Ellie Arkin não fala latim, por isso, ao entrar na Igreja Católica do Santíssimo Redentor em Madison num domingo recente, a estudante da Universidade do Wisconsin-Madison, de 21 anos, abriu um livro em latim com a tradução para o inglês, fornecido pela igreja.
Durante a hora seguinte, ela e muitos dos outros paroquianos seguiram com o livro a Missa que se desenrolava principalmente em latim.
As reformas introduzidas pelo Vaticano II na década de 1960, eliminaram a Missa em latim quase completamente, mas agora, em todo o país e na Diocese Católica de Madison, os tradicionalistas estão buscando o seu retorno.
Os defensores dizem que ela oferece uma reverência e seriedade que hoje falta na abordagem mais informal do culto.
“Há uma sacralidade incrível que você pode sentir, provar e ver – não é apenas um encontro social”, diz Jacek Cianciara, 67, de Madison, um dos paroquianos que ajuda trazer de volta a missa em latim na região.
Outros católicos acham o estilo mais antigo desnecessariamente difícil de seguir e muito passivo.
“Quando é em latim, é só repetição – você não está lendo as palavras pelo seu significado real”, disse Alice Jenson, 66, de Fitchburg. “Eu sou contra levantar essa barreira artificial.”
Na diocese que abrange 11 condados, os católicos podem assistir à missa em latim, em algum lugar, todos os dias, embora a grande maioria dos cultos permaneça em Inglês.
Cerca de 200 católicos assistem regularmente uma missa em latim pelo menos semanalmente e outros comparecem vez ou outra, estima a diocese.
Isso é uma pequena parcela do total de freqüentadores – cerca de 57 mil pessoas assistem à missa na diocese cada semana – mas é uma fatia insistente e crescente.
Mais do que o idioma
A missa em latim, também conhecida como a Missa Tridentina, distingue-se por mais que o idioma. O padre fica voltado para o altar, que tradicionalmente está para o Oriente, a direção de onde os católicos acreditam que Cristo voltará.
Isso significa que o padre tem as costas para o povo, o que os tradicionalistas vêem como apropriado, como um general liderando suas tropas.
O padre fala numa voz baixa e calma, tornando o latim na maior parte do tempo intencionalmente inaudível aos paroquianos. Isso porque o sacerdote deve estar orando ao Senhor em Seu nome, não proclamando algo para o povo, disse o monsenhor Delbert Schmelzer, 81, um dos sacerdotes diocesanos que reza a missa em latim.
“Essa ênfase faz um mundo de diferença”, diz ele.
O canto gregoriano é a música exigida, por vezes acompanhado por órgão ou vocalizações. Meninas não podem ser acólitos porque os tradicionalistas acreditam que o papel deve ser reservado aos rapazes, os únicos que podem se tornar padres.
Apenas o sacerdote lê as Escrituras ou distribui a Comunhão.
A grande mudança
O Concílio Vaticano II, 1962 a 1965, introduziu missas em línguas locais e teólogos de mentalidade reformista prosseguiram com uma série de outras mudanças que tornaram mais flexível a estrutura do culto e aumentaram o papel dos leigos.
Meninas foram colocadas como servidoras de altar, e membros da igreja começaram a ajudar os sacerdotes como leitores das Escrituras e como distribuidores da Comunhão. A música passou a incluir violões, corais populares e hinos como “Amazing Grace”.
Os sacerdotes começaram a voltar-se para o povo em vez do altar.
“O Vaticano II mudou a ênfase para destacar mais os talentos e as habilidades das pessoas que não são ordenadas – a idéia de que, “É a minha igreja também”, disse o Rev. Steven Avella, professor de história na Universidade de Marquette, em Milwaukee e padre católico.
O mesmo princípio está por trás da tradução [não foi só tradução] da missa na língua nativa, Avella disse. “As pessoas poderiam entender o que estava sendo dito e responder em sua própria língua”, disse ele.
Para os tradicionalistas as mudanças foram infelizes.
“As igrejas eram cheias nos anos 30 e 40, mas agora elas não enchem porque as pessoas nem sequer entendem porque estão lá”, disse Schmelzer.
Santíssimo Redentor
Oitenta e duas pessoas assistiram a missa em latim em 7 de agosto na Igreja do Santo Redentor, realizada todos os domingos às 7 horas. A média de comparecimento é de 60 a 100 pessoas, disse Cianciara.
Cerca de 90 por cento da missa foi em latim, exceto por um curto sermão em inglês e a leitura das Escrituras, primeiro em latim e depois em inglês.
Muitas mulheres usavam véus, uma maneira tradicional de demonstrar exteriormente humildade na presença do Senhor. O grupo aparentava igualmente dividido entre jovens e velhos.
Jeff Skalsky, 47 anos, de Fitchburg, estava lá com sua esposa e seis filhos. Ele gosta como os paroquianos da missa em latim tratam o santuário com reverência.
“Você não vê as pessoas depois da missa de pé, falando e fazendo barulho”, disse ele. “É um lugar reservado para o sagrado, não um lugar para encontros sociais.”
Avella disse que a missa em latim parece ter um apelo particular entre as pessoas que são politica e socialmente conservadoras. Cianciara não se opõe a esta caracterização.
“Estas pessoas baseiam suas vidas em princípios morais muito fortes”, disse ele. “Se você estender isto a política, eles são mais conservadores. Você vai descobrir que eles são contra o aborto, contra a eutanásia, contra o casamento homossexual.”
Um retorno gradual
Ao longo dos anos, o Vaticano tem procurado esclarecer questões relacionadas com a missa em latim, o resultado vem sendo um levantamento gradual das restrições sobre como e quando ela pode ser celebrada. Por exemplo, antes um bispo tinha de dar permissão para a missa em latim ser celebrada em sua diocese. Agora, os sacerdotes não precisa mais da aprovação.
O mais recente anúncio do Vaticano, em maio, disse que os padres deveriam aprovar missas em latim, mesmo para grupos pequenos de pessoas que a solicitem, e mesmo se o grupo é formado por pessoas de diversas paróquias ou dioceses.
Na diocese Madison, os paroquianos pediram ao Bispo Robert Morlino para restaurar a missa em latim em 2006. Morlino, um forte defensor, rezou uma missa em latim em dezembro de 2007 . Foi a primeira missa em latim oficial na diocese desde 1969.
As missas regulares semanais em latim começaram na Igreja do Santíssimo Redentor no início de 2008, atraindo inicialmente umas 20 pessoas. Agora sete das 134 igrejas da diocese, uma em Madison, Roxbury, Fennimore, Merrimac e Mazomanie e duas em Platteville – oferecem a missa em latim pelo menos uma vez por semana.
Avella prevê que a missa em latim vai continuar a atrair uma minoria dos católicos.
“A maioria dos católicos dos EUA ainda gravita em torno de suas paróquias onde a Missa é em Inglês, a música é mais diversificada, e eles podem pertencer a vários ministérios litúrgicos”, disse ele.
Schmelzer vê uma mistura gradual da missa em latim, mais formal, com a missa nova, mais informal.
“Elas são a mesma missa, só que em estilos diferentes”, diz ele. “O Papa gostaria que fosse uma fusão das melhores partes de ambas no futuro, e isso pode levar uma geração ou duas.”
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