Especialistas internacionais apelam ao Papa e ao Sínodo pela proteção do casamento
Carta aberta ao Papa foi assinada por quarenta e oito professores universitários, advogados e líderes de diversos países, tanto católicos quanto não católicos, em junho passado, e propõe diversas medidas para o favorecimento da família.
Fonte: Zenit
Tradução Montfort
Santo Padre, Eminências e Excelências,
Regozijamo-nos de que o Santo Padre tenha capturado a atenção do mundo e tanta boa vontade para a Fé cristã! Como outros, estamos profundamente comovidos pelas suas expressões de amor e misericórdia, ecoando o amor e a misericórdia de Cristo, especialmente para aqueles que estão indefesos e abandonados.
É neste contexto que acolhemos a decisão de convocar um Sínodo Extraordinário dos Bispos para examinar os desafios do matrimónio e da família. Como cada um de vocês, nós acreditamos que a família é, com a própria Igreja, a maior manifestação institucional do amor de Cristo. Para aqueles que querem amar como Ele quer nos amar, o casamento e a família são indispensáveis, tanto como veículos da salvação, como enquanto baluartes da sociedade humana.
Os últimos papas deixaram esses pontos bastante claros. Por exemplo, o Papa Bento XVI escreveu que, “o casamento é verdadeiramente um instrumento de salvação, não só para as pessoas casadas, mas para o conjunto da sociedade”. E, na Evangelii Gaudium, Sua Santidade escreveu que “a contribuição indispensável do casamento à sociedade transcende os sentimentos e necessidades momentâneas do casal”.
Este Sínodo é uma oportunidade para expressar verdades eternas sobre o casamento.
Por que essas verdades são importantes? Por que elas representam o amor verdadeiro, não “exclusão” ou “preconceito”, ou qualquer outra acusação que se faz hoje contra o casamento?
Homens e mulheres precisam desesperadamente, em primeiro lugar, ouvir a verdade sobre o porquê eles devem se casar e, uma vez casados, porque Cristo e a Igreja desejam que eles permaneçam fiéis uns aos outros por toda a vida nesta Terra e que, quando os casamentos ficam difíceis, como acontece para a maioria dos casais, a Igreja vai ser uma fonte de apoio, não apenas para os cônjuges individuais, mas para o próprio casamento.
Vossa Santidade escreveu tão vigorosamente, Santo Padre, sobre a importância de uma nova evangelização no seio da Igreja: “Uma comunidade evangelizadora está envolvida por palavras e obras no cotidiano das pessoas; transpõe distâncias e está disposta a humilhar-se, se necessário. Ela acolhe a vida humana, tocando a carne padecente de Cristo nos outros”.
Permita-nos humildemente sugerir que, no contexto do casamento e da vida familiar, suas palavras sejam um chamado à responsabilidade pessoal, não só para os próprios cônjuges e filhos, mas para os casamentos daqueles que Deus colocou ao nosso lado: nossos parentes e amigos, aqueles em nossas igrejas e em nossas escolas.
Há muito em jogo. De acordo com o relatório internacional Tendências para as Crianças de 2013: “um aumento dramático na coabitação, divórcio e gravidez fora do casamento nas Américas, Europa e Oceania nas últimas quatro décadas, sugerem que a instituição do casamento é muito menos relevante nestas partes do mundo”. Nos Estados Unidos, a taxa de casamentos é a mais baixa já registrada, a coabitação está rapidamente se tornando uma alternativa aceitável ao casamento e mais da metade dos partos das mulheres com menos de 30 anos de idade agora ocorrem fora do casamento. Entre inúmeras outras associações estatísticas negativas, cada uma dessas tendências tem sido relacionadas a menores ganhos, menor mobilidade econômica, menos bem-estar social e mais pobreza, em particular para mulheres e crianças.
Dentre os casamentos atuais, muitos são frágeis e tensos. Estima-se que entre quarenta e cinquenta por cento de todos os primeiros casamentos nos EUA devam acabar em divórcio. Esta taxa aumenta drasticamente a cada novo casamento e as pesquisas sugerem que a razão não é a baixa qualidade da vida conjugal, mas o fraco compromisso [dos cônjuges].
As consequências do divórcio e da coabitação para crianças e adultos são muitas e diversificadas – da pobreza e menor rendimento escolar, a uma saúde física pior, de um menor compromisso matrimonial na idade adulta até a morte prematura, e enquanto cada nação é única, os estudos mostram que o impacto dessas tendências abrange todo o globo. Um pequeno exemplo de tais estudos: China, Finlândia, Suécia, Uruguai, México, Grécia, África e nações asiáticas do leste do Pacífico.
O custo social da pornografia é significativo. Os estudos sobre o impacto da pornografia nas relações sugerem que ela é um dos principais contribuintes para a destruição dos casamentos. Infelizmente, a pesquisa de longo prazo sobre o efeito da pornografia no casamento é praticamente inexistente.
As assim chamadas leis de “divórcio expresso”, nos EUA e em muitos outros países, permitiram um sistema no qual os juízes e advogados facilitam a dissolução de casamentos, muitas vezes contra a vontade dos cônjuges que permanecem firmes em seu compromisso conjugal.
Apesar dessas tendências desoladoras, estamos encorajados e resolutos pela exortação do Santo Padre: “Os desafios existem para serem superados! Sejamos realistas, mas sem perder a nossa alegria, a nossa ousadia e nosso compromisso cheio de esperança”.
Talvez uma nova maneira, mais ousada, para podermos evangelizar os casais, e por extensão os futuros casamentos de seus filhos, seja a construção de pequenas comunidades de casais que se apoiam mutuamente de forma incondicional em suas vocações para a vida conjugal. Essas comunidades forneceriam redes de apoio fundamentadas nos laços da Fé e da família, compromisso de casamento para toda a vida e responsabilidade mútua.
Aqui nós oferecemos algumas das formas práticas para criar e sustentar tais comunidades:
- Comissionar o Conselho Pontifício para a Família para realizar pesquisas longitudinais multidisciplinares sobre o papel da pornografia e do “divórcio expresso” na crise do casamento.
- Educar seminaristas. Proporcionar cursos obrigatórios abrangendo evidências em ciências sociais sobre os benefícios do casamento, as ameaças ao casamento e as consequências do divórcio e da coabitação, para as crianças e para a sociedade.
- Formar os sacerdotes para que demonstrem em suas homilias o valor espiritual e social do casamento, os desafios atuais a ele, e fornecer ajuda paroquial para os casamentos abalados. Um estudo recente descobriu que 72% das mulheres católicas norte-americanas dizem que a homilia semanal é sua fonte primária de aprendizado sobre a fé.
- Criar pequenas e vibrantes redes de casais convictos como mentores ao nível paroquial, disponíveis para dar aos outros casais as ferramentas para manter casamentos saudáveis e duradouros.
- Educar os paroquianos sobre a extraordinária influência que podem ter sobre os casamentos dos amigos e familiares. Dados das ciências sociais mostram que a presença de familiares e amigos divorciados aumenta o próprio risco de divórcio. Como alternativa, os dados sugerem que os membros da família e os amigos podem aumentar o compromisso e a satisfação dentro de casamentos de pessoas que eles amam, através do seu exemplo e apoio.
- Encorajar e apoiar a reconciliação de casais que estão separados ou se divorciaram pelos tribunais civis.
- Solicitar aos bispos do mundo inteiro que iniciem orações regulares na missa de domingo por casamentos fiéis e fortes.
- Apoiar os esforços para preservar o que é correto e justo nas leis existentes sobre o casamento, para resistir a quaisquer mudanças nas leis que enfraquecem ainda mais a instituição e para restaurar as disposições legais que protegem o casamento como uma união conjugal de um homem e uma mulher, firmado na abertura para o dom dos filhos e vivido fielmente de forma permanente como a base da família natural.
- Dar apoio à liberdade religiosa nas cortes de divórcio. Muitos não sabem que a liberdade religiosa é rotineiramente violada por juízes de divórcio que ignoram ou denigrem as opiniões do cônjuge que procura salvar o casamento e manter a educação religiosa dos filhos, ou impedir que o cônjuge culpado exponha as crianças a um parceiro sexual não casado. Criar um grupo de advogados e legisladores para combater este problema.
A realização de qualquer dessas metas em uma escala internacional seria um grande avanço para o casamento e a família. Conseguir todas elas poderia virar a crise do casamento de cabeça para baixo no mundo inteiro.
Com a liderança de Vossa Santidade vamos ajudar os casamentos a terem sucesso e florescerem, ao colocar o valor maior no compromisso matrimonial – em todos os níveis da sociedade, em todos os cantos do mundo. Agradecemos a Vossa Santidade, Eminências e Excelências por tomarem esta tarefa vital e podem ter certeza de nossas orações para seu grande sucesso.
- Seção: Notícias e Atualidades
- Assunto: Igreja
- Temas: Defesa da Família • Papa Francisco
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Papa Francisco, Sinodo da Familia