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Monsenhor Giussani e Movimento Comunhão e Libertação
PERGUNTA
Nome:
Luís Froes
Enviada em:
25/09/2005
Local:
Lisboa - Portugal
Religião:
Católica
Idade:
18 anos

Meu Caro Professor Orlando Fedeli,

Sou de Lisboa e pertenço ao Movimento de Comunhão e Libertação.
Li críticas suas ao método educativo de Monsenhor Luigi Giussani, que merecem imediata correcção. Não tome esta minha posição como um acto de soberba e arrogância, mas como a defesa da verdade que vivi ao longo dos últimos dois anos da minha vida.
Fui educado catolicamente pelos meus pais e pelo colégio que frequentei.
Os meus pais sempre me levaram a Missa ao Domingo e a certa altura eu próprio comecei a ir sozinho, porque entendia que a minha vida ganhava com isso.
Certo dia, através dum convite de um amigo, participei num gesto do CL.
A pouco e pouco a minha pertença ao carisma de don Giussani foi aumentando, sempre tomando consciência das razões que me levavam a esse desejo de pertença cada vez maior.
Foi precisamente o testemunho de don Giussani e dos meus amigos que me ensinaram a amar Cristo e a Igreja, de forma absolutamente incondicional. Percebi que só Cristo tem palavras de eternidade e que Ele é a única resposta aos anseios do coração humano. A Igreja que Ele instituiu é, assim, o método que Deus criou para se dar a conhecer aos homens.
Foi então que percebi na minha vida, ao deparar-me com um facto absolutamente extraordinário - Deus fez-se homem! -, que é na Igreja, em particular na Eucaristia, que melhor percebo o meu destino e o significado da minha vida. Não por uma aproximação intelectual, não por uma estratégia de conveniência ou um impulso instintivo, mas porque o Senhor me criou para Si e o meu coração só repousa quando poisar nEle. Esta é a posição mais justa que encontrei: a posição do mendicante, aquele que pede, aquele que pede para ser salvo. Porque o homem precisa, de facto, de ser salvo. O homem não se basta a si próprio, e esta verdade verifico-a no meu dia-a-dia quando rezo as Laudes, o Angelus e as restantes horas do dia. É como que uma telefonia que se sintoniza num dado posto: ao longo do dia, através do pecado vou-md afastando do Senhor e é precisamente a oração que me coloca novamente no lugar certo.
Don Giussani deu testemunho, com a sua fé ardente, que a Igreja, enquanto prolongamento de Cristo na história, tem resposta para o homem. Basta para isso sermos fiéis ao Papa e aos Bispos, ao Magistério da Igreja, sermos simples no seguir aqueles que Deus colocou diante de nós.
As razões que me levam a seguir os meus pais são as mesmas que me levam a seguir João Paulo II ou Bento XVI. Deus colocou-me diante deles para que, através deles, eu pudesse encontrá-lo.
Se o Professor Orlando ler o Percurso de Formação Cristã de Monsenhor Giussani perceberá que não se trata de um modernista, mas de um cristão verdadeiro, que amou e serviu a Igreja com toda a sua pessoa, convicto de que tudo apontava para Cristo e que Cristo é o sentido da vida humana.

Melhores cumprimentos,
Luís Froes
RESPOSTA

Muito prezado Luis,
salve Maria!
 
    Para garantir-me que Monsenhor Giussani não era modernista, você me fala dos exercícios de piedade que você, meu caro  Luís Froes, pessoalmente pratica. Ora, nada disso prova que Monsenhor Giussani não era modernista.
    Claro que li o livro confuso e obscuro de Monsenhor Giussani Il Senso Religioso.
    Monsenhor Giussani tem o dom de tornar obscuro os raios do sol, tanto é nebuloso o seu estilo.
    Não tenho tempo, agora, de fazer uma análise desse livro tedioso, vago, e nebuloso.
    Deixo-lhe porém algumas perguntas, para que você me esclareça:
 
    1 - Monsenhor Giussani diz em seu livro Il Senso Religioso que "a experiência ou o sentimento religioso" é "um dado emergente no comportamento do homem de todos os tempos" (Monsenhor Giussani, O Senso Religioso, Companhia Ilimitada,1993, São Paulo, p.19e p. 20. O destaque é meu).
    Portanto, é algo que acontece a todo homem. Exatamente como o Modernismo definia o sentimento religioso.
 
    2 - Monsenhor Giussani explica que esse senso religioso é imanente ao homem (p. 18 do livro citado). Exatamente como dizia o Modernismo e como foi condenado na Pascendi.
 
    3- Num artigo publicado na revista da Comunhão e Liberttação se lê:
    "O Verbo de Deus, ou melhor, o termo das exigências do coração humano, ou seja, o objeto último dos desejos de todo homem -- a felicidade -- se fez carne" (Mons. Giussani, Colocação "A Eternidade à Espreita Dentro de Qualquer Aparência, in revista Passos, CL, Ano XIV, no 1, Setembro de 1999, p.24).
    Se O Verbo de Deus é a exigência de todo homem, a natureza humana enquanto tal exige o sobrenatural. Isso acaba com a distinção entre a ordem natural e a ordem sobrenatural, tese modernista defendida também pelo Neo modernista Padre Henri de Lubac, censurado por Pio XII na Humani Generis.
 
    4 - "Quando recitamos juntos as laudes, por exemplo, a comoção torna-se muito maior e penso em você, em vocês como se fossem parte do meu eu, porque o são.  E não existe uma definição inteira de mim mesmo sem você, sem vocês, mesmo se não conheço no sentido psicológico ou psicanalítico do termo, porque, no sentido profundo, sou uma coisa só com você"
(Mons. Giussani,  Reflexões sobre o Empenho Vivido -- Conversa com um grupo de universitários, In revista CL- Comunhão e Libertação, Ano Iv, no 20 Agosto- Setembro de 1990, p. 6. Os destaques são meus).
    Será que você poderia me explicar, de modo não imanentista, de modo não gnóstico, como o eu de Monsenhor Giussani é você?
 
    5 - Essa fusão do eu como tu, do sujeito como objeto como diziam os gnósticos do Romantismo, é reforçada por Monsenhor Giussani neste outra passagem;
    "A presença de Cristo, que implica uma materialidade que se chama companhia, é o início de uma emoção e de uma comoção, e então de um pedido do ser e da consumação, que investem o tempo de cada dia, originando uma homologação sublime, onde as coisas ficam na sua divina diferença umas das outras, e, assim mesmo todas tornam-se uma coisa só". (Mons. Giussani,  Reflexões sobre o Empenho Vivido-- Conversa com um grupo de universitários, In reveista CL- Comunhão e Libertação,Ano IV, no 20 Agosto - Setembro de 1990, p. 8. O destaque é meu).
    Explique-me, por favor, meu caro Luís, de modo católico, como todas as coisas se tornam uma coisa só.
   
    6 - "o Movimento [CL] não é a proposta de uma "religião", mas de uma humanidade" ( Carlo Wolsgruber, artigo Memores Domini, in CL -- Litterae Communionis, revista bimestral de Comunhão e Libertação -- Ano VI, no 26, Janeiro- Fevereiro de 1992, p.11. O destaque é meu)
    Explique -me ainda, meu caro Luís Froes, como se pode dizer que o Movimento Comunhão e Libertação é católico, se ele confessa que não propõe a religião Católica?
 
    7- "O rabino Michael Shevack afirmou que O Senso Religioso poderia ser ensinado na Sinagoga".(Andrea , de Veneza, Cartas in Litterae Communionis, Revista bimestral da Comunhão e Libertação Ano XIII, Julho-Agosto de 1999, p.4) 
    E ainda o Senso Religioso (...) " Deste ponto de vista é quase um curso de "judaísmo elementar", adapatdo à mentalidade moderna e aos problemas filosóficos-religiosos criados pela modernidade".(Michael Shevack,  Cartas In Litterae Communionis, Revista bimestral da Comunhão e Libertação Ano XIII, Julho-Agosto de 1999, p.5).
    Explique-me, meu caro Luís Froes, como um livro de Monsenhor Giussani, pode ser tido como um Curso elementar de Judaismo, que poderia ser ensinado nas Sinagogas?
 
    Note bem, não estou perguntando se você reza e se pessoalmente tem Fé católica. Pergunto como uma pessoa que tem Fé Católica possa atribuir sua Fé a um autor, como Mosenhor Giussani, que escreve um livro modernsita e próprio para ensinar judaismo elementar em sinagogas.
    Aguardando seu abalizado esclarecimento, me subscrevo,
 
in Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.
 
PS. Previno-o que há muito mais coisas a explicar... OF