Defesa da Fé

Origem do Anglicanismo
PERGUNTA
Nome:
Luiz
Enviada em:
08/01/2003
Local:
Rio Grande - RS,
Religião:
Católica
Idade:
41 anos

Caro professor Orlando Fedeli, Salve Maria.

Já tive oportunidade de recorrer ao Sr. anteriormente quando busquei alguma informação sobre o feminismo. Naquela ocasião eu declarei ser este site um excelente veículo para a divulgação da Fé Católica como ela deve ser exposta, fugindo dos modelos de catequese modernos que infelizmente são maioria no Brasil. Quero agora conhecer algo mais no que se refere à religão anglicana. Este grupo, que é minoritário no Brasil, tem a maior parte de seus membros aqui no Rio Grande do Sul, mas não encontro informações detalhadas sobre a história da igreja anglicana, com exceção de algumas parcas referências em atuais livros de historia todos tendendo à interpretação materialista. Encontrei o site oficial da igreja anglicana no Brasil, mas mesmo ali o resultado é pífio. De acordo com o texto do site a Igreja Anglicana não foi fundada por Henrique VIII no furacão da reforma protestante, mas sim que este rei apenas retomou o direito antigo da Igreja Celta de ser independente de Roma e do Papa. O texto, que não se aprofunda muito, faz referência ao fato de que até a invasão dos saxões a Igreja Celta era independente e que apenas depois da dita invasão é que missionários romanos chefiados por Agostinho - não o Santo Agostinho certamente - obrigaram os antigos celtas somados aos saxãos convertidos a aderirem à autoridade do Papa. O site nada fala sobre o divorcio do rei Henrique VIII, nem de Tomás Moro que foi executado como traidor por não aceitar o poder do rei sobre a Igreja. Gostaria de saber mais sobre estes fatos e todos mais que o Sr. julgar importante para o esclarecimento , inclusive sobre a doutrina dos anglicanos.

Obrigado, Luiz, Rio Grande, RS.
RESPOSTA
Muito prezado Luis Victor, salve Maria.

Muito bondosas as suas palavras sobre nosso site Montfort, as quais lhe agradeço. É bem verdade que não queremos seguir de modo algum!!! o modelo modernista de "difundir" a fé, porque, na realidade, em vez de difundir, a destrói. Haja vista o que acontece em todas as dioceses do mundo. Aqui, perto de minha casa, quase no centro de São Paulo, a paróquia está sem vigário. E se se for aquilatar o valor dos que regeram a paróquia antes, quase se dá graças a Deus pela falta de vigário...

Na Espanha, acontece o mesmo em muitas diocese. Na França, idem. Estão destruindo a Fé e a religião. Tudo está sendo abandonado. Como na Inglaterra, às vésperas do cisma e da heresia anglicana.

O que você obteve sobre o anglicanismo no site anglicano é completa mentira histórica. Nunca houve uma igreja católica celta independente de Roma. É claro que, nos primeiros séculos do cristianismo na Inglaterra, pelas dificuldades de comunicação com Roma, e pelo isolamento da Inglaterra, as relações materiais com Roma eram pouco freqüentes. Mas isto não significava, de modo algum. que se admitisse que houvesse uma igreja católica separada de Roma.

Foi São Gregório Magno que mandou um de seus monges Santo Agostinho de Cantuária (que não é o famoso Santo Agostinho, bispo de Hipona, na África) catequizar os anglos.

Santo Agostinho se tornou o grande Apóstolo da Inglaterra, Arcebispo de Canterbury, e primaz da Inglaterra.

Os reis ingleses, desde muito cedo, tentaram dominar a Igreja. Para isto se aproveitavam das dificuldades de comunicação com Roma, para se apossarem de bens da Igreja, e pretenderem dar a investidura aos Bispos, direito que é do Papa.

Essa tentativa de dominar a Igreja na Inglaterra causou perseguições a Santo Anselmo, assim como o assassinato de São Thomas Becket.(ambos arcebispos de Cantuária).

São Tomás Becket sofreu exílio durante anos, para não ceder às pretensões regalistas do Rei Henrique II. Quando o próprio Papa Alexandre III cedeu às intrigas do rei, São Thomas Becket teve que voltar à Inglaterra, sabendo que o rei o mataria. E foi o que aconteceu. São Thomas Becket foi assassinado na própria catedral de Canterbury. Foi martirizado por defender os direitos do Papa e as imunidades da Igreja, frente as pretensões absolutistas do rei Henrique II da dinastia Plantageneta. Isso foi no século XII.

As tendências regalistas dos reis da Inglaterra prosseguiram. A decadência do poder papal cresceu a partir do século XIV, quando os reis da França forçaram os Papas a residirem em Avignon. Inglaterra e Alemanha passaram a ver o Papa como um mero capelão do rei da França e não mais como juiz imparcial entre as nações da Cristandade. Este foi um dos motivos que auxiliaram a Alemanha e a Inglaterra a caírem na heresia e no cisma, pela Reforma, no século XVI.

O nascimento da pseudoigreja anglicana foi motivado, em primeiro lugar, pelo desejo do Rei Henrique VIII de se divorciar de sua esposa Catarina de Aragão.

Essa rainha era filha dos reis de Espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, e ela se casara, com o Rei da Inglaterra, irmão de Henrique VIII, mas esse rei morreu sem consumar o casamento com ela. Inglaterra e Espanha, então, pediram ao Papa que concedesse licença a Henrique VIII, irmão e herdeiro do rei falecido e que não consumara o casamento com Catarina de Aragão, a casar-se com ela, afim de manter a aliança das duas nações.

Roma, tendo em vista que o casamento se dera apenas no papel, permitiu a Henrique VIII que se casasse com Catarina, visto que eles eram cunhados apenas documentalmente, e não realmente. Eles se casaram e tiveram uma filha, Maria Tudor, que será Rainha da Inglaterra. O casal real não teve filhos homens, a rainha Catarina tendo sofrido várias perdas de gestação por aborto involuntário, é claro.

Depois de quase trinta anos de matrimônio, Henrique VIII se apaixonou por uma mulher leviana e protestante, Ana Bolena, e pretendeu anular seu casamento com Catarina de Aragão, porque ela seria sua "cunhada".

Para isto ele pediu ao Papa que anulasse o seu casamento, assim como a licença que ele pedira a Roma e que Roma dera para casar-se com Catarina de Aragão.

O Papa negou a Henrique VIII a nulidade de seu casamento com Catarina, reafirmando que o casamento fora legítimo. Como o Papa não cedeu nem a subornos, nem a ameaças, o Rei Henrique VIII proclamou-se chefe supremo da Igreja na Inglaterra, concedeu a si mesmo o divórcio e a licença para casar-se com Ana Bolena (de cuja mãe ele fora amante).

Casou-se com Ana Bolena, e foi excomungado por sua rebeldia contra Roma, por assumir a chefia da igreja na Inglaterra.

Ele forçou o episcopado inglês a apoiá-lo. Só o Bispo de Exeter, João Fisher, resistiu e permaneceu fiel ao Papa. Henrique VIII cortou-lhe a cabeça, e o Papa proclamou São João Fisher mártir da Fé.

Outro martírio importante foi o de Thomas Morus, antigo Chanceler de Inglaterra, que não aceitou a usurpação da chefia da Igreja por Henrique VIII, e nem o divórcio do Rei. Henrique VIII decapitou Thomas Morus, que o Papa, por isso, elevou aos altares como mártir.

Houve uma perseguição enorme contra aqueles que se mantinham fiéis ao Papa, havendo inúmeros martírios de sacerdotes e de leigos.

O Rei teve de Ana Bolena uma filha, Isabel, que vai ser a rainha que consolidará o cisma e a heresia anglicana. Entretanto, o Rei não ficou muito tempo com Ana Bolena. O fato de que ela não teve um filho, como o rei queria, e o fato de que o rei já não tinha paixão por ela, levaram-no a querer se livrar dela. Isso não foi difícil. O Rei se aproveitou de provas das ligações sexuais de Ana Bolena com cortesãos ele a acusou até de ser amante do próprio irmão dela para condená-la à morte por adultério.

O Rei se casou seis vezes, tendo matado várias de suas amantes. A última só se salvou do patíbulo, porque o rei morreu antes.

A coroa inglesa foi herdada pela legítima filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão, Maria Tudor, que era católica, e que fez a Inglaterra voltar à união com Roma.

Ela se casou com o Rei da Espanha Felipe II, mas eles não tiveram filhos.

A filha bastarda de Henrique VIII e de Ana Bolena, Isabel, era protestante secretamente, e como ela pretendia ter direito à Coroa e os anglicanos esperavam que ela subisse ao trono e rompesse, de novo, com Roma a Rainha Maria Tudor a manteve sob vigilância, e, depois. presa.

Felipe II, esposo da Rainha Maria Tudor, se interessou por Isabel, quis conhecê-la, e quando a conheceu, apaixonou-se por ela. Desde então, vendo que Maria Tudor não teria filhos porque já era muito velha, planejou casar-se com Isabel, para manter a aliança com a Inglaterra e manter esse país unido a Roma católica.

Quando Maria Tudor descobriu que Isabel se envolvera numa conspiração para matar a rainha e assumir a coroa, a Rainha quis condenar Isabel à morte, mas Felipe II não permitiu que isso ocorresse, protegendo Isabel.

Ao morrer a Rainha Maria Tudor, o trono inglês deveria ter passado para Maria Stuart, Rainha católica da Escócia, mas Felipe II favoreceu Isabel, e foi esta que subiu ao trono inglês.

Inicialmente, Isabel I, procurou disfarçar sua verdadeira posição religiosa, que só foi revelando aos poucos. Quando se sentiu firme no poder, ela rompeu, de novo, com o Papa, e restabeleceu o anglicanismo. Foi ela a verdadeira consolidadora da religião anglicana.

Quando o Papa tomou conhecimento dessa traição, excomungou Isabel como herege. Felipe II procurou impedir e durante certo tempo conseguiu fazer isso que a notícia da excomunhão chegasse na Inglaterra, colocando a frota espanhola guardando o Canal da Mancha para impedir que qualquer navio levasse o decreto de excomunhão para a Inglaterra.

Ele fez pior.

Procurou casar-se com Isabel, chegando a fazer o seu embaixador dizer a ela que, por amor dela, ele seria capaz de renunciar à Religião.

Tudo isso pode ser lido no livro de William Thomas Walsh, Felipe II, (Ed. Espasa Calpe, Madrid, 1958).

Graças a Deus, esse plano de casamento de Felipe II com Isabel I falhou.

Isabel nunca se casou. Passou à História inglesa com o epíteto de "a Rainha Virgem", apesar de ter tido onze amantes.

Ela era feiticeira, e favoreceu a pirataria, tornado-se participante dos lucros dos piratas ingleses.

Ela perseguiu os católicos de modo brutal. Prendeu e matou sua prima Maria Stuart. Favoreceu o protestantismo por toda a parte. Fez triunfar o anglicanismo na Inglaterra.

Essa é, em resumo e a grandes traços, a origem do anglicanismo, religião que hoje permite o aborto e o homossexualismo.

A Santa Sé, ainda no tempo de Leão XIII, declarou oficialmente que os anglicanos não têm sucessão apostólica. Isto significa que a Igreja Católica não reconhece que os chamados Bispos anglicanos tenham sido validamente sagrados. Em conseqüência disso, nenhuma ordenação de sacerdotes é válida no anglicanismo. Portanto, os anglicanos não tendo Bispos e nem padres, seus sacramentos, exceto o batismo, são inválidos

Perdoe-me a brevidade de minha resposta num assunto tão complexo. Espero, porém, ter respondido a sua pergunta

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli