Ciência e Fé

Teoria da Evolução: uma mentira sesquicentenária
Fabio Vanini

  
Têm eles [os modernistas] por princípio geral que numa religião viva, tudo deve ser mutável e mudar-se de fato. Por aqui abrem caminho para uma das suas principais doutrinas, que é a evolução.” 
(Pascendi Dominici Gregis, São Pio X, 1907) 
 
 
            Neste ano de 2009, comemoram-se os 150 anos da publicação da primeira edição de “A Origem das Espécies”, ou “Sobre a origem das espécies através da selecção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida". Neste mês de fevereiro, mais precisamente, o Naturalista inglês Charles Darwin completaria 200 anos, idade máxima estimada para as tartarugas das Ilhas Galápagos.
 
 
            Esses aniversários não mereceriam nossos comentários se não tivéssemos sido provocados a fazê-los, uma vez que o aniversário de uma teoria tão remendada e em nada comprovada é tão importante quanto o aniversario de uma tartaruga. E as provocações vieram de dois modos.
 
 
            O primeiro deles foram as dezenas de noticias tratando do assunto, mostrando que uma teoria tão robusta que deve ser tomada por lei. Curiosamente, muitas delas na mídia católica ou declaradamente anti-católica. Ai de quem não aceitar esse dogma pseudo-cientifico, derivado diretamente da alquimia e do misticismo romântico do século XVIII. Vivas aos bispos, padres e monges que defendem a lei da evolução, enquanto os cientistas testam incessantemente - com financiamentos evolutivos - a teoria. Noticiou-se que a oposição à teoria seria ridícula, ignorante e não merecia nem desprezo dos sensatos. Sensatos seriam os religiosos que fundamentam sua meditação bíblica e filosófica na incerteza necessária da ciência moderna materialista, atéia e neo-darwinista.
 
 
            A segunda provocação foi a acusação de estarmos contra a Igreja, pois que esta já aceitara Darwin e sua descendência. Já teria havido até pronunciamento oficial, dogmático e infalível. Portanto, seríamos hereges, ou melhor, menos aptos, primitivos, defensores de uma idéia plesiomórfica. Hoje em dia, idéias históricas ou cientificas podem ser causa de excomunhão... a fé e a moral, no entanto, seriam de livre interpretação e uso.  
 
A Teoria da Evolução e a mídia  
 
            Foi-nos enviada por um amigo uma reportagem de capa da revista Veja de 11 de Fevereiro de 2009. Ali celebram-se Darwin e todas as suas conseqüências. Ali, o evolucionismo é enfiado garganta abaixo dos leitores incautos, que não percebem a malícia de se fazer uma reportagem tão ricamente ilustrada e colorida, tão pobre de argumentação, destilando sofismas há muito tempo conhecidos – já bem gastos – e nunca comprovados.
 
 
            Ao ler a reportagem, obviamente superficial e já muito digerida, tem-se a impressão de que serão expostas novidades cientificas que realmente evidenciem a teoria. Espera-se, a cada parágrafo, o relato do encontro com o “elo perdido”, o graal do herege jesuíta Teilhard de Chardin.
 
 
Nada...
 
 
Pula-se para os gráficos e quadros. Certamente, estarão ali discriminadas as evidências da evolução biológica, os fósseis intermediários, as moléculas vitais geradas espontaneamente em laboratório, etc. Nada.
 
 
            O que há ali noticiado é velho. Apenas os casos são novos, mas sejam as “superbactérias”, sejam as pombas do pombal de Darwin, o sofisma é o mesmo. Nem isso evoluiu realmente.
 
 
            Darwin conceituou evolução como “descendência com modificação”. Outros cientistas posteriores aprimoraram para “mudança de freqüência gênica”, “mudança das características hereditárias de uma população de uma para outra”, etc.
 
 
            Falso.
 
 
            Evolução é a mudança de espécie. Para haver evolução, em seu sentido biológico mais profundo, é necessário que haja, seja ela gradual ou aos saltos, especiação. Esse é o ponto fundamental de qualquer Darwinismo. Isso é o que nunca se viu, nunca se verá, mas sempre se engoliu. O que se evidencia é a mudança acidental nos seres. O que se conclui é que há, portanto, mudança formal, essencial.
 
 
            Dizem os cientistas que a mudança de espécies é um objeto que não cabe no telescópio da ciência humana. Temos que conhecer essas mudanças maiores, ou a “macro-evolução” medindo as mudanças menores, as “micro-evoluções”.
 
 
            Falso. Estão sendo medidos objetos diferentes. É um erro crasso, fundamental, primário, como medir comprimento e se concluir temperatura.
 
 
            Todos os exemplos dados na reportagem de Veja são casos de tolerância metabólica, resistência biológica ou sucesso reprodutivo puramente acidentais. Não se pode aprovar Darwin com eles.
 
 
            Curiosamente, a reportagem trás como o primeiro dos cinco pilares que sustentam a teoria o principio de que o mundo não foi criado por Deus. E a reportagem tem razão sobre esse aspecto do Darwinismo. É uma ciência atéia. Donde se conclui que quem reza o credo católico e o credo Darwinismo está, obrigatoriamente, em contradição.
 
 
            Outro pilar da evolução é a idéia de um ancestral comum. Ignorantes seriam os que dizem que o homem veio do macaco. Ambos tiverem um ancestral comum. Outro macaco... 
 
            Em outro ponto da reportagem, são destacados os vultos históricos que se opuseram à idéia de uma evolução biológica, desde seu surgimento. Como era de se esperar, cada opositor possui em sua ficha resumida uma tese cientifica ridícula ou ridicularizada, de modo que o leitor é induzido a achar que Darwin foi a vitória da lógica, do bom senso e da ciência sobre uma superstição cega e estulta. Não dizem, por exemplo, que Mendel, Pasteur e Lineu, tão caros para a ciência moderna, não eram evolucionistas e suas contribuições para a ciência não vão contra o criacionismo. Antes, o complementa e enriquece. 
 
            Obviamente, os grandes e exaltados cientistas da história que tiveram uma contribuição única e que, ao mesmo tempo, possuíam uma face mística, eram gnósticos, alquimistas ou astrólogos, como Newton e Kepler. Essa é a “fé” que pode se unir à ciência racional, pois gerou frutos que iluminaram o obscurantismo a que a Igreja Católica submetia o mundo. 
 
            (A reportagem de Veja, em toda sua “profundidade” e “imparcialidade” pode ser vista em http://veja.abril.com.br/110209/p_072.shtml) 
 
            Enquanto isso, a mídia cientifica, séria e para poucos, divulga: 
 
            “Enquanto que profundos progressos foram obtidos nestes últimos 20 anos abrangendo todos os aspectos da pesquisa sobre a origem da vida, ainda há lacunas críticas, especialmente da teoria do mundo de RNA, e nenhuma evidência experimental para um cenário consensual. Nós ainda não sabemos como a vida surgiu em nosso planeta, e possivelmente nunca saberemos, uma vez que tratamos aqui de um problema histórico para o qual registros fundamentais podem ter desaparecido completamente” (Patrick Forterre e Simonetta Gribaldo, ambos do Instituto Pasteur de Paris, HSFP Journal, setembro de 2007, The origin of modern terrestrial life, vol I, tradução e destaques nossos).
 
 
            Essa ausência de evidências obrigou o radical Richard Dawkins a admitir que a resposta pode estar em outros planetas... 
 
O Evolucionismo e o clero 
 
            A mídia também noticiou intensamente que a Igreja Católica já teria aceitado oficialmente o Evolucionismo. É o que foi publicado
 
, por exemplo, num site de noticias organizado por jesuítas. Ali se lê que a adoção do Darwinismo pela Igreja foi celebrada pelo Monsenhor Gianfranco Ravasi, Ministro da Cultura do Vaticano. Segundo o texto desta noticia, e o de muitas outras semelhantes, encontradas em outras mídias, o arcebispo Ravasi teria declarado que a teoria da evolução é totalmente compatível com a Bíblia.
 
            Ora, mas não é um pilar do Evolucionismo a tese de que o mundo não foi criado por Deus? Esse pilar é ferozmente defendido por nada menos do que 38 cientistas prêmios Nobel. Em uma carta-manifesto
 
, esses importantes cientistas rejeitam solenemente a tese de que há uma inteligência criadora e postulam, como fundamento do evolucionismo, que tudo é um processo aleatório, não guiado ou planejado. E a Bíblia, bem como o credo católico, dizem o contrário.
 
 
            Há que ser malabarista profissional para sustentar-se nessa corda. E parece ser esta uma habilidade desse monsenhor tão simpático à ciência moderna. No texto da declaração de Dom Gianfranco Ravasi, por ocasião da abertura do Congresso Internacional "BIOLOGICAL EVOLUTION: FACTS AND THEORIES. A CRITICAL APPRAISAL 150 YEARS AFTER “THE ORIGIN OF SPECIES", em Roma, em março de 2009, se vê que, de fato, ele não põe contradições entre as duas doutrinas. No entanto, no inicio de seu pronunciamento, feito em 16 de setembro de 2008, ele declarou:
 
 
 
“A terceira informação que quero lhes dar tem a ver com essa Conferencia que é parte de uma reflexão sobre evolução, em particular evolução biológica.” (
 
 
 
Portanto, a evolução, em nível biológico, é parte de uma discussão maior sobre evolução. Que outra evolução genérica seria essa, em que a biológica é apenas uma parte, tão refletida por um arcebispo? Em seguida, no mesmo pronunciamento, ele dá outra pista:

“Durante o caminho, justamente nessa manhã, Eu me deparei com algumas páginas que ele [Bento XVI quando ainda Cardeal Ratzinger]  escreveu em um livro cuja tradução é O Espírito da Liturgia. As páginas eram dedicadas às idéias evolucionistas modernistas de Teilhard de Chardin. É uma reflexão apaixonada sobre como essa idéia pode contribuir para a reflexão teológica.” (op.cit., Tradução e destaques nossos)
 
 
 
            Ecco! Não há como escapar do modernismo. Esse, que é o resumo de todas as heresias, também é o motivo pelo qual o clero quer discutir – para fazer penetrar – o darwinismo na doutrina católica. Na obra em questão, o então Card. Ratzinger citou Teilhard de Chardin com intenção duvidosa, embora de modo inapropriado e inoportuno. O fato é que o celebrado Teilhard de Chardin, sacerdote jesuíta, fora condenado por suas doutrinas modernistas e era um cientista evolucionista com segundas intenções, ou com intenções teológicas. É ele e suas idéias que estão inspirando o tal arcebispo, o tal congresso e todos seus participantes. Não pode, jamais, ser essa a posição oficial de Igreja.
 
            Esse encontro, organizado pelo clero evolucionista, já está dando o que falar. Uma intervenção anti-darwinista foi bruscamente cortada. Ao questionar a existência das formas transicionais intermediárias entre duas espécies em divergência evolutiva, o Dr. Oktar Babuna, da Turquia, teve o micronofone cortado e foi silenciado. A pergunta, incompleta, foi dirigida à mesa composta por Francisco J. Ayala e Douglas Futuyma. Enquanto o primeiro alegava que a pergunta não seria respondida, o segundo, irritado, deixou a mesa. O Dr. Babuna foi convidado à retornar ao seu lugar, atitude que levou a platéia a um aplauso bastante coerente com a “imparcialidade” cientifica (
 
http://blogs.reuters.com/faithworld/2009/03/04/anti-darwin-speaker-gagged-at-vatican-evolution-conference/). O Dr. Francisco Ayala defende um evolucionismo maquiado pelas idéias da Teoria do Design Inteligente, com características de gnose, enquanto que para o Dr. Douglas Futuyma, somente a evolução é que dá sentido á vida.
 
 
            Diante das comemorações do aniversario de Charles Darwin, não puderam faltar outras homenagens do clero. 
 
 
            O arcebispo emérito de Maceió,  Dom Edvaldo G. Amaral, em apoio à reportagem já citada da revista Veja, declarara à mesma:
 
Eu sou evolucionista, mas creio firmemente que antes de todas as explosões da matéria, antes dos Big Bangs, que não sei com que calendário os cientistas fixam em bilhões de anos atrás, antes de tudo, no princípio de tudo, existe o Ser infinitamente poderoso, infinitamente sábio e infinitamente santo, que nós, cristãos, chamamos Deus, autor do universo.” (
 
 
 
            Dom Mateus de Salles Penteado, monge beneditino, também não perdera a mesma oportunidade de assumir sua adesão à ancestralidade simiesca, declarando para a mesma revista:
 
Sou monge beneditino, acredito em Deus, acredito na Igreja – e também em Charles Darwin. Qual o problema? As Escrituras não são, nem querem ser, um livro descritivo do funcionamento da natureza. A Bíblia não é um manual de ciências, e é um grande erro lê-la desse modo. No livro do Gênesis, a narrativa da Criação (por sinal duas, escritas com séculos de diferença) é apenas uma reflexão sobre a condição espiritual humana, dentro do quadro de uma introdução teológica à Aliança entre Deus e seu Povo. Os autores não tinham a mínima intenção de "informar" os leitores a respeito de como o homem apareceu no mundo, mas do porquê da Aliança e da necessidade da redenção. A ciência, por sua vez, nada tem a dizer a respeito de Deus, nem a favor nem contra. Um bom cientista pode ser mau teólogo e, apesar disso, fazer boa ciência; por outro lado, um bom teólogo não pode contradizer a ciência, sob pena de fazer péssima teologia. A ciência e a fé não se opõem porque respondem a perguntas diferentes.” (http://veja.abril.com.br/180209/leitor.shtml) 
 
 
            O destemido monge ousa ir além, submetendo a teologia à ciência, obviamente referindo-se à ciência evolucionista. “Qual o problema?”. 
 
            Houve até cardeal brasileiro declarando ser a evolução um fato evidente, que não pode ser posto em dúvida. Praticamente, um dogma... 
 
            Sempre que um importante membro da hierarquia se pronuncia, a mídia, anti-católica, agilmente noticia que, finalmente, a Igreja Católica aceitou o Evolucionismo oficialmente. Teria sido assim com Pio XII, João Paulo II, Cardeal Schönborn, Bento XVI e, agora, com o arcebispo Gianfranco Ravasi. Qual destes é o pronunciamento oficial? Nenhum! Se algum desses fosse definitivo e oficial, ou ainda, infalível, não seriam necessários os outros e não haveria dúvidas quanto ao seu peso doutrinário. No entanto, nenhum destes pronunciamentos passa de uma opinião pessoal. Todos apenas tratam a teoria da Evolução como um objeto valido para a pesquisa cientifica, ainda que alguns de seus autores tivessem um desejo profundo – modernista – de que a teoria seja uma verdade inequívoca e absolutamente perfeita, coisa que nenhum cientista sincero admite. 
 
            Todas essas oportunas declarações foram feitas inspiradas pelo sopro das duzentas velinhas do caduco Darwin. Quanto apoio misterioso ao grande propulsor do ateísmo e materialismo moderno! Viva a tartaruga bicentenária!  
 
A herança com modificação da ideologia Darwinista  
 
            Diz a corrente darwinista radical que a evolução se dá por meio de mutações e seleção natural. Ora, se isso fosse uma lei da natureza, deveria se repetir até mesmo nas ações humanas, inclusive nas ciências.
 
 
            Após Darwin, a busca por evidências, provas ou esclarecimentos necessários à teoria evolucionista tornou-se objeto das ciências biológicas. Esse foi um dos legados do velho naturalista. No entanto, as descobertas levaram os cientistas a uma “evolução” da teoria. As correntes descendentes traziam novos elementos que tentavam ajudar a perpetuar a tese evolucionista. Surgiu, na metade do século XX, o neo-darwinismo. Foi uma atualização da teoria darwinista. As esperanças cresciam.
 
 
            Contudo, essa teoria mutante não se mostrou tão apta à seleção natural da realidade material. Os famigerados fósseis intermediários extinguiram o gradualismo. Por isso, em oposição, foi proposta a tese neutralista, na década de 60. Novas esperanças nesse novo mutante, que não exigia a existência de indivíduos evolutivamente intermediários, pois a evolução se daria por saltos.
 
 
            Nada... não satisfez a comunidade cientifica. Antes disso, a dividiu.
 
 
            Outras correntes menores apareceram. Nomes novos, teimosia velha.
 
 
            Só não apareceram provas reais ou evidências claras.
            No final da década de 90, foi proposta uma terceira via
 
, por James Shapiro. Essa terceira via já alteraria certas definições e elementos do velho neo-darwinismo e incluiria uma certa intenção - um direcionamento – na evolução, cuja engenharia genética seria organizada pela célula. A seleção natural, aleatória e cega, seria substituída por uma “engenharia genética natural”, não tão aleatória e cega. Algo mudou. Algo “evoluiu”...
 
 
            Para a ciência moderna, é mais que esperado que uma teoria se atualize, sofra alterações ou adequações. Portanto, que ninguém diga que o Darwinismo é um fato e explica a diversidade de modo irrecusável. As tentativas de adequar a teoria à realidade natural falharam e, por isso, ocorreram as mutações. Uma teoria sem unidade, nem mesmo unanimidade entre os cientistas, não pode ser a explicação mais lógica para a nossa existência. Não se pode afirmar que o Darwinismo é uma verdade sem ferir um mandamento da ciência moderna.
 
 
            Assim, mais uma vez, devemos aproveitar a ocasião para nos opormos ao Evolucionismo, a Darwin e aos pós-darwinistas, pois toda essa doutrina traz graves conseqüências para a fé. Por isso, São Pio X condenou esse principio, que vem antes da teoria cientifica. E é por isso que o clero modernista de nosso século, sobrevivente e continuamente rebelde, é tão adepto da “descendência com modificação”, seja lá o que isso signifique em biologia. 
 
 
 
 
São Paulo, 28 de fevereiro de 2009 
 
Fabio Vanini
 

    Para citar este texto:
"Teoria da Evolução: uma mentira sesquicentenária"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/ciencia/150_darwinismo/
Online, 24/04/2024 às 07:48:48h