Ciência e Fé

Revista científica afirma: “A questão de como a vida começou na Terra permanece um dos maiores mistérios científicos”
PERGUNTA
Nome:
Cesar Aroeira
Enviada em:
30/01/2006
Local:
Sete Lagoas - MG, Brasil
Idade:
30 anos
Escolaridade:
2.o grau concluído
Profissão:
Impressor Digital

prezados:

gostaria de receber informações sobre a possível síntese de moléculas auto replicantes em laboratório. Li um artigo onde dizia-se que cientistas sintetizaram moléculas de RNA artificial em laboratrio. Fiquei em dúvida sobre a veracidade da questão, uma vez que nunca se consegui a sintese de moléculas biológicas que sejam relaevantes a vida em laboratório. aguardo informações, sendo só isso,
agradeço.
César Aroeira.
RESPOSTA

Prezado César,
 
Salve Maria!
 
Primeiramente, gostaria de lhe pedir que me enviasse, se possível, a referência do artigo que você leu para eu poder responder sua questão com maior precisão. De qualquer modo, verifica-se na literatura científica que a síntese em laboratório de oligonucleotídeos (fragmento curto de uma cadeia simples de ácido nucléico, DNA ou RNA) em meio aquoso a partir de monômeros não protegidos foi realizada por Ferris e Ertem em 1993 1, 2. Deste modo, a informação que você tem é verdadeira porque já na década de 90 a síntese de fragmentos de RNA já era de certo modo possível. Digo de certo modo, porque, segundo a literatura, os substratos (monômeros) que eles usaram (adenosina 5’-fosforimidazolidas) não foram, provavelmente, moléculas prebióticas 3. Uma das razões para isso é a enorme complexidade da síntese de nucleotídeos (um nucleotídeo consiste de uma base nitrogenada, um açúcar com cinco átomos de carbono e um ou mais grupos fosfato), fato abordado mais adiante neste texto.
Quanto à relevância deste resultado experimental, inicialmente, deve-se ressaltar que o fato de ser possível sintetizar moléculas biológicas em laboratório não demonstra que a síntese destas moléculas foi possível nas condições prebióticas. Numa síntese realizada em laboratório, as concentrações dos reagentes, a temperatura e a umidade do meio reacional são controladas de modo a favorecer a formação do produto desejado. No caso de nucleotídeos, as condições prebióticas favorecem sua degradação. Uma publicação científica de um jornal especializado em evolução química listou, recentemente, as dificuldades para sustentar a tese de que tais moléculas se formaram nas condições prebióticas 4. São elas, a saber:
 
- a ligação química fosfodiéster, responsável pela estrutura principal da molécula de RNA, é quimicamente instável em meio aquoso quente, supostas condições prebióticas;
 
- a reação de degradação da molécula de RNA é acelerada por íons metálicos di ou multivalentes, os mesmos cofatores considerados imprescindíveis para sua atividade catalítica;
 
- a permeabilidade das moléculas de RNA em bicamadas de fosfolipídios é muito baixa.
 
            Tais evidências levaram os autores da publicação a concluir que “a questão de como a vida começou na Terra ou onde quer que seja no universo permanece um dos maiores mistérios científicos” 4.
 
Ademais, a síntese de nucleotídeos, moléculas fundamentais para a formação de RNA, é complicada. A síntese de açúcares a partir de formaldeído gera uma mistura complexa, na qual a ribose é sempre um componente pouco significativo. A formação de um nucleosídeo (molécula parecida com um nucleotídeo, contendo apenas o açúcar e a base nitrogenada) a partir de uma base e um açúcar não é uma reação fácil, e, pelo menos para os nucleosídeos pirimidínicos, não foi verificada em condições prebióticas; a fosforilação de nucleosídeos resulta uma mistura complexa de produtos 5.
 
Deste modo, se para a formação de simples fragmentos de RNA existem tamanhas evidências químicas contrárias ao modelo evolutivo, o que dizer sobre a formação do sistema de coagulação do sangue. Este sistema requer um conjunto de moléculas interdependentes para funcionar. O que implica que a falta de qualquer uma das partes inviabiliza a função do mesmo. Além do que, sistemas orgânicos essências para a manutenção da vida não podem se desenvolver ao longo do tempo.
 
No que concerne à avaliação do sistema evolutivo sobre aspectos da teoria da informação, deve-se ressaltar que cátions sódio (deficiente em elétrons) e ânions cloreto (rico em elétrons) ordenam-se de modo a formar um retículo cristalino segundo a Lei de Coulomb, contudo, nenhuma das leis naturais ordena a formação de sítios específicos de interação em moléculas distintas para que atuando em conjunto levem ao estabelecimento de um sistema com uma função definida. A informação de como fazer cloreto de sódio está contida na natureza dos íons sódio e cloreto, mas, a informação para formação de moléculas de hemoglobina e sistemas de coagulação sangüínea não está codificada nos seus átomos constituintes. Se isto fosse verdade, talvez a mistura resultante dos experimentos de Miller 6 não ficasse tão aquém da organização que se verifica no citoplasma de uma ameba.
 
            No mais, como tentar explicar através do modelo evolutivo a existência de arranjos químicos nos organismos vivos que tem como função evitar um estado natural, como, por exemplo, a minimização do potencial químico no transporte ativo, se, segundo este modelo, tal organismo evoluiu dirigido por leis naturais. No transporte ativo, o fluxo de uma determinada espécie química através de uma membrana ocorre a partir da fase na qual seu potencial químico é menor para aquela onde seu potencial químico é maior. Isto significa que o transporte orienta-se no sentido em que causa um aumento na diferença de potencial químico entre as superfícies da membrana, sentido contrário ao processo espontâneo que tende a levar a diferença de potencial químico entre os dois lados da membrana a zero 7.
 
Portanto, os experimentos atuais que buscam reproduzir condições iniciais da terra propícias para o surgimento de moléculas presentes nos organismos vivos têm sido frustrados por duas razões: 1-) supõe condições experimentais distantes das condições reais, 2-) conseguem sínteses espontâneas de moléculas orgânicas – ainda que em meios duvidosos – mas que não formam um sistema bioquímico funcional. 
 
Veja, César, mesmo com todas estas evidências científicas, a fábula da origem espontânea da vida ainda continua a embalar cientistas seduzidos pelo inverossímil dogma darwinista.
 
Colocando-me a disposição para quaisquer outros esclarecimento,
 
 
In Maria, Sedes Sapiéntiae,
Rogério C. Sassonia.
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
 
1. Ferris, J. P.; Ertem, G.; J. Am. Chem. Soc. 1993, 115, 12270-12275.
 
2. Ferris, J. P.; Nature 1994, 369, 6477, 184-185.
 
3. Orgel, L. E.; “The Origin of Life – a Review of Facts and SpeculationsTrends in Biochemical Sciences 1998, 23, 12, 491-495.
 
4. Vlassov, A. V.; Kazakov, S. A.; Johnston, B. H. (Stanford University School of Medicine); Landweber, L. F. (Princeton University); “The RNA World on Ice: A New Scenario for the Emergence of RNA Information”, Journal of Molecular Evolution 2005, 61, 264-273.
 
5. Ferris, J. P.; ColdSpringHarbor Symp. Quant. Biol. 1987, 52, 29-35.
 
6. Miller, S. L.; Science 1953, 117, 528.
 
7. Friedman, M. H.; Principals and Modals of Biological Transport, Springer-Verlag: Berlin, 1986.
 
CONSULTE AINDA:
 
Dose, K.; “The Origin of Life: More Questions than Answers”, Interdisciplinary Science Reviews 1988, 13, 4, 348-356.