A Beleza no mundo, no homem e em Deus: a Filosofia da Arte, a Sabedoria de Deus na Criação e a vida espiritual – Parte 3
Este artigo é uma continuação de A beleza no mundo, no homem e em Deus: a Filosofia da Arte, a Sabedoria de Deus na Criação e a vida espiritual (parte 2), e Parte 1
Pierre de Craon Lejeune
Nos artigos anteriores nós estudamos duas definições de beleza, uma de Santo Alberto Magno e outra de Santo Tomás de Aquino. Diferentes nos termos, elas são perfeitamente complementares entre si.
Vimos que a beleza está fundamentada em critérios objetivos, presentes na realidade das coisas: matéria e forma, ordem, proporção, perfeição. Uma vez que Deus dispôs “todas as coisas com medida, número e peso” (Sabedoria 11, 21), só nos resta uma conclusão a tirar: o mundo visível manifesta com abundância as maravilhas da bondade de Deus.
A beleza da criação está, portanto, por todas as partes. Mas, por vezes escondida aos nossos sentidos e contida no decurso quotidiano das coisas, ela muitas vezes só se revela às pessoas que sabem observar com atenção.
Lembramos que a beleza tem uma relação estreitíssima com a inteligência. O conhecimento da beleza pertence essencialmente ao intelecto. Ordem, proporção, perfeição são conceitos contidos na noção de beleza e que só podem ser percebidos pela inteligência.
Todavia, por causa da união do corpo com a alma, para que o homem conheça a beleza de algo necessariamente atuam os sentidos (sobretudo a visão e a audição) e a imaginação. Daí dizermos que os olhos e os ouvidos têm seu agrado nas coisas belas.
Mas isto não significa que somente as pessoas de grande capacidade especulativa, intelectuais, dedicadas ao estudo e que possuem um diploma universitário são capazes de distinguir o feio do belo. Atualmente os universitários, em sua grande maioria, possuem os gostos artísticos mais bizarros… Quem nunca passou perto de um muro pichado e depois não se deu conta de que passava ao lado (ou dentro) de uma faculdade?…
Todos os homens têm inteligência. Alguns, ainda que sejam lavradores e pedreiros, ainda que não sejam grandes especuladores, a cultivam bem. São capazes de produzir coisas belas, simples ou mesmo grandiosas. Outros, mesmo se estudam numa universidade (sobretudo se estudam numa universidade…), podem cultivá-la mal. Acham que grafite, pichação, é arte. Admiram Stravinsky. Vestem-se com bermuda, chinelo, camiseta regata, falam palavrões, fumam maconha. Constituirão a elite intelectual do país…
Um lavrador pode ter pouca habilidade intelectual, encontrar dificuldade em distinções finas, em sistematizações abstratas. Porém, se possuir princípios corretos, verá o mundo e as coisas que existem nele com clareza. Saberá distinguir o feio do belo. Uma pessoa que tenha diploma, se possuir princípios tortos, julgará algo bom como mau e vice-versa.
Depois de termos estudado, em nossos artigos anteriores, a objetividade da beleza – extremamente contestada hoje – começaremos agora a analisar os cinco elementos necessários à sua existência concreta.
Com isso esperamos poder ajudar na formação das inteligências, para que elas estejam mais bem preparadas para distinguir o feio do belo, para separar o joio do trigo na esfera artística, para saber se uma obra de arte é conforme às verdades que a luz natural da razão, sem a Revelação, nos apresenta. Pois, se é importante que uma obra de arte não ensine heresias, também é importante que ela não transmita tolices… Assim, gostaríamos que nossos leitores possam, com maior propriedade, dizer se algo é belo e por que motivo.
Estes cinco elementos são: a variedade, a integridade, a proporção, a unidade e o esplendor.
Alguns responderão que Santo Tomás menciona somente três propriedades necessárias para que algo seja belo: “Para a beleza, três coisas são necessárias: primeiramente, integridade ou perfeição (…); devida proporção ou consonância; e clareza” (Suma Teológica I, q. 39, a. 8). Não contestamos esta afirmação de Santo Tomás. O que faremos é explicitar dois elementos (variedade e unidade), contidos implicitamente entre os três elementos mencionados pelo Doutor Angélico, com a finalidade de tornar nossa explicação mais didática.
Estes elementos estéticos não possuem a mesma importância nem o mesmo papel.
Primeiramente, todos são igualmente necessários, mas nem todos têm uma influência igual sobre a beleza.
Depois, eles não se comportam do mesmo modo nos diferentes gêneros de beleza. Estes elementos se conformam à natureza dos seres nos quais se encontram. A unidade de nossa alma é diferente da unidade de uma sonata ou de uma cena pintada num quadro. O esplendor de um corpo é diferente do esplendor de um anjo.
Além disso, eles exercem entre si uma influência mútua, se completam, fazem um contrapeso entre si e mantêm o equilíbrio do ser.
Finalmente, é necessário saber que dois dentre eles pertencem propriamente ao princípio material das coisas: a variedade e a integridade; dois deles pertencem ao princípio formal: a unidade e o resplendor. A proporção pode ser vista como estando relacionada à matéria e à forma juntamente.
Ao longo de nosso trabalho ficará mais claro como a filosofia escolástica e os princípios de Santo Tomás de Aquino sabem colocar cada coisa no seu lugar, unificando a parte sensível ou material com a parte formal, inteligível, da beleza.
Nos nossos próximos artigos mostraremos a natureza, o papel e o lugar de cada um destes cinco princípios que compõem a beleza.
- Seção: Artigos Montfort
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