar esses ódios. Ele não rogou o voto dos centristas, dos moderados de sempre.
Se ele for eleito, é que se registrou um movimento muito amplo de retorno àquilo que a Igreja sempre ensinou. Se ele vencer e se tornar Papa, isso significará um ponto de retorno sem volta, à Igreja de sempre. Um rotundo não aos erros pastorais do Vaticano II.
Resta saber como reagirão os modernistas, caso se dê a vitória do Cardeal Ratzinger, ou, pelo menos, a de seu programa…
Aceitarão modernistas como os dois primos Lorscheider, e Cardeais vermelhos cubanos como Arns? Bispos comunistas como Dom Casaldáliga ou Dom Tomás Balduino, para falar dos nacionais, aceitarão eles um Papa que pense como Ratzinger?
Aceitarão os Cardeais modernistas europeus, um Kasper, um Lehman, um Martini, um programa tão oposto ás suas heresias?
Duvido…
Existe a possibilidade bem real de Ratzinger não ser o eleito. Se for eleito um de seus seguidores, o problema ainda fica de pé para os modernistas.
Se Ratzinger perder, se seu programa de luta católica perecer, triunfarão os modernistas extremados.
E Deus então salve a Igreja.
Mesmo assim ficará de pé o que um Cardeal disse fielmente um dia em face de todos os Cardeais eleitores do Papa reunidos em Conclave. Esse clamor da Fé católica permanecerá para sempre, ainda que Ratzinger seja derrotado. Os católicos fiéis à Igreja de sempre não esquecerão o que foi dito hoje em São Pedro de Roma.
A Montfort, como tantos outros grupos de católicos fiéis á Igreja de sempre, propagará como um eco fiel esse clamor em defesa da Fé lançado hoje pelo Cardeal Ratzinger.
Deus dê à Santa Igreja um Papa de acordo com o Coração Sacratíssimo de Jesus: fiel e abrasado de amor. Porque só na fidelidade há o verdadeiro amor que é a caridade de Cristo.
Viva o Papa!!!
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