Boff conclama à revolta contra o Papa
Autor: Orlando Fedeli
“Uma Igreja se comporta como seita, segundo clássicos como Troeltsch e Weber, quando tem a pretensão absolutista de deter sozinha a verdade, quando se nega ao diálogo, rejeita o trabalho ecumênico e manifesta crescente autofinalização”
“A estratégia doutrinal do atual papa é a do confronto direto com a modernidade”
“Não causaria espanto se alguns mais radicais, animados por gestos do atual papa tentassem um cisma na Igreja”
São Paulo, 3 de Setembro de 12007.
Desde seu tempo de cardeal, tem tratado os grupos progressistas e os teólogos da libertação a bastonadas e com pele de pelica os conservadores e tradicionalistas, seguidores do bispo Léfèbvre, excomungado em 1988 e que, à revelia de Roma, ordenou bispos e padres. O Vaticano acabou por acatar seus seminários onde formam o clero no rito tradicionalista.
O mais grave ocorreu logo em seguida com a publicação de cinco questões sobre a Igreja, oriunda da Congregação da Doutrina da Fé e aprovada pelo papa, na qual se repete o que o então cardeal J. Ratzinger, em 2000, enfatizava no documento Dominus Jesus, verdadeiro exterminador do futuro do ecumenismo: a única Igreja de Cristo subsiste somente na Igreja Católica, fora da qual não há salvação.
As demais “igrejas” não o são, pois possuem apenas “elementos eclesiais” e a Igreja Ortodoxa, tida como uma expressão da catolicidade, foi rebaixada a simples igreja particular. Estas posições reacendem a guerra religiosa quando todos estão buscando a paz, cuja realização é enfraquecida pela Igreja.
A Igreja está se isolando mais e mais de tudo. Sua base social são principalmente os movimentos, medíocres no pensamento e subservientes às autoridades; preferem a aeróbica de Deus a se confrontar com os problemas da pobreza e da injustiça. Uma Igreja se comporta como seita, segundo clássicos como Troeltsch e Weber, quando tem a pretensão absolutista de deter sozinha a verdade, quando se nega ao diálogo, rejeita o trabalho ecumênico e manifesta crescente autofinalização.
Nesse sentido, cabe lembrar que o Vaticano não assinou em 1948 a Carta dos Direitos Humanos, se recusou a entrar no Conselho Mundial de Igrejas porque ela se julga acima e não junto das demais igrejas, negou-se a apoiar a convocação de um Concílio universal de todos os cristãos na perspectiva da paz mundial, sob o pretexto de que cabe exclusivamente a Roma fazê-lo, proibiu a compra dos cartões do Unicef destinados à infância carente, alegando que esta entidade favorecia o uso de preservativos.
Ao lado disso, cresce o patrimônio imobiliário da Igreja que, segundo pesquisas (Adista 2/6/07), chega a 1/5 de todo o patrimônio italiano e romano. A especulação imobiliária e financeira rendeu ao Vaticano 1,47 bilhão de euros entre 2004-2005.
A estratégia doutrinal do atual papa é a do confronto direto com a modernidade, num pessimismo cultural inadmissível em alguém que deveria saber que o Espírito não é monopólio da Igreja e que a salvação é oferecida a todos. Não causaria espanto se alguns mais radicais, animados por gestos do atual papa tentassem um cisma na Igreja.
Fonte: http://www.opovo.com.br:80/opovo/internacional/724995.html
Leonardo Boff, da Comissão da Carta da Terra, é teólogo.
- Seção: Artigos Montfort
- Assunto: Igreja
- Tema: Ecumenismo
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