História

Os arquivos secretos da Inquisição - 1a. Parte
PERGUNTA
Nome:
J. Lopes
Enviada em:
21/02/2007
Local:
Fortaleza - CE, Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior concluído
Profissão:
Fincionário Público

Muito Prezado Professor Orlando Fedeli,

Salve Maria!

     Agradeço imensamente ao senhor pela resposta à minha última carta. Desejo-lhe, bem como a todos os membros da Associação Cultural Montfort, uma santa Quaresma.
     
     É difícil encontrar livros que nos instruam e informem retamente acerca da Inquisição, o assunto preferido dos inimigos da Igreja. Fazem falta também professores que nas escolas e Universidades defendam a Fé católica, freqüentemente atacada por ateus, esotéricos e adeptos da nova teologia. Desde os meus tempos de Ginásio ouço falar das “muitas pessoas que a Igreja matou”. Tal afirmação tem um objetivo claro: fazer que percamos a fé na Igreja e a abandonemos, privando-nos da união com o Papa, da profissão da Fé revelada por Deus e dos Sacramentos, que nos comunicam a graça santificante. Não são poucos os que, infelizmente, seguem essa via.
     De vez em quando o assunto surge em conversas informais. Por exemplo: certa vez uma ex-colega minha do tempo da Universidade referiu-se à Igreja nestes termos: “eu nunca freqüentarei uma instituição que matou milhares de pessoas em nome de Deus só porque elas pensavam de forma diferente”.
     Tal afirmação parece um protesto justo e incontestável. A Igreja seria injusta porque não respeitaria a opinião dos que pensavam de forma diferente dela. Eu poderia ter respondido à minha ex-colega: se você tiver um filho e ele começar a andar em companhia de pessoas que ensinem a roubar, a desprezar os estudos e a ser desrespeitoso e violento com os pais, você fará tudo para afastá-lo dessas más companhias, usando até de dureza, se necessário. E isso para o bem dele. Você mesma não pensará duas vezes antes de ir contra a “opinião” dos que querem desencaminhá-lo, pois respeitar tal opinião e deixá-la contaminar seu filho é condená-lo a se tornar, no futuro, um bandido, um marginal. Você, então, se oporia energicamente ao erro. Pois foi da mesma maneira que a Igreja agiu para proteger os filhos dela durante a Inquisição. E age ainda hoje, mas com outros meios. Com a diferença que a Igreja não apenas protege a nós, seus filhos, das falsas doutrinas que podem perder nossas almas, mas também pune os hereges e os maus (embora não com os rigores de antigamente), enquanto a mãe de família apenas pode fazer o possível para separar o filho das más companhias. Mas, minha ex-colega não queria ouvir esses argumentos. Então, nada falei. Seria jogar pérolas aos porcos. Por esse simples exemplo se vê como a Inquisição ainda é o assunto mais polêmico e mais difícil de tratar.

     Há alguns meses foi exibida no Canal de História uma série chamada “Arquivos Secretos da Inquisição”. Gosto muito de documentários. Como se anunciava ser uma série de programas baseados em fatos recém descobertos nos arquivos do Vaticano, fiquei curioso para assistir. E assim fiz.
     A maneira como o assunto foi tratado não me surpreendeu. Nada se disse a respeito da heresia ser um mal que leva os fiéis a ofenderem a Deus porque passam a negar as verdades que Ele revelou e confiou à Igreja; não se disse que a heresia leva os fiéis a se afastarem dos sacramentos instituídos por Jesus Cristo, nem que ela os leva a se desligarem dos legítimos Pastores (o Papa e os Bispos) e a abandonarem a Única Igreja, fora da qual não há salvação. Portanto, a heresia é um mal que prejudica a nossa alma e compromete a nossa salvação eterna. Também não se disse que a Igreja, como mãe, tinha e tem o dever de defender seus filhos do mal, não só pregando a doutrina certa, mas ainda denunciando, atacando as heresias e (quando possível) impedindo os hereges de propagarem ensinamentos errados. Pelo contrário, os quatro programas da série televisiva traziam a idéia de que a Igreja prendeu, torturou e matou pessoas cujo único crime era pensarem de forma diferente dela. E que tudo isso não tinha outra finalidade senão assegurar o poder sobre o povo através do terror. Assim, o Bispo inquisidor Jacques Fournier, futuro Papa Bento XII, foi apresentado como tendo perseguido os pobres e indefesos cátaros da aldeia francesa de Montalliou, chamados freqüentemente de “bons homens”. Tem-se a impressão de que a ascensão na carreira do Bispo inquisidor se deu mais porque ele mandou prender e matar pessoas (cinco foram condenadas à fogueira) do que pelo zelo que teve em defender a Fé Católica e os fiéis dos erros que os ameaçavam. O programa mostra os hereges de maneira muito favorável, simpática, como pessoas simples que abandonavam riquezas e altas posições sociais para viverem pobremente, viajando a pé, pregando sua doutrina e abençoando o povo. Tudo bastante inofensivo. Ao mesmo tempo, é narrada a vida devassa do padre da aldeia de Montalliou, também ele um herege cátaro. 
     O segundo programa, que trata da Inquisição espanhola, apresenta o inquisidor São Pedro Arbués de maneira péssima, dizendo que ele era chamado “o carrasco de Zaragoza”. O ator que representa Pedro Arbués o apresenta como se ele tivesse indizível prazer em ver as pessoas sendo torturadas e queimadas. Prazer em torturar, prazer em sentenciar, prazer em queimar: eis tudo. Esforça-se por mostrar a “maldade” do inquisidor, enquanto a maldade dos inimigos da Igreja só aparece no momento em que se conta o assassinato de Pedro Arbués. Mas, quando se chega a esse ponto, não duvido que muitos telespectadores, levados pela narração e pela representação dos atores, já estão torcendo que o inquisidor morra. No final da narrativa, o programa leva o telespectador a ficar ainda mais horrorizado, quando diz que Pedro Arbués foi depois canonizado pela Igreja e tornou-se santo.
Procurei mais informações sobre o Padre Inquisidor de Zaragoza e pude verificar que ele é mesmo Santo. E um grande Santo, pois é também Mártir. Morreu pela Fé Católica, o que é uma grande honra e lhe dá certamente grande glória no Céu. Foi canonizado pelo Papa Pio IX. E numa época em que o processo de canonização corria com todos os rigores, inclusive com um padre designado para provar que o candidato não era santo. E também exigia-se a comprovação dos três milagres feitos pela intercessão do santo junto a Deus, e que eram exaustivamente estudados para se determinar se eram milagres verdadeiros. Assim, a palavra da Igreja e do Papa se sobrepõe magnificamente a toda calúnia contra esse grande Santo, atacado por um infame programa de televisão. Para desagravar a memória do Mártir São Pedro Arbués, indico dois textos católicos, os quais podem ser acessados nos links abaixo.

http://www.mercaba.org/SANTORAL/Vida/09/09-17_S_Pedro_de_Arbues.htm

http://www.ewtn.com/spanish/Saints/Pedro_de_Arbu%C3%A9s.htm

     Sugiro a publicação da tradução desses textos no site Montfort. Tenho certeza de que muitos leitores terão assistido ao referido documentário, ficando assim com uma imagem falsa desse Santo Inquisidor espanhol e, talvez, com a própria fé abalada. Não nos resta senão pedir a Deus que nos envie santos e piedosos sacerdotes, a exemplo de São Pedro Arbués, para nos orientarem no caminho da Verdade e nos defenderem dos erros contra a Fé. Peço, também, se for possível, mais informações sobre esse Santo.
     O terceiro programa trata da inquisição em Veneza no Século XVI, explorando ao máximo o rigor com que o Papa Paulo IV atacou a heresia protestante, bem como as novidades e o progresso da ciência. A Igreja Católica é vista, assim, como inimiga do progresso científico. Quem assiste ao programa tem a impressão de que não há escapatória para a Igreja. Depois de mostrar o mundanismo do Papa Leão X e dos bispos da Cúria Romana no século XVI, o episódio sugere que o único prelado contrário a esse mundanismo, o Cardeal Gianpietro Carraffa, tornou-se um monstro sanguinário depois de sua ascensão ao trono de São Pedro, como Papa Paulo IV. Como se vê, escolhe-se o aspecto mais apropriado a mover as opiniões contra a Igreja.
     O quarto programa critica o Papa Pio IX por ter ordenado o rapto do menino judeu Edgardo Mortara, separando-o dos seus pais e irmãos judeus em 1858. A maneira como o episódio é apresentado leva o telespectador a repudiar a atitude do Papa. Sabemos que Edgardo Mortara foi batizado secretamente pela empregada de sua casa (fato sobre o qual o programa lança dúvida). O Papa Pio IX, depois de saber disso, tinha a obrigação de educar o menino como cristão, pois o mesmo havia se tornado membro da Igreja pelo Batismo. Teria sido um pecado de omissão do Papa deixar o garoto em seu lar judeu (onde nunca abraçaria a Fé em Cristo nem poderia crescer nela). A preocupação do Pontífice era a salvação eterna de Edgardo. Essa salvação estaria em risco caso o menino, sendo agora cristão, crescesse em meio aos judeus, que não acreditam na divindade de Nosso Jesus Cristo nem O aceitam como Messias Redentor. Por isso, foi necessário levar a criança para Roma. Tal ação foi possível porque Pio IX, sendo o Soberano dos Estados Pontifícios, poderia ordenar que isso fosse feito. O Papa sabia que, agindo daquela forma, atrairia sobre si a incompreensão de muitos. Foi exatamente o que ocorreu. Mas, o Pontífice ficou firme, chegando em certa ocasião a declarar a Edgardo: “eu adquiri você por um alto preço”. Magnífica demonstração de que para salvar uma única alma o Papa estava disposto a sacrificar o próprio prestígio e a ser duramente criticado pela opinião pública. Sabemos também que Edgardo Mortara tornou-se padre depois, e sempre foi grato ao Papa por tê-lo educado na Igreja. O documentário não nega esse fato, que foi também lembrado em uma resposta dada a um leitor do site Montfort dias atrás.
Estando esta carta muito longa, foi dividida em duas partes. A segunda delas enviarei logo mais. Agradeço imensamente pela atenção.

Santo Antônio de Pádua, martelo dos hereges
– Rogai por nós
São Pedro Arbués, Santo Mártir e defensor da Fé Católica
– Rogai por nós


In Corde Jesu Semper
RESPOSTA

Muito prezado J. Lopes,
Salve Maria.

     Agradeço muito sua carta que é quase um artigo sobre a Inquisição repelindo a campanha de calúnias que se faz contra a Igreja. Meus parabéns. Mande-me outras artigos que escrever. 
     Um abraço amigo e agradecido.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli