Ciência e Fé

Eugenia: o pesadelo genético do século XX. Parte III: a ciência nazista
Paulo Sérgio Rodrigues Pedrosa


“Quem quer que seja que exalte a raça, ou o povo, ou o Estado, ou uma forma particular de Estado, ou os depositários do poder, ou qualquer outro valor fundamental da comunidade humana – apesar de suas funções no mundo terreno serem honráveis e necessárias – qualquer um que eleve estas noções além do seu valor intrínseco e os divinize ao ponto da idolatria, distorce e perverte uma ordem do mundo criada e planejada por Deus; ele se encontra distante da verdadeira Fé em Deus e do conceito de fé que esta Fé exige.”
“Apenas as mentes superficiais podem cair no conceito de um Deus nacional, e de uma religião nacional, ou tentar trancar dentro das fronteiras de um único povo, dentro do estreito limite de uma única raça, a Deus, o criador do universo, Rei e Legislador de todas as nações, que perante a Sua imensidão são apenas “como uma gota de água que cai de um balde’ (Isaías XL, 15)”. (Papa Pio XI,
Mit Brennender Sorge, 8; 11, Vaticano, 14 de Março de 1937)

Introdução:
 
Esta é uma continuação do artigo Eugenia – O Pesadelo Genético do Século XX, Parte 2 – A Cultura da Morte, que evidencia o vínculo entre as instituições de planejamento familiar e a Eugenia do começo do século XX, além de demonstrar que a Cultura da Morte começou a se implantar no mundo há quase um século atrás.
 
O tema deste novo artigo tratará do pleno uso da Eugenia pelo Nazismo e suas trágicas conseqüências, de forma a compreendermos melhor esse passado tenebroso que volta a nos rondar. Um passado para cuja a reedição o mundo, adotando a “cultura da morte”, caminha a passos largos.
 
Veremos como a Eugenia foi importada pela Alemanha dos EUA e como se mesclou com o racismo Nazista, gerando o horror do holocausto. Também veremos como fundações americanas financiaram e promoveram pesquisas eugenistas alemãs, os resultados colhidos pela Eugenia Nazista e suas aplicações no mundo moderno. Veremos também qual foi a punição para os crimes dos cientistas nazistas no pós-guerra.
 
A principal fonte de consulta para este trabalho, e da maior parte das citações, é o livro A Guerra Contra os Fracos, do famoso jornalista americano Edwin Black, que nos revela a surpreendente história da Eugenia. O livro A Guerra Contra os Fracos foi editado em 2003 no Brasil pela A Girafa Editora Ltda.
 
 
Influência da Eugenia e do Racismo Americano no Nazismo
 
Talvez seja espantoso para alguns que muitas das idéias eugenistas e raciais nazistas nasceram nos democráticos e liberais Estados Unidos. Entretanto, isto é o que os fatos demonstram. Cientistas, políticos, pensadores, banqueiros e magnatas americanos não só abasteceram a ciência eugenista nazista com idéias, mas também com apoio e recursos financeiros.
 
O movimento eugenista americano buscou apoiar e incentivar ao redor do mundo aqueles que compartilhavam de suas idéias: “O movimento nos EUA também deu ajuda científica, conforto e apoio a indisfarçáveis racistas em todos os lugares, de Walter Plecker na Virgínia, a incontáveis outros na Europa. A teoria, a prática e a legislação (eugenista) americana eram os modelos...”
“A Alemanha não foi exceção. Os eugenistas alemães estabeleceram relações acadêmicas e pessoais com Davenport e com o establishment eugenista americano, desde a virada do século XX. Mesmo depois da Primeira Guerra Mundial... suas ligações com Davenport e com o resto do movimento americano permaneceram fortes e inabaláveis. Fundações americanas, como a Carnegie Institution e a Rockefeller, patrocinaram generosamente a biologia racial alemã com centenas de milhares de dólares, mesmo quando os americanos estavam nas filas da sopa durante a Grande Depressão.” (Edwin Black, obra citada, pp. 418, 419).
 
Apesar da Alemanha ter desenvolvido, ao longo dos primeiros vinte anos do século XX, seu próprio conhecimento eugenista, tendo suas próprias publicações a respeito do assunto, os adeptos alemães da eugenia ainda seguiam como modelo os feitos eugenistas americanos, como os tribunais biológicos, a esterilização forçada, a detenção dos socialmente inadequados, e os debates sobre a eutanásia. “Enquanto a elite americana descrevia os socialmente indignos e os ancestralmente incapazes como “bactérias”, “vermes”, “retardados”, “mestiços” e “subumanos”, uma raça superior de nórdicos era progressivamente considerada a solução final para os problemas eugenistas do mundo.” (Um tribunal Biológico: Tratando a Causa, Eugenical News, v. IX, 1924, p. 92, apud Edwin Black, op. cit., p. 419).
 
Segundo Black, o próprio Hitler, ainda enquanto um jovem cabo, considerava-se um biólogo da raça e defensor da supremacia racial, e era extremamente simpático à eugenia. Enquanto esteve preso, por incitação pública à desordem, Hitler teve acesso a publicações eugenistas didáticas que citavam largamente a Davenport, Popenoe e outros eugenistas radicais americanos.
“Além disso seguia fielmente os escritos de Leon Whitney, presidente da Sociedade Americana de Eugenia, e de Madison Grant, que exaltava a raça nórdica e deplorava sua corrupção pelos judeus, pelos negros, pelos eslavos e por todos os outros quem não tinham cabelo louro e olhos azuis. O jovem cabo alemão chegou mesmo a escreveu uma carta como fã para um deles”. (Autobiography of Leon F. Whitney, texto não publicado, cerca de 1973, p. 205, APS Coleção de Manuscritos, apud Edwin Black, op. cit. p. 420).
 
Segundo Black: “Ele (Hitler) duplicaria o programa eugenista americano – tanto o que havia sido legislado quanto o que apenas havia sido impetuosamente advogado – e seu grupo consistentemente apontaria os Estados Unidos como tendo criado os precedentes para as ações na Alemanha.” (Edwin Black, op. cit., p. 420. Negrito nosso).
 
 
Surgimento da Eugenia Negativa na Alemanha
 
            A eugenia pode ser dividida em: eugenia positiva, que busca o aprimoramento da raça humana através da seleção individual por meio de casamentos convenientes, para se produzir indivíduos “melhores” geneticamente; e  eugenia negativa, que prega que a melhoria da raça só pode acontecer eliminando-se os indivíduos geneticamente “inferiores” ou impedindo-os que se reproduzam. Tendo a eugenia positiva se mostrado impraticável, a maioria dos eugenistas ao redor do mundo acabou por adotar a eugenia negativa.
 
Entre 1805 e 1900 Gustav Boeters viajou pelos EUA como médico de navio. Lá, tomou conhecimento das castrações, esterilizações e das leis de restrição matrimoniais americanas. Voltando para a Alemanha, escreveu por longo tempo artigos de jornal e propostas de legislação para a aplicação da esterilização eugenista na Alemanha. Disse ele: “Em uma nação culta – os Estados Unidos da América -, aquilo pelo qual nos esforçamos para conseguir [a legislação sobre esterilização] foi introduzido e testado há muito tempo” (Edwin Black, op. cit. p. 423).
 
O pensador socialista Alfred Ploetz foi para os EUA em meados de 1880 para investigar as sociedades utópicas, e acabou se interessando pela busca americana para procriar seres humanos melhores, depois da Guerra Civil. Por esta data, Ploetz já havia proposto uma teoria racial eugenista. Como o termo eugenia ainda não tinha sido traduzido para o alemão, Ploetz criou o termo Rassenhygiene (higiene racial).
Em 1895, escreveu uma obra de vários volumes intitulada “The Foundations of Racial Hygiene”. Ploetz acreditava que uma melhor compreensão da hereditariedade poderia ajudar o estado a identificar e a encorajar os melhores espécimes da raça alemã. Ele emergiu como o principal teórico da raça na Alemanha, e costumava ser descrito como “o fundador da eugenia como ciência na Alemanha” (Edwin Black, op. cit. p. 425).
Ao mesmo tempo em que Boeters e Ploetz formulavam suas idéias influenciados pela eugenia americana, o teórico social alemão Alfred Jost defendeu, num artigo de 1895, de título “The Right to Death” {o direito à morte], que o estado teria direito inerente de matar o incapaz e o inútil.
 
Logo começaram a surgir as associações de eugenistas na Alemanha e nos países nórdicos, fomentadas pelas idéias da superioridade nórdica defendida pelos eugenistas americanos, como Davenport, Grant e Popenoe. Em 1905 Ploetz fundou a Sociedade para a Higiene Racial em Berlim. Esta sociedade foi criada para incentivar o crescimento da Higiene Racial (outro nome para Eugenia) na Alemanha e começou a ganhar impulso e projeção internacional a partir de sua colaboração com outras sociedades eugenistas, principalmente as americanas. Ploetz foi nomeado vice-presidente do Primeiro Congresso Internacional de Eugenia de 1912, em Londres, e foi convidado para ser um dos fundadores do Comitê Internacional Permanente de Eugenia.
 
A liderança da eugenia americana no panorama mundial se consolidou na década de 1910, graças à disseminação de legislatura eugenista e aos progressos burocráticos e aos diversos programas de pesquisa. Tais avanços eram monitorados e popularizados na Alemanha pelo vice-cônsul austro-húngaro Géza von Hoffman que viajou pelos EUA estudando as práticas eugenistas. Ele escreveu o livro Die Rassenhygiene in den Vereinigten Staaten von Nordamerika (A Higiene Racial nos Estados Unidos da América] em 1913, onde detalhava as leis americanas sobre as esterilizações e as restrições matrimoniais, e também os métodos de investigações de campo, a coleta e a compilação de dados. (Edwin Black, op. cit. pp. 428-429).
“Mais importante, o abrangente volume de Hoffman defendia a teoria e a prática eugenista americana como o ideal a ser praticado pela Alemanha. ‘O sonho de Galton’, ele escreveu, ‘de que a higiene racial se tornasse a religião do futuro está sendo realizado nos Estados Unidos... Os Estados Unidos querem criar uma nova raça superior’.
Durante anos, depois que seu livro Die Rassenhygiene in den Vereinigten Staaten von Nordamerika foi publicado, os principais eugenistas alemães creditavam este livro de Hoffman “... como referência seminal para os estudantes alemães de biologia” (Von Hoffman, p. 14. Lenz, p.226. apud Edwin Black, op. cit. p.429. Negrito nosso).
 
Em 1916, Madison Grant declara que a raça branca nórdica estava destinada a dominar o mundo, e confirma o papel dos arianos em seu livro The Passing of the Great Race (O Fim da Grande Raça). Obviamente isto agradou muito aos nacionalistas alemães, pois mostrava o reconhecimento americano à superioridade racial nórdica e ariana. Várias críticas positivas ao livro inspiraram a vários cientistas e nacionalistas alemães a pensarem como eugenistas.
 
Mesmo depois dos EUA entrarem na guerra em 1917 contra a Alemanha, a admiração dos eugenistas americanos pelos avanços da eugenia alemã continuou: “a edição de Abril de 1917 do Eugenical News (um importante periódico eugenista americano) resumiu detalhadamente um artigo de Von Hoffman para o Journal of Heredity (outra publicação eugenista). A matéria delineava os amplos planos alemães de criar sua própria raça superior depois da guerra, para substituir os homens perdidos nos campos de batalha. O artigo propunha a construção de prédios de apartamentos para mulheres solteiras, desejavelmente arianas, e pagamentos em dinheiro para a procriação de filhos” (Bebês, Mais, Menos ou Nenhum, Eugenical News, v. II, 1917, p. 31, apud Edwin Black, op. cit. p. 431. Negrito nosso).

 
Hitler adota a Eugenia
 
Com o fim da guerra, o orgulho alemão e sua tendência racista e eugenista, foi abalado com a ocupação da Renânia pela França e pela Bélgica. O exército Francês incluía tropas de soldados africanos de suas colônias do Senegal, Mali e da África do Norte, que acabaram por se misturar com as mulheres alemãs, gerando várias centenas de crianças mestiças na Alemanha. A revolta alemã aumentaria ainda mais com a ocupação Francesa e Belga do Ruhr, a principal zona industrial alemã, já depois do final da guerra.
A crise financeira alemã do pós guerra fez com que o dólar americano, que era comercializado em 1922 por 1500 marcos, passar a valer 4,2 trilhões de marcos no final de 1923. Com isso, os extremistas alemães exigiam a revogação do tratado de Versalhes. Entre os agitadores estava Adolf Hitler, que foi sentenciado a cinco anos de prisão. Hitler, durante este tempo, consolidou sua posição eugenista ao ler diversas publicações a respeito, e moldou seu fanatismo à pseudociência da eugenia: “Ele (Hitler) preferiu legitimar seu ódio racial envolvendo-o numa fachada médica e pseudocientífica mais palatável – a eugenia. De fato, foi capaz de recrutar mais seguidores entre alemães equilibrados ao afirmar que a ciência estava a seus lado” (Edwin Black, op. cit. p. 436. Negrito nosso).
 
Enquanto preso, Hitler leu o primeiro grande texto eugenista alemão Grundriss der menschlichen Erblichkeitslehre und Rassenhygiene (O Fundamento da Hereditariedade Humana e da Higiene Racial) publicado em 1921 e escrito por três importantes eugenistas alemães: Erwin Baur, Fritz Lenz e Eugen Fisher, todos aliados da eugenia americana, que tinham por mentor a Charles Davenport, o principal eugenista americano. Logo, as idéias eugenistas destes se fundiram ao nacionalismo alemão, que começou a demandar destes especialistas estudos mais detalhados da aplicação de leis eugenistas nos EUA.
Disse ele a Davenport, em uma correspondência: “Sob o novo governo (1920) nós temos uma comissão consultiva para a higiene da raça... [que] no futuro passará adiante novas leis do ponto de vista eugenista.” (Carta, Erwin Baur para Charles B. Davenport, 24 nov. 1920, APS B:D27 – Davenport & Baur, apud Edwin Black, op. cit. p. 439).
 
Hitler mostrava um grande conhecimento de eugenia norte americana, seja por escrito, seja em conversas particulares. Em Mein Kampf, ele declarou:
“A exigência de que pessoas defeituosas podem ser impedidas de procriar descendências igualmente defeituosas parte da razão mais cristalina e, se sistematicamente executada, representa o ato mais humano da humanidade” (Hitler, Mein Kampf, v.I cap. X, p. 255, apud Edwin Black, op. cit. p. 443).
“O Estado dos Povos deve estabelecer a raça no centro de toda vida. Precisa tomar cuidado para mantê-la pura... Precisa cuidar para que somente os saudáveis tenham filhos; pois existe apenas uma única desgraça: deixar que alguém, a despeito da própria doença e deficiência, traga crianças ao mundo... É necessário que sejam declarados incapazes para procriar todos os que são doentes de modo visível e que herdaram uma doença e podem, dessa maneira, passá-la adiante, e colocar isso em prática.” (Hitler, Mein Kampf, v.II cap. II, p. 403-404, apud Edwin Black, op. cit. p. 443)
“A prevenção da faculdade de procriadora e da oportunidade para procriar, da parte dos fisicamente degenerados e mentalmente enfermos, durante um período de seiscentos anos, não somente libertará a humanidade de uma incomensurável desgraça mas levará a uma recuperação que hoje parece escassamente conceptível... O resultado será uma raça que, pelo menos, terá eliminado os germes da nossa atual decadência física, e consequentemente, espiritual.” (Hitler, Mein Kampf, v.II cap. II, p.p. 402, 404-405, apud Edwin Black, op. cit. p. 443).
 
Não é de se espantar que o panteísmo de Hitler o faça enxergar a melhoria racial como melhoria espiritual da humanidade, mostrando uma clara identificação da divindade com a matéria. É interessante, contudo, notar como esta sua afirmação deixa entrever o fundo panteísta da eugenia, que busca implantar a utopia e usa o aprimoramento da raça para a redenção do homem.
 
E Hitler, nesta sua famigerada obra, elogia o racismo eugenista americano: “[os Estados Unidos], no qual o esforço está sendo feito para usar a razão, ao menos parcialmente. Recusando imigrantes com base no princípio de serem elementos de má saúde, simplesmente recusando certas raças por causa de sua origem, o país esta professando, em passos lentos, um ponto de vista peculiar ao Estado do povo” ((Hitler, Mein Kampf, v.III , p.p. 439-440, apud Edwin Black, op. cit. p. 445).
 
O que os Estados Unidos implantava lentamente, Hitler queria implantar a passos largos.
 
Hitler ainda declarava a seus companheiros:
“Agora que nós conhecemos as leis da hereditariedade, é possível impedir que nasçam, numa larga escala, os seres doentes e os que sofrem de severa incapacidade física. Estudei com grande interesse a lei de vários estados americanos sobre a prevenção da reprodução, por pessoas cuja progênie, com toda probabilidade, não terá qualquer valor, ou será prejudicial para a cepa racial...
Parece-me que é uma coisa definitiva em termos de hipocrisia e de falsidade interior que estas mesmas pessoas [os críticos sociais] – e são elas, principalmente – chamem de pecado contra Deus a esterilização dos severamente incapacitados, física e mentalmente, e dos genuinamente criminosos. Eu desprezo essa falsa santidade, esta hipocrisia...”(Otto Wagener, Hitler: Memoirs of a Confidant, Yale University Press, p. 145,146, apud Edwin Black, op. cit. p. 445. Negrito e sublinhado nossos).
 
Notem a declaração clara da fonte de inspiração eugenista de Hitler: vários estados da América! Notem também, ao final de sua declaração, a similaridade da acusação de hipocrisia e falsidade aos defensores dos direitos reprodutivos humanos, com as acusações de “obscurantismo” e de “fanatismo” àqueles que se colocam em defesa da vida humana desde a concepção, nos dias de hoje...  Parece que as idéias e as táticas de propaganda empregadas pelos “progressistas” de nossos dias guardam bastante similaridade com as dos nazistas...
 
Hitler dizia do homem: “Eventualmente se chega à conclusão de que as massas dos homens são meras argilas biológicas” (Edwin Black, op. cit. p. 446). Hitler então, querendo se fazer Deus, quis moldar esta “argila” com suas mãos sujas de sangue inocente usando as ferramentas da Eugenia.
 
Para se ter idéia da demência de Hitler, e da sua completa confiança na pseudo-ciência da Eugenia, vejamos a seguinte declaração do maligno Fürer, ao examinar um questionário americano para traçar o valor eugênico dos indivíduos:
“Examinei um questionário elaborado pelo Ministério do Interior (americano) e que foi aplicado a pessoas que tinham sido consideradas desejáveis para a esterilização. Pelo menos três quartos das questões apresentadas teriam derrotado minha própria mãe. Se este sistema tivesse sido introduzido antes do meu nascimento, tenho certeza de que não teria nascido!” (Norman Cameron e R. H. Stevens, Hitler table talks: 1941-1944: His Private Conversations – Conversas à mesa de Hitler: 1941-1944: Suas Conversações Privadas. New York, Enigma Books, 2000, p. 670, 675, apud Edwin Black, op. cit. p. 446. Negrito nosso).
 
Eis aí um paradoxo: se a eugenia tivesse sido aplicada à mãe de Hitler, seu maior colaborador político sequer teria nascido! Isso denota, no fundo, um ódio ao próprio ser, e indiretamente ao Ser por excelência, que é Deus.
 
Quando Hitler usava em seus textos e discursos o termo raça dominante, ele realmente queria dizer raça biológica dominante: “Os Estados Unidos haviam feito cruzadas por uma raça biologicamente superior, que eventualmente eliminaria a existência de todas as linhagens inferiores. Hitler faria cruzadas por uma raça superior que rapidamente dominaria as outras. Na opinião de Hitler, seria permitido que grupos considerados inferiores como os poloneses e os russos sobrevivessem, destinados exclusivamente, porém, a servir a raça dominante alemã.” (Edwin Black, op. cit. p. 437).
 
“A eugenia nazista ditaria, enfim, quem seria perseguido, que pessoas viveriam e como morreriam. Os médicos se tornariam os generais invisíveis na guerra de Hitler contra os judeus e os europeus considerados inferiores. Os médicos criariam a ciência, arquitetariam as fórmulas eugenistas, escreveriam a legislação e até mesmo selecionariam pessoalmente as vítimas para os programas de esterilização, de eutanásia, e de exterminação em massa.”
“De fato, o vice de Hitler, Rudolf Hess, cunhou um adágio popular no terceiro Reich: “O Nacional Socialismo não é nada além da biologia aplicada.” (Edwin Black, op. cit. p. 437. Negrito nosso)
           
 
Incentivos Externos à Pesquisa Eugenista Alemã
 
Com a conquista do poder alemão por Hitler em 1933, e ao longo dos doze anos de duração do terceiro Reich, foram profundamente aplicadas as doutrinas eugenistas de identificação, segregação, esterilização, eutanásia, tribunais biológicos e extermínio dos defeituosos, se desenvolvendo principalmente contra as raças consideradas inferiores.
 
“Nos primeiros dez anos do Reich, os eugenistas em todos os Estados Unidos acolheram os planos de Hitler com prazer e alegria, como a realização lógica de suas próprias décadas de esforço. De fato, ficaram invejosos quando Hitler começou rapidamente a esterilizar centenas de milhares, e, sistematicamente, eliminar os não arianos da sociedade alemã. Isso incluiu os judeus. Dez anos depois que a Virgínia promulgou sua lei de esterilização em 1924, Joseph DeJarnette, superintendente do Western State Hospital de Virgínia, reclamou no Richmond Times-Dispatch: “Os alemães estão nos vencendo em nosso próprio jogo” (Shirer, p.3-5, 170-184. Delegados Urgem a Prática Extensiva da Esterilização, Richmond Times-Dispatch, 16 de janeiro de 1934, apud Edwin Black, op. cit. p.447).
 
Os teóricos americanos da raça e os eugenistas de uma maneira geral estavam orgulhosos de terem inspirado o estado eugenista alemão. Estavam prontos a colaborar com Hitler e seu regime, e acompanhavam o desenvolvimento das medidas eugenistas adotadas pelo Nazismo. (Edwin Black, op. cit. p. 447).
 
Os eugenistas americanos, que enfrentavam entraves burocráticos decorrentes do sistema democrático, viam com esperança a expectativa de um estado nacional forte e independente, que pudesse implantar medidas eugênicas sem as restrições que a democracia impunha: “O nacional socialismo prometera uma radical revolução hereditária, estabelecendo procedimento raciais ditatoriais com que os ativistas americanos somente poderiam sonhar. No período entre as duas guerras, o movimento americano considerava o nacional socialismo uma força emergente que poderia, se chegasse ao poder, impor uma nova ordem biológica ao mundo.” (Edwin Black, op. cit. p. 451. Negrito nosso).
 
As publicações eugenistas americanas, a partir de 1920, principalmente, começaram a relatar e acompanhar o desenvolvimento da eugenia na Alemanha. Em 1924, por exemplo, Fritz Lenz, um dos principais eugenistas alemães, publicou um longo artigo no Journal of Heredity, intitulado “A eugenia na Alemanha”.(Edwin Black, op. cit. p. 452).
 
Mesmo periódicos médicos importantes dos EUA publicavam notícias e trabalhos de reputados eugenistas alemães, periodicamente, como se fossem notícias científicas. O Journal of the American Medical Association – JAMA (Revista da Associação Americana de Medicina) publicava-os regularmente:
“O JAMA repetiu, sem comentar ou qualificar, a política racial de Baur (Edwin – outro eugenista alemão famoso): ‘Uma pessoa de talentos moderados pode ser educada para ser eficiente’, dizia o artigo, ‘mas jamais poderá transmitir nada além de talentos moderados aos seus filhos. As tentativas de elevar os negros dos Estados Unidos dando-lhes as mesmas vantagens educativas que a população branca recebe, certamente fracassaram’... ‘O suicídio da raça’, continuava a edição do JAMA sobre o discurso de Baur, ‘provocou a queda da Grécia e de Roma, e a Alemanha enfrenta o mesmo perigo’”. (Berlim, Journal of the American Medical Association/JAMA, v. 82, n. 21, maio de 1924, p.1709, 1710, apud Edwin Black, op. cit. p. 453. Negrito nosso). Como se a queda de Roma e a decadência da Grécia antiga fossem devidas à miscigenação destes povos com povos “inferiores”, e não à decadência moral dessas duas civilizações.
           
A Alemanha teria atingindo a proeminência, por volta de 1920, tanto na pesquisa eugenista quanto na biologia da raça. Isto se deveu principalmente devido aos trabalhos desenvolvidos pelos importantes Institutos Kaiser Wilhelm. Tais institutos se devotavam ao avanço da ciência alemã, indo da física e da química à patologia clínica. Existiam tantos Institutos Kaiser Wilhelm na Alemanha na década de 1920-1930 que era necessário distingui-los pela área da atuação.
 
Destes Institutos, alguns se aprofundaram sobremaneira na pseudociência eugenista e contribuíram decisivamente para a ocorrência das atrocidades nazistas e o genocídio de povos inteiros:
“O primeiro foi o Instituto Kaiser Wilhelm para a Psiquiatria. O segundo foi o Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia. O terceiro foi o Instituto Kaiser Wilhelm para a Pesquisa do Cérebro. Todos recebiam cursos e apoio administrativos dos americanos, especialmente da fundação Rockefeller.” (Edwin Black, op. cit. p. 456. Negrito nosso).
 
No inicio da década de 1920, essas fundações Kaiser Wilhelm se encontravam em dificuldades enormes, devido à grave crise financeira que se abatera sobre a Alemanha pós Primeira Guerra Mundial. Por intermédio e influência de Abraham Flexner, que controlava a aplicação dos recursos da fundação Rockefeller na área médica naqueles tempos, a partir de 1922, a fundação Rockefeller praticamente salvou a pesquisa eugenista alemã, enviando rios de dinheiro para os pesquisadores  alemães. Em 1922, 65 mil dólares; em 1923, 135 mil dólares; em 1926, 410 mil dólares (atualmente seria o equivalente a cerca de 4 milhões de dólares) em bolsas para pesquisadores alemães. Em 1926, só para o Instituto Kaiser Wilhelm de Psiquiatria, foram doados 326 mil dólares. (Edwin Black, op. cit. p.457-458).
 
Mas, porque a fundação Rockefeller se interessaria em fomentar a pesquisa eugenista alemã?
 
“A mentalidade por detrás do financiamento de pesquisa biológica da Fundação [Rockefeller] pode ser apreciada melhor nas palavras do diretor de Ciências Naturais da Rockefeller, Warren Weaver. Poucos meses depois que Hitler chegou ao poder, em 1933, Weaver divulgou entre os curadores um relatório intitulado “Ciências naturais – programa e política: programa passado e programa futuro proposto”. O relatório assegurava: “O trabalho em genética humana deve receber especial consideração, tão rapidamente quanto as oportunidades consistentes se apresentaram. O ataque planejado, entretanto, é básico e de longo alcance”. Um ano depois, Weaver perguntava: “Poderemos desenvolver uma genética tão sólida e extensiva que nos permita alimentar a esperança de criar, no futuro, homens superiores?” (Edwin Black, op. cit., p. 587. Negrito nosso).
 
O principal psiquiatra do Instituto Kaiser Wilhelm de Psiquiatria era Ernest Rüdin, que se tornaria em breve seu diretor. Mais tarde, ele se tornaria um dos principais arquitetos da repressão médica de Hitler. Ele era considerado um dos mais promissores teóricos racistas da Alemanha. Segundo ele “Os alcoólatras deveriam ser segregados e somente poderiam casar se tivessem sido esterilizados”. (Edwin Black, op. cit. p. 458-459).
 
O primeiro diretor do Instituto de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia foi Eugen Fisher, associado ao Carnegie Institution e colaborador de Charles Davenport. Este instituto foi primariamente financiado pelo Ministério do Interior Alemão, ainda antes de Hitler assumir o poder desta nação. Eugen Fisher levou a cabo uma espécie de senso biológico na Alemanha e obteve apoio financeiro decisivo da Fundação Rockefeller para esse seu projeto. Esta lhe forneceu 125 mil dólares em 1929. Embora o estudo fosse denominado antropológico, era de fato racial eugenista e em parte direcionado aos judeus alemães. E isto em plena crise financeira deflagrada pela queda da Bolsa de Nova Iorque. (Edwin Black, op. cit. p. 472-473).
 
As idéias eugenistas de Rüdin e de Fisher eram claras e amplamente divulgadas, não se tendo a escusa por parte das fundações americanas que os financiavam, de que, de fato, desconheciam para quem enviavam seu dinheiro. Rüdin, por exemplo, publicou em 1930 um artigo no periódico americano Eugenical News com o seguinte teor, a respeito da transmissão de doenças mentais hereditárias:
“... a humanidade não precisa ir tão longe e permitir que um ser humano transmita suas disposições doentias hereditárias para os descendentes. Em outras palavras: a própria Humanidade pede uma interrupção enérgica da propagação do procriador de disposições doentias hereditárias”. (Edwin Black. op. cit. p. 474)
Em 1931 a fundação Rockefeller aprovou uma doação adicional de 89 mil dólares para o instituto de Rüdin...
 
O mais famoso livro eugenista alemão, escrito por Baur, Fisher e Lenz, Gundriss der menschlichen Erblich-keitslehere und Rassenhygiene (O fundamento da hereditariedade humana e a higiene da raça) foi traduzido para o Inglês em 1931, e já deixava claro que rumo tomariam as pesquisas eugenistas alemãs com relação aos judeus:
“Um capítulo intitulado ‘Psicologia racial ‘ citou um estudo demonstrando que ‘a dotação da raça dos judeus encontra expressão na natureza das ofensas que eles cometem’ Outra passagem assegurava que ‘a fraude e o uso de linguagem insultuosa são verdadeiramente comuns entre os judeus’, acrescentando: ‘Tem-se dito que os judeus são especialmente responsáveis pela circulação de livros e de quadros obscenos, e por prosseguirem com o comércio de escravos brancos” (Erwin Baur, Eugen Fisher e Fritz Lenz, Human Heredity [A hereditariedade Humana], 3a edição, Nova Iorque, The MacMillan Company, 1931, p. 677, 680-681), apud Edwin Black, op. cit. p. 476).
 
Os nazistas, antes de conseguirem o poder, prometiam reconstruir a economia alemã, acabar com a democracia, destruir a comunidade judaica alemã e estabelecer a raça ariana como a dominante.
Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha, passaram a ativamente controlar e incentivar os trabalhos dos Institutos de cunho eugenista, carregando-os mais ainda com uma conotação racial.
 
Hitler se orgulhava de seus feitos eugênicos, e os propalava ao mundo:
“Anos mais tarde, muitos negariam conhecer o que a Alemanha fazia, muitos afirmariam que descobriram o anti-semitismo implacável e a política de repressão de Hitler e os programas médicos fascistas do Reich somente depois da vitória dos aliados em 1945. Mas, na verdade, as atrocidades de Hitler contra os judeus e outros eram relatadas diariamente nas páginas dos jornais americanos, pelos serviços de notícias, pelos programas de rádio, pelos noticiários cinematográficos e pelas revistas nacionais. A Alemanha se vangloriava de suas medidas anti-semíticas e realizações eugenistas. Uma completa operação de  propaganda foi organizada por Joseph Goebbels para disseminar a informação” (Edwin Black, op. cit. p. 479. Negrito nosso).
 
E os eugenistas americanos acompanhavam as ações eugenistas e as aplaudiam...
 
 
A Prática Eugenista na Alemanha Nazista
 
De inicio, caso olvidemos ou ignoremos o desenvolvimento da eugenia na Alemanha pré-nazista, como descrito anteriormente, naturalmente somos tentados a ver a eugenia como uma aplicação exclusiva do nazismo. Ora, esse é um erro crasso, pois na própria República de Weimar já eram pesquisadas e implementadas medidas eugênicas:            
 
“Menos de seis meses após assumir o poder, os nazistas passaram uma lei para prevenir “nascimentos congenitamente defeituosos” Os muitos centros de aconselhamentos de Weimar sobre casamento, sexo e eugenia foram observados e avaliados pelos Nazistas de forma a usar seus arquivos de forma a almejar certas pessoas para esterilização. Então, dentro do período do primeiro ano de poder, os Nazistas estabeleceram cerca de 250 cortes eugenistas cuja função era decidir quem era digno de procriar. Estas cortes eugenistas recebiam apelos de assistentes sociais e de médicos solicitando esterilizações, e tomava decisões por dezena de milhares de indivíduos.”
“O propósito do uso nazista das cortes eugenistas e de esterilizações forçadas ou coercitivas era prevenir a procriação “inaptos”. Nisto, o regime nazista não era muito diferente dos eugenistas Americanos e da democracia de Weimar, exceto pelo fato do termo “inapto” ter por eles uma interpretação mais racial, como se de alguma forma isto fosse pior do que teria sido a interpretação antes de Hitler e dos nazistas. Quaisquer sejam os motivos respectivos de Weimar e de Hitler, toda a infra-estrutura do programa de esterilização-eugenia dos Nazistas já tinham sido lançados pela democracia que os Nazistas derrubaram.”
“Voltemo-nos para a política abortista Nazista. Como vimos, houveram agitações durante o período de Weimar para liberalizar/legalizar o aborto. Isto resultou num acordo: Liberalização. O aborto continuou ilegal, mas foi reduzido de crime a mau comportamento, fazendo com que a punição fosse tão somente uma multa e não uma sentença de prisão.”
“Então, em 1933, em seu primeiro ano de poder, os nazistas passaram uma lei proibindo o aborto para os Alemães, aumentando as penalidades para como eram antes da liberalização de Weimar. Os nazistas queriam aumentar a taxa de nascimentos de forma a terem soldados para seu exército. Em Março de 1934, contudo, a Corte de Saúde Hereditária em Hamburgo promulgou um julgamento que estabeleceu que o aborto com bases em saúde racial não eram ofensivos. Nesta decisão, se referiu a uma decisão da Corte Suprema durante a democracia de Weimar de sete anos antes, permitindo o procedimento para “necessidades médicas”
“Em Junho de 1935 a lei de esterilização foi emendada para permitir abortos em bases eugênicas, e estes abortos deveriam ser seguidos por esterilizações, dependendo – tecnicamente – do consentimento da mulher. Desta forma, esterilização, eugenia e aborto, vieram todos juntos” (John Hunt, Ph.D, The Abortion and Eugenics Policies of Nazi Germany, A.I.R.V.S.C. - Association for Interdisciplinary Research in Values and Social Change, Vol 16, no. 1, 2001. Negrito e sublinhado nosso.)
 
Durante a guerra a Alemanha Nazista promoveu o aborto nos territórios ocupados do leste europeu, como medida eugênica para limitação da raça eslava, considerada inferior pelos nazistas, enquanto proibiu por algum tempo o aborto entre os alemães de raça ariana.
 
A primeira lei eugenista implantada durante o regime nazista na Alemanha foi decretada no dia 14 de julho de 1933, pouco depois de Hitler ter assumido o poder: “o Estatuto do Reich parte I, no. 86, a lei para a Prevenção da Progênie Defeituosa. Era uma lei de esterilização compulsória em massa... Nove categorias de defeituosos foram identificadas para fins de esterilizações. O topo da lista era ocupado pelos deficientes mentais, seguidos pelos atingidos de esquizofrenia, maníaco-depressivos, coréia de Huntington [doença de São Vito], epilepsia, deformações hereditárias do corpo, surdez e, naturalmente, cegueira hereditária. O alcoolismo, a nona categoria, era listada como opcional, para evitar confusão com a bebedeira comum. O Reich anunciou que 400 mil alemães seriam imediatamente submetidos ao procedimento, começando em 1o de Janeiro de 1934”.(Edwin Black, op. cit. p. 480).
 
Os protestos se ergueram ao redor do mundo. Contudo, os eugenistas viam com muito bons olhos a implantação célere de medidas eugenistas feita pelos nazistas, e identificavam plenamente sua influência nas ações de Hitler. O periódico eugenista Eugenical News americano, comentava:
 
“A Alemanha é o primeiro entre os grandes países do mundo a promulgar uma lei moderna  de esterilização eugenista para a nação como um todo... a lei, recentemente sancionada pelo governo nazista, marca vários avanços substanciais. Indubitavelmente, a história da legislação e dos tribunais das leis de esterilização experimental, em 27 estados americanos, proporcionou a experiência que a Alemanha usou para produzir seu novo estatuto nacional de esterilização. Para aqueles versados em história da esterilização eugenista nos Estados Unidos, o texto do estatuto alemão reproduz quase o modelo da lei de esterilização dos Estados Unidos”. (A Esterilização Eugenista na Alemanha, Eugenical News, v.XVII, 1933, p. 89, 91-93, apud Edwin Black, op. cit. p. 481. Negrito nosso).
 
E os nazistas receberam apoio de vários cientistas e de órgãos e fundações de incentivo a pesquisas biológica e médica, de forma velada ou não. A Fundação Rockefeller continuou a enviar dinheiro para as pesquisas biológicas nazistas até pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Alguns se colocavam favoravelmente aos expedientes nazistas. W. W. Peter, em 1934, publicou um longo artigo no American Journal of Public Health (Revista Americana de Saúde Pública), defendo o programa de esterilização da Alemanha.
           
As esterilizações começaram de fato no dia 1o de Janeiro de 1934 e eram aplicadas desde em crianças de 10 anos até homens acima de 50 anos. Os primeiros a serem esterilizados não seriam aqueles confinados nas “instituições” para deficientes, mas aqueles que estavam em “liberdade”. Durante o ano de 1934 o Terceiro Reich esterilizou pelo menos 56.000 indivíduos, um a cada 1200 alemães (Edwin Black, op. cit., p. 486-487).
 
Em tom profético, dizia o volume XIX de 1934, p. 45 do periódico eugenista americano Eugenical News, ao elogiar Hitler: “Em saudação ao Führer, outro artigo sugeria claramente que, em breve, a eugenia de Hitler seria aplicada a toda Europa “Esta causa do estado não apenas se refere à Alemanha, mas a todos os povos europeus. Queremos ser os primeiros a agradecer a esse homem único, Adolf Hitler, e seguí-lo no caminho para a salvação biológica da humanidade” (Carl Hammersfahr, A Mãe das Nações, em A Propaganda da Eugenia na Alemanha, Eugenical News, v. XIX, 1934, p. 45, apud Edwin Black, op. cit. p. 488-489. Negrito e sublinhado nosso).
 
Logo, os alemães passam a tratar o problema judaico como um problema eugênico a ser tratado pelo Estado. A eugenista Marie Kopp viajou cerca de 24 mil km pela Alemanha Nazista e fez uma pesquisa sobre o programa nazista, em vilas e cidades, tendo inclusive acesso aos restritos tribunais nazistas de hereditariedade. Ela apresentou o programa nazista como sendo um programa de probidade, pois este não deixou a questão religiosa (judia) entrar na questão, pois os judeus tiveram sido definidos não pelas suas práticas religiosas, mas por sua linhagem sangüínea. (Edwin Black, op. cit. p. 503).
 
“Fisher, Lenz, Rüdin e outros (eugenistas) radicais se tornaram os generais médicos da campanha de Hitler contra a humanidade. Em 1937, Rüdin e Lenz, numa operação conjunta com a GESTAPO, orquestraram a identificação e a prisão de cerca de quinhentos a seiscentos “bastardos da Renânia”, os descendentes dos soldados negros franceses, todos foram secretamente esterilizados. Cerca de 200.000 alemães de toda espécie de ascendência foram esterilizados em 1937. Depois disso os registros não mais foram publicados” (Edwin Black. op. cit. p. 505).
 
Quando a Alemanha invadiu a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial, os médicos da eugenia alemã passariam da esterilização para a eutanásia organizada:
 
“A partir de 1940, milhares de alemães foram tirados de asilos de velhos, de institutos de doentes mentais e de outras instituições de custódia, e, sistematicamente, mortos nas câmaras de gás. Foram mortos entre 50 mil e 100 mil indivíduos.  Psiquiatras impregnados de eugenia selecionavam as vítimas depois de uma breve revisão dos seus registros, rabiscando apressadamente seus destinos com um golpe de caneta, e depois supervisionavam, pessoalmente, os extermínios” (Edwin Black, op. cit. p. 507. Negrito nosso).
 
Entre 1934 e 1945, durante os 12 anos do regime Nazista, cerca de 400.000 pessoas foram esterilizadas na Alemanha, e cerca de 200 mil alemães foram exterminados por motivos eugenistas, indo de crianças portadoras da síndrome de Down e outros defeitos de nascença ao idosos irremediavelmente doentes. Eles eram mortos por injeções letais, fome e ausência de cuidados, ministrados por médicos e enfermeiras e por fim as câmaras de gás. Estas, famosas por terem sido usadas para exterminar milhares de judeus.(Susan Bachrach, PhD, In the Name of Public Health, Nazi Racial Hygiene, http://www.ushmm.org/museum/exhibit/online/deadlymedicine/related/naziracialhygiene.pdf)
 
 
Monstruosidade “Científica”
 
Talvez o capítulo mais negro e trágico da investigação científica tenha sido escrito nos assépticos laboratórios nazistas anexos aos campos de concentração e de extermínio em massa.
 
Vivemos uma época em que “cientistas” demandam o uso de embriões humanos para prosseguimento de suas experiências, o que choca e revolta a muitas pessoas que acreditam na sacralidade da vida, do ponto de vista religioso, ou ao menos na dignidade da vida humana desde o momento da concepção. Enquanto algumas pessoas chegam ao cúmulo de realizarem protestos e marchas contra as experiências realizadas em ratos de laboratórios, outros exigem que seres humanos em formação sejam utilizado para tais experiências. A vida de um rato parece ter mais valor, para certas pessoas, do que a vida humana.
 
Os cientistas alemães, especialmente médicos e biólogos, que receberam uma formação completamente eugenista na Alemanha da primeira metade do século XX, eram tão progressistas e científicos quanto os jornalistas liberais e os eugenistas enrustidos dos dias de hoje. Se Hitler ia mesmo encher os fornos crematórios de Judeus, Ciganos e de outras raças inferiores, por que não aproveitar este “material humano” para o “progresso da ciência”. E foi exatamente isso que foi feito!
 
Auschwitz era o local de pesquisa de campo de um médico nazista alemão, cujo nome aterroriza até hoje ao mundo, e virou sinônimo de crueldade: o anjo da morte, Joseph Mengele.
 
Em Auschwitz, Mengele liderava experiências de campo usando gêmeos judeus, preferencialmente crianças, escrevia longos relatórios, e os enviava a seu superior, Otmar Freiherr  von Verschuer, em Berlim.
 
Mengele era responsável pela seleção das crianças gêmeas. Os gêmeos tinham mais valor para os eugenistas nazistas pela razão de serem geneticamente idênticos, o que os tornavam ideais para experimentos genéticos, pois um serviria para controle e outro para testes, de forma a se ter uma comparação dos resultados. As crianças gêmeas eram, diferentemente dos outros prisioneiros, bem alimentadas e bem tratadas, para que ficassem em forma para os testes a que seriam submetidas. Depois, eram submetidas a procedimentos dolorosos e degradantes. A maioria delas era assassinada logo depois de terminadas as experiências, para que fossem dissecadas minuciosamente (Edwin Black. op. cit. p. 538).
 
Muitos não compreendem como Mengele foi capaz de cometer tais atrocidades: “... os sádicos experimentos de Mengele foram considerados por muitos como ações inexplicáveis de um cientista que enlouquecera completamente. Mas, de fato, Mengele estava seguindo um fascinante tema de pesquisa, discutido por eugenistas desde o tempo de Galton.” (Edwin Black, op. cit. p. 538).
 
Esse tema de pesquisa seria a busca de uma raça superior através da Eugenia.
 
“Em junho de 1934, Verschuer lançou o Der Erbarzt [O médico genético], como suplemento regular de uma das principais publicações médicas da Alemanha, o Deutsches Arzteblatt, publicado pela Associação Médica da Alemanha” Em seu primeiro número, Verschuer escreveu que o Der Erbarzt “forjaria um elo entre os ministérios de saúde pública, os tribunais de saúde genética e a comunidade médica da Alemanha. Dali em diante, insistia, os médicos precisavam reagir aos seus pacientes não como indivíduos, mas como partes de um todo racial. Uma nova era havia chegado, na opinião de Verschuer: o tratamento médico não era mais entre o médico e o paciente, mas entre o médico e o Estado” (Edwin Black, op. cit. p. 540-541. Negrito meu).
 
Ora, esta definição da profissão médica desmonta toda a ética médica e a substitui por uma ética utilitarista e flexível, o que ajuda a entender a frieza dos médicos carrascos nazistas.
           
Verschuer traduziu o significado para os nazistas da palavra nação na seguinte frase: “A palavra nação não mais significa um número de cidadãos vivendo dentro de determinadas fronteiras, mas uma entidade biológica” (apud Edwin Black, p. 546).
 
Em 1935 Otmar von Verschuer fundaria o Instituto de Biologia Hereditária e de Higiene Racial da Universidade de Frankfurt, que organizava cursos e palestras para oficiais da SS, membros do Partido Nazista, funcionários da saúde pública e do bem estar social, além de instrutores médicos e médicos em geral, para doutriná-los com o anti-semitismo científico e a teoria eugenista (Edwin Black, op. cit. p. 541-542).
 
Em 1937 Mengele se torna assistente de Verschuer no Instituto de Biologia Hereditária e Higiene Racial, em Frankfurt. Verschuer e Mengele se tornariam amigos durante este período.
 
Depois da fatídica “Conferência Wannsee”, em janeiro de 1942, onde foi definida a “solução final” para os judeus (o extermínio em massa), Verschuer viu as possibilidades de pesquisa de campo ampliarem. Em 25 de Janeiro de 1943, com o extermínio de judeus em plena marcha, Verschuer escreveu para Eugen Fisher, um dos principais eugenistas de Hitler e defensor da solução final para os judeus:
 
“Meu assistente Mengele... foi transferido para trabalhar num escritório em Berlim [o de Raça e Assentamento da SS], de modo que pode fazer algum trabalho aqui no Instituto, ao mesmo tempo”.
“Em 30 de maio de 1943, Mengele Chegou a Auschwitz” (Edwin Black. op. cit., p. 554).
 
A eugenia sempre viu aos gêmeos univitelinos com interesse, pois a similaridade de código genético os indicava como cobaias ideais na busca da melhoria genética dos homens. Com a ascensão do Nazismo, os gêmeos foram considerados assunto de importância capital para o estado, e foi exigido que estes se registrassem e que se apresentassem regularmente para acompanhamento médico e para testes genéticos (Edwin Black, op. cit. p. 563).
 
Entretanto, só era permitido aos cientistas meras observações.
 
“Os cientistas do Reich precisavam de maior latitude, para de fato poder dar o passo seguinte na direção de criar uma super-raça resistente à doenças e capaz de transmitir os melhores traços genéticos. Autópsias eram exigidas para descobrir como órgãos específicos e processos corporais reagiam a vários experimentos. Verschuer necessitava de mais gêmeos e da liberdade de matá-los. Os escalões mais elevados do regime de Hitler concordaram, inclusive o ministro do interior, Frick, que comandava os campos de concentração, e o chefe da SS, Heinrich Himmler. Milhões de seres humanos descartáveis de toda Europa – judeus, ciganos e outros indesejáveis – estavam passando pelos portões dos campos de concentração de Hitler para ser eficientemente assassinados. Entre esses milhões, certamente existiriam milhares de gêmeos” (Edwin Black, op. cit., p. 564. Negrito meu).
 
E Mengele aplicaria, nas últimas instâncias, o método e a prática eugenistas, dispondo de material humano abundante para suas pesquisas.
 
Mengele era obcecado pelo segredo da reprodução da raça. Para ele “... avançar em busca de revelar o segredo de multiplicar a raça de seres superiores (os arianos), destinados a governar o mundo, era um objetivo nobre. Ele queria, se pudesse, fazer com que cada mãe alemã procriasse tantos gêmeos quanto possível” (Edwin Black, op. cit., p. 567).
 
Os gêmeos eram submetidos a todos os exames que poderiam ser realizados com seres humanos, de teste de sangue a punções lombares. Cada um era milimetricamente fotografado nu dos pés à cabeça. Estas eram apenas as linhas básicas. Depois vinham os verdadeiros experimentos: alterações das cordas vocais, emulação de gêmeos siameses com gêmeos normais através de cirurgia, tentativa de reprodução de gêmeos através de sexo forçado de irmãs gêmeas com irmãos gêmeos, execução sumária para testes de tuberculose, injeções de tinta para mudança de cor dos olhos, etc...
“Era imperativo que os gêmeos fossem assassinados simultaneamente, para analisá-los comparativamente” (Edwin Black, op. cit. p. 570).
 
Cerca de 1500 pares de gêmeos foram submetidos à Mengele. Destes, menos de 200 sobreviveram.
 
Tudo era minuciosamente relatado e registrado. Os dados compilados das experiências eram enviados para análise em Berlim, para Otmar von Verschuer. Mengele assim o exigia: “Quero cópias limpas e claras, porque esses relatórios serão enviados para o Instituto de Pesquisa Biológica, Racial e Evolucional em Berlim-Dahlem” (Edwin Black, op. cit. p. 572).
 
Mengele não estava sozinho nas pesquisas médicas nazistas. Muitos outros eugenistas avançavam em outros lugares pesquisas tão tenebrosas quanto as conduzidas por Mengele.
 
“A raça dominante de Hitler seria muito mais do que apenas nórdicos de olhos azuis e de cabelos louros. As instalações de procriação especial foram estabelecidas para produzir em massa perfeitos bebês arianos. todos eles estariam próximos dos super-homens e das super-mulheres: mais altos e mais fortes, e de várias maneiras, mais resistentes à doenças. Desse modo, Verschuer representava a vanguarda de um corpo de médicos nazistas que consideravam a luta contra as enfermidades e as doenças consonantes e até intrínseca à sua luta pela perfeição eugenista” (Edwin Black, op. cit., p. 583).
 
 
Legado da Medicina Nazista
 
Dois pesquisadores do Instituto Kaiser Willelm para a Pesquisa do Cérebro, os doutores Julius Hallevorden e Hugo Spatz publicaram um trabalho pioneiro sobre uma forma de degeneração do cérebro, que foi denominada Síndrome de Hallervorden-Spatz, nome pela qual é conhecida até hoje no meio científico. Spatz assumiu a direção do instituto quando os nazistas já executavam deficientes mentais e foi Médico do Hospital de Brandenburg, uma das seis instituições que operavam câmaras de gás do T-4, que matou 70.200 alemães portadores de deficiência mental. Neste hospital, foram feitas 1260 autópsias entre 1939 e 1944. Quase setecentos cérebros foram enviados para Hallevorden. (Edwin Black, op. cit. p. 586).
 
Hallevorden declararia que, ao saber que iriam exterminar os doentes mentais, foi ter com a direção do hospital de Brandenburg e disse: “se vocês vão matar todas aquelas pessoas, pelo menos retirem seus cérebros, para que o material possa ser utilizado.”
 
Mengele, como sabemos, fugiu e se escondeu, e foi encontrado, depois de morto, no Brasil, onde seus vizinhos o descreviam como “Simpático senhor Alemão”.
 
Verschuer, passada a guerra e acusações iniciais de atrocidade durante o regime nazista, encontrou apoio junto aos eugenistas americanos e parte da comunidade científica. Em 1949 ele se tornou membro correspondente da American Society of Human Genetics (Sociedade Americana de Genética Humana). Mais tarde ele se tornou reitor do Instituto de Genética Humana da Universidade de Münster. No decorrer dos anos 50 do século passado, Verschuer se tornou membro honorável de numerosas sociedades de prestígio, incluindo a Sociedade Italiana de Genética, a sociedade Antropológica de Viena e a Sociedade Japonesa de Genética Humana.
Verschuer jamais foi condenado e acusado por seus crimes. Morreu em 1969 num acidente automobilístico.
 
“Do mesmo modo que a pseudociência eugenista americana impregnou completamente as revistas científicas americanas das três primeiras décadas do século XX, a eugenia que inspirou a era nazista deixou sua marca na literatura médica das décadas de 1920, 1930 e 1940.
Os textos de médicos nazistas não somente permearam o espectro das publicações médicas alemãs, como também apareceram destacadamente na literatura americana... Os tópicos incluem tudo, de reumatismo, doenças cardíacas, patologia do olho, estudos sobre o sangue, funcionamento do cérebro, tuberculose e sistema gástrico até as infinitas permutações da patologia hereditária. Muitas das descobertas eram fraudes científicas... encontraram passe livre na literatura médica dos anos 1950 e 1960.” (Edwin Black, op. cit., p.p. 601-602).
 
Atos nazistas que vitimaram milhares de seres humanos contribuíram para muitos modernos avanços da medicina no pós-guerra. por exemplo:
 
“Os nazistas de Dachau, usando água gelada para testes, foram os primeiros a baixar experimentalmente a temperatura do corpo humano até 26,3 graus centígrados – isso para descobrir as melhores maneiras de reanimar pilotos da Luftwaffe derrubados nas águas gélidas do mar do Norte. Os cientistas Nazistas descobriram que o método mais eficiente era o rápido reaquecimento em água quente. O doutor Sigmund Rascher, que supervisionou esses hediondos testes hipotérmicos, apresentou com destaque suas descobertas médicas num simpósio médico de 1942, num estudo intitulado “Problemas médicos que surgem no mar e no inverno”.
“Rascher se subordinava a Hubertus Strughold, diretor do Instituto de Medicina da Aviação da Luftwaffe. Strughold compareceu ao simpósio médico que revisou as conclusões de Rascher... Depois da guerra, Strughold foi contrabandeado para os Estados Unidos pelo infame projeto Clipe de Papel... Uma vez nos Estados Unidos, Strughold se tornou direta e indiretamente responsável por numerosos avanços aeromédicos, incluindo a habilidade de andar sem esforço numa cabina de ar pressurizado – agora considerada quase banal – mas que também foi desenvolvida como um resultado de experimentos em Dachau. Ele foi chamado de “pai da medicina espacial dos Estados Unidos”. (Edwin Black, op. cit. p.p. 602-603).
 
Após a guerra, os restos mortais das vítimas da medicina nazista foram transferidos ou mantidos por algumas importantes instalações de pesquisa médica alemãs. Desse modo, os exterminados continuaram a abastecer de material orgânico a medicina alemã. Em 1997, por exemplo, investigadores confirmaram que o Instituto de Neurobiologia da Universidade de Viena ainda abrigava 400 cérebros de vítimas do Holocausto.
 
 
Conclusão
 
Na mesma época que o comunismo materialista exterminava pessoas inocentes por pensarem diferente de sua ideologia, o nazismo “religioso” assassinava as pessoas não pelo que pensavam, mas pelo que se julgava que elas eram; pelo o que era consideravam defeito genético ou racial. Assim, os dois sistemas, que só aparentemente são contraditórios, se complementam na mortandade.
 
E o que buscava a Eugenia, na Alemanha Nazista, e o que busca hoje a genética dos dias de hoje, para as quais não existem limites morais e que ousam dispor da vida humana para alcançar aos seus objetivos?
 
Ambas buscam a utopia: a redenção do homem através de uma deusa biológica, uma  “pseudo-ciência” ,  oferecendo-lhe sacrifícios humanos, acreditando lhe ser possível conquistar o antigos mitos da Panacéia Universal e do Elixir da Longa Vida, a custa do sangue inocente.

    Para citar este texto:
"Eugenia: o pesadelo genético do século XX. Parte III: a ciência nazista"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/ciencia/eugenia_ciencia_nazista/
Online, 19/04/2024 às 14:03:31h