Política e Sociedade

Distributismo e capitalismo
PERGUNTA
Nome:
Marco Antonio Sete Inácio
Enviada em:
28/11/2018
Local:
Varginha - MG, Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior concluído
Profissão:
Desenhista Gráfico

Salve Maria!

Gostaria que os senhores analisassem, quando possível, o Distributismo, teoria política e econômica que tem como principal propagador Chesterton. Ela é realmente a alternativa católica contra o comunismo e o capitalismo?

Um grande abraço!
Marco Sete
Varginha, MG
RESPOSTA
Prezado Marco, 
Salve Maria

     Inicialmente quero agradecer sua carta e confessar que conheço bem pouco sobre a teoria econômica denominada Distributismo. Parece que de fato ela nunca foi implantada em lugar nenhum e, portanto, não passa de uma teoria.
     Com o onda conservadora que vai se alastrando por todo o mundo e que chegou ao Brasil com a eleição de Bolsonaro, parece muito atraente a ideia de uma teoria que se oponha ao comunismo e ao capitalismo, e que tenha ares de conservadorismo e catolicismo.
     Transcrevo a seguir algumas ideias de uma resposta publicada pelo Professor Orlando no site Montfort e que podem ajudar na compreensão sobre as críticas ao capitalismo. 
     De um lado a Igreja católica sempre afirmou que o socialismo é inaceitável. Veja por exemplo Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno: "Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista
     Entretanto, isso não significa que a Igreja aprove o capitalismo, sem restrição ou condenação, como se fosse uma escolha excelente. A Igreja sempre fez crítica ao capitalismo, porque na realidade, o capitalismo é pai do socialismo e do comunismo, assim como a democracia liberal é mãe da tirania comunista.
     O erro básico do capitalismo, é querer colocar o bem estar na vida terrena acima da salvação da alma, isto porque o reino na terra estaria acima do Reino dos Céus. Deus poderia estar acima de todos mas, o Brasil está acima de tudo, inclusive de Deus. 
Foi essa mentalidade aliada ao Absolutismo Monárquico, que levou os Reis a favorecerem um novo sistema econômico, que foi o Mercantilismo, o precursor do Capitalismo atual, uma espécie de Capitalismo embrionário.
     Vários autores salientaram, como, por exemplo, Max Weber (Ética Protestante e Capitalismo), a relação profunda entre a Teologia protestante, particularmente a calvinista, e a busca de lucro acima de tudo. A "santificação" calvinista pelo trabalho colocou o dinheiro como sinal da salvação, o êxito econômico como sinal de eleição divina. Como se o homem tivesse sido criado para trabalhar e não para servir a Deus em tudo o que faz.
     Foi do Mercantilismo que nasceu o sistema capitalista, triunfante com a Revolução Francesa e com a chamada Revolução Industrial. E com o fim de toda ordem feudal, na Revolução Francesa, os antigos artesãos perderam seus meios de defesa, quando a Revolução extinguiu o seu feudo econômico, as Corporações, que eram bem diversas dos atuais sindicatos. O artesão foi transformado em operário, em proletário.
A Revolução Francesa instituiu o reino do Número, isto é o da Quantidade. Foi o fim da Qualidade artesanal, e o triunfo da produção em quantidade, de onde vai nascer a produção em série. A Revolução Francesa instaurou o regime liberal na política e o capitalismo na economia
     O capitalismo é o liberalismo na economia. Portanto, assim como o liberalismo político gera o comunismo, assim o capitalismo gera o socialismo na economia.
Para o capitalismo, "time is money". Traduzindo isso, dever-se-ia melhor dizer que, para o capitalismo, "life is money". A vida, não o tempo, é dinheiro.
     Com o capitalismo, vive-se para ter dinheiro.
     E, do mesmo modo que o sistema liberal separou a Igreja do Estado, pela Liberdade de Religião, assim também se separou a Economia da Moral: desde que se obtivesse lucro, pouco importava, para o Capitalismo, triunfante com a Revolução Francesa, que meios eram usados. Dai, nasceu a tendência a reduzir, o quanto possível, o salário dos que trabalhavam, e a fazer produção de objetos em série, pouco importando a decadência de sua qualidade. Importava só o lucro, e o quanto antes. Dai a velocidade das coisas modernas: velocidade de produção (Taylorismo), velocidade de consumo, velocidade de uso.
     Portanto, esse foi, e é, o principal ponto negativo do Capitalismo, que a Igreja sempre condenou: a separação entre Economia e Moral, que foi uma consequência da separação entre Igreja e Estado.
     Um segundo ponto negativo do Capitalismo -- foi a Livre Concorrência Absoluta na Economia. Assim como na Democracia Liberal, nascida da Revolução Francesa, se deu a liberdade religiosa completa, acabando-se com a distinção entre verdade e mentira, assim como se deu livre concorrência ao erro e à verdade, assim também, na Economia, se dava a livre concorrência absoluta, com o falso raciocínio de que sempre venceria o melhor produto.
Portanto, os dois pontos negativos do capitalismo são: 
     - a separação entre economia e moral; 
     - a livre concorrência absoluta, 
     Esses dois erros na economia foram frutos amargos e péssimos da Liberdade de Religião, como foram, a seguir, as duas causas econômicas do Socialismo. Nova York preparou Leningrado. Wall Street financiou o Stalinismo e o Nazismo, as duas mais importantes formas de socialismo do século XX. Roosevelt deu o triunfo a Stalin, em 1945. E o Concílio Vaticano II, favorecendo a Liberdade de Religião, favoreceu a expansão do Castrismo, através da Conferência de Medellin. Dai, a Teologia da Libertação nascer especialmente alimentada pelos textos do Concílio Vaticano II.
     Tendo em vista essas considerações e o destaque nos dois erros do capitalismo, na análise do material que tive acesso sobre o Distributismo aparece a defesa da propriedade privada o que é bom, mas não encontrei qualquer condenação a esses dois erros do Capitalismo. O que seria criticado é o fato do Capitalismo não garantir a propriedade para todos os membros da sociedade. Parece que isto não decorreria da livre concorrência, mas sim na especialidade técnica que faria do Capitalista um privilegiado. O que se condena é o privilégio e se faz a defesa da igualdade. Ora, a desigualdade e a existência de privilégios não são coisas ruins em si mesmo. Elas podem ser mal utilizadas, mas não condenadas em si mesmo.
     Assim, por exemplo, o Papa tem uma série de privilégios e estaria acima por honra e autoridade, devido ao seu cargo, de todos os homens.
     Ademais, uma grande suspeita que se levanta sobre essa teoria é o fato dela ser defendida pelo movimento integralista brasileiro, o qual era evolucionista e ecumênico, e portanto, não pode conter uma condenação adequada do capitalismo.
Infelizmente estou com pouco tempo para me dedicar a este assunto. Se você tiver alguma dúvida mais específica talvez possa te esclarecer melhor. 

Alberto Luiz Zucchi